Muita coisa já foi dita acerca da passagem bíblica do Evangelho de Marcos 16.9-20. As observações mais frequentes acerca desse texto que encontramos, são que esse texto: “Não consta nos melhores manuscritos gregos” ou “Não consta no texto grego adotado”.
Há praticamente um consenso entre os eruditos que o Evangelho original de Marcos não terminava em 16.8. As principais evidências em favor desta tese estão no próprio texto grego de Marcos. A forma brusca como o evangelho termina a sua narrativa em 16:8 nos principais manuscritos gregos, tem feito os intérpretes concluírem que o texto original do evangelista não foi concluído neste verso. A esse respeito comenta a Bíblia de Jerusalém em uma nota de rodapé: “É difícil de se admitir que o segundo evangelho, na sua primeira redação, terminasse bruscamente no v.8”.1 Todavia a principal evidência em favor dessa tese, está no fato que o texto grego de Marcos 16.8 termina na conjunção grega gar (porque).
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Este fato é relevante, visto que na literatura grega a conjunção gar jamais é usada como conclusão de um texto. A propósito Broadus David Hale comenta: “Não parece provável que um texto fosse terminar com a palavra grega gar (porque), não há nenhum precedente para isto em toda a literatura grega”.
De forma análoga à conclusão de Hale, o Comentário Bíblico Broadman sobre esta passagem observa: “Alguns (por exemplo: E. Lohmeyer, R.H Lightfoot e W.C. Allen) têm argumentado que o texto original deveria terminar em 16.8, tendo Jesus ressuscitado, mas estando ainda bem presente no coração dos seus seguidores o medo e a admiração. Todavia, não há paralelo, na antiga literatura, de um livro terminar, como o original grego de Marcos 16.8, com uma conjunção como gar (pois, porque)”.
Estes fatos é que tem levado os eruditos a concluírem que o texto original de Marcos não terminava em 16.8, mas que a redação original após 16.8 se perdeu muito cedo. As possíveis causas para esse extravio do final do Evangelho vão desde a fragilidade do material no qual o texto foi escrito, ou até mesmo a perseguição contra os primitivos cristãos e seus materiais literários.
As cópias mais antigas de Marcos que possuímos são o Manuscrito Sinático (Códice Alef), escrito em cerca de 340dC, o Manuscrito do Vaticano (Códice B), datado de 350dC, e o Manuscrito Alexandrino (Códice A) do ano 450dC. Destes três manuscritos gregos, os dois primeiros omitem o final de Marcos após o versículo 8.
O testemunho silencioso destas cópias acerca de Marcos 16.9-20 fecha a questão em torno da rejeição do final de Marcos?
Não, não fecha. O que se pode afirmar com certeza acerca da omissão desses versos nesses manuscritos é que as cópias (que circulavam no 2o e 3o séculos) que lhes serviram de base não traziam essa porção das Escrituras.
Quando lemos testemunhos de antigos pais da igreja que viveram antes mesmo do advento desses principais manuscritos gregos, atestando a existência de um final de Marcos após o versículo 8, fica mais difícil aceitar a tese de que os versículos de Marcos 16.9-20 devem ser rejeitados.
Dentre esses testemunhos antigos, temos o de Irineu (125 e 202dC), Hipólito, discípulo de Irineu (160 – 236 d.C.) e Taciano, um seguidor de Justino Mártir, que viveu no final do 2° século, todos atestando conhecer a existência da redação de Marcos após o versículo 8. Além do testemunho desses Pais da Igreja, a imensa maioria dos manuscritos gregos (a exemplo do Manuscrito Alexandrino, datado aproximadamente do ano 450 d.C.), trazem esta passagem.
Como responder aos críticos que desacreditam pressa porção bíblica, dizendo que muitos manuscritos antigos silenciam sobre essa passagem?
Primeiramente esses críticos tem que explicar porque muitos testemunhos antigos citam essa passagem. O silêncio não é em si mesmo prova de coisa alguma.
No Manuscrito do Vaticano - códice B, datado do ano 350 e tido como uma das cópias mais antigas de que dispomos do Novo Testamento grego, além do texto de Mc 16.9-20, estão faltando também os textos de “Gênesis 1.1-46.28, 2 Reis 2.5-7, 10.13 e Salmos 106.27,136.6. No Novo Testamento (...) Jo 7.53-8.11 e Hebreus 9.14 até o fim do Novo Testamento, incluindo as Epístolas Pastorais (1 e 2 Timóteo, Tito e Filemon) e Apocalipse” (Fundamentos da Teologia Pentecostal, volume 2).
O silêncio desse manuscrito sobre tão importantes passagens da Bíblia significa que esses textos bíblicos não existem ou que não são inspirados? Não conheço ninguém com um pouco de conhecimento de crítica textual que afirme tal coisa.
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Convém dizer aqui também que muitos eruditos defendem a hipótese de que muitos manuscritos, inclusive os cursivos (aqueles escritos em letras minúsculas e que são de data mais recente), podem ter sido cópias feitas de outros manuscritos (que já se perderam) muito mais antigos do que aqueles que hoje possuímos.
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Em palavras mais simples, é possível que um manuscrito grego mais recente do que, por exemplo, o Manuscrito Sinático, tenha sido copiado de um outro manuscrito grego mais antigo do que o documento citado, e que nesse manuscrito estivesse presente os versos de 9-20 de Marcos 16.
Norman Geisler observa que os eruditos que aceitam o tradicional texto recebido “apontam para o fato de que esse texto do final de Marcos é encontrado na maioria dos manuscritos bíblicos em todos os séculos. Assim, creem que ele estava no manuscrito original do Evangelho de Marcos” (Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia, pág. 385).
Alguém já teve a curiosidade de observar que dos 4,5 mil manuscritos gregos do Novo Testamento, aproximadamente 680 deles contêm o Evangelho de Marcos completo, e apenas dois desses 680 manuscritos não incluem esses versículos. E que dentre três versões do latim, 8 mil contêm os versículos de 9-20. As versões góticas, egípcias e armênias também contêm essa passagem.
E mais, não há nada nesse texto que contradiga o restante do Novo Testamento. Na verdade, essa passagem da Bíblia é sobejamente confirmada por outras passagens das Escrituras Sagradas:
1) Menção ao batismo em águas (Mc 16.16) -Atos 2.38.
2) Expulsão de demônios (Mc 16.17) - At 5.16.
3) Falar em línguas (Mc 16.17) - At 2.1-4.
4) Proteção contra animais peçonhentos (Mc 16.18) - At 28.3-5.
5) Oração pelos enfermos (Mc 16.18) - At 28.8.
Estudo: Pr. José Gonsalves | Jornal Mensageiro da Paz, fevereiro de 2005 | Reverberação: Subsídios EBD