O movimento filosófico,
político, social, econômico e cultural, desencadeado no século 18 na Europa,
denominado Iluminismo, trouxe, segundo alguns, "luzes" racionais ao
pensamento moderno (daí a raiz etimológica do termo), mas o que se pode dizer
de concreto sobre essa filosofia é que apresentou grandes e graves
"ilusões" à humanidade.
Dentre elas está a tese utópica que crê na
bondade inata do homem e, por isso, defende que não há necessidade de ensinar
ao ser humano os valores morais tradicionais, pois "caso as crianças sejam
entregues a si mesmas, sem a imposição da educação tradicional com padrões objetivos,
espontaneamente se inclinarão ao amor, à abnegação, ao trabalho competente e
serão muito mais criativas". Ou seja, asseveram que a natureza humana é
essencialmente boa, em contraste com o que diz a Bíblia Sagrada (Pv 22.15).
O filósofo francês
Jean-Ja-cques Rousseau afirmou que "o homem nasceu livre, mas em toda
parte está sob ferros". Com isso, estava disseminando o pensamento de que
o homem nascia cheio de virtudes, mas ficava aprisionado pelas convenções
(verdades absolutas) ensinadas pelas instituições sociais (família, escola e
igreja), as quais desconfiguravam a humanidade e, por isso, para ele, a melhor
educação que o homem poderia ter era não ter educação. Uma ideia francamente
diabólica, pois confronta os paradigmas de Deus desde tempos muito antigos, o
qual determinou aos pais que ensinassem aos filhos assentados na casa, andando
pelo caminho, deitando-se e também ao se levantarem (Dt 6.7). O Altíssimo
determinara algo parecido com uma "classe de Escola Dominical" ininterrupta.
Já no pensamento luminista, havia, de concreto, apenas pungentes ilusões
educacionais.
A importância do ensino
O ensino sistemático da
Palavra é uma necessidade imperiosa, verdade fartamente demonstrada na Bíblia.
Disse Jesus: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo
8.32). Não se pode, assim, pensar em educação cristã que não promova a
transformação das pessoas e, consequentemente, do ambiente em que elas vivem.
No século 17, em Londres, uma
família foi profundamente impactada pelo ensino sistemático das Escrituras. Na
casa viviam Samuel Wesley e sua esposa Susanna, além de dez filhos. A mãe
devotou sua vida ao treinamento espiritual e acadêmico de seus filhos e, para
tanto, reservou um quarto em sua casa para ministrar-lhes diariamente aulas, os
quais aprendiam a ler usando a Bíblia como seu texto principal. O resultado
disso? Um dos seus filhos tornou-se um renomado evangelista e teólogo que
pregou mais de 40.000 sermões e escreveu mais de 200 livros: John Wesley.
Outro
filho, Charles Wesley, compôs aproximadamente 8.000 hinos sacros. A família
Wesley sentiu muito de perto o efeito transformador outorgado pelo ensino da
Bíblia Sagrada. Aquele ambiente familiar transbordava, como sói acontecer, de
disciplina, respeito e reverência a Deus, além de um profundo senso de comunhão
familiar.
A importância de ouvir
Para que o ensino seja
transformador, entretanto, o relacionamento entre o professor e o aluno deve
ser um dos pilares pedagógicos. Suzanna Wesley queria ser mais que a professora
de seus filhos. "Queria conhecê-los intimamente. Queria escutar-lhes com
seus ouvidos, olhos, coração, rosto, lábios e mente". Ela conseguia manter
o foco primordialmente no indivíduo e, por isso, o seu ambiente familiar foi
tão portentosamente invadido pela presença de Deus. John Maxwell, falando sobre
o valor de ouvir as pessoas, cita o exemplo do ex-presidente americano Lyndon
B. Johnson, que tinha em seu gabinete, ainda quando era senador, um quadro com
os dizeres: "Você não está aprendendo nada quando esta participando
sozinho de toda a conversa". Sem dúvida, ouvir integralmente os alunos é
sinal de inteligência e respeito.
Morrie Schwartz, um primoroso professor
americano que foi diagnosticado com uma doença degenerativa em estado terminal,
apresentou suas últimas lições ao seu ex-aluno, Mitch Albom, que as compilou em
um livro:
"Quando Morrie estava
com alguém, entregava-se por inteiro. Olhava a pessoa nos olhos e a escutava
como se ela fosse a única no mundo. (...) 'Gosto de estar inteiramente presente'
— disse Morrie — 'Isso significa estar de fato com a pessoa que está diante de
nós. Quando converso com você agora, Mitch, procuro me focalizar somente no que
se passa entre nós. Não fico pensando no que dissemos a semana passada. Não
fico pensando no que vai acontecer na sexta-feira. (...) Estou conversando com
você. Pensando em você'".
Que grande lição! Prestar
atenção como se não houvesse outra pessoa no mundo é a única forma de ouvir
corretamente. Por vezes, no afã de demonstrar simpatia com todos, o professor
de Escola Dominical não escuta detidamente ninguém e, com isso, não consegue
cumprir sua tarefa cabalmente.
O ambiente transformador
A ED tem o potencial de ser
produtora de um ambiente transformador na família dos alunos. Para tanto o
professor deve demonstrar total interesse, sobretudo, pela vida de seus alunos
e de suas famílias. Se isso ocupar o lugar de proeminência no ensino de Deus, a
ambiência familiar será consequentemente alterada, pois o Espírito Santo
soprará sobre o "vale de ossos secos" das ré ações emocionais
familiares destruídas, trazendo vida nova para a família. C. S. Lewis afirmou
que "o dever do educador moderno não é o de derrubar florestas, mas ode
irrigar desertos". Com isso, ele estava defendendo que cabia ao professor,
sobretudo, irrigar os alunos de sentimentos correios, levando-os a agirem
adequadamente.
Como juiz de direito há mais
de vinte anos, atuando nos últimos anos quase que exclusivamente em Varas de
Família e, concomitantemente, exercendo o ministério pastoral, tenho observado
muitas famílias devastadas pela absoluta desorientação, decorrente do desprezo
às coisas espirituais. Problemas que possuíam singela resolução tornaram-se em
grandes tormentas familiares, pela total inaptidão de pessoas amargas, vazias de
Deus. Se permitissem, o Sopro de Deus teria mudado o desfecho nefasto de suas
vidas.
Cabe, assim, ao professor da
ED, como agente de Deus, irrigar os desertos das almas, como mencionou Lewis,
impregnando sentimentos verdadeiros calcados em verdades eternas, treinando o
aluno para fazer as melhores escolhas na vida e, com isso, transformando de
maneira formidável o ambiente familiar.
Fonte:
Ensinador Cristão, N° 70/Autor: Pr. Reynaldo Odilo Martins S.
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