Deus usa sua metodologia para chamar
seus servos de maneira direta e indireta para realizar a sua obra na terra.
1. OS MÉTODOS DE DEUS
Deus chama homens para exercerem
as mais distintas tarefas em sua obra, e, como Ele é soberano em seus desígnios,
então não existe um método definido para a chamada divina. Existe, sim, o
método divino, soberano e poderoso.
A Bíblia registra a chamada de
vários servos de Deus, e, por uma questão didática apenas, queremos abordar
este assunto sob dois aspectos:
a) Método direto.
Deus tem chamado homens de um
modo direto. Entre esses, encontramos:
Noé. "Então disse Deus a Noé: Resolvi dar cabo de toda carne,
porque a terra está cheia da violência dos homens: eis que os farei perecer
juntamente com a terra" (Gn 6.13). O tempo era terrível, pois a sociedade
estava corrompida à vista de Deus. A violência, a hostilidade e pecaminosidade
eram o ambiente natural daquela época. Em meio a esse ambiente conturbado, Deus
chamou Noé e deu-lhe a ordem de construir uma arca.
A chamada de Noé era para
construir. Podemos imaginar as ironias, pressões, contestações e até mesmo hostilidades
que Noé sofreu quando começou seu projeto de construir a arca. Certamente ele
foi tido como louco, paranóico. Porém Noé tinha plena certeza de sua chamada e
missão dadas diretamente por Deus (Gn 6.8-12).
Abraão. "Ora disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua
parentela e da casa de teu pai, e vai para a terra que te mostrarei" (Gn
12.1). A chamada de Abraão era para deixar seu povo, sua cidade, seus parentes,
amigos e até mesmo alguns bens, e ir para uma terra que ele não conhecia. Essa
decisão exigiu fé e ousadia, e somente uma poderosa chamada de Deus poderia
arrancar Abraão de sua terra para ir em busca de uma nova terra. Os homens
consideram isso uma aventura, um golpe no ar. Naquele tempo, certamente muitos
amigos e parentes o aconselharam a abandonar essa ideia de ir para a terra
prometida. Mas Abraão tinha certeza de sua chamada, e por isso, obedeceu (Gn
12.4).
Moisés. "Vem, agora, e Eu te enviarei a Faraó, para que tires o
meu povo, os filhos de Israel, do Egito" (Êx 3.10). Moisés fracassou em
sua primeira tentativa de ajudar seu povo (Êx 2.11-13), e, sem dúvida, esse
revés marcou sua vida, e ele passou a se julgar incapaz para qualquer tipo de
empreitada dessa ordem. A chamada de Moisés contém o antídoto para sua
frustração interior. Deus o chamou, primeiramente para si: "Vem,
agora" e se identificou como o Deus de seus pais, Abraão, Isaque e Jacó
(Êx 3.1-22).
Moisés precisava conhecê-lo. Ele
não tinha nenhuma experiência com Deus, a não ser os ensinamentos da infância,
recebidos de sua mãe. Quem é chamado por Deus deve conhecê-lo. Em segundo
lugar, Deus o enviou e o comissionou: Essa extraordinária chamada é que deu
condição a Moisés de realizar tão notável empreendimento.
Samuel. "Todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel
estava confirmado como profeta do Senhor" (1 Sm 3.20). Os filhos de Eli,
que seriam seus sucessores, tinham se tornado execráveis diante de Deus e do
povo, em virtude dos abusos que praticavam, violando a Lei, que deviam cumprir
e ensinar, e fazer o povo obedecer. Por esse motivo, a palavra do Senhor se
tornou rara em todo o território de Israel, isto é, não havia profetas nem
profecias. Deus se revelou a Samuel e lhe fez ciente de seu juízo sobre os filhos
de Eli (1 Sm 3.1-14). Essa experiência foi básica na qualificação de Samuel
para o ministério profético. O resultado é visto quando Samuel, já velho,
resigna seu cargo, e faz um balanço da sinceridade, austeridade e santidade de
sua vida ministerial (1 Sm 12.1-4).
Isaías. "Vai, e dize a este povo..." (Is 6.9). A chamada de
Isaías deu-se em meio a uma visão maravilhosa, onde se destaca a santidade do
Senhor. Na visão, Isaías se conscientiza de três coisas: - Deus é Santo; ele
(Isaías) é impuro e o povo está desviado dos retos caminhos do Senhor (Is
6.1-8). Essa visão marca todo o ministério profético de Isaías, o que é
demonstrado ao longo de seu livro. Ele compreende a grandeza da glória,
perfeição, justiça e santidade de Deus, e, ao mesmo tempo, conhece a
necessidade de seu povo - a redenção (Is 59). A chamada de Isaías é muito
semelhante à chamada neotestamentária: O pregador precisa conhecer a justiça de
Deus e a necessidade do pecador, e a redenção em Cristo.
Os apóstolos. "E Jesus disse: Vinde após mim, e Eu farei que sejais
pescadores de homens" (Mc 1.17. Leia ainda Mateus 4.18-22; João 1.35-42).
O Senhor chamou pessoalmente a cada um dos doze apóstolos. Houve o momento,
inclusive, em que eles faziam parte de um número bem maior de discípulos, porém
o Senhor Jesus fez questão de separá-los novamente e fazer uma designação
específica - apóstolos (Lc 6.12-16).
Por que o Senhor Jesus fez tanta
questão de chamá-los pessoalmente e ficar tanto tempo com eles?
Não temos dúvida de que a missão
era por demais importante. Estes onze judeus iriam mudar o curso da história da
humanidade. A maioria deles, e outros que seriam chamados posteriormente,
haveriam de escrever com o próprio sangue algumas páginas da História. Por esse
motivo, justifica-se o empenho do Mestre divino em chamá-los e prepará-los.
Paulo. "Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente d visão
celestial" (At 26.19). O arrogante Saulo se considerava justo diante de
Deus, pela justiça da Lei (Fp 3.6) e achava que, matando os cristãos, estava
prestando grande serviço a Deus (At 8.1,3; 9.1,2). Não seria qualquer chamada
que iria mudar a vida e os propósitos deste homem. Por isso, o Senhor Jesus
providenciou uma chamada inusitada.
O impacto daquele encontro com o
Senhor foi tão marcante que o transformou completamente (At 9.3-19). A
conversão de Paulo tornou-se no acontecimento mais importante desde o
Pentecoste até nossos dias. Está narrada três vezes (At 9.1-18; 22.1-11;
26.12-18). Logo após essa extraordinária conversão, Paulo já começou a testemunhar
de Cristo. Alguns dias depois de sua conversão, Paulo foi encaminhado para sua
terra natal, a cidade de Tarso. Dez anos mais tarde, Barnabé foi buscá-lo, e é
nessa época que Paulo inicia seu ministério apostólico (At 9.30; 11.25,26).
b) Método indireto.
Deus não somente chamou de forma
direta, mas também vemos na Bíblia que Ele usou método indireto com grande
objetividade.
José. Ainda moço, José teve alguns sonhos que indicavam sua
proeminência ou liderança sobre seus irmãos, porém, não se tratava de uma
chamada definida (Gn 37.5-10).
Analisemos as fases da vida de
José:
a) Odiado e vendido pelos seus
irmãos,
b) De filho, transformado em escravo,
c) Acusado injustamente,
tornou-se prisioneiro no calabouço do rei egípcio,
d) De prisioneiro, é elevado a
primeiro-ministro do Egito.
O Egito na época de José era
governado pelos hicsos e os Faraós eram considerados divinos, com poderes
absolutos. Governar essa nação já era uma tarefa difícil, muito mais ainda em
duas fases distintas: uma de fartura e outra de extrema fome.
Quando examinamos as fases da
vida de José, verificamos que não passam de um árduo e difícil treinamento, com
o objetivo de moldar o cará ter desse servo de Deus. Entre outras coisas, José
aprendeu: - o que os homens são capazes de fazer, quando são alimentados pelo
ódio, interesses, cobiça e inveja; - o que Deus é capaz de realizar em favor e
através de seus servos. Nesse período de provação, José teve oportunidade de
demonstrar fidelidade em momentos e lugares difíceis (Gn 39.1-6, 20-23); e de não
ceder à tentação (Gn 39.7-13). Por causa dessa chamada divina, José foi um
líder sábio e justo, glorificando a Deus em sua proeminente missão no Egito.
Aleluia!
Josué. "Então disse o Senhor a Moisés: toma para ti a Josué,
filho de Num, homem em quem há o Espírito, e põe a tua mão sobre ele" (Nm
27.18; Nm 27.15-23; Dt 1.38; 3.21; 31.7,8).
Josué é fruto de discipulado. Ele
esteve ao lado de Moisés desde o início da jornada no deserto. A primeira
missão que lhe coube foi selecionar homens para guerrear contra Amaleque (Êx
17.9).
Em seguida, ele aparece como
servidor de Moisés (Êx 24.13; 32.17; 33.11; Nm 11.28). Esteve presente em todos
os momentos críticos da jornada pelo deserto. Com isso, no serviço e na
obediência prática, ele se transformou em um grande líder: "E Josué, filho
de Num, estava cheio de espírito de sabedoria, porquanto Moisés tinha posto
sobre ele as suas mãos; assim os filhos de Israel lhe deram ouvidos e fizeram
como o Senhor ordenara a Moisés" (Dt 34.9).
Grandes homens de Deus aprenderam
o discipulado com seus líderes espirituais. Durante anos, tiveram a oportunidade
de demonstrar obediência, fidelidade e submissão. Quando foram chamados a
ocupar a liderança, estavam preparados, e Deus lhes falou, e confirmou a
chamada para sua obra. 0 grande empecilho hoje é que muitos não querem esperar,
obedecer, e submeter-se. Por isso são rejeitados.
Timóteo: "Saúda-vos
Timóteo, meu cooperador..." (Rm 16.21). Timóteo é o exemplo típico do
ministro do Novo Testamento, fruto do discipulado contínuo. Desde jovem tornou-se
companheiro e cooperador do apóstolo Paulo (At 16.1; 17.14; 18.5; 19.22; 20.4).
Mirou-se no exemplo, firmeza e fidelidade do grande apóstolo. A palavra
enxertada por sua piedosa mãe, na infância, teve terreno e ambiente fértil para
desenvolver-se. Paulo o chama de: "Meu filho amado e fiel no Senhor"
(1 Co 4.17); "ministro de Deus... no evangelho de Cristo" (1 Ts 3.2)
e, ainda, de "verdadeiro filho na fé" (1 Tm 1.2). Estas expressões
demonstram o apreço que o apóstolo tinha por Timóteo, e também o seu caráter.
Com o passar dos anos, não foi difícil a Timóteo compreender sua chamada ministerial.
2. SUA RAZÃO
Por que é importante a chamada divina para o ministério? Qual a
razão da chamada?
Ao descrevermos as chamadas de
alguns servos de Deus, tivemos o propósito de, pelo menos parcialmente,
responder a essas perguntas. Resumindo, podemos dizer que a chamada divina tem
alguns propósitos importantes:
1 - Esclarecer que o
ministério, seja qual for, nunca foi uma profissão na Antiga Aliança, muito
menos na atual dispensação. Na Antiga Aliança o sacerdócio era privativo
dos filhos de Arão, e os profetas eram chamados pelo Senhor.
O ministério neotestamentário é
um dom e uma vocação de Deus. "E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos,
outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e
mestres" (Ef 4.11).
A partir desta premissa
básica, o homem chamado pelo Senhor deve estar consciente de que:
a) Do Senhor vem a recompensa (1
Pe 5.2-4).
b) Pelo Senhor ele será julgado
(1 Co 4.3-5).
A certeza da
chamada de Deus faz o servo do Senhor superar obstáculos considerados, pelo
homem comum, insuperáveis ou além de qualquer possibilidade humana, senão
vejamos:
a) Como compreender a posição de
Moisés diante das rebeliões e tumultos que ele enfrentou no deserto?
(Nm 12.1-16; 14.1-9; 16.1-19.) Como
entender sua fervo rosa oração intercessória quando Deus quis destruir o povo
israelita e fazer dele um novo e grande povo? (Nm 14.10- 19.) Só um homem
vocacionado por Deus poderia ter capa cidade, calma e equilíbrio para vencer
nesses momentos críticos. Moisés não era um super-homem, mas era um homem
chamado pelo Senhor.
b) Como entender a perseverança
de Paulo, que foi dado por morto, depois de ser apedrejado pelos judeus opositores
do evangelho da graça, em continuar na sua missão de pregar essas boas-novas?
(At 14.19-22.) Inúmeros outros
exemplos poderiam ser citados. Homens, que, no dizer do escritor da carta aos
Hebreus, "por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram
promessas, fecharam bocas de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam
ao fio da espada; da fraqueza tiraram força; fizeram-se poderosos em
guerra..." (Hb 11.33,34.)
3 - A chamada é acompanhada da
missão.
Ninguém que é chamado pelo Senhor
vive de um lado para outro, de um trabalho para outro, sem nunca ter certeza da
vontade de Deus. Deus, quando chama, comissiona seu servo para uma missão
específica.
3. SUA OCASIÃO
Se Deus chama como quer, isto é,
de modo soberano, é lógico que Ele também chama quando quer. Não há faixa etária
privilegiada, como vemos a seguir:
a) Desde o ventre, o
Senhor chamou Jeremias (Jr 1.5) e Paulo (Gl 1.15,16).
b) O Senhor chamou
Samuel, sendo este bem jovem (1 Sm 3.3,4,20); também Davi (1 Sm 16.11-13)
e, possivelmente, Timóteo (At 16.1-3). Em qualquer época de nossa existência, o
Senhor pode nos chamar para o ministério ou para o cumprimento de uma missão em
particular. É evidente que, na maioria das vezes, o Senhor desperta seus
servos, em plena juventude para a obra do ministério, o que lhes proporciona
tempo para a preparação em escolas teológicas, no discipulado, nas atividades
auxiliares da igreja. Quanto às circunstâncias das chamadas registradas no
texto sagrado, são as mais variadas possíveis. O Senhor chamou Davi quando
cuidava do rebanho de seu pai (1 Sm 16.11); Eliseu quando andava lavrando com
doze juntas de bois (1 Rs 19.19-21); Paulo a caminho de Damasco, com o objetivo
de prender cristãos (At 26.12-16).
4. SUA NATUREZA.
Quanto à natureza intrínseca, a
chamada para o ministério neotestamentário apresenta as seguintes características:
a) Divina.
A responsabilidade da chamada
ministerial é do Senhor; "e Ele mesmo concedeu uns para..." (Ef
4.11). Não se trata de uma incumbência dada por convenção, concílio ou igreja.
Embora que estes possam ser instrumentos de Deus na chamada de alguém.
b) Pessoal.
A chamada para a salvação é
universal. É para todos. A chamada para o ministério é pessoal; Deus tem o
ministério ou missão certa para a pessoa certa. Ele é onisciente, conhecendo a
capacidade de cada um, por isso, na distribuição dos talentos, estes são
distribuídos segundo a capacidade de cada um (Mt 25.14,15).
As responsabilidades diferem, por
isso o Senhor chama o seu servo para o ministério e designa-lhe o lugar ou a
missão, respeitando a sua capacidade, as suas características pessoais. A Paulo
foi dado o ministério entre os gentios (At 9.15); a Pedro o ministério entre os
judeus.
c) Soberana.
A soberania de Deus é ainda pouco
entendida por muitos, e, para se começar a entendê-la, é necessário que levemos
em conta alguns aspectos acerca da personalidade do Senhor: - Ele é a origem de
todas as coisas. "Quem, pois, conheceu a mente do Senhor?
Ou quem foi o seu conselheiro? Ou
quem primeiro lhe deu a Ele para que lhe venha a ser restituído? (Rm 11.34,35.
Ler ainda Isaías 40.13; segunda Coríntios 2.16.) - Ele é soberano porque a
sabedoria e o poder são atributos de sua pessoa (Jo 9.4; Dn 2.20).
O servo do Senhor, ao ser
chamado, deve aceitar com humildade, submissão, e como ato de soberania divina.
Certamente não conseguirá respostas para muitas indagações imediatas. Só com o
correr do tempo entenderá os desígnios do Senhor (Is 55.8,9; 1 Co 2.16).
d) Definitiva.
A chamada para o ministério é
também uma chamada para o discipulado. Logo, esta chamada envolve algumas
condições indispensáveis, tais como: - Que o ministro exerça seu ministério sem
interesse de recompensa material (Lc 9.57,58).
Que a prioridade maior entre as
suas atividades seja o próprio Senhor Jesus. (Veja como Ele recusou o segundo
lugar na vida de duas pessoas que queriam segui-lo. Lc 9.59-62).
Que haja no ministro abnegação e
renúncia. Em primeiro lugar estará a vontade do Senhor (Mt 16.24; Lc 14.26,33).
A chamada para o ministério é definitiva. Aquele que é chamado não pode impor
condições. Pelo contrário, deve agradecer a Deus o privilégio de ser chamado,
como o fez Paulo (1 Tm 1.12,13).
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