Quero fornecer conforto ao descrever
cinco figuras de linguagem que nos ajudam a entender como a morte é vista no
Novo Testamento. Para os que estão preparados, não é preciso temer a jornada.
No Novo Testamento, a morte é
transformada de monstro em ministro. O que de início parecia nos prender,
liberta-nos para ir para Deus. Eis algumas palavras de conforto que nos ajudam
a suavizar o golpe.
Leia também:
* Subsídios para Escola Dominical
* Lições EBD – Adultos
1.
PARTIDA
Jesus, cuja coragem em face da morte é
um exemplo para nós, referiu-se a sua morte como uma partida, um êxodo. Lá, no
monte da transfiguração, Moisés e Elias apareceram com Cristo e “falavam sobre
a partida de Jesus, que estava para se cumprir em Jerusalém” (Lucas 9:31). No
grego, a palavra partida é êxodo. O segundo livro do Antigo Testamento é
intitulado Êxodo porque fornece detalhes da partida dos filhos de Israel do
Egito.
Da mesma maneira como Moisés liderou
seu povo na saída da escravidão, também Cristo, agora, atravessa seu próprio
mar Vermelho, derrotando os inimigos e preparando-se para levar seu povo para a
terra prometida. Seu êxodo é a prova de que ele pode nos conduzir em segurança
ao longo do caminho da Terra para o céu.
Não há nada a temer acerca de
empreender a jornada do Egito para Canaã, o povo tinha apenas de seguir a
Moisés, o servo de Deus. Uma vez que tinham atravessado o mar Vermelho, Canaã
estava do outro lado do mar. Se tiver um líder qualificado, pode desfrutar da
jornada.
Também não é temível para nós fazermos
nosso êxodo final, pois seguimos nosso líder, que vai à frente. Quando a
cortina se abre, não só o encontraremos do outro lado, mas também descobriremos
que foi ele quem nos guiou rumo à cortina.
Cristo, um pouco antes de sua morte,
disse aos discípulos que ia para um lugar ao qual eles não podiam ir. Pedro,
que não gostou do que ouviu, queria seguir a Cristo por todo lugar. Mas a
resposta deste foi:
“Para onde vou, vocês
não podem seguir-me agora, mas me seguirão mais tarde” (João 13:36).
Sim, agora que ele morreu e foi levado
para o céu, todos nós o seguiremos. O que nos encoraja é saber que ele não nos
pede para ir para algum lugar que ele mesmo não tenha ido. Ele, que teve uma
saída bem-sucedida, também tornará nossa saída bem-sucedida. Cristo pagou nossa
dívida na cruz, e a ressurreição foi nosso recibo. Sua ressurreição era a
“prova da compra”.
Perguntaram a uma menininha se ela
sentia medo de atravessar o cemitério. Ela replicou: “Não, não tenho medo, pois
minha casa é do outro lado!” Nunca se deve temer um êxodo se for o caminho para
um lugar melhor.
2.
SONO TRANQUILO
Quando Cristo entrou na casa do
dirigente da sinagoga, ele confortou a multidão dizendo que a filha do
dirigente não estava morta, mas dormindo (Lucas 8:52). Em outra ocasião, quando
começou sua viagem para Betânia, ele disse para os discípulos: “Nosso amigo
Lázaro adormeceu, mas vou até lá para acordá-lo” (João 11:11).
Paulo usou a mesma figura de linguagem
quando ensinou que alguns cristãos poderiam não conhecer a morte, mas ser
arrebatados para se encontrar com Cristo: “Eis que eu lhes digo um mistério:
nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados” (1 Coríntios 15:51). Nem
todos morrerão, alguns viverão até o retorno de Cristo. Assim, fala-se da morte
como sono reparador.
A) O sono da Alma é uma falsa doutrina
Como você provavelmente está ciente, há
os que ensinam o “sono da alma”, ou seja, a crença de que ninguém está
consciente na morte porque a alma adormece até a ressurreição do corpo. Embora
essa percepção tenha alguns defensores hábeis, ela sofre com a dificuldade de
ter de reinterpretar muitas passagens claras das Escrituras a fim de que essa
doutrina se ajuste.
B) Moisés ao morrer não entrou em um estado de
inconsciência
Moisés, com certeza, não “dormiu” até o
dia da ressurreição, mas estava plenamente consciente quando apareceu no monte
da transfiguração. Dizer, como fazem alguns, que ele já tinha ressuscitado é
fazer uma suposição que não encontramos na Bíblia. Devemos ficar satisfeitos
com o fato de que ele, embora tenha morrido e sido enterrado por Deus, não
estava inconsciente, mas conseguiu conversar com Cristo.
C) A história de Estêvão
Quando Estêvão estava prestes a morrer,
ele não pediu para a sepultura o receber, mas disse: “Senhor Jesus, recebe o
meu espírito” (Atos dos Apóstolos 7:59). Fica claro que ele não aguardava uma
existência inconsciente, mas esperava a felicidade imediata do céu e da
comunhão com Cristo.
D) A história do ladrão
Depois, há a história do ladrão à morte
a quem Cristo disse: “Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso”
(Lucas 23:43). Ignorando tanto as regras da gramática como a sintaxe, os que
acreditam no sono da alma dizem que a palavra hoje se refere apenas ao tempo em
que Cristo pronunciou as palavras. Eles interpretam que as palavras de Cristo
dizem: “Eu lhe garanto hoje: você estará comigo no paraíso.”
Assim, o argumento prossegue, o ladrão
não iria naquele dia para o paraíso; Cristo apenas fizera uma promessa para ele
naquele dia! O problema é que estudiosos gregos concordam que esse
rearranjo das palavras é “gramaticalmente sem sentido”.
Já estava, antes, óbvio que Cristo
estava falando com o ladrão naquele dia (Será que Cristo poderia ter falado com
ele ontem ou amanhã?). Está claro que Cristo confortava o ladrão ao lhe dizer
que eles ainda se encontrariam no paraíso antes do fim daquele mesmo dia.
Forçar qualquer outro sentido no texto por causa de uma ideia preconcebida de
que a alma adormece é um desserviço ao sentido claro das Escrituras.
E) Estar com Cristo imediatamente após morrer
Paulo, sem dúvida, esperava estar com
Cristo quando morreu. Ele escreve que tem grande desejo de “partir e estar com
Cristo, o que é muito melhor” (Filipenses 1:23). Paulo não anseia pela morte
para que sua alma descanse; ele anseia pela morte porque sabe que estará com
Cristo, o que é muito melhor. Mais uma vez ele escreve que sua preferência é
“estar ausente do corpo e habitar com o Senhor” (2 Coríntios 5:8). Não há
maneira justa de interpretar isso a não ser entender que ele esperava estar com
Cristo imediatamente após morrer.
Dormir é usado como uma imagem da morte
no Novo Testamento porque o corpo adormece até o dia da ressurreição, não a
alma. Dormir é usado como imagem da morte porque é um modo de rejuvenescer.
Esperamos dormir quando nos sentimos
exaustos e nosso trabalho está feito. Além disso, não tememos dormir, pois
temos certeza de que despertaremos de manhã; comprovamos milhares de vezes que
a luz do dia virá.
O livro de Apocalipse descreve os que
seguem a besta [anticristo] como quem “não [...] descansa, dia e noite”
(Apocalipse 14:11); mas os que pertencem ao Senhor: “Felizes os mortos que
morrem no Senhor de agora em diante. [...] Sim, eles descansarão das suas
fadigas, pois as suas obras os seguirão” (Apocalipse 14:13). Os cristãos acham
que sua morte é o feliz descanso do cumprimento de uma promessa. E suas obras
os seguem e nunca ficarão perdidas nos anais da eternidade.
3.
TENDA DESTRUÍDA
Paulo fala da morte como a destruição
de uma tenda: “Sabemos que, se for destruída a temporária habitação terrena em
que vivemos, temos da parte de Deus um edifício, uma casa eterna nos céus, não
construída por mãos humanas” (2 Coríntios 5:1).
Nosso corpo atual é como uma tenda na
qual nosso espírito habita; é uma estrutura temporária. As tendas se deterioram
em face da mudança de tempo e das tempestades. Se usadas com regularidade,
elas, com frequência, precisam de consertos. A tenda esfarrapada é sinal de que
logo teremos de mudar. A morte leva-nos da tenda para o palácio; muda nosso
endereço da Terra para o céu.
Você já conheceu entusiastas do
acampamento que querem acampar a maior parte do ano. Eles podem fazer isso,
claro, até vir a chuva ou começar a nevar. Quanto mais desconfortáveis eles
ficam, mais se mostram dispostos para se mudar para uma casa. Assim, o perseguido
e o enfermo anseiam pelo céu, enquanto os saudáveis e realizados querem
postergar a morte indefinidamente. Mas virá o tempo em que até mesmo os mais
fortes dentre nós terão de deixar a tenda para trás.
A tenda lembra-nos de que somos apenas
peregrinos aqui na Terra a caminho de nossa moradia final. Alguém disse que não
devemos fincar nossas estacas fundo demais, pois estamos partindo de manhã!
4.
VELEIRO
Paulo também fala da morte como um
veleiro. Em uma passagem já mencionada, ele escreveu: “Estou pressionado dos
dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor” (Filipenses
1:23). A palavra partir era usada para soltar a âncora. A. T. Robertson traduz
assim: “Zarpar e ir para o mar.”
Graças a Cristo, Paulo estava preparado
para embarcar nessa jornada especial que o levaria a seu destino celestial.
Cristo já navegara com êxito para o outro lado e estava à espera com uma
multidão de amigos de Paulo. Claro que ele também tinha alguns amigos deste
lado, por isso acrescentou: “Contudo, é mais necessário, por causa de vocês,
que eu permaneça no corpo” (Filipenses 1:24).
As malas de Paulo estavam prontas. Mas,
por enquanto, o capitão disse: “Espere!” Alguns anos depois, Paulo estava mais
perto de deixar a praia da terra. Mais uma vez, ele falou da morte como sua
partida:
“Eu já estou sendo derramado como uma
oferta de bebida. Está próximo o tempo da minha partida” (2 Timóteo 4:6). O
sinal para ele desatracar era iminente. Ele despediu-se, mas apenas por
enquanto. Ele não retornaria para Timóteo, mas logo Timóteo atravessaria, e
eles se encontrariam de novo.
O autor da carta aos Hebreus pega a
mesma imagem e diz que podemos correr para Cristo para lançar mão da esperança
posta diante de nós. Ele acrescenta: “Temos esta esperança como âncora da alma,
firme e segura, a qual adentra o santuário interior, por trás do véu, onde
Jesus, que nos precedeu, entrou em nosso lugar” (Hebreus 6:19,20). Isso quer
dizer que não jogamos nossa âncora em alguma coisa existente em nosso íntimo.
Não buscamos nossa segurança em sentimentos nem em experiências. Nossa âncora
está presa a Cristo, que está no Santo dos Santos onde reside agora que seu
sangue comprou nossa salvação.
5.
CASA PERMANENTE
Em certo sentido, falar do céu como
nossa casa não é figura de linguagem; o céu é nossa casa. Jesus, conforme você
se recorda, falou em deixar seus discípulos para construir uma mansão para eles
no mundo do além.
Na casa de meu Pai há muitas
moradas; se não fosse assim, eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes lugar. E
se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês
estejam onde eu estiver (João 14:2,3).
Morada vem do grego “moné”, referindo-se a
habitação, residência. É “lugar de moradia”, o lugar que podemos chamar de lar.
Não devemos pensar que Cristo esteve
trabalhando durante dois mil anos para preparar o céu para nós.
Sugere-se jocosamente que Cristo, como
era carpinteiro na Terra, esteve exercitando sua ocupação na glória,
trabalhando para terminar os quartos para nossa chegada.
Ele, como Deus, não precisa ter uma vantagem
inicial. Pode criar nossa futura casa em um segundo. O ponto de Cristo é apenas
que da mesma maneira que a mãe se prepara para a chegada do filho que esteve no
mar, também Cristo aguarda nossa chegada no céu. O céu é chamado de lar, pois é
o local a que pertencemos.
Paulo escreveu que neste mundo estamos
“em casa” no corpo, mas no mundo por vir estaremos “em casa” com o Senhor (2
Coríntios 5:6-8). E ele não deixa dúvida quanto a que casa ele prefere: “Temos,
pois, confiança e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor” (2
Coríntios 5:8). É compreensível que ele prefira a mansão à tenda.
O fato de não vermos a morte com
otimismo deve ser porque pensamos na morte nos tirando de casa, em vez de
pensar na morte nos levando para nossa casa! Ao contrário de Paulo, ficamos tão
apegados a nossa tenda que simplesmente não queremos nos mudar.
O cântico antigo expressa melhor essa
ideia:
Este mundo não é minha casa,
Estou apenas de passagem.
Meus tesouros estão armazenados
Em algum lugar além do azul.
Conclusão
Morrer é ir para casa, para o céu;
viver é existir em um país estrangeiro na Terra. Algum dia, entenderemos essa
distinção muito melhor; por ora, o futuro é nosso pela fé.
Alguns cristãos que acham que não
conseguem enfrentar a morte, quando chega o momento, descobrem que têm força
para morrer de modo gracioso. O mesmo Deus que nos guia na terra nos escolta ao
longo do caminho para o céu. “Tu me diriges com o teu conselho, e depois me
receberás com honras” (Salmos 73:24).
Autor: Erwin Lutzer / Adaptação por JAS