Em 1 Coríntios
11.10, quando Paulo aconselha as mulheres a cultivarem cabelos compridos em
referência aos anjos, o que exatamente o apóstolo estava querendo dizer?
A passagem de 1 Coríntios
11.2-16 trata de questões relacionadas ao culto público, da maneira como homens
e mulheres deveriam se apresentar. O texto apresenta diversas nuances
metafóricas e culturais do período romano que exigem informações além daquelas
obtidas com a leitura do texto e o estudo das palavras. É importante entender o
significado simbólico do estilo do cabelo e das roupas, que, entre outras
coisas, está relacionado à autopercepção da identidade de sexo e classe, ao
respeito ou à indiferença em relação à percepção dos outros e ao discernimento
da circunstância.
Pela passagem, o homem,
quando orasse e profetizasse, não deveria ter a cabeça coberta (alguns apontam
cabelo longo como possível tradução no v.4); ao contrário, a mulher não deveria
ter a cabeça descoberta quando orasse e profetizasse, era desonra (v.5).
Na sequência, Paulo reforça
que o homem não deveria cobrir a cabeça (v.7), mas ao invés de enfatizar o
conselho já dado à mulher, o apóstolo acrescenta que ela "deveria ter
autoridade sobre a cabeça por conta dos anjos” (v.10, tradução minha). “A
mulher deve trazer um sinal de autoridade na cabeça” (NAA); “deve ter sobre a
cabeça sinal de poderio” (ARC); “para mostrar que está debaixo da autoridade do
marido” (NTLH). O trecho termina com a conclusão de que cobrir a cabeça é
natural, costumeiro e apropriado para os cultos (vv.14-16).
Embora haja diversas
interpretações e explicações para essa passagem bíblica, há certa convergência
entre os estudiosos em aceitar que o apóstolo Paulo expressa sua preocupação
com a decência no modo de viver daqueles crentes tanto nas ruas quanto na
igreja. Algumas evidências do período de Paulo revelam que as mulheres cobriam
a cabeça para proteger sua dignidade e sinalizar que não estavam à disposição
para cortejos, pois eram fiéis a seus maridos. Outras evidências apontam que a
glória do homem estava associada à maneira como a esposa dele se vestia e se
apresentava ao público. Ainda há indícios de que o cabelo longo para os homens
e a cabeça raspada para as mulheres estavam associados à homossexualidade.
Perante Deus, o apóstolo ensinou, é relevante a diferença entre homem e mulher
que se mostra na roupa e no corte de cabelo.
Se a passagem já é difícil,
mais complicado ainda é o verso 10. Tertuliano interpretou que, cobrindo a
cabeça, a mulher teria poder contra os anjos caídos, referência aos filhos de
Deus de Gênesis 6.1-4.
Ambrosiastro julgou serem os
anjos os sacerdotes da igreja. Segundo Agostinho, Pedro Lombardo e Tomás de
Aquinas, a mulher de cabeça coberta estaria participando do culto juntamente
com os anjos de Deus. Com base nos documentos de Qum’ran, na tradição judaica
os anjos eram vistos como guardiões da ordem e participantes com a assembleia
no louvor a Deus. Atualmente, entre os estudiosos prevalece a visão de que o
verso 10 se refere aos anjos de Deus. Assim, diante dos anjos que louvam a
Deus, no culto, a mulher com a cabeça coberta preza pela dignidade, imita os
anjos e tem poder de proteger-se do mal.
Para nossos dias, fica o
ensino de que o crente, tanto homem quanto mulher, deve se vestir e arrumar o
cabelo de maneira honrosa.
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Mensageiro da Paz, Janeiro de 2019 – Artigo: Daniele Soares