Gênesis
6.1, 2 diz: "Quando os homens começaram a
multiplicar-se na terra e lhes nasceram filhas, os filhos de Deus viram que as
filhas dos homens eram bonitas, e escolheram para si aquelas que lhes agradaram".
O
termo "filhos de Deus" (benê
’elōhîm) é empregado no AT para anjos ou homens, verdadeiros crentes,
compromissados totalmente com a obra de Deus. Entre as passagens que se referem
a anjos como benê ’elōhîm estão Jó
1.6; 2.1; 38.7; Salmos 29.1; 89.6).
As
ocorrências de benê ’elōhîm com
referência a homens que têm um relacionamento de aliança com Deus são tão
numerosas no AT quanto aquelas que se referem a anjos (cf. Dt 14.1; 32.5; Sl
73.15; Os 1.10 ] — e, cremos, Gn 6.2 também).
INTERPRETAÇÕES
Várias
são as interpretações possíveis, no lugar de insistir em que anjos tenham
coabitado com seres humanos.
Alguns
eruditos bíblicos creem que a expressão "filhos de Deus" seja uma referência à linhagem piedosa de Sete
(através da qual viria o redentor - Gn 4.26), que se entremeou com a linha
ímpia de Caim. Eles alegam que:
(a)
isso se coaduna com o contexto imediato;
(b)
evita todo o problema decorrente da interpretação de que eram anjos; (c) está
de acordo com o fato de que os seres humanos também são mencionados no AT como
"filhos" de Deus (Is 43.6).
As
razões por que entendemos que Gênesis 6.2 refere-se a membros da família da
aliança, descendentes da linhagem de Sete, são muito fortes. As Escrituras
ensinam com clareza que os anjos são espíritos, "espíritos ministradores,
enviados para servir aqueles que hão de herdar a salvação" (Hb 1.14).
Embora
possam de vez em quando aparecer sob forma corpórea semelhante a homens, não
têm corpo físico e, por isso, não conseguem manter relações sexuais com
mulheres.
A
especulação rabínica de que Gn 6.2 faz referência a anjos constitui uma curiosa
intrusão de superstição pagã sem nenhuma base nas Escrituras. A ideia de seres
humanos incomuns dotados de estatura gigantesca (neppilîm, v. 4) terem resultado desses casamentos não se baseia em
nenhuma evidência de paternidade angelical. Não consta que os filhos de Anaque
ou Golias e seus irmãos tivessem ligação com os anjos por causa de sua grande
estatura; tampouco há razões para supor que os gigantes antediluvianos tinham
ascendência angélica.
Outros estudiosos
acreditam que "filhos de Deus" seja uma referência a grandes homens,
a "varões de renome na antiguidade". Apontam para o fato de que o
texto refere-se a "gigantes" e "valentes" (v. 4). Ainda,
isso evita o problema de os anjos (espíritos) coabitarem com seres humanos.
Outros
ainda combinam estas interpretações e especulam que os "filhos de
Deus" eram anjos que "não guardaram o seu estado original" (Jd
6) e que na realidade possuíram seres humanos, levando-os a um cruzamento com
"as filhas dos homens", produzindo assim uma raça superior, cuja
semente foram os "gigantes" e os "varões de renome". Esta
posição parece explicar todos os pontos, exceto o problema insuperável de os
anjos, não tendo corpos (Hb 1.14) e sendo assexuados, coabitarem com seres
humanos.
A PRIMEIRA OCORRÊNCIA
DE CASAMENTO MISTO ENTRE CRENTES E INCRÉDULOS
O
que Gênesis 6.1, 2, 4 registra é a primeira ocorrência de casamento misto entre
crentes e incrédulos e o resultado característico de tais uniões: total falta
de testemunho do Senhor e pleno desprezo pelos padrões morais. Em outras
palavras, os "filhos de Deus" dessa passagem eram descendentes da
linhagem piedosa de Sete. Em vez de permanecer fiéis ao Senhor e leais à sua
herança espiritual, permitiram-se ser tentados e seduzidos pela beleza de
mulheres ímpias, as "filhas dos homens" — a saber, as seguidoras da
tradição e do exemplo de Caim. O resultado desses casamentos foi a depravação
da natureza humana, no tocante às gerações mais jovens, até que as civilizações
antediluvianas se afundaram na iniquidade e na perversão. "O SENHOR viu
que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda a inclinação
dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal" (v. 5). O
resultado inevitável foi o julgamento, a terrível destruição pelo Dilúvio.
CONCLUSÃO
Se
admitíssemos que os espíritos conseguem, de alguma forma, manter relações
sexuais com seres humanos — e eles não podem — nem assim deveriam enquadrar-se
na passagem que estamos estudando. Caso fossem demônios, isto é, seres decaídos
que seguiram Satanás, de modo algum poderiam ser chamados "filhos de
Deus". Os espíritos maus destinados ao inferno jamais são assim designados
("filhos de Deus") nas Escrituras. Tampouco poderiam ter sido anjos
de Deus, visto que estes vivem em obediência total ao Senhor. Não têm outro
objetivo ou desejo senão o de fazer a vontade de Deus e glorificar seu nome.
Portanto, está fora de cogitação qualquer envolvimento sórdido de anjos, como
"filhos de Deus", com jovens mulheres impiedosas. Portanto, a única
explicação viável é a que apresentamos no parágrafo anterior.
Referências
Bibliográficas:
- Archer, Gleason Leonard. Enciclopédia de
Temas Bíblicos: Respostas às principais dúvidas, dificuldades e
"contradições" da bíblia. 2ª edição de 2002 – VIDA.
- Geisler, Norman L. / Howe,
Thomas. Manual popular de dúvidas, enigmas e “contradições” da Bíblia. 1999. Mundo
Cristão.