Observação: Subsídio Bíblico para a lição 6 – Classe: Jovens.
I - As Qualidades da Vida Cristã
1. Unidade cristã (1 Pe
3.8)
Tendo direcionado uma
série de conselhos para grupos específicos dentro da igreja (cidadãos, servos,
esposas e esposos), agora Pedro se volta para os crentes em geral: “E,
finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, amando os irmãos,
entranhavelmente misericordiosos e afáveis”.
Veja também:
A palavra “finalmente”
indica a conclusão não da carta, mas do raciocínio que acabara de empregar. É
uma espécie de fecho dessa seção, na qual Pedro oferta-nos uma síntese das
implicações da submissão no relacionamento entre os crentes. Da mesma forma que
a lei se resume no amor (Rm 13.8-10), também os relacionamentos humanos e a
ética cristã, como um todo, nele se firmam.
Podemos perceber que o
apóstolo está reunindo em poucas palavras as qualidades morais e espirituais da
vida cristã, a começar pela unidade. Ele estimula a consideração mútua dentro
da comunidade de fé e o cultivo do amor cristão, recomendando que os crentes
tenham “um mesmo sentimento”. Seu propósito é que os cristãos vivam em harmonia
e união uns com os outros (Jo 17.23; Ef 4.3; Fp 2.2).
Certamente, isso não
quer dizer que todos os cristãos devam pensar da mesma maneira. Podemos ter
diferentes opiniões sobre diversas coisas, mas o nosso ânimo, o nosso
sentimento em Cristo deve ser o mesmo. A metáfora do corpo usada por Paulo é
elucidativa a esse respeito (Rm 12). Apesar de cada membro possuir a sua
individualidade quanto à forma de operar, formamos um só corpo em Cristo. Cada
parte é diferente em si, mas o corpo só funciona adequadamente se houver cooperação
e relacionamento harmonioso entre todos.
2. Simpatia e perdão (1
Pe 3.9,10)
Outra qualidade do
comportamento genuinamente cristão é a simpatia. A palavra grega sympathês,
traduzida nessa passagem por “compassivos”, tem o sentido de colocar-se no
lugar do outro. Ser simpático, portanto, é muito mais que ser cordial e
atencioso; consiste numa virtude que expressa solidariedade e compaixão pelo
próximo.
A beleza e o poder do
evangelho se fazem revelar na vida do crente quando este para de viver para si
mesmo e passa a viver para o outro. A renúncia de que a Bíblia nos fala é a
abdicação do nosso egoísmo e egocentrismo, muitas vezes latente. Nada é mais
contrário ao verdadeiro cristianismo do que um falso evangelho que apregoa as
bênçãos individuais e o triunfalismo pessoal em detrimento do cuidado do outro.
As pregações que
simplesmente fazem projetar o desejo insaciável do ser humano em busca de
ambição e poder desonram, por isso, o evangelho de Cristo. Se, como vimos no
capítulo 2, o Deus da Bíblia é um Deus simpático, um Deus com-passivo, que
sente e sofre com o ser humano, então essa mesma simpatia e compassividade
devem se fazer presentes em nós.
Tal virtude é seguida
da prática do amor fraternal, com o coração cheio de misericórdia e humildade.
Ao encorajar, no versículo 9, que os crentes não tornem o mal por mal ou
injúria por injúria, Pedro realça outra qualidade cristã: o perdão. Segundo
ensina Warren Wirsbe, existem três possibilidade de reação ao mal. E possível
retribuir o bem com o mal — o nível satânico. É possível retribuir o bem como
bem e o mal com o mal — o nível humano. Ou é possível retribuir o mal com o bem
— o nível divino. Este é o nível para o qual somos chamamos.
A característica do
cristão é perdoar a outros da mesma forma que foi perdoado (Ef 4.32). Somente
com o amor depositado em nosso coração, deixamos de revidar e de retribuir com
a mesma moeda a ofensa recebida.
3. Conselhos para quem
ama a vida (1 Pe 3.10-12)
Pedro recorre à citação
do Salmo 34 (w. 12-16) com o propósito de acrescentar outras virtudes. “Porque
quem quer amar a vida e ver os dias bons [...]” (v. 10). Com base na autoridade
do Antigo Testamento, Pedro está realçando que a boa vida é o resultado de
condutas adequadas. Quem ama a vida, age com ética; quem ama a vida, vive em
sintonia com a vontade de Deus.
Conforme Kistemaker,
apesar de muitos dos leitores da carta estarem passando por dificuldades e
miséria, Pedro está olhando de maneira positiva para a vida e, como o salmista,
fala sobre amá-la. “A vida é um dom de Deus, e assim também o são os dias
felizes. O coração dos cristãos está em sintonia com Deus e sua Palavra, e
participa agora da plenitude da vida aqui na terra e depois com Cristo na
eternidade”.
Fica patente que a boa
vida na perspectiva bíblica não é resultante do sucesso profissional, poder ou
fama, e sim de uma vida virtuosa. Boa vida não é ter uma mansão para morar ou
bebida para se deleitar. O relativismo e o progressismo desvirtuaram por
completo o sentido de vida boa. O primeiro fez o homem acreditar que a vida boa
é o resultado da ausência de regras morais. O progressismo, por seu turno,
apregoa que ela decorre do oferecimento de boas condições sociais.
Tanto uma quanto outra
visão estão erradas. O relativismo, ao advogar que as pessoas são livres para
escolher a seu bel prazer o que é certo, passa por cima de regras morais
básicas e destrói o valor da comunidade6. O progressismo retira da pessoa a sua
responsabilidade moral, jogando para a sociedade toda a responsabilidade ética.
Na visão judaico-cristã, a boa vida é uma questão primeiramente pessoal. Só
podemos criar uma boa vida em termos sociais se as adotarmos individualmente
condutas virtuosas.
Nesse sentido, Charles
Colson e Nancy Pearcey escrevem: “O que é necessário para criar-se uma vida boa?
Um sentimento do que é certo e errado e uma determinação para colocar
adequadamente em ordem a vida de alguém. Não por causa do sombrio senso de
dever, mas porque isso se ajusta à nossa natureza criada e nos faz felizes e
mais realizados”.
Assim, prossegue Pedro,
se alguém quiser ter uma boa vida, “refreie a sua língua do mal, e os seus
lábios não falem engano” (v. 10). Encontramos aqui um verdadeiro princípio de sabedoria
para a vida, pois quem guarda a sua boca e fala somente o necessário evita
muitos dissabores e sofrimentos (Pv 12.13; 21.23). De forma contundente, Tiago
advertiu que aquele que se considera religioso, mas não consegue conter a sua
língua, engana-se a si mesmo; e a sua espiritualidade não tem valor algum (Tg
1.26).
Apartar-se do mal e fazer
o bem, assim como buscar paz e segui-la são os outros conselhos para obtermos
uma vida boa. Por quê? “Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os
seus ouvidos, atentos às suas orações; mas o rosto do Senhor é contra os que
fazem males” (v. 12).
II - O Sofrimento do Cristão
1. O sofrimento do
justo (1 Pe 3.13,14)
Pedro volta ao tema
central da sua carta: a questão do sofrimento. Apesar de elencar uma série de
qualidades para a conduta do cristão, o apóstolo Pedro sabe que isso não é
suficiente para isentar os justos das provas e perseguições na vida.
Ora, tomar decisões
adequadas e viver piedosamente ajuda a prevenir muitos dissabores, mas, ainda
assim, o sofrimento é inevitável. Eis o motivo pelo qual Pedro indaga: “E qual
é aquele que vos fará mal, se fordes zelosos do bem?” (v. 13). Trata-se de uma
pergunta retórica, a fim de enfatizar a importância de uma postura de zelo
pelas coisas corretas. Afinal, espera-se que os justos sejam recompensados
enquanto os desordeiros e irresponsáveis Assim, prossegue Pedro, se alguém
quiser ter uma boa vida, “refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não
falem engano” (v. 10). Encontramos aqui um verdadeiro princípio de sabedoria
para a vida, pois quem guarda a sua boca e fala somente o necessário evita
muitos dissabores e sofrimentos (Pv 12.13; 21.23). De forma contundente, Tiago
advertiu que aquele que se considera religioso, mas não consegue conter a sua
língua, engana-se a si mesmo; e a sua espiritualidade não tem valor algum (Tg
1.26).
Apartar-se do mal e
fazer o bem, assim como buscar paz e segui-la são os outros conselhos para
obtermos uma vida boa. Por quê? “Porque os olhos do Senhor estão sobre os
justos, e os seus ouvidos, atentos às suas orações; mas o rosto do Senhor é
contra os que fazem males” (v. 12).
III - O Sofrimento do Cristão
1. O sofrimento do
justo (1 Pe 3.13,14)
Pedro volta ao tema
central da sua carta: a questão do sofrimento. Apesar de elencar uma série de
qualidades para a conduta do cristão, o apóstolo Pedro sabe que isso não é
suficiente para isentar os justos das provas e perseguições na vida.
Ora, tomar decisões
adequadas e viver piedosamente ajuda a prevenir muitos dissabores, mas, ainda
assim, o sofrimento é inevitável. Eis o motivo pelo qual Pedro indaga: “E qual
é aquele que vos fará mal, se fordes zelosos do bem?” (v. 13). Trata-se de uma
pergunta retórica, a fim de enfatizar a importância de uma postura de zelo
pelas coisas corretas. Afinal, espera-se que os justos sejam recompensados
enquanto os desordeiros e irresponsáveis pessoas inocentes sofram? Se Ele é
onisciente, por que não intervém?
Para ser franco, além
dos incrédulos, essa questão também aflige o coração daqueles que foram
devastados pelo sofrimento, até mesmo alguns cristãos. A dor põe sob fogo as
novas convicções básicas, questiona nossas crenças e prova nossas doutrinas.
Existem várias formas
de respondermos à questão do sofrimento. Podemos falar a partir das
perspectivas filosófica, teológica e emocional. Em todas essas dimensões, o
cristianismo responde de modo satisfatório; ele fornece argumentos para
responder lógica e consistentemente ao problema formulado, mas oferece
principalmente recursos para enfrentar o sofrimento com esperança e coragem em
lugar de amargura e desespero.
Antes de tudo, é
preciso considerar que o simples fato de o ser humano inquirir acerca do sofrimento,
da maldade e das injustiças do mundo indica a natural percepção de que algo se
encontra com defeito, fora do propósito para o qual fora planejado. Ficamos
perplexos com o sofrimento porque, originariamente, a raça humana não foi
criada para sofrer. Não fomos feitos para morrer, mas para a vida eterna!
Vemos a morte como algo
estranho, que ameaça nos tirar do mundo para o qual fomos planejados. Nas
palavras de Alister McGrath: “Para nós, é uma ameaça terrível aceitar o fato de
que o mundo, no qual investimos tanto tempo e esforço, continuará sem nós. E
muito mais reconfortante acreditar que nós e o mundo continuaremos a existir
para sempre e que poderemos para sempre nos agarrar aos prêmios fulgurantes que
conquistamos durante a vida”.
Todavia, prossegue
McGrath, “o sofrimento desfaz nossas ilusões de imortalidade. Ele faz a
angústia erguer a sua face horrenda, porém reveladora. A dor derruba os portões
da cidadela das ilusões. Confronta-nos com os fatos brutais da vida e leva-nos
a fazer aquelas perguntas difíceis, que têm a força de fazer ruir a falsidade,
levando-nos em direção a Deus, longe da falsa segurança e das recompensas do
mundo”.
Além disso, o
questionamento de Deus a partir do problema do sofrimento trás subjacente outro
sentimento que aponta para a existência de um Legislador Moral: o senso de
justiça presente no homem. Esse foi um dos aspectos que levou C. S. Lewis a
abandonar o seu ateísmo. Em Cristianismo Puro e Simples, ele diz que
questionava a existência de Deus com o argumento de que o universo parecia
injusto e cruel. No entanto, num passo seguinte, ele questionou a si mesmo: “de
onde eu tirara a ideia de justo e injusto?”. Lewis percebeu que o seu ato de
tentar provar que Deus não existe, ou que a realidade não tem sentido, forçou-o
a admitir que uma parte da realidade — a sua ideia de justiça — tinha sentido.
Noutras palavras, o
simples fato de duvidar da existência de Deus, colocando em questão a sua
bondade e onisciência, conduz o homem a interrogar a origem da bondade. De onde
a tiramos? Se sabemos que algo é bom e outro mal, qual o referencial que
distingue uma coisa da outra? Somente a partir do reconhecimento da existência
de um ser de grandeza e bondade máxima é que podemos fazer tal distinção, o que
nos leva diretamente a Deus.
Em outro livro, O
Problema do Sofrimento, Lewis desfere uma série de argumentos em face das
críticas dos ateus. Sobre a onipotência de Deus, Lewis explica que Deus pode
fazer tudo, pois nada é impossível para Ele. Todavia, existem coisas absurdas e
autocontraditórias que desafiam a própria lógica, como uma bola quadrada ou até
mesmo um canto redondo. Tais coisas são absoluta ou intrinsecamente
impossíveis.
Assim, é fácil supor
que a onipotência significa que Deus é capaz de realizar tudo o que é intrinsecamente
possível, e não o intrinsecamente impossível. Nas palavras de Lewis, “podemos
atribuir milagres a Ele, mas não o contrassenso”. Ele não pode mentir, por
exemplo, pois isso contraria a sua própria natureza.
Lewis argumenta, então,
que o problema do sofrimento não tem a ver com a onipotência divina. Uma vez
que o ser humano foi agraciado com a liberdade de escolha, o sofrimento decorre
das escolhas erradas dos homens. A intervenção divina em face da liberdade do
homem contrariaria a ordem das coisas criadas. Segundo Lewis, “talvez possamos
conceber um mundo em que Deus corrigisse as consequências do abuso do
livre-arbítrio por parte de suas criaturas a cada momento. Assim, o timão do
arado, feito de madeira, tornar-se-ia macio como a relva ao ser usado como
arma, o ar recusar-se-ia a me obedecer se eu tentasse lançar nele as ondas
sonoras que transportam mentiras ou insultos. Em um mundo com tais
características, no entanto, as ações torpes seriam possíveis, e, portanto, a
liberdade da vontade seria nula”.
O fato é que Deus é bom
e Todo-Poderoso, e criou criaturas boas com a capacidade de tomarem decisões
livres. Todavia, o mau uso dessa liberdade levou o primeiro casal e toda
humanidade à Queda (Rm 5.12). A desobediência no Éden, além de afastar o homem
do Criador, introduziu a morte, a angústia, a dor e toda sorte de males que
provocam o sofrimento.
Somente em um mundo
onde o homem não tivesse liberdade o sofrimento não existiría. Isso porque é
logicamente incompatível um mundo no qual o homem possa decidir entre o bem e o
mal e ao mesmo tempo não ser afetado pelas consequências de sua decisão. Um
mundo onde não há liberdade também não há amor verdadeiro. Norman Geisler e
Peter Bochino escrevem: “Deus não criou robôs, criou seres humanos com o poder
de escolher livremente entre o bem e o mal. Se ele criou seres humanos já
predispostos (além do controle deles) para amá-lo, isso não seria o verdadeiro
amor. Se programarmos o nosso computador para nos dizer que ele nos ama cada
vez que o ligamos, na verdade estamos dizendo a nós mesmos que nos amamos. O
computador estaria apenas reproduzindo nossos pensamentos, não seria livre para
nos dizer coisas diferentes. Não estaríamos comprometidos numa relação de amor,
mas numa forma grave de narcisismo. Um relacionamento de amor deve deixar
aberta a possibilidade de o amor ser rejeitado — e, portanto, o mal ser
escolhido. Quando as pessoas rejeitam o amor de Deus, percebem o mal potencial
dentro delas mesmas, o que afeta todos os outros relacionamentos nos quais elas
entram”.
A liberdade de
colocarmos a mão no fogo, por exemplo, resulta em queimadura e dor. A completa
ausência do sofrimento pressupõe a inexistência da liberdade humana. Porém,
Deus não criou autômatos, mas pessoas livres.
Não há, portanto,
nenhuma contradição em aceitar a bondade de Deus, sua onisciência, e a presença
do mal no mundo. Não obstante, apesar da resposta racional, a pessoa que sofre
precisa muito mais que respostas plausíveis. E preciso concordar com Jonas
Madureira quando ele diz: “Uma coisa é ver o mundo com os olhos secos da razão,
outra bem diferente é vê-lo com os olhos marejados pelos sentimentos”.
Fonte: A razão de nossa esperança – Alegria,
Crescimento e Firmeza
nas Cartas de Pedro. Editora CPAD |
Autor: Pr. Valmir Nascimento.