Encontrava-me
ministrando em certa ocasião um estudo da Palavra de Deus. Falava naquela noite
sobre a oração como fazendo parte do ministério da intercessão de todos os
crentes. Pois bem, em certo ponto da preleção, quando procurava deixar mais
claro o meu pensamento sobre o assunto, um septuagenário diácono da igreja
resolveu ajudar-me. Com sua simplicidade e prudência, fruto de quem acabara de
completar 47 anos de serviço ao Senhor, ele relatou um fato que havia
presenciado nos longínquos anos 50. Disse que seu pastor, após dar um relatório
de suas atividades pastorais pelo sertão, conclamou a igreja a ajudá-lo em
oração, pois estava necessitando de um transporte motorizado para desempenhar
melhor o seu ministério. O pastor alegou que para evangelizar os mais
longínquos rincões, fazendo todo aquele percurso a pé ou nas costas de animal,
era praticamente impossível.
A
igreja ficou sensibilizada com o pedido de seu pastor. Foi então que um novo
convertido que se encontrava próximo de nosso diácono se ajoelhou para orar. No
meio dos rogos da igreja em favor do transporte do pastor, o agora
septuagenário diácono ouviu aquele irmão recém-convertido dizer em meio a
lágrimas: “Senhor dá um carro para o nosso pastor, ele está precisando! Eu
quero vê-lo chegar aqui de carro e fazendo bip-bip”.
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Na
sua fé simples, porém sincera e autêntica, aquele amado irmão orava com tanta
convicção que imitara até mesmo o som da buzina do carro! É admirável que um
novo convertido ore a Deus com tanta convicção e singeleza! As suas palavras,
embora ditas de uma forma infantil, revelam os efeitos práticos de uma das mais
belas doutrinas neotestamentárias - a Doutrina do Sacerdócio Universal dos
Crentes. Ela é claramente definida na Bíblia (1 Pd 2.9; Ap 1.5-6; 5.10). Todo
crente agora é um sacerdote, e pode exercer o seu ministério de intercessão
como fazia aquele irmão em favor de seu pastor. Um liderado, exercendo a função
sacerdotal de intercessor em favor de seu líder, só se tomou possível graças à
Nova Aliança selada com o sangue de Cristo Jesus.
E
possível sermos abençoados com todas as bênçãos que essa verdade doutrinária
pode nos proporcionar resgatando o seu valor bíblico e também histórico.
Necessitamos ter uma visão correta dessa doutrina desde a sua fundamentação nas
páginas do Antigo Testamento (AT), e a sua revelação máxima que se encontra no
Novo. Uma visão contextualizada do seu desenvolvimento ao longo da história da
Igreja é também de grande valia, e isso por uma razão bem prática: o sacerdócio
universal dos crentes, como aconteceu com inúmeras doutrinas bíblicas, foi
desvirtuado e até mesmo corrompido.
A
Igreja Católica Apostólica Romana, por exemplo, concentrou o sacerdócio numa
classe privilegiada que são os padres. No topo da hierarquia está o Papa,
denominado também de “O Santo Padre”. Dessa forma, a função sacerdotal de
intercessor, que cabia a todo cristão (lPd 2.9), foi elitizada. Aqui na Terra,
pelos clérigos católicos e no Céu, pelos “santos”. Posteriormente, outras
seitas, a exemplo do monnonismo, concentraram em tomo de si a função
sacerdotal. Somente os seus membros, apregoam seus adeptos, são os verdadeiros
detentores das chaves do sacerdócio.
E
oportuno sublinharmos que o resgate do sacerdócio universal dos crentes, sejam
eles leigos ou clérigos, tal qual se encontra nas páginas neotestamentárias foi
uma conquista da Reforma Luterana do século 16. Em uma de suas 95 teses
afixadas na porta da igreja do Castelo de Wittenberg em 1 de outubro de 1517,
Martinho Lutero dizia: “Qualquer cristão verdadeiro participa dos benefícios de
Cristo e da Igreja” (BETTENSON, H. Documentos da Igreja Crista). A Reforma
apregoava um retomo radical às Escrituras, como bem definiu seu slogan sola
scriptura (somente a Escritura). É nas páginas da Bíblia que podemos ver a
magnitude dessa doutrina.
De
uma forma sucinta, os teólogos esboçam a doutrina do sacerdócio (hb. koheri)
bíblico nas páginas do AT da seguinte forma:
(1)
no início, levando-se em conta a necessidade de se oferecer sacrifício, os
homens eram seus próprios sacerdotes (Gn 4.3 e Jó 1.5);
(2)
na era patriarcal o sacerdócio era exercido pelo chefe da família (Gn 8.20;
12.8; Jó 1.5);
(3)
de certo modo, todo Israel era sacerdote do Senhor para outras nações (Ex
19.6);
(4)
e no Monte Sinai, o Senhor limitou o sacerdócio a Arão e à tribo de Levi (Ex
28.1; 40.1-15).
O
professor J. Barton Payne, professor de Antigo Testamento, observa
oportunamente que “os sacerdotes do AT eram tipos de Cristo (Hb 8.1), que
operou a derradeira propiciação pelos pecados do povo” e que “a Igreja do NT
apresenta um sacerdócio universal dos crentes (lPd 2.5; Ap 5.10; Jr 31.34)”
(Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento).
Se
no Velho Concerto o sacerdote era um ministro das coisas sagradas (sacrifício
de animais, intercessão pelo povo, consulta a Deus e ensino da Lei), por outro
lado, dentro do Novo Concerto, os sacerdotes, entre outras coisas, devem:
oferecer o seu próprio corpo em sacrifício vivo (Rm 12.1-2); ministrar o louvor,
como fruto de seus próprios lábios (Hb 13.5); interceder pelos outros (lTm 2.1;
Hb 10.19-20); proclamar as virtudes daquele que os chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz (lPd 2.9); e manter comunhão direta com o seu Deus (2Co 13.13).
Esses
fatos nos revelam a grande importância que essa doutrina tem hoje para os
crentes. Em todos eles, o cristão é o agente ativo da ação. Mas é bom lembrar
aqui que, infelizmente, nem todos os crentes ainda tiveram o correto discernimento
da magnitude dessa verdade. Uma das principais funções sacerdotais, que é a de
intercessor, tem sido negligenciada. Permita ilustrar o que quero dizer citando
duas passagens do Novo Testamento.
A primeira encontra-se em Lucas 1.8-9. A segunda, em Apocalipse 5.8-10. Temos nessas passagens
o exercício do sacerdócio cobrindo as duas alianças. Na primeira, temos um
homem escolhido, Zacarias, para oficiar como sacerdote. Embora vivesse no
limiar no Novo Concerto, ele ainda pertencia ao Antigo. Na segunda, temos todos
os crentes, sem distinção alguma, exercendo a função sacerdotal. Todavia, uma
prática é comum no desempenho da função sacerdotal revelada nessas passagens -
a queima do incenso. Tanto os sacerdotes da Velha Aliança como os da Nova
Aliança queimavam incenso.
O
texto é claro em dizer que o sacerdote entrou no santuário para queimar incenso
(Lc 1.9), e que o incenso, hoje, são as orações dos santos (Ap 5.8). Se somos
sacerdotes, como de fato o somos, então vamos “queimar incenso diante de Deus”.
Há sacerdotes hoje que não queimam mais incenso! Você já queimou incenso hoje?
Artigo: Pr.
José Gonçalves da Costa Gomes | Disponível em: Subsídios Dominical
DICAS
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