Como entender as menções ao animal mitológico em Números
23.22; 24.8; Deuteronômio 33.17; Jó 39.9,10; Salmos 22.21; 29.6; 92.10 e lsaías
34.7?
Não, definitivamente a
Palavra de Deus não dá margem para este tipo de interpretação. Aliás, seres
mitológicos, como o próprio nome indica, jamais foram identificados e
classificados de acordo com a sua espécie pela ciência. Mas, como entender que
a sua nomeação esteja incluída na Bíblia Sagrada? O Ph.d. em Línguas Clássicas
e autor norte-americano Russell Norman Champlin explica em sua Enciclopédia de
Bíblia Teologia e Filosofia que o animal descrito, na verdade, era uma espécie
selvagem identificada nas literaturas assírias sob o termo Rimu e que
provavelmente corresponde ao auroque, também conhecido como bisão europeu, uma
espécie ruminante extinta. Os historiadores concordam que os últimos indivíduos
que representavam a espécie morreram na Floresta Jaktorów, na Polônia, em
1627.0 animal alcançava uma altura de cerca de 1,8 metros e cerca de 3 metros
de comprimento. O bovino possuía dois chifres que podiam ultrapassar mais de 75
centímetros de comprimento.
Já na língua hebraica,
quem aparece é o termo reem, mas a versão portuguesa incluiu a presença
do “boi selvagem” descrito como um animal forte, corpulento e feroz. Champlin,
em sua obra, explica que não era possível amansá-lo, para levá-lo a ajudar o
homem em seus labores agrícolas. Considerando a sua natureza selvagem, até
mesmo caçá-lo tornava-se uma arriscada aventura. O animal habitava em grandes
rebanhos na Europa e Ásia ocidental, e encontra-se representado nos
baixos-relevos dos monumentos da Assíria. Na Antiguidade, os chifres de um
animal representavam força e poder, uma vez que uma dessas criaturas ostentando
esses “apetrechos” naturais representava um verdadeiro perigo: o ataque a uma
pessoa despercebida poderia ser fatal por causa dos ferimentos produzidos pela
fúria de um animal desta envergadura.
Veja
também:
Champlin continua em
seu comentário acerca do fabuloso animal e afirma que os estudiosos o
identificam como o Bos Primigenius e ancestral do moderno gado vacum. Os
cientistas explicam que o boi selvagem apresentava uma tonalidade marrom
escura, e seus longos chifres eram voltados para frente e para trás. Nos
primórdios, as manadas desses animais habitavam grande parte da Europa, da Ásia
central e ocidental, e em determinadas regiões do norte da África, incluindo o
Egito, país onde a sua presença estava tornando-se rara já no reinado do faraó
Tutmés 3° (cerca de 1500 a.C.). A última menção do animal, nos escritos
egípcios, remonta a época de Ramssés 3° (1190 a.C.). O boi selvagem também foi
alvo dos reis assírios que o transformaram em presa.

Apesar da caça
descontrolada promovida pelos seres humanos, ainda era possível encontrar
indivíduos nas regiões menos habitadas da Mesopotâmia, todavia, a sua presença
na Palestina já havia sido extinta desde muito antes da Era Cristã. Autores
sacros mencionaram a sua existência nas páginas da Bíblia Sagrada: o trecho de
Isaías 34.6,7 faz associação deste animal com outros animais limpos e Jó
39.9,10 faz distinção entre o boi selvagem e o boi doméstico. Mas Champlin
alerta que as referências são figuradas e dão conta de que os escritores
estavam familiarizados com o animal, e que a criatura fazia parte da fauna do
território em derredor da Palestina, senão desta região do mundo.
Por sua vez, o tal
unicórnio jamais existiu. O animal é mencionado em lendas antigas, e nada mais.
A criatura era concebida como um animal bem menor que o touro, dotado apenas de
um único chifre no meio da testa. A versão portuguesa da Bíblia Sagrada
mostra-se correta ao preferir “boi selvagem” e não “unicórnio”.
Artigo: Eduardo Araújo | Fonte:
Jornal Mensageiro da Paz, Maio de 2019 | Divulgação: Subsídios EBD