Obs. Subsídio para a
classe de Jovens. Lição 7 – 1° trimestre de 2019.
Os fatos narrados no capítulo 20 de
Números e o longo período de caminhada naquele ambiente inóspito serão
analisados sob a ótica do líder Moisés, e os efeitos que lhe ocasionaram. Mesmo
com todos os sinais miraculosos que aconteceram em seu ministério, ele foi
constantemente censurado por sua espiritualidade, moralidade e integridade
enquanto ser humano. Quais consequências advieram disso?
Veja:
1) Capacitação de
Missionários – Missiologia – Acesse Aqui
2) A Cidade dos
Arrebatados: Jerusalém Celestial – Acesse Aqui
3) Práticas Pedagógicas
para Professores de Escola Dominical – Acesse Aqui
No meio de todo o caos social e
político que, por vezes, transbordava, registre-se, ainda, a dificuldade que
Moisés teve em achar amigos verdadeiros. Não é de se admirar que, diante desse
emaranhado de traições, inconformismos e rebeliões, ele, por um instante,
fraquejou na fé em Deus, e feriu a glória da santidade divina, vindo, como
isso, a perder a autorização para seguir no maior projeto de sua vida: entrar com
o povo em Canaã.
Será que esses episódios aconteceram
somente na caminhada no deserto, ou frequentemente se desenvolvem também nas
comunidades cristãs da atualidade? “Os perigos do deserto” traduzem uma grave
advertência para esta geração, como lembrou Paulo (1 Co 10.1-12).
Veja também:
I - No Deserto Surgem Críticas
1.
Quanto à Espiritualidade
Está escrito que os hebreus, no
deserto, endureceram os seus corações (SI 95.8) e tornaram-se cobiçosos (Sl
106.14). Essas verdades podem ser claramente observadas na rebelião de Corá,
Datã e Abirão (Nm 16.3), estudada anteriormente, quando Moisés foi acusado de
não possuir autoridade espiritual para conduzir o povo. Que argumento
falacioso! Curiosamente, porém, conseguiu convencer muita gente. Essa mesma
artimanha foi utilizada por Satanás, na tentação no deserto, quando quis que
Jesus desconfiasse da voz de Deus que bradou dos céus, sobre as águas do Rio
Jordão, dizendo que Ele era o Filho amado, em quem o Senhor tinha muito prazer
(Mt 4.1-11). O Diabo foi vencido porque Jesus, mesmo fraco, com fome, nunca
duvidou que aquilo que Deus diz é verdade.
Criticar a espiritualidade do líder é
um jogo antigo do Diabo. Ora, Moisés, desde os primeiros sinais no Egito, tinha
apresentado credenciais suficientes de sua autoridade espiritual, mas, no
deserto, até ela foi contestada. Perfaz-se numa realidade que a espiritualidade
de cada cristão é testada fortemente no período em que se caminha no meio da
escassez. Faz-se necessário, pois, haver constante comunhão com Deus para não
desfalecer. Em algum momento da trajetória da vida haverá desertos a serem
transpostos; é preciso, por isso, ter muito cuidado para não sucumbir ante aos
perigos que surgem nesses dias difíceis.
2.
Quanto à Moralidade
Inequivocamente, possuir bom caráter é
o requisito primordial para uma liderança eficaz, pois sem essa característica
o povo perde a confiança e o trabalho não prospera. O rei Davi, por exemplo,
teve um reinado sem sobressaltos político-administrativos até o instante em que
traiu seu grande amigo Urias, infringindo-lhe vergonha e morte. Naquele
episódio, Davi agiu amoralmente e, a partir de então, as rebeliões explodiram
em seu reinado, começando por seu filho Absalão.
A nova geração de hebreus nascida no
deserto murmurou sobre a decisão de Moisés em estimular o povo a herdar uma
terra que manava leite e mel (Nm 20.5). Eles questionavam a moralidade de
Moisés, que estava sendo acusado de conduzir, com irresponsabilidade histórica,
o povo por caminhos sem sentido e com nenhum resultado; pareciam adeptos da
teologia da prosperidade! Eles, no fundo, ao questionarem a moralidade de
Moisés, estavam também desqualificando o modo de agir de Deus — sua bondade!
Os hebreus não atentavam para as
coisas espirituais, eternas, mas apenas às transitórias, materiais. Eles não
compreendiam o processo, os caminhos de Deus, mas apenas eram conhecedores dos
feitos do Senhor; Moisés, entretanto, conhecia os seus caminhos (SI 103.7).
Interessantes observações foram lançadas acerca dessa dissensão política:
[...] reclamaram porque
não havia água para a congregação (2). Era o mesmo padrão que caracterizava as
murmurações do passado. [...] Claro que a geração mais jovem não desfrutara os
prazeres do Egito nem sofrerá plenamente as provações da viagem, mas, sem
dúvida, ouviu as histórias. As reclamações neste momento poderiam ter sido
lideradas pelos mais velhos, a quem estes acontecimentos do passado não eram
tão remotos. É evidente que a congregação estava inclinada a se prender a
qualquer assunto que lhe desse ocasião para se queixar da dificuldade. A
murmuração não se destaca por sua lógica nem está limitada a certo conjunto de
circunstâncias ou a qualquer geração.
Murmurar a qualquer custo, sob os
pretextos mais variados, com ou sem nenhuma razoabilidade e lógica, parecia ser
esse o mais apurado prazer daquele povo, — um verdadeiro traço cultural. Por
isso a experiência do deserto é insubstituível para quem anda com o Senhor:
deixará aprendizados indeléveis, indispensáveis para seguir com fé e confiança
pela estrada da vida. Todas as palavras irrogadas contra Moisés traduziam, na
verdade, uma enorme ingratidão.
Faltava água? Era isso? Quantas outras
vezes esse problema foi resolvido, de maneira miraculosa?
A conduta responsável, moral,
consequente, de Moisés e a bondade de Deus não poderiam jamais ser
questionadas, pois as circunstâncias cotidianas sempre foram plenamente
favoráveis ao povo: nenhum israelita morreu de fome ou sede enquanto
atravessava o deserto, nem suas roupas envelheceram ou seus sapatos estragaram
(Dt 29.5). Os que morreram e foram sepultados no deserto foi por causa de
desobediência. Deus porém manteve sua fidelidade e sua palavra empenhada.
Moisés, inequivocamente, não merecia ser pressionado daquela maneira, recebendo
tão injusta acusação!
3. Quanto
à Sinceridade
No deserto, de onde menos se espera é
que surgem as vãs suspeitas, as acusações, os julgamentos sumários sem provas.
Os liderados de Moisés suscitaram dúvida acerca de seu bom senso, sua
responsabilidade moral, o que deve ter lhe causado muita tristeza. Agora,
porém, conjecturava-se acerca da integridade do líder. Era uma intriga
internacional. Os irmãos do povo hebreu — os edomitas (descendentes de Esaú),
que moravam ao lado de Cades —, não acreditaram que Moisés estava sendo sincero
ao pedir que deixassem os israelitas passarem pelo seu território (Nm
20.14-21). Como é doloroso quando nossos irmãos não confiam em nós!
Duvidaram tanto da honestidade, da boa
fé, de Moisés que, por isso, arregimentaram um grande exercito para afugentar o
povo para longe de suas terras. No deserto, a má fama do líder se propaga,
inclusive para além dos limites territoriais; até os seus vizinhos desconfiavam
da suas reais intenções.
A integridade, sinceridade, pureza de
propósitos, de um líder cristão apresenta-se, sem dúvida, como seu maior
patrimônio. Entretanto, no deserto, até esse bem imaterial é frequentemente
questionado. A índole de Moisés, nos quarenta anos de caminhada, deveria ser
suficiente para que os edomitas confiassem nele. Entretanto, no deserto, as
coisas acontecem sempre de maneira inesperada, pois num ambiente cheio de
perigos espirituais, morais e físicos, as pessoas, em regra, desconfiam de tudo.
II. Deserto Chega a Solidão
1.
A Morte de Miriã
Números 20 narra, certamente, as
maiores perdas sofridas por Moisés. Nem mesmo a privação do lugar de destaque
na dinastia egípcia lhe foi tão cara. Começa com a morte de Miriã, depois Deus
o impede de entrar em Canaã e, por fim, Arão morre. Há instantes, na vida de um
servo de Deus, em que ocorrerão perdas pessoais irreparáveis, as quais podem
contribuir para o surgimento ou o aprofundamento da solidão. A vida é assim.
Nunca é fácil agir corretamente
quando, aparentemente, a vida se volta contra nós, pois, antes mesmo que
percebamos, nossas emoções nos sufocam e ficamos submersos numa enchente de
raiva, frustração ou desespero. Talvez isso tenha acontecido com Moisés.
Quantos sofrimentos em um curtíssimo espaço de tempo! O Senhor, porém, em
cumprimento a uma verdade eterna estampada em Romanos 8.28, usou as perdas de
Moisés para aproximá-lo ainda mais, conduzindo-o a um novo patamar de paciência
e confiança, redirecionando-o para entender integralmente a sua perfeita
vontade.
A morte de Miriã (Nm 20.1), aquela que
o salvou quando ele, ainda bebê, estava no cesto betumado no rio Nilo (Êx 2.7),
arrancou um pedaço da história de Moisés, que perdia uma das colunas de
sustentação do seu ministério. É verdade que ela, em dado momento, por castigo
de Deus, ficou leprosa, por murmurar contra seu irmão caçula (Nm 12.16);
entretanto, isso não retirou o amor que Moisés lhe nutria. A morte de um ente
querido sempre deixa profundas cicatrizes.
2.
A Morte de Arão
Arão não era apenas o irmão de Moisés,
mas também seu companheiro, seu confidente, seu cúmplice, seu porta-voz, seu
melhor amigo, durante, pelo menos, quarenta anos. Homem extremamente submisso,
confiável, espiritual, humilde, que, como ninguém, auxiliava Moisés na condução
dos destinos do povo. Sua morte, no mesmo ano da morte de Miriã, sem dúvida,
deixou um grande vácuo para todos. Se na morte de Miriã não houve muito luto,
na de Arão o povo pranteou por um mês.
Arão foi usado por Deus para falar
diante de Faraó (4.30; 7.2,9), sustentou os braços de Moisés na guerra (Êx
17.12), viu a glória de Deus (Êx 24.1-10), fabricou um bezerro de ouro (Êx 32)
e foi eleito por Deus como o patriarca de toda a linhagem sacerdotal (Êx
28.40). Seu pecado em Meribá (Nm 20.12) antecipou sua morte, pois, por isso,
como também Moisés, foi impedido de entrar na Terra Prometida. R. N. Champlin
afirma que “Arão fizera seu trabalho a contento [...]. A morte chegou como uma
amiga, para pôr fim aos labores e conceder-lhe descanso. Nada tinha que
temer”.6 Os dias de deserto estavam chegando ao fim.
3.
Moisés, um Líder com poucos Amigos
Observa-se que a ausência de Miriã e Arão,
para Moisés, trouxe-lhe benefícios circunstanciais. (Como é difícil pensar que
a morte de entes queridos será uma bênção!) Mas é que, com a solidão na
liderança, Moisés pôde colocar algumas idéias em ordem, para compreender melhor
suas limitações. Ele, até pouco tempo, tinha arrogância escondida no coração;
prova disso é que ousou desobedecer ao Senhor frontalmente. Se ele tivesse
refletido antes, com certeza, não teria ferido a rocha! Por fim, depois de
colocar o indivíduo frente a frente consigo mesmo, a solidão coloca-o frente a
frente com Deus, fazendo-o conhecer melhor o seu Criador, enquanto espera pelo
agir d Ele. Isso aconteceu, certamente, com Moisés.
Billy Graham escreveu: “A chave é
passar um tempo com Ele”. O supra-sumo da vida consiste em estar nEle, com Ele,
porque nEle está a vida! Se Moisés já era um líder de poucos amigos, com o
falecimento de seus irmãos ele teria bem mais tempo para investir na intimidade
com Deus. O Senhor, talvez, desejasse esse isolamento emocional para Moisés, a
fim de que ele pudesse cultivar maior comunhão e dependência com Deus. O mundo
precisava de alguém assim, com esse diferencial. Ele, certamente, sempre se
sentia consolado, amparado, tendo alguém real com quem conversar, pois
habitualmente estava a sós com Deus, não obstante vivesse no meio de uma grande
multidão. Não foi por acaso a profecia que o Senhor levantaria outro profeta
semelhante a ele, referindo-se a Cristo.
Fonte: Rumo à Terra Prometida: A peregrinação
do povo de Deus no Deserto no Livro de Números. Autor: Reynaldo Odilo. Editora
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