Observação: Subsídio Bíblico para a lição 8 – Classe: Jovens. 3°
Trimestre de 2019.
Veremos que as
Escrituras têm orientações para toda a comunidade cristã, do maior ao menor, do
mais velho ao mais novo, pois Deus não faz acepção de pessoas. Iremos aprender
que, quando os irmãos de fé se relacionam de maneira saudável, em mútua
submissão e com o afetuoso desejo de servir, criamos uma comunidade fraterna e
forte, capaz de suportar as adversidades até a volta de Jesus.
Veja também:
I - Conselhos à Liderança Cristã
1. Uma palavra aos
presbíteros (1 Pe 5.1)
Ao final de sua
epístola, Pedro dirige alguns conselhos especiais aos presbíteros.
Apesar de aparentemente desfocada, essa parte conecta-se logicamente com a
seção anterior. O fato de o julgamento começar pela casa de Deus (4.17) inspirou
o apóstolo a se concentrar na necessidade de pureza do coração perante Deus nos
relacionamentos na comunidade da fé, a começar pelos líderes.
A palavra grega presbytero
descreve o título de dignidade dos indivíduos experientes e de idade madura
que formavam o governo da igreja local, também chamados anciãos (cf. At 14.23;
20.17; 1 Tm 5.1). No Novo Testamento, as funções de pastor, bispo e presbítero
têm a mesma conotação; são homens experientes na fé, vocacionados para atuarem
como supervisores da obra de Deus e no cuidado pastoral.
É interessante observar
que, apesar da autoridade apostólica, Pedro apresenta-se como um presbítero.
Tal postura indica primeiramente a humildade de Pedro, colocando-se na mesma
condição dos líderes para quem se dirige, atitude bem diferente daqueles que em
nossos dias se autoproclamam apóstolos. Em segundo lugar, ao se considerar presbítero,
Pedro está deixando claro que as admoestações também se aplicam a ele, sem
qualquer distinção. Nenhum homem, afinal, está acima do evangelho.
2. Apascentando o
rebanho de Deus (1 Pe 5.2a)
Recordando
possivelmente a ordem que ele mesmo recebeu do Mestre Jesus (Jo 21.16), Pedro
admoesta os obreiros a apascentarem o rebanho de Deus (v. 2). Nas Escrituras,
dada a familiaridade com o pastoreio,
a relação entre o pastor
e suas ovelhas é usada como uma bela metáfora de amor, cuidado e proteção. Por
esse motivo, o salmista Davi declara de modo confiante: “O Senhor é o meu pastor;
nada me faltará” (SI 23.1). Jesus se apresenta como o Bom Pastor, que
conhece as suas ovelhas e por elas dá a sua vida (Jo 10.11-15).
Basicamente, apascentar
as ovelhas refere-se às tarefas realizadas pelo pastor no cuidado do seu
rebanho. Em primeiro lugar, é responsabilidade do pastor prover alimento e água
para suas ovelhas, a fim de que elas não pereçam. Isso significa alimentar a
Igreja com a Palavra de Deus.
Em segundo lugar, o pastor
protege suas ovelhas contra os ladrões e os predadores. Conforme Warren Wirsbe,
“o pastor sempre ia adiante do rebanho e explorava a região para ter certeza de
que não havia nada ali que fizesse mal às ovelhas. Verificava se não havia
cobras, valas, plantas venenosas e animais perigosos”. O
pastor está sempre preocupado com a saúde física e espiritual das suas
ovelhas, velando para que não sejam destruídas pelo adversário.
Em terceiro lugar,
apascentar significa governar, guiar as ovelhas pelo caminho que devem trilhar.
Para isso, é preciso lançar mão de dois instrumentos, a vara e o cajado. A vara
serve para corrigir e disciplinar a ovelha rebelde. Enquanto isso, além de ser
um instrumento de apoio, o cajado serve para resgatar a ovelha ou trazê-la para
mais próxima do pastor.
3. O cuidado com as
ovelhas (1 Pe 5.2b,3)
É um enorme privilégio
alguém ser chamado para o santo ministério. Todavia, pesa sobre o obreiro
cristão a grande responsabilidade de cuidar do rebanho, o dever de zelar pelas
vidas que foram confiadas por Deus. Pedro dá três solenes advertências sobre o
ministério pastoral, contrapondo com três recomendações.
3.1. Não por força, mas
voluntariamente.
O sentido básico do
conselho de Pedro é que os pastores devem fazer a obra de Deus com boa
disposição e ânimo, e não de má vontade. O pastoreio não deve ser visto como um
fardo ou um serviço eclesiástico obrigatório, e sim como a execução da vocação
divina. Aquele que encara o ministério cristão como uma atividade profissional,
tal qual o funcionário desmotivado, realizará suas atividades como se estivesse
sendo constrangido a fazê-lo. Não é esse o propósito de Deus para a vida de um
obreiro.
Fazer a obra do Senhor
com a motivação errada é algo que subverte o sentido da vocação cristã. Cada
vez mais torna-se difícil distinguir dentro do mundo religioso a verdadeira
chamada para o santo ministério, quando se percebe a busca desenfreada por
cargos e posições eclesiásticas. Em seu livro A Vocação Espiritual do Pastor,
Eugene Peterson esclarece que “a idolatria à qual os pastores são notoriamente
suscetíveis não é pessoal, mas vocacional, a idolatria de uma carreira
religiosa que podemos comandar e controlar”.
3.2. Nem por torpe
ganância, mas de ânimo pronto.
Jesus ensinou que o
trabalhador é digno de seu salário (Lc 10.7). Paulo também escreveu ao jovem
obreiro Timóteo: “Os presbíteros que governam bem sejam estimados por
dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na
doutrina” (1 Tm 5.17). E consenso entre a maioria dos estudiosos que o termo
“duplicada honra” refere-se ao respeito devido aos presbíteros,
englobando principalmente a remuneração financeira. Evidentemente, tal passagem
deve ser lida à luz do seu próprio contexto, numa época em que os obreiros não
eram integralmente remunerados por suas atividades pastorais. O costume que
então vigorava, explica J. Glenn Gould, “era que os líderes da igreja se
sustentassem, da mesma maneira que o apóstolo o fazia. Na opinião de Paulo, o
bom serviço merece reconhecimento e recompensa. Aquele cujo trabalho era tomado
quase todo pelo trabalho da igreja deveria receber mais compensação”.
O Didaquê, documento que trata do
catecismo dos cristãos do século I, dizia: “Assim também o verdadeiro mestre é
digno do seu alimento, como qualquer operário. Assim, tome os primeiros frutos
de todos os produtos da vinha e da eira, dos bois e das ovelhas, e os dê aos
profetas, pois são eles os seus sumos-sacerdotes”.
A Bíblia
deixa transparecer que é absolutamente legítimo que o pastor receba pelo seu
trabalho no ministério cristão. Entretanto, ela também adverte para o perigo da
ganância, o desejo desenfreado pelo rendimento financeiro. Portanto, “o que é
proibido não é o desejo de ter remuneração justa, mas o amor sórdido ao lucro”.
Pedro está dizendo com
todas as letras que os obreiros não devem fazer a obra de Deus pensando no que
lucrarão com isso em termos materiais, mas que o façam no desejo de servir ao
Senhor de todo o coração. Aqueles que buscam lucro por meio do ministério
cristão não são pastores, são gerentes eclesiásticos. Eles não amam a obra,
amam a si mesmos.
3.3. Nem como tendo
domínio (como dominadores) sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao
rebanho.
Nos dois conselhos
anteriores, Pedro enfocou a motivação interna do pastor; agora ele se dirige ao
comportamento exterior. Wayne Grudem informa que o termo traduzido por
dominadores (katakyrieuo) significa “governar pela força, subjugar”,
transmitindo a ideia de emprego severo ou exagerado da autoridade7. Desse modo,
“Pedro está proibindo aqui o domínio arbitrário, arrogante, egoísta ou
excessivamente restritivo. Ele dá a entender que os presbíteros não
devem liderar fazendo uso de ameaças, intimidação emocional ou ostentação de
poder, nem de modo geral pelo uso de força ‘política’ dentro da igreja, mas,
sempre que possível, mediante o poder do exemplo”.
Esse conselho de Pedro
é uma mensagem poderosa e ao mesmo tempo necessária para a liderança cristã.
Embora os líderes tenham autoridade de Deus, não devem abusar do poder que
receberam, impondo sobre o rebanho um poder excessivo e autoritário. Eles podem
usar a disciplina dentro dos limites bíblicos, mas não devem impor medo; podem
exortar e conduzir a ovelha pelo caminho correto, mas não devem, pelo simples
poder do cajado, maltratá-las e destruí-las. Aqueles que assim procedem pagarão
um alto preço (Jr. 23.1-4).
O verdadeiro pastor
usa a sua autoridade com amor, sabedoria e prudência. Porque ele tem a profunda
convicção de que, em breve, Cristo, o Sumo Pastor, haverá de lhe
entregar a coroa de glória (5.4).
Fonte: A razão de nossa esperança – Alegria,
Crescimento e Firmeza
nas Cartas de Pedro. Editora CPAD |
Autor: Pr. Valmir Nascimento.