Observação: Subsídio Bíblico para a lição 7 – Classe: Jovens. 3°
Trimestre de 2019.
I - O Sofrimento Ajuda a Dominar o Pecado
No decorrer de sua
primeira epístola, Pedro desenvolve uma “teologia do sofrimento centrada em
Jesus Cristo”. No início do capítulo 4, o apóstolo continua nesse mesmo tom, ao
mesmo tempo em que conclama seus leitores a aplicarem essa teologia em suas
próprias vidas.
Veja também:
1. Guerreando contra o
pecado (1 Pe 4.1-5)
Uma vez que Cristo
padeceu por nós na carne, diz Pedro, também devemos nos armar com este pensamento:
“que aquele que padeceu na carne já cessou do pecado” (4.1). Pedro está dizendo
que devemos ter em mente os efeitos nocivos que o pecado causou em Cristo. Ele
utiliza uma expressão militar “armar-se” para expressar a ideia de que devemos
ter a mesma atitude de Cristo, estando prontos a sofrer também. Somos
conclamados a declarar guerra ao pecado, num conflito espiritual.
Três aspectos precisam
ser observados aqui sobre aquilo que o texto não diz.
Pedro não está dizendo
que o sofrimento do homem conduz à sua própria salvação. O apóstolo está usando
o sofrimento sacrificial de Jesus como modelo de conduta e atitude, e não como
referência de autossalvação.
A passagem não diz que
o sofrimento, de per se, leva a pessoa a deixar de pecar. Muitas pessoas
sofrem, mas mesmo assim não deixam de pecar. E preciso concordar com as
palavras de Warren Wirsbe que esclarece: “O sofrimento acrescido da presença de
Cristo na vida pode ajudar a vencer o pecado. Mas, ao que parece, a ideia
central é a mesma verdade ensinada em Romanos 6: somos identificados com Cristo
em seu sofrimento e morte e, portanto, podemos obter a vitória sobre o pecado.
Ao entregar a vida a Deus, com a mesma atitude de Jesus para com o pecado, é
possível superar a antiga vida e manifestar a nova”.
1O texto também não
está dizendo que Jesus tenha pecado. Isso porque a Bíblia é enfática ao dizer
que nEle não se achou pecado algum (Hb 4.15; 2 Co 5.21). A essência do final do
versículo 1 é que aquele que sofre no corpo deixa de ser dominado pelo pecado.
Segundo Kistemaker, “o seguidor de Cristo abandonou a vida de pecado, porque o
poder do pecado foi quebrado. Tendo em vista que ele não pode viver uma
existência perfeita, o crente está livre do domínio do pecado”.
Esse expositor bíblico
ainda informa que essa passagem não induz o cristão a desejar o sofrimento.
Isso porque, primeiramente, “devemos nos lembrar de que o ato de deixar o
pecado aconteceu no passado” e, em segundo lugar, “a forma verbal deixou o
pecado pode ser interpretada na voz passiva, como indica o texto grego.
Literalmente, temos “ele foi libertado” do pecado. Isso significa que Deus é o
agente implícito. Em outras palavras, Deus impediu o homem de viver
continuamente em pecado. Esse ato libertador é uma obra de Deus e do ser humano”.
Pedro prossegue
aconselhando sua audiência a abandonar o pecado, aproveitando o restante da
vida longe dos desejos da carne, e que prossigam vivendo segundo a vontade de
Deus (v. 2). Stanley Horton destaca que os leitores de Pedro precisavam dessa
exortação, pois, “como gentios, haviam feito de tudo para evitar o sofrimento.
Haviam procurado viver para satisfazer as concupiscências da carne, como se
isso fosse o supremo alvo da vida. Agiam como muitos hoje: tudo em prol do
próprio conforto, prazer e segurança”.
O homem sem Deus gasta
a sua vida com coisas que satisfazem a carne, muitas vezes no afã de atender a
vontade dos amigos ímpios. Eles andam em imoralidade, nos desejos carnais, nas
bebedeiras, nas orgias, na embriaguez e na abominável adoração de ídolos (v.
3). E assim, quando o cristão abandona esse estilo de vida depravado e imoral,
por causa do novo nascimento em Cristo, os amigos antigos acham estranho e
passam a atacar aquele que teve a sua vida transformada (v. 4).
II - A Alegria de Sofrer como Cristão
1. Não se surpreenda
com o sofrimento (1 Pe 4.12)
Continuando a falar
sobre sofrimento, Pedro diz aos crentes para não estranharem a ardente prova
que sobreviria sobre eles. “Amados, não estranheis a ardente prova que vem
sobre vós, para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse” (v. 12). No
geral, eventos trágicos nos pegam de surpresa. Somos tomados de espanto quando
uma notícia dolorosa nos é trazida. Mas o conselho de Pedro para nós é
diferente: não fiquem perplexos com o sofrimento.
A mensagem subjacente é
que os discípulos de Jesus não devem se surpreender com o sofrimento, mas tê-lo
como algo certo na vida. Consequentemente, o legítimo ensino bíblico rejeita as
teologias triunfalistas que negam as provações e “profetizam” somente as
bênçãos materiais sobre a vida dos cristãos. Embora os salvos sejam
verdadeiramente abençoados por Deus com as bênçãos celestiais (Ef 1), no plano
terreno estamos sujeitos a uma série de perdas e infortúnios, como perseguições
sociais (cf. Tg 2.6), doenças (cf. Tg 5.14), crises emocionais, desemprego e
afins (cf. At 14.21,22; 1 Pe 1.6).
A expressão ardente,
como se passando pelo fogo, deixa transparecer que não era um infortúnio
qualquer, mas um processo doloroso de provação. É preciso assentir com Warren
Wirsbe quando afirma que nem todas as dificuldades da vida são,
necessariamente, provações por fogo. Certas dificuldades simplesmente fazem
parte da vida e quase todos passam por elas6, crentes ou não. Nas palavras
desse erudito, o “fogo ardente” sobre o qual o apóstolo fala sobrevêm em
decorrência de sermos fiéis a Deus e de nos apegarmos com firmeza ao que é
correto.
2. Alegria na aflição
Em vez de espanto e
perplexidade, os leitores da carta deveriam se alegrar. Conselho semelhante foi
dado por Tiago em sua epístola (Tg 1.2). Devemos convir que, aos olhos humanos,
esse conselho não faz o menor sentido. Como é possível se alegrar quando as
lágrimas banham nosso rosto? Como podemos nos regozijar quando somos esmagados
pelo sofrimento?
Uma interpretação
prudente do conselho de Pedro leva-nos a entender que o texto não está dizendo
para sermos indiferentes à dor, ou que nos deleitemos nela, num estilo
masoquista de vida. Philip Yancey captou isso ao dizer: “Alegrar-se no
sofrimento não quer dizer que os cristãos devam parecer felizes quando há dor e
tragédia, quando na verdade eles tem vontade de chorar”. Tal ponto de vista distorceria
a expressão verdadeira e honesta dos sentimentos. Cristianismo não é embuste ou
falsidade”.
Conforme Yancey, “a
Bíblia focaliza o resultado final, o que Deus pode fazer das nossas vidas por
intermédio do sofrimento. Antes que possa agir, entretanto, precisa da nossa
declaração de confiança nEle e esta declaração de confiança pode ser descrita
como regozijo”.
Portanto, alegrar-se no
sofrimento não é um estado emocional, mas uma disposição de coração, pela qual
manifestamos plena confiança em Deus, a despeito das circunstâncias. Não nos
regozijamos com o acontecimento, mas em Deus. Não sentimentos alegria com a
dor, mas pelo fato de experimentarmos a dor na condição de representantes de
Cristo na terra.
Você já passou por
alguma circunstância difícil na vida e, tempos depois, riu daquela situação?
Pois então. É com essa perspectiva que Pedro está se dirigindo aos
destinatários de sua carta. Era importante que a comunidade de salvos
percebesse o bom propósito de Deus por trás daquela tribulação, como uma forma
de provar a qualidade da fé e conduzir ao amadurecimento do caráter cristão.
Fonte: A razão de nossa esperança – Alegria,
Crescimento e Firmeza
nas Cartas de Pedro. Editora CPAD |
Autor: Pr. Valmir Nascimento.