Subsídio para a classe
de Jovens. Lição 8 – 4° trimestre de 2018
A
profecia, em particular, tem sido alvo de estudos em todos os seguimentos
cristãos. Por meio dela, é possível ver o plano de Deus ao longo da história,
não apenas o ato de profetizar e o momento em que a profecia foi falada, mas
igualmente o seu cumprimento e o contexto em que ela foi cumprida. O Senhor
levantou Moisés, Samuel, Elias, Eliseu, Isaías, Daniel e tantos outros no
Antigo Testamento para que fossem usados por Ele, além de Jesus, Paulo, Pedro,
Agabo e tantos outros no Novo Testamento. Esses são nomes que aparecem nas
Escrituras, mas havia muitos outros profetas que a Palavra não menciona os
nomes, mas que foram grandemente usados por Deus.
A
Bíblia é repleta de profecias. Tendo ela sido escrita, entre outros motivos,
com o objetivo de orientar todos os que desejam ter comunhão com o Eterno,
surge a pergunta: Deus, que usou a profecia para revelar a sua vontade, teria o
desejo de que a profecia fosse corrente em nossos dias? Seria possível haver em
nossos dias pessoas que poderíam profetizar da mesma forma que os profetas
descritos nas Escrituras? A profecia seria, então, um dom do Espírito Santo
para os nossos dias, ou tal dom estaria sepultado na História da Igreja?
I - Esclarecendo os
Termos
1. Profeta - dom ou
ministério
Para
que possamos entender a profecia como dom espiritual, é preciso saber a
diferença entre a “profecia” trazida como mensagem de um pregador da Palavra de
Deus e a profecia como dom do Espírito Santo. Esta é, em termos básicos, uma
mensagem espontânea da parte de Deus para a sua Igreja ou para indivíduos, com
o objetivo de edificar, consolar, exortar e predizer o futuro. Essas funções
são apresentadas na primeira carta de Paulo aos Coríntios em referência à
atuação direta do Espírito Santo na administração dos dons espirituais e, ao
longo do Novo Testamento, com as revelações proféticas sobre o fim dos tempos.
A
pregação da Palavra de Deus, considerada por muitos teólogos como uma
“profecia”, tem por base Efésios 4, onde Paulo apresenta os chamados dons
ministeriais, ou seja, aqueles dons ou presentes que Deus deu para a Igreja a
pessoas com vocações distintas: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e
doutores. Eles abençoam o corpo de Cristo com seu trabalho, mas a Igreja não é
deles, e sim do Senhor.
Na
busca de uma semântica mais elástica, tem-se crido que a “profecia” é a
pregação das Escrituras. Neste caso, aqueles que ministram a Palavra seriam
equiparados a profetas por estarem utilizando a maior profecia de todas, a
Palavra de Deus. Como há duas referências relacionadas à existência da profecia
no âmbito da Igreja, é necessário respeitar o contexto em que cada uma dessas
referências está sendo trazida. Não nos parece que Efésios e Atos estejam
tratando da mesma manifestação, ainda que o nome seja o mesmo.
2. A Pregação da
Palavra de Deus
Na
língua do Novo Testamento, a palavra pregação é “kerygma”; essa palavra traz a ideia de proclamação por um arauto. Kerygma é a pro-clamação, e keryx, o
mensageiro. A pregação é uma importante forma de comunicar uma mensagem e vem
ganhando destaque na História da Igreja. Grandes pregadores foram responsáveis
por trazer milhões de pessoas a Cristo. Da mesma forma, os pregadores anônimos
tornaram o evangelho conhecido a pessoas individualmente, bem como o testemunho
de Jesus Cristo em todo o mundo.
Junto
ao ensino, a pregação vem solidificando a Palavra de Deus nos corações dos
ouvintes que vêm à igreja, seja para congregar e adorar, seja para simplesmente
assistir a um culto. A pregação é tão importante para o cristianismo que, nos
cursos de Teologia, há a disciplina de hermenêutica, para interpretação da
Bíblia, e a homilética, que traz orientações sobre a exposição da Palavra de
Deus, como a elaboração de sermões, a forma de apresentar-se e de falar e a
maneira como se portar no púlpito. Esses recursos são importantes para a
exposição da Palavra, seja na pregação, seja no ensino. Entretanto, o dom de
profecia, conforme relatado em 1 Coríntios, não é a explanação da Palavra, mas,
sim, uma Palavra espontânea da parte de Deus, algo não planejado pelo intelecto
humano. Trata-se de uma ocorrência que o homem não pode controlar, que não pode
querer manifestar sem que Deus assim o inicie. Basta dizer que, no Novo
Testamento, não há um registro que mostre escolas de profetas ou técnicas de
manifestar uma profecia. Essa possibilidade de intervir com uma palavra
profética é do próprio Espírito Santo.
A palavra kerygma não aparece nos
capítulos 12 e 14 de 1 Coríntios, textos estes que falam sobre a profecia no
culto público. Não há que se considerar, portanto, que o profeta de 1 Coríntios
14 é aquele que prega a Palavra de Deus, pois o texto não traz a ideia de uma
exposição dos escritos do Antigo Testamento, que era a Bíblia dos primeiros
cristãos. A palavra para pregação e suas derivadas, kerygma, aparecem em textos
como Mateus 9.35, com Jesus ensinando nas sinagogas e pregando o evangelho do
Reino (didáskõn en tais sinagõgais autõn
kai keryssõn to euanggelion tês basileia). Mateus não usou a palavra
profeteía para expressar a pregação.
Outra
menção de pregação é vista em Marcos 16.15, quando Jesus ordena aos discípulos
que preguem o evangelho. O termo também aparece em Romanos 10.14 em “como
ouvirão, se não há quem pregue” (grifo meu). Nesses textos, vemos com clareza
que a pregação não é descrita como profecia, mas, sim, como a proclamação de
uma mensagem.
Se
realmente respeitarmos a semântica de cada palavra, não teremos dúvidas de que
a pregação é uma atividade e o profetizar é outra.
O
ensino também pode ser considerado aqui. A exposição didática da Palavra de
Deus é incentivada nas Escrituras. Mestres são desafiados a empenharem-se cada
vez mais no ministério do ensino, mas ensinar as Escrituras também não é
profetizar. A profecia da parte de Deus pode acontecer numa aula de Escola
Dominical, num instituto bíblico ou Faculdade de Teologia, mas não é o ensino
formal das Escrituras.
Sobre profecia e ensino,
Keener, pag 133
Embora
todo discurso inspirado seja “discurso profético” no sentido mais amplo do
termo (cf. At 2.4,16-18; Ap 19.10), ao falar de “profecia”, Paulo refere-se
especificamente à palavra de revelação, que, neste caso, é proferida no contexto
da congregação. Ele não confunde esse dom com o ensino (exposição das
Escrituras ou das implicações do evangelho), embora seja possível aprender por
meio de profecias (1 Co 14.31). Ele também não o confunde com “exortação”, como
dom separado (Rm 12.8), embora a profecia também pudesse abranger essa função
(1 Co 14.3)
No
ensino, a autoridade de Deus encontrava-se no texto ou em uma mensagem
anterior, e o mestre apropriava-se dela uma vez que expusesse seu conteúdo com
precisão. Na profecia, a mensagem de Deus estava na profecia em si à medida que
refletisse com precisão o que o Espírito Santo estava dizendo (embora a
profecia no Novo Testamento, assim como a do Antigo Testamento, muitas vezes
reflita a linguagem de profecias bíblicas anteriores). Na profecia, a pessoa
era inspirada a falar diretamente como agente de Deus, declarando em essência:
“Isto diz o Espírito Santo” (At 21.11; ver também Ap 2.1; 3.1).
3. A Profecia Trazida
pelo Espírito Santo
Quando
o Espírito de Deus traz uma mensagem espontânea para falar ao coração de uma
nação, de uma autoridade, de uma congregação ou mesmo de uma pessoa, entendemos
ser essa palavra uma profecia. Na Bíblia, há ocasiões em que as pessoas usadas
por Deus com esse dom são efetivamente chamadas de profetas. A pessoa que traz
a profecia nem sempre é literalmente chamada de profeta no contexto, mas suas
palavras são identificadas como profecias. Quando Jesus declarou que deveria
sair de Jerusalém para que um profeta na cidade de Davi não morresse,
completou: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te
são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha
ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste? Eis que a vossa casa se
vos deixará deserta. E em verdade vos digo que não me vereis até que venha o
tempo em que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor!” (Lc 13.34,35).
A Casa de Deus, o Templo, não demorou muito a ser destruído, cumprindo-se,
assim, o que Jesus dissera que aconteceria.
O
Senhor disse que Pedro iria negá-lo três vezes (Mt 26.34), o que se cumpriu
naquela mesma noite em que Ele foi preso. Outros textos já qualificam o falante
como profeta, como nos dois casos de Ágabo, em Atos. Ágabo, um profeta em
Jerusalém, “dava a entender, pelo Espírito, que haveria uma grande fome em todo
o mundo, e isso aconteceu no tempo de Cláudio César” (At 11.28). Essa profecia
fez com que irmãos da Antioquia enviassem socorro aos irmãos que habitavam na
Judeia. Esse mesmo Ágabo, em Atos 21, foi a Cesareia, onde Paulo estava, e
advertiu-lhe que ele seria preso se fosse a Jerusalém (w. 10-13), profecia esta
que se cumpriu (At 21.33). Ele não é chamado de arauto, o keryx, mas de
profeta, pmfetés (At 11.27).
A
Bíblia não apresenta qualquer impedimento para que um pregador, seja ele leigo
ou com formação teológica, venha a ser usado no dom de profecia, pois os dons
são dados pelo Espírito, que reparte “particularmente a cada um como quer” (1
Co 12.11). Entretanto, à luz do Novo Testamento grego, pregar a Palavra de Deus
não é sinônimo de manifestar o dom de profecia como relatado em 1 Coríntios.
Williams comenta que
“O
contexto da profecia é uma revelação. Paulo escreveu sobre dois ou três
profetas falarem (1 Co 14.29), acrescentando imediatamente: Se vier uma
revelação a alguém que está sentado, cale-se o primeiro [profeta] (v. 30).
Assim, uma pessoa profetiza porque Deus lhe revelou algo, e, por sua boca, é
declarada uma mensagem de Deus. Não se trata, obviamente, de uma mensagem
preparada, pois a revelação, de imediato, obriga a profecia falada. A
espontaneidade marca a ocasião, e as palavras são divinamente inspiradas”.
Dunn escreve:
“Para
Paulo, a profecia é uma palavra de revelação. Ela não denota a pregação de um
sermão previamente preparado, não é uma palavra que pode ser ordenada ou uma
habilidade que pode ser aprendida; é uma manifestação espontânea, uma revelação
dada em palavras ao profeta para ser transmitida conforme é dada (14.30)’
(Jesus and the Spirit, p. 228)”.
Pelo
que já foi apresentado até o momento, podemos crer que Paulo não se refere à
profecia como sinônimo de pregação, o que afasta a possibilidade de que
profetas sejam aqueles que expõem a Palavra de Deus por meio da exposição das
Escrituras. Explicar a Palavra e ensiná-la não se confunde com o receber uma
palavra profética da parte de Deus.
Craig Keener comenta
que
Na
profecia Deus fala com ou por meio de um servo que ouve sua voz (ou, às vezes
até por meio de alguém que não a ouve, 1 Sm 19.22-24; Mt 7.22; Jo 11.51).
Aqueles que entendem a profecia em 1 Coríntios 12-14 apenas como pregação devem
considerar irrelevante o uso do termo no Antigo Testamento (o contexto em que
Paulo tinha em comum com seus leitores cristãos), em Atos e no texto em questão
propriamente dito.
È
evidente que os profetas podiam “pregar”, mas a profecia também podia “revelar
os segredos do coração” (14.24,25) e ser revelação espontânea (14.29-31).
Aliás, a terminologia bíblica para profecia é ampla o suficiente para abranger
qualquer mensagem de um profeta recebesse do Senhor e deixasse claro que vinha
de Deus. Desde o início, Deus falou ao seu povo por meio da profecia, mas ela
assumia diversas formas: visões, sonhos, vozes audíveis, transes extáticos e
provavelmente com mais frequência, palavras que o Espírito colocava no coração
ou na boca de um profeta... A característica distintiva desse tipo de profecia
não é a forma usada, mas se a Palavra do Senhor está sendo proclamada.
4. Não Desprezeis as
Profecias
Se
Paulo manda não desprezar as profecias, ele assim o faz porque corremos o risco
de sermos pessoas que se esquecem dos oráculos de Deus. Um dos problemas de
conviver constante e desordenadamente com determinadas manifestações do
Espírito é a possibilidade de tornar comum algo que o Senhor diz ser
sobrenatural. Há momentos em que as reações humanas à presença e ao poder do
Espírito extrapolam certos limites, sendo necessário que a Igreja esteja pronta
para ensinar e corrigir esses possíveis excessos tanto no culto quanto fora
dele. Na Bíblia, não vemos qualquer menção a Jesus ou aos apóstolos expulsando
demônios com o ensino ou com a apresentação sistemática de uma doutrina, e sim
com a autoridade do nome de Jesus.
A
profecia tem sua importância em nossos dias. Se não fosse assim, Paulo não
ensinaria que a palavra profética trazida pelo dom do Espírito Santo fosse
julgada por outros profetas: “E falem dois ou três profetas, e os outros
julguem” (1 Co 14.29). Será um perigo se as profecias forem desdenhadas: “Não
havendo profecia, o povo se corrompe; mas o que guarda a lei, esse é
bem-aventurado” (Pv 29.18). Para os que descreem que o dom de profecia é para
os nossos dias, alegando que não há necessidade de palavras proféticas na
igreja, e que não há como se exercer um controle de tal maneira que o culto não
se torne uma bagunça, Paulo orientou que a palavra profética que fosse trazida
também fosse julgada. As profecias foram e são, sim, objeto de exame e não
podem ser desprezadas: “Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias”
(1 Ts 5.19,20).
Esse
mecanismo de controle é adequado, pois o enunciado de uma profecia traz um peso
seriíssimo da parte do Senhor. De uma forma sobrenatural, duas ou três pessoas
falando trazem edificação à igreja, e o apóstolo Paulo diz que todos aprendem e
são consolados por meio do processo de examinar e julgar aquilo que está sendo
falado. O culto pentecostal tem essa possibilidade porque Paulo assim orientou.
O ato de exercer juízo em uma palavra profética não tem por objetivo
contradizer o que o Senhor realmente disse, mas, sim, impedir que uma pessoa
seja usada por ela mesma em nome de Deus. Jesus predisse que surgiríam falsos
cristos e falsos profetas (Mc 13.22). O assistente da Besta é o Falso Profeta,
e o apóstolo João advertiu: “Amados, não creiais em todo espírito, mas provai
se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado
no mundo” (1 Jo 4.1).
Aqui,
cabe uma observação. A existência de falsos profetas não pode obscurecer os
profetas que realmente são usados por Deus. O Novo Testamento fala de verdadeiras
profecias e de falsos profetas também; cabe, porém, à igreja distinguir um do
outro. Entretanto, nem a igreja nem teólogo algum podem alegar que a verdadeira
profecia deve ser descartada, porque os falsos profetas existem.
5. Para que a
Profecia não Serve
Como
dom do Espírito Santo, a profecia não tem a função de dirigir
administrativamente a igreja. Decisões relacionadas ao dia a dia não são objeto
da profecia, pois cremos que Deus dá o dom da palavra da sabedoria aos líderes
da igreja, a fim de que eles zelem pela obra de Deus. Decisões relacionadas à
pintura da igreja, modelos de bancos, organização da Escola Dominical ou o
horário de culto não são administrativas e, portanto, são responsabilidades da
liderança da igreja.
A
profecia também não serve para unir pessoas pelo casamento. O Eterno pode, de
acordo com sua vontade, confirmar a sua bênção a um casal, mas Ele
prioritariamente o fará por meio de sinais, se assim for pedido, e com a
sabedoria das pessoas durante o namoro e o noivado. Em Gênesis, temos o caso em
que o Criador disse a um homem, Adão, que tomasse por esposa a mulher, Eva.
Tirando esse caso em que o Senhor falou diretamente a uma pessoa, não vemos
mais esse tipo de ingerência direta. Deus usa o bom senso das pessoas para que
elas percebam se devem ou não se casar.
O
dom de profecia também não acrescenta informações ou mandamentos novos à
revelação exarada nas Escrituras. Nenhuma pessoa tem autorização para alterar o
sentido das Escrituras por meio de um dom espiritual, nem mesmo por meio de um
suposto aprofundamento acadêmico teológico. A integridade das Escrituras deve
ser respeitada por aqueles que a interpretam, com honestidade intelectual,
sempre se lembrando de que a interpretação incorreta da Palavra de Deus conduz
a práticas que Ele não desejou quando inspirou seus servos.
Fonte: O Vento sopra onde Quer. O
Ensinamento bíblico do Espírito Santo e sua Operação na Vida da Igreja. Autor:
Alexandre Coelho. Editora CPAD
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