Subsídios para a classe de Jovens. Lição 10
– 4° trimestre de 2018
Com Texto e Vídeo Aula.
De
que forma, efetivamente, a oração e o jejum podem fazer diferença na vida de um
cristão? O Senhor Deus espera que, além de orar e jejuar, estejamos atentos às
coisas que nos cercam? E isso que veremos neste capítulo.
I - O que a Bíblia
fala sobre a Oração
A
oração é o ato de falar com Deus, manifestando gratidão, temor, pedindo auxílio
para nós mesmos ou para outras pessoas. Ela também é uma forma de estreitarmos
os laços com o nosso Deus por meio da comunhão.
O
Antigo Testamento apresenta diversos homens e mulheres que se destacaram por
serem pessoas de oração. O patriarca Abraão intercedeu a Deus por Ló, seu
sobrinho que escolhera viver nas campinas de Moabe, um ambiente fértil, que
proporcionava um estilo de vida aparentemente próspero, mas que se viu dentro
do espaço que o Senhor havia de destruir por causa da maldade de seus
habitantes. Graças à oração, o Eterno preservou a vida de Ló.
Isaque,
filho de Abraão, intercedeu por 20 anos para ver cumprida em sua vida a
promessa de Deus: a de ser pai. Casado com uma mulher estéril, Isaque não optou
por buscar outra companheira que lhe desse um descendente, mas orou para que o
Senhor desse um filho do seu casamento com Rebeca, e Deus deu-lhes gêmeos (ver
Gn 25.19-26).
Ana,
também uma mulher estéril, cujo marido tinha uma esposa que lhe dava filhos,
alcançou de Deus a maternidade por meio de uma oração, garantindo ao Eterno
que, se fosse mãe, entregaria seu filho para servir no Tabernáculo de Deus. Ela
entrou para a história sagrada não apenas por seu modo de vida e sua oração,
mas também pela resposta às suas súplicas: o Senhor deu a ela um filho chamado
Samuel, que foi profeta, sacerdote e juiz, além de mais cinco outros filhos.
Até
o juiz Sansão, um homem que trouxe libertação a Israel quando estava sendo
oprimido pelos filisteus, foi ouvido pelo Senhor em um momento crítico de sua
vida, quando escravo, cego e humilhado pelos seus inimigos por não ter guardado
o concerto com Deus. Mesmo ele teve sua oração ouvida antes de morrer, e essa
mesma oração trouxe livramento a Israel.
O
Senhor pode ouvir um homem ímpio que demonstrou arrependimento? Cremos que sim.
O Antigo Testamento mostra governantes do povo de Deus que não demonstraram fé
no Eterno, e pior ainda, fizeram o povo pecar adorando outros deuses. Esse é o
caso de Manassés. Antes de humilhar-se e de arrepender-se diante de Deus,
Manassés foi um rei tão ímpio que fez “errar a Judá e aos moradores de
Jerusalém, que fizeram pior do que as nações que o Senhor tinha destruído
[...]” (2 Cr 33.9). Esse monarca foi julgado por Deus e preso, mas humilhou-se
e orou ao Senhor, e Ele ouviu a sua oração (2 Cr 33.13).
Por
essas narrativas, vemos que o ato de orar ao Senhor não é incomum às pessoas
que tinham temor de Deus, ou mesmo por aqueles que se quebrantaram por algum
julgamento e arrependeram-se de seus erros. O próprio Deus chama o seu povo a
orar, a quebrantar seu coração e a buscar a sua face, e essa busca acontece por
meio da oração.
2. No
Novo Testamento
No
Evangelho de Lucas, lemos que o sacerdote Zacarias orava para receber do Senhor
a oportunidade de ser pai, mesmo ele e sua esposa já sendo pessoas idosas, e
Deus ouviu sua oração: “[...] Zacarias, não temas, porque tua oração foi
ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João”
(Lc 1.13). Em Atos, o Senhor fala com Pedro para que vá conversar com Cornélio,
um centurião romano, quando o pescador de homens está em Jope, e essa comunicação
do Senhor para com Pedro aconteceu quando ele foi orar no terraço da casa em
que estava. E essa orientação de Deus a Pedro veio em resposta às orações de
Cornélio: “[...] As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para memória
diante de Deus” (At 10.4). Mesmo não sendo um judeu, Cornélio era um homem de
oração, e o Senhor encarregou-se de responder-lhes as petições.
Quando
o apóstolo Pedro esteve preso, a igreja orou por ele até que o Eterno
providenciou o livramento para o seu servo (At 12). O apóstolo Paulo ora com
ações de graça pelos crentes que estavam em Roma (Rm 1.8-10), rogando a Deus
que tivesse ele a oportunidade de ir conhecê-los. Aos coríntios, Paulo diz que
rogava a Deus para que aqueles crentes não fizessem mal algum (2 Co 13.7).
3.
A Oração na Ótica de Jesus
Jesus
é, sem dúvida, o principal personagem no Novo Testamento quando se trata de
oração. Ele insistiu que seus seguidores deveriam buscar ao Pai em oração e que
receberíamos respostas às nossas súplicas. Ele sabia que o desânimo poderia ser
um fator determinante para que as pessoas deixassem de orar e, sendo assim, ensinou
que deveriam insistir em oração para receber respostas da parte de Deus; então,
Ele contou uma história sobre uma mulher viúva e um juiz que precisava julgar a
causa desta mulher (Lc 18.1-8). Ele também disse que não deveríamos ficar
repetindo sempre as mesmas orações, como os pagãos faziam, pois eles achavam
que, por muito falarem, seriam ouvidos. Os deuses pagãos, diferentemente do
Deus de Israel, não sabiam o que as pessoas pediriam, mas o Senhor sabe do que
precisamos antes mesmo que peçamos a Ele (Mt 6.7,8).
João
registrou o discurso de Jesus quando Ele diz que devemos orar e que temos
garantia de que Deus ouve as nossas orações (Jo 14.13; Jo 14.14; 15.7; 15.16; 16.23;
16.24). Se a oração não fosse realmente importante, por que Jesus insistiu
tanto em seu último discurso para seus discípulos orarem?
II - O que a
Bíblia Fala sobre o Jejum
Na
Bíblia, o jejum abrange mais do que o ato da abstenção de alimentos. Ele também
deve ter reflexos na vida espiritual do praticante e nas suas relações
interpessoais. Champlin disse que o jejum é “um exercício que tem perdido sua
popularidade na adoração religiosa, talvez como sinal de nosso tempo, que se
caracteriza pela falta de disciplina; pois acima de tudo, o jejum requer
disciplina [...]” (Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, p. 442).
Essa
é uma triste observação, mas igualmente real, o que nos chama à reflexão: Até
que ponto temos sido seletivos no tocante à realização de práticas descritas na
Bíblia para o nosso próprio benefício? Até que ponto disciplinas como o jejum,
associado à oração, fazem parte da nossa vida como peregrinos neste mundo?
O
jejum aparece na Declaração de Fé das Assembleias de Deus, um documento que
mostra como e em quê os pentecostais creem: “O jejum é uma prática frequente
entre nós, na vida diária dos crentes individualmente e também em reuniões de
culto, com objetivo específico, como acontecia nos tempos bíblicos” (p. 146).
Essa citação mostra que, nas Assembleias de Deus, o jejum é praticado e
recomendado aos seus membros.
1.
O Jejum no Antigo Testamento
Chamamos
de jejum o ato de não ingerir alimentos por um período de tempo para
finalidades médicas ou espirituais. Essa abstinência é uma disciplina feita no
corpo, mas que tem um alcance espiritual. A Palavra de Deus mostra-nos que, em
alguns casos, o jejum é associado à prática da oração, junto a uma atitude de humilhação,
arrependimento e reconhecimento de pecados.
O
jejum pode ser parte do arrependimento. Quando a nação estava diante do
desastre, Josafá convocou o povo para que agissem corretamente com o Senhor,
abstendo-se de alimentos (jejuando) durante um período determinado.
Separando-se da rotina diária de preparação e consumo de alimentos, o povo
poderia dedicar esse período extra para considerar o pecado e orar pedindo
ajuda de Deus. Os desconfortos da fome reforçariam o sentimento de penitência e
iria lembrá-los de sua fraqueza e dependência do Senhor. O jejum pode ser útil
ainda hoje quando buscamos a vontade de Deus. (Manual da Bíblia de Aplicação
Pessoal, CPAD, p. 469)
Outras
religiões também praticam o jejum. Os muçulmanos, por exemplo, jejuam no Ramadã
e, nesse período, abstêm-se de comidas, de bebidas, de práticas sexuais e até
do fumo. Eles alimentam-se à noite e buscam manter-se hidratados durante o dia.
Hindus também adotam o jejum em certas épocas.
O
Didaquê orienta: “Os seus jejuns não devem coincidir com os dos hipócritas.
Eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana. Porém, você deve jejuar no
quarto dia e no dia da preparação”.
Na
época do Exílio do povo de Deus, o jejum foi uma das práticas de pessoas que,
levantadas pelo Senhor, iriam contribuir para o restabelecimento da nação. Esse
foi o caso de Neemias, que, ouvindo as notícias sobre Jerusalém destruída, orou
e jejuou lamentando pelos filhos de Israel terem pecado e trazido o julgamento
divino. Deus fez com que Neemias fosse a Jerusalém reconstruir seus muros e
restaurar as portas da cidade, e seu nome entrou na história sagrada como uma
pessoa que fez a diferença na reconstrução não apenas da cidade, como também na
restauração do culto ao Senhor.
Esdras,
o sacerdote, também nesse período de restauração do povo de Deus, jejuou
pedindo segurança para sua viagem de retorno a Jerusalém, e Deus ouviu o seu
servo, fazendo-o chegar em segurança à cidade para, assim, poder realizar a
reconstrução dos muros.
Para
algumas pessoas, o jejum pode parecer simplesmente um momento em que se deixa
de comer. O jejum, no entanto, é mais do que se abster de alimentos. Ele requer
que tenhamos atitudes de humildade, disposição de obedecer a Deus e praticar a
justiça. O profeta Isaías menciona um jejum que o povo fazia, mas que
desagradava ao Senhor. Havia abstinência de alimentos, mas não havia a prática
de atos misericordiosos com pessoas que necessitavam de ajuda. Aqueles que
jejuavam coagiam seus empregados (se os tivessem) a trabalhar até nos dias do jejum.
Essas pessoas também brigavam umas com as outras no dia em que jejuavam, o que
só prova que, para elas, jejum era apenas deixar de comer. Deus, porém, via o
jejum como um momento de arrependimento, contrição, misericórdia e busca de uma
convivência saudável, chegando a dizer que gostaria que seus filhos fossem
justos, que colocassem em liberdade os oprimidos e acabassem com o jugo, que a
misericórdia deles fosse vista quando repartissem o seu pão com o faminto, que
eles ajudassem os pobres e vestissem os nus. O mais curioso é a resposta do
Senhor ao seu próprio povo (se eles assim o obedecessem): “Então, romperá a tua
luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá
adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda. Então,
clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui” (Is
58.8,9). O profeta fala desse tipo de jejum e ainda menciona uma imagem
interessante: vamos clamar, e o Senhor é quem vai dizer: “Eis-me aqui”. Se
antes Deus chamava o homem e ouvia essa resposta, agora é Ele quem nos
responderá, e Ele não estava brincando quando disse isso.
Os
crentes deveriam jejuar em nossos dias? Eventualmente, líderes e pregadores
trazem essa pergunta com uma resposta já idealizada: não é necessário que o
crente jejue, pois a Lei de Moisés não tem validade para os gentios, e isso
inclui o jejum. Podemos ver, no entanto, que pessoas que não seguiam a Lei de
Moisés também se utilizaram do jejum. O rei Dario, por exemplo, jejuou quando
teve de colocar Daniel na cova dos leões (Dn 6.18). Os habitantes de Nínive
cometiam atrocidades e foram sentenciados à destruição por Deus. Antes, porém,
o Senhor deu a eles a oportunidade de ouvir Jonas, e aquelas pessoas
arrependeram--se, demonstrando seu temor com arrependimento e jejum (Jn 3.6-9).
Não
nos parece que essas pessoas tinham o sangue hebreu ou que cumpriam a Lei de
Moisés; mesmo assim, elas observaram o jejum.
Jesus
nunca se referiu ao jejum como uma prática que deveria ser abolida. Ele mesmo
jejuou por 40 dias após o seu batismo (Mt 4.2) e disse que haveria dias em que
os discípulos iriam jejuar. Até mesmo em relação à batalha espiritual, Ele
ensinou que há grupos de demônios que, quando se apossam de algumas pessoas,
não saem sem uma vida de oração e jejum por parte de quem está ministrando a
libertação (Mt 17.21).
2.
O Jejum sob a Ótica de Jesus (Mt 6.16-18)
Jesus
valorizou a prática do jejum desde que fosse feita de forma discreta. Os
líderes de sua época realizavam o jejum, mas faziam-no de forma pública,
chamando a atenção para si, e não para Deus. Era uma forma de propaganda de
piedade, um marketing pessoal de santidade e proximidade com Deus. Jesus
chamou-os de hipócritas, pessoas que transpareciam uma coisa, mas viviam outra.
Eles agiam de tal forma que as pessoas em redor sabiam que eles estavam
jejuando. Pelas palavras de Jesus, podemos entender que nem a higiene pessoal —
lavar o rosto e ungir a cabeça — eles faziam nesse período; tudo para dar meio
peso à sua “espiritualidade”. Esse jejum não alcançava os céus, nem foi
aprovado por Cristo.
A
orientação de Jesus foi na contramão das práticas dos seus dias. Ele ordenou
aos seus ouvintes que não precedessem dessa forma por dois motivos: o primeiro,
porque aqueles praticantes do jejum não tinham a intenção aparente de estarem
mais próximos de Deus, e sim de serem reconhecidos pelos homens. Jesus deixa claro
que essas pessoas, por esse motivo, “já receberam o seu galardão” (v. 16). Em
outras palavras, Deus não tem nada a tratar com esse tipo de pessoa. Ou nosso
jejum é para o Senhor ou é para os homens. E o segundo motivo é que, se
fizermos o jejum com discrição e sem parecer aos homens que estamos jejuando,
mas, sim, ao nosso Deus, Ele então nos recompensará. O arrependimento deve ser
pessoal. A devoção deve ser pessoal. A aparência deve dar lugar à essência, e a
publicidade deve dar lugar à discrição, pois é dessa forma que se agrada o
Senhor.
Fonte: O Vento sopra onde Quer. O
Ensinamento bíblico do Espírito Santo e sua Operação na Vida da Igreja. Autor:
Alexandre Coelho. Editora CPAD
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