As
Lições Bíblicas da Escola Dominical do primeiro trimestre de 2021, CPAD, foram
comentadas pelo pastor Esequias Soares. Através de uma entrevista concedida ao
Jornal Mensageiro da Paz, veremos quem é o pastor e qual a sua a visão Bíblica
acerca das doutrinas Pentecostais.
O
pastor Esequias Soares, é líder da Assembleia de Deus de Jundiaí (SP); graduado
em Letras, com habilitação em Hebraico, pela Universidade de São Paulo; mestre
em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie; professor de
Hebraico, Grego e Apologia Cristã; comentarista de Lições Bíblicas de Escola
Dominical da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) e autor de várias
obras publicadas pela editora; presidente da Comissão de Apologética Cristã da
Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) e 2º vice-presidente da Sociedade Bíblica do
Brasil. Nesta entrevista, pastor Esequias Soares fala sobre as principais
doutrinas bíblicas pentecostais; sobre a importância destas serem enfatizadas
nos dias de hoje; sobre quais delas vêm sofrendo maior ataque ao longo da
história e atualmente; sobre a distinção entre pentecostalismo do
neopentecostalismo; e sobre os riscos que corre uma igreja pentecostal que
deixa de ensinar as doutrinas bíblicas distintivas do pentecostalismo.
1) Quais as principais doutrinas
bíblicas pentecostais?
Por
doutrina pentecostal entende-se doutrina bíblica cristã que aceita a operação
atual do Espírito na igreja e no mundo.
Quando
comparada à teologia reformada, podemos dizer que os pentecostais ampliam a
visão teológica sobre a atuação do Espírito Santo. Isso significa acreditar na
existência de milagres, curas, glossolalia, profecias e outras atividades
caracterizadas por sobrenaturais que interferem não só no cotidiano da igreja e
do crente como também na liturgia dos cultos.
Ao
contrário do pregado pela doutrina cessacionista, esses eventos não foram
exclusivos para o período da encarnação de Jesus ou da Igreja Primitiva, mas
continuaram ao longo da história e alcançam os dias de hoje.
Por
isso, ao conversarmos sobre doutrinas pentecostais, devemos ter a consciência
de que não é um modismo, mas um ensino da igreja desde os primeiros cristãos e
que vem sendo experimentado ao longo da história.
2) Qual a importância de enfatizarmos as
doutrinas bíblicas pentecostais nos dias de hoje?
Falar
de pentecostalismo não é criar um tópico novo na teologia bíblica cristã, como
alguns podem pensar. É algo que pertence à Igreja desde seu início. Desde
Pentecostes, a manifestação do Espírito Santo caracteriza a vida espiritual dos
crentes e da Igreja como um todo. Dessa forma, é importante, primeiro, enfatizarmos
que a doutrina pentecostal sempre foi bíblica, para podermos então conversar
com aqueles que atacam os pentecostais como se fossem antibíblicos; segundo,
estudarmos e ensinarmos nos púlpitos sobre a atuação do Espírito Santo na
Igreja e no mundo, para que os irmãos e as irmãs tenham compreensão sobre sua
fé e saibam compartilhá-la com outras pessoas.
3) Quais dessas doutrinas vêm sofrendo
maior ataque ao longo da história e atualmente?
Em
alguns momentos da história, temos o registro de alguns grupos que
experimentavam a manifestação do Espírito sendo chamados de “místicos”. Isso
porque observavam entre eles a ocorrência de milagres e glossolalia.
No
pensamento moderno, o racionalismo e a ciência ganharam muito valor em
detrimento da emoção e da espiritualidade. Hoje sofremos as consequências desse
desequilíbrio.
Por
muito tempo, o aspecto emocional da pessoa foi deixado de lado. No entanto, o
ensino bíblico nunca desconsiderou que Deus age na vida da pessoa por completo;
e, nas igrejas pentecostais, as pessoas são tratadas tanto pelo intelecto
quanto pelo sensível.
4) O que distingue essencialmente o
pentecostalismo do neopentecostalismo?
Os
termos “pentecostalismo” e “neopentecostalismo” foram criados para classificar
o surgimento de algumas denominações cristãs no século 20. Digo cristãs porque
o fenômeno “pentecostalismo” e também o “carismático” - os dois termos – tratam
da manifestação do Espírito. No Brasil, geralmente “pentecostalismo” refere-se
aos movimentos evangélicos e “carismático”, aos movimentos católicos. Do ponto
de vista histórico, então, os grupos pentecostais são os que
resultaram do avivamento da Rua Azuza; os neopentecostais são os grupos
que surgiram na segunda metade do século 20 voltados para a teologia da
prosperidade e outras práticas extrabíblicas. Dependendo da denominação, as
ênfases variam. Por exemplo, nem todas aceitam a cura ou a glossolalia.
5) Quais riscos corre uma igreja Pentecostal
que deixa de enfatizar as doutrinas bíblicas distintivas do pentecostalismo?
Como
já expliquei, pentecostalismo não é algo “extra” à doutrina cristã. Assim, não
entender sobre a atuação do Espírito Santo no nosso dia a dia é deixar de
compreender quem é Deus, é reduzir a atuação divina no mundo, é não aproveitar
o que Deus tem para Sua Igreja na totalidade. Outro risco é o rigor na correção
de certas meninices no culto e enfatizar muito os testemunhos negativos em
decorrência delas, o que pode levar o rebanho à mornidão e ao desinteresse
pelos dons espirituais.
6) Quais as maiores ameaças ao
pentecostalismo nos últimos dias?
Entendo
como ameaças não a paralisação da obra pentecostal, mas a inserção de modismos,
inovações e aberrações doutrinárias que nossos pais não conheceram e nem
ensinaram; a imitação de certas práticas neopentecostais que não combinam com a
nossa tradição. Existe também a possibilidade de se supervalorizar o
sobrenatural e esquecer que Deus atua nas práticas mais naturais e corriqueiras
do dia a dia.
Fonte: Jornal
Mensageiro da Paz, Ano 90 – N° 1623, p 11