É
inegável que estamos diante de um quadro de grandes e profundas mudanças no
comportamento psicossocial e cultural na sociedade em que vivemos.
E a igreja
do Senhor Jesus Cristo faz parte desse contexto social, que exige cada vez mais
de seus educadores. Nesta direção, o educador cristão e o professor de Escola Dominical
precisam ser treinados para melhor exercer o ministério de ensino (Rm 12.7).
O
treinamento deve levar em consideração a vocação para o ensino e o perfil
psicológico, emocional, comportamental e espiritual do indivíduo, além de ele
ter vontade de ensinar, ter motivação para o ensino e conhecer o seu potencial
e seus limites. Vamos analisar esses pontos a seguir.
1. Ter vontade de ensinar
O
treinamento dos novos professores de Escola Dominical começa pelo campo da
vontade. Não se trata de vontade no sentido de livre arbítrio, mas no sentido
psicológico, como força interna que impulsiona a pessoa a agir e a realizar
algo a fim de cumprir o desejo (1Tm 3.1).
Portanto, o sucesso no ensino bíblico da ED
começa pelo campo da vontade de ensinar. Se o indivíduo não tem vontade de
ensinar a Palavra de Deus na ED, ele não poderá ser um bom professor. Quando
não se conhece as regras básicas da psicopedagogia, mas se tem vontade de
ensinar, temos um caminho aberto para o treinamento de novos professores (Fp
1.6). Jesus disse: "Tudo é possível ao que crê" (Mc 9.23). Porém, o
professor deve colocar a sua vontade debaixo da vontade de Deus (Mt 6.10).
Imagine participar de uma aula onde o professor está parado no tempo e no
espaço, vivendo no mundo da lua, sem interesse e vontade em ministrar uma boa
aula. Será um desastre total para ED!
Ter
vontade, paixão pelo ensino e convicção da chamada para o ministério de mestre
é fundamental para o crescimento da ED e é o primeiro passo par3 o treinamento
de novos professores. Portanto, deve-se analisar na membresia aqueles que têm
vontade e vocação para o ensino para serem treinados. "E percorria Jesus
todas as cidades e aldeias, ensinando..." (Mt 9.35). O ensino genuíno da
Palavra de Deus resulta em cura e libertação: "...e pregando o evangelho
do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo" (Mt
9.35)
2. Ter motivação para o ensino
Motivação,
sentimento, decisão, atitude, auto estima, ânimo, vontade, determinação e
entusiasmo fazem parte das estruturas psicológicas e emocionais do ser humano e
estão intimamente ligadas ao processo educacional. Foi Deus quem fez e dotou o
ser humano com esses mecanismos, os quais fazem parte da energia psíquica
motivacional e mantêm relações com a alma e o espirito. É prazeroso participar
de uma aula de ED ministrada por um professor motivado. Ele se movimenta, é
ativo, dinâmico, incentiva e estimula facilmente a aprendizagem. Três fatores
básicos acompanham a motivação:
A - Determinação:
Determinação
é uma força intrapsíquica que está relacionada ao estado de ânimo (Jo1ó.33). É
a firmeza de propósito que dará direção à pessoa. Determinação como estrutura
psicológica é diferente do ato de determinar proposto por seitas e religiões
como na teologia da prosperidade, que ê irrealista e fantasiosa. Estou falando
da determinação como um fator psicológico inerente ao ser humano, que acelera o
metabolismo, gerando o ânimo e motivando o professor da ED a desempenhar seu
papel com brilhantismo e graça diante de Deus e dos homens.
Em
Atos14.22, Paulo estava ministrando uma palavra que exortava o ânimo dos
discípulos para permanecerem firmes na fé.
Ao
lermos em Daniel 1.8, vemos o jovem profeta determinado a não se contaminar com
os manjares do rei. Outro exemplo de determinação é visto em Josué 1.10-18. Na
verdade, o próprio Deus foi quem motivou Josué, dizendo: "Esforça-te e tem
bom ânimo; não temas, nem te espantes" (Js1.9). Mas, a determinação só
será eficaz se deixarmos Deus agir em nossa vida. Josué estava determinado a
vencer, mas a ação era Deus na vida dele. (Js 1.6-8); ou seja, ele se colocou à
disposição de Deus.
B - Entusiasmo:
Entusiasmo
é uma força intrapsíquica que move a pessoa a dedicar-se nas atividades que
desempenha (Hb 3.17-18; Pv 24.10).
Professor
entusiasmado tem um grande interesse, intenso prazer e uma dedicação ardente;
ele tem uma enorme paixão quando ensina, fala e escreve. O professor
entusiasmado estará sempre disposto e é resiliente ante as dificuldades (Pv
24.10).
Se
o professor não for entusiasmado e animado, ele não conseguirá ministrar uma
boa aula e com certeza alguns alunos não retornarão para a aula seguinte. O
apóstolo Paulo é um exemplo de professor entusiasmado, motivado (At 16.25). Ele
estava encarcerado, mas tinha entusiasmo para louvar a Deus e isso contagiou o
presidio; "Os presos ouviam". Diz ainda a Bíblia que "Deus,
pelas mãos de Paulo, fazia maravilhas extraordinárias" (At 19.11). Outros
exemplos de homens entusiasmados são Neemias e Esdras (Ne 2.1-10; Ed 7.8-10)
C - Esforço:
O
esforço é uma recomendação bíblica importante: "Mas esforçai-vos, e não
desfaleçam as vossas mãos..." (2Cr15.7). As coisas são conquistadas com
esforço e trabalho (Ne 2.1-6). O segredo do bom ensino é se esforçar. O esforço
inibe a indolência e o comodismo. Os professores de ED precisam se esforçar e
acreditar que o ensino genuinamente bíblico é uma bênção de Deus para suas
vidas e a dos seus ouvintes.
É
dever do professor se esforçar para trazer um bom ensino, mas quem nos faz
prosperar e crescer espiritualmente é o Deus dos céus (Ne 2.20). No campo
espiritual, o esforço feito fora do plano de Deus é um ato vão. Temos que nos
esforçar para estarmos dentro da perfeita vontade de Deus (Rm 12.2). Deus
recompensará o professor esforçado (1 Co15.58), mas o preguiçoso precisa
"ter com as formigas" (Pv 6.6-11)
3. Conhecer o seu potencial e seus
limites
Todos
os seres humanos são limitados. O pior é quando estes não reconhecem suas
limitações. Conhecer as fraquezas é fundamental no exercício da
espiritualidade, (Is 6.5). Quando o indivíduo é conhecedor de seus limites, ele
tem consciência de onde quer chegar, traçando um plano de ensino, estratégias e
metodologia, levando em consideração os seguintes aspectos:
A - Agir com racionalidade:
Conhecer
limites é agir com racionalidade. Todo processo de ensino-aprendizagem envolve
três fatores: o racional, o emocional e o cognitivo. Estratégia de ensino e
planejamento se faz com a razão; a aplicação prática deve levar em consideração
as emoções; e o resultado final é cognitivo. Tudo aquilo que causa impacto
emocional à memória tem mais facilidade para ativar as funções cognitivas de
registro e aprendizagem, portanto o ensino bíblico deve impactar as nossas
emoções e nos fazer crescer espiritualmente.
B - Conhecer o potencial humano e a
ação de Deus: Se o professor não
acredita em sua capacidade e deixa ser dominado pelo medo e pelo complexo de
inferioridade, o que causa a baixa autoestima, seu ministério educacional na ED
esta fadado ao fracasso. Nós precisamos acreditar em nosso potencial, mas
também conhecer os nossos limites. Tudo que iremos fazer na área do ensino
bíblico dependerá, em parte, de nosso esforço.
É
preciso "tirar a pedra" e "enfrentar a multidão" (Mc 5.27),
"tocar em Jesus" (Mc 5.27), "encher de água as talhas" (Jo
2.7; Jo 11.39). Tudo isso são ações humanas que cooperam para realização dos
grandes milagres.
Há
coisas que é o professor que tem que fazer. Por exemplo: estudar a lição,
pesquisar, ler, reler, planejar, treinar etc, tudo para uma boa ministração.
Não adianta ficar olhando para o céu esperando um anjo vir dar instruções a
respeito da lição bíblica, pois isso não vai acontecer e não é função de anjo.
A parte humana somos nós que temos que fazer, e o Senhor coopera e age em nosso
favor (Mc 16.20). Naquilo que não podemos fazer. Deus faz por nós (Js 1.5).
C - Fé:
A
nossa maior motivação para prosseguir a nobre função de ensinar a Palavra de
Deus em nossas escolas dominicais é a fé viva no Senhor Jesus Cristo (Hb 11.6).
É através dela que encontramos força, motivos, ânimo, esperança para seguir em
frente.
Artigo:
Pr. Mauricio Brito