Os atos de insubmissão são um mal
terrível, que precisam ser combatidos com todas as forças, a fim de que os
melhores esforços para agradar a Deus não sejam desperdiçados, pois esses atos
produzem, com rapidez, grandes tragédias. Tal pecado é tão grave que o Senhor o
comparou ao da feitiçaria (1 Sm 15.23), porque o rebelde (assim como o
feiticeiro) busca alcançar o fim pretendido independentemente da vontade do
Senhor; entende que os fins justificam os meios e, por isso, realiza qualquer
conduta para ter o que deseja. O livro de Números mostra frequentemente as
pessoas quebrando o princípio da autoridade e submissão e, em todos os casos, o
resultado não foi bom.
Veja também:
Inequivocamente, o ato de submeter-se
constitui-se em uma das mais belas características do verdadeiro serviço a
Deus. A pessoa escolhida para exercer influência sobre alguém, decorrente de
uma delegação natural, social ou espiritual, deve ter todo o respaldo, apoio e
ajuda pa,ra agir conforme a delegação divina. Importante que se diga, porém,
que autoridade, neste caso, não significa supremacia, a qual pode ser comprada,
imposta ou mesmo adquirida pela força. Autoridade genuína, porém, somente se
conquista pela justiça, decorrente da vontade de Deus.
A submissão exigida por Deus para o
seu povo, por outro lado, pode ser conceituada como a atitude (sentimento) de
submeter-se, com alegria e de forma irrestrita e voluntária, a alguém que foi
constituído pelo Senhor como autoridade sobre nossa vida, concretizando isso
por meio de condutas de obediência (desde que não haja conflito com a Palavra
de Deus), abdicando do direito de tomar decisões próprias. É uma das facetas do
negar-se a si mesmo (Mt 16.24).
A geração de hebreus que saiu do Egito
precisava decidir, em amor, ser submissa a Deus e à sua palavra, e isso
passava, necessariamente, em atender a Moisés, renunciando à sua própria
opinião. Mas não foi isso que aconteceu.
Richard
W. Dortch afirma:
Todos
temos que prestar contas a alguém. Se não houver submissão, o resultado é o
caos. [...] A submissão é a maneira de Deus completar a obra de nossa
libertação. A submissão é um processo de autocontrole. Quando a pessoa se
dispõe a submeter-se a esse processo, fica livre das tiranias das paixões e
motivos egocêntricos.
Como Israel precisava ficar livre das
“tiranias das paixões e dos motivos egocêntricos”! Deus estava trabalhando
constantemente para completar a obra de libertação que tinha começado quando
saíram do Egito, mas, sendo um povo de dura cerviz, o Senhor sabia que haveria
muitos conflitos.
1.
Inveja na Família do Líder
A dificuldade em ser submisso ao seu
líder era um problema de Israel, todavia, não só do povo, mas também daqueles
que estavam na cúpula do poder tribal: Miriã e Arão, pessoas pelas quais Moisés
tinha muito apreço. Porém, de onde menos se espera é que, muitas vezes, surgem
as rebeliões, conforme Números 12. Aqueles que estão muito perto do poder com
frequência são tentados a ter inveja do líder e a querer ocupar o lugar dele.
Isso aconteceu primeiramente com o Diabo e, depois, pela influência nefasta
dele, muitas pessoas na terra reproduziram esse comportamento, querendo ser o
“número 1”. Ora, ser o número 1 é bom, mas ser o número 2 é melhor ainda, pois
sobre o número 2 não pesa tanta responsabilidade e ele pode, assim, gastando
menos energia, realizar coisas melhores do que o número 1. Simples assim. A
inveja no coração de uma pessoa, porém, turva-lhe a vista, de forma que não
percebe essa realidade, foi o que aconteceu na família de Moisés.
Richard W. Dortch, um cristão
americano que sucumbiu na vida e nos negócios por causa do desejo de ser o
“número 1”, vindo, por isso, a cometer crimes, pelos quais foi condenado à
prisão, escreveu sobre o assunto:
Vamos enfrentar os fatos — a ideia de
ser o número um, de ter poder, sucesso, dinheiro e prestígio, é muito sedutora.
Essa ideia tem sido o “coração” do mal desde que Lúcifer comparou o que possuía
com o que Deus tinha. Ele sentiu-se roubado na parte que recebeu. [...]
A inveja também obscureceu a mente de
Caim, afastando-o da verdade. [...] Os temas ciúme, inveja e cobiça percorrem
os séculos. [...]
Muitos dos nossos problemas são
resultado direto de um coração invejoso. Devemos nos observar cuidadosamente.
Miriã e Arão foram seduzidos pela
tentação de possuir mais prestígio na comunidade e, por isso, falaram contra
Moisés por causa da sua esposa, que era cuxita, e disseram: “Porventura, falou
o Senhor somente por Moisés? Não falou também por nós? E o Senhor o ouviu” (Nm
12.2). Observe-se que não se tratou de um mero desentendimento, acontecido no
almoço do domingo, durante uma reunião familiar entre eles, mas de uma oposição
política, que demonstrava rompimento administrativo. No fundo, Miriã e Arão
queriam assumir o lugar de Moisés, o que se observa pela fala: “Não falou o
Senhor também por nós?” De fato, Miriã e Arão “falavam” até melhor do que
Moisés, mas o cajado estava nas mãos do irmão mais novo. O que aconteceu? Deus
fez Miriã leprosa e Arão teve que se arrepender fortemente. Em nossos dias,
pessoas têm ficado “leprosas” porque levantam oposição injustamente contra seus
líderes, enquanto eles estão agindo no centro da vontade de Deus. Há uma
verdade inexorável: quem desatende ao princípio da autoridade e submissão será
quebrado por Deus, pois não se levanta apenas contra o líder, mas contra aquEle
que lhe delegou a autoridade.
2.
Teimosia
Outra conduta de rebelião dos hebreus
aconteceu logo após receberem a sentença de que não entrariam na Terra
Prometida. Nessa ocasião, o Senhor determinou que voltassem ao deserto, pelo
caminho do Mar Vermelho (Dt 1.40). Os hebreus, porém, com soberba, resolveram
desafiar a Moisés e ao próprio Deus, e partiram para a guerra. Foram
fragorosamente derrotados (Nm 14.40-45).
Os rebeldes precisavam entender que
sem a bênção de Deus e do seu pastor Moisés não haveria vitória. A autoridade
outorgada por Deus deve gerar, sempre, no outro polo do relacionamento (os
liderados), uma submissão total, completa e absoluta, em amor. Se a autoridade
não for exercida a contento, ou a submissão não se constituir integralmente,
haverá o rompimento desse importante princípio, e a rebelião se instalará,
trazendo danos caríssimos e, muitas vezes, irreparáveis.
Acerca desse momento, em que os
sobreviventes israelitas voltaram chorando após o massacre dos amorreus, Moisés
escreveu: “o Senhor não ouviu a vossa voz, nem vos escutou” (Dt 1.45). Triste
desfecho para quem tinha uma grande promessa de vitória.
3.
Murmuração
O princípio da autoridade e submissão
estabelece a ordem e cria condições para o crescimento, em todo e qualquer
agrupamento humano; a rebelião à hierarquia (notadamente àquela firmada por Deus),
por outro lado, instala o caos e faz os melhores projetos sucumbirem. Em todas
as épocas, o Espírito Santo tem levado seu povo a um estado de submissão,
quando a palavra de Deus não é afrontada pelas disposições humanas. Eusébio de
Cesareia, por exemplo, ao relatar o martírio de Policarpo, bispo de Esmirna,
reproduz suas palavras perante o procônsul romano: “fomos ensinados a dar aos
magistrados e autoridades designados por Deus a honra devida a eles, contanto
que isso não nos fira”, ou seja, não existindo contradição entre a ordem da
autoridade e os ensinamentos das Escrituras, cabe aos cristãos a obediência.
Esse padrão se repete em toda a história do povo do Senhor.
Moisés disse, certa vez, que conhecia
a rebelião e a dura cerviz dos israelitas (Dt 31.27), por isso, não deve ter se
admirado com mais duas rebeliões que aconteceram em Números 20.2-5 e 21.4,5.
São registros de histórias de insubmissão, as quais redundaram em danos e
mortes. No primeiro episódio, o povo murmurou tanto que o próprio Moisés perdeu
o bom senso e, arrogantemente, feriu a rocha, quando a ordem divina era para
falar. Isso lhe custou muito caro, porque o impediu de entrar na Terra
Prometida.
A rebelião mencionada em Números
21.4,5, quando os hebreus reclamaram do cuidado divino e desprezaram o maná que
caía do céu, fez o Altíssimo enviar serpentes ardentes, as quais morderam o
povo e milhares morreram, marcando, com isso, o fim dos últimos sobreviventes
da geração que saiu do Egito e o cumprimento final da sentença divina de que os
rebeldes seriam enterrados no deserto.
Nessas duas narrativas, observa-se a
presença constante de um sentimento faccioso nos hebreus, os quais desonravam
Moisés constantemente.
Fonte: Rumo à Terra Prometida: A peregrinação
do povo de Deus no Deserto no Livro de Números. Autor: Reynaldo Odilo. Editora
CPAD
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