Obs. Subsídio para a
classe de Jovens. Lição 2 – 2° trimestre de 2019.
1.
A prosperidade e a teologia da retribuição
A interpretação de alguns textos
bíblicos sem considerar o contexto cultural e teológico da época da escrita
pode levar os leitores atuais a tomar uma teologia contrária ao projeto de Deus
como se fosse a própria intenção de Deus. A prosperidade condicionada à
obediência tem levado muitos cristãos a defender uma religião mercantil. Os
expoentes da teologia da prosperidade defendem que a doença, a pobreza, o
sofrimento, entre outros males são consequências do pecado. Eles também afirmam
que bênçãos e prosperidade são recompensas pela obediência à doutrina propagada
por eles. É uma mercantilização da fé.
O protótipo da teologia da prosperidade
é conhecido no Antigo Testamento (AT) como a teologia da retribuição. Essa
teologia é bem destacada no livro de Jó. Nesse livro, ela é representada pelos
“amigos de Jó”. Quando chegaram para consolar Jó das desgraças que lhe
ocorrera, logo procuraram a causa do ocorrido. Para isso, buscaram obter de Jó
a confissão de quais pecados ele havia legitimava a riqueza adquirida por meio
da exploração, pois, segundo ela, a riqueza era sinônima de justiça, de pureza
e de santidade. Por outro lado, a pobreza significava castigo pelo pecado e
injustiça praticada.
Neves,
ao analisar o discurso de Elifaz, um dos supostos amigos de Jó, afirma:
Este
pronunciamento demonstra a ideia de que no discurso de Elifaz predominava um
relacionamento mercantil com Deus. Afirmava que as bênçãos de Deus eram
condicionais às práticas de suposta fidelidade a Deus, a famosa frase popular
‘toma-lá-dá-cá’. Elifaz difundia o conceito de que apenas os que desagradam a
Deus sofrem, com isso tentava explicar o sofrimento de Jó, ou seja, ele sofria
porque havia pecado e desagradava a Deus, a ponto de chamá-lo de injusto e
louco (Jó 5.1-5). [...] A força do dogma da retribuição colocava o pobre e o
sofredor na situação de condenado sem direito à defesa e quem o defendesse
estaria indo contra o próprio Deus, portanto sujeito à mesma condenação. Essa era
a força da tradição, estava acima da verdade e não podia ser questionada.
(NEVES, 2013, p. 36)
A mercantilização da fé leva os seus
defensores, que se beneficiam de sua prática, a usar o nome de Deus para
legitimar sua teologia.
No
próprio livro de Jó, podemos constatar essa prática:
Outra
prática utilizada para legitimar a autoridade dos discursos era a utilização de
supostas revelações e visões. No discurso de Elifaz, é citada uma estranha,
confusa e duvidosa visão noturna (Jó 4.12-17). Entretanto, Elifaz não obtém
êxito nesta prática com intenção de convencer Jó de sua culpabilidade e
submissão ao sofrimento como correção do pecado encoberto. Muitas denominações
cristãs
contemporâneas
se utilizam da mesma técnica. [...] Os ouvintes que
estão
em busca de uma libertação, conquista de prosperidade e sucesso, alimentam esse
processo de mercantilização da fé. [...] Portanto, os discursos de Elifaz
defendem uma religião mercantil e se utiliza de supostas visões e revelações
para dar credibilidade às suas afirmações. (p. 37, 38).
Rossi (2008, p. 89, 99), ao falar sobre
os líderes atuais que representam a teologia da retribuição, afirma que esses
geralmente usam de artifícios de supostas revelações para legitimar suas
afirmações e discursos inflamados. O pior é que esses discursos são feitos como
se fossem ordenados pelo próprio Deus e fazem promessas de parceria e
comprometimento de Deus com a sua realização. O resultado é frustração e
abandono da fé por muitas pessoas. No caso de Jó, ele muda de posicionamento e
questiona a teologia propagada pelos seus “amigos”, pois ele tinha convicção de
sua comunhão com Deus e de sua integridade.
2.
O maior tesouro é fazer a vontade Deus e viver em paz
Depois dos discursos de Jesus sobre as
bem-aventuranças e a advertência sobre a hipocrisia religiosa baseada em
rituais e práticas com o objetivo de aparentar certa religiosidade, que
contrasta com a verdadeira justiça divina, Ele inicia uma seção de ditados de
sabedoria. Esses adágios faziam parte da cultura judaica e eram apreciados como
ensinos para o dia a dia dos judeus. O primeiro ditado está relacionado a uma
palavra proferida por Mateus: tesouros. Ele usa o termo grego “thesauros” nove
vezes, enquanto ela aparece dezessete vezes em todo o Novo Testamento.
Arrington e Stronstad (2012, p. 56) afirmam que esse termo “pode se referir às
riquezas materiais (e.g., Mt 2.11; 13.44), mas na maioria dos casos indica
riquezas espirituais ou celestiais (e.g., Mt 12.35; 13.52; 19.21). [...] Jesus
contrasta tesouros terrenos que inevitalmente se decompõem, com a
incorruptibilidade das riquezas celestiais”. Jesus incentiva o investimento nas
riquezas celestiais. Ele não desmerece os bens materiais, mas, sim, a sua
supervalorização.
Em uma sociedade consumista e centrada
na economia de mercado como a atual, o dinheiro assume um papel peculiar,
inclusive no meio religioso que tem o papel de mediação com o sagrado. A cada
dia, parece que o dinheiro tem encontrado no âmbito religioso, em especial no
meio neopentecostal e pentecostal, um ambiente propício para o mercantilismo.
As pessoas são educadas para ocupar-se com o “ter”. É a constante busca para
ter boa formação, ter um emprego que dê uma boa projeção financeira e social,
ter uma boa casa, ter um bom carro e assim por diante. Não há nenhum problema em
preparar-se para o mercado de trabalho e buscar conquistar uma boa situação
financeira; isso é natural. O problema, no entanto, é quando isso se torna a
meta principal a ser atingida. Jesus adverte que o principal tesouro a ser conquistado
não é o material e terreno, pois este só produz satisfação e alegrias momentâneas
que podem ser facilmente tiradas. Em vez disso, Ele recomenda que ajuntemos o
que pode ser desfrutado na vida eterna com Deus. Nenhuma riqueza do mundo pode
comprar a paz que uma pessoa que faz a vontade de Deus desfruta. Muitas pessoas
“poderosas” dariam tudo o que possuem para ter a paz que um cristão fiel
desfruta com Deus e com as demais pessoas. Essa paz é o fruto de um
relacionamento saudável com Deus, família, amigos, comunidade cristã e
sociedade em geral. Cada pessoa colherá aquilo que planta (Gl 6.8).
O coração era considerado o centro do
compromisso e das decisões (Mt 5.8,28), e o tesouro que ele escolher definirá o
relacionamento com Deus, com as pessoas e com as coisas (Lc 12.16,17; Mt
16.26). A recomendação de Jesus é um coração misericordioso e generoso (Mt
5.42; 6.2-4). Assim, quem possui esse coração alcançará o maior tesouro, que é
fazer a vontade de Deus e ter paz.
Veja também:
2) Sólida
política de administração financeira na Igreja – Clique
Aqui
3) O
cristão diante da Pobreza e da Desigualdade Social – Clique
Aqui
Fonte: Cobiça e Orgulho – Combatendo o desejo
da carne, o desejo dos olhos e a soberba da vida. Editora CPAD | Autor: Pr.
Natalino das Neves.
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