INTRODUÇÃO
Entre os dons
espirituais (1 Co 12.8-11), a Bíblia aponta o dom de profecia como o mais
importante dom do Espírito Santo (1 Co 14.1, 39). Sua finalidade é edificar,
exortar e consolar (1 Co 14.3, 4).
I. O QUE É O DOM DE PROFECIA
1. Definição.
É a habilidade
sobrenatural de se transmitir a mensagem de Deus através da inspiração direta
do Espírito Santo (1 Co 14.30; 2 Pe 1.21). No âmbito do NT, a profecia oriunda
desse dom pode ser definida como uma mensagem momentânea e sobrenatural, cuja
função precípua é a edificação da Igreja (1 Co 14.4).
2. No Antigo Testamento.
Naquela época, a
profecia tinha um caráter diferente. Os profetas eram intermediários entre Deus
e o povo. Eles tanto recebiam as mensagens de Deus para o povo (1 Sm 3.20;
8.22), como também levavam a Deus os desejos do povo (1 Sm 8.21; 9.6, 9,
18-20). Este tipo de profecia, ou de profetas, duraram até João Batista (Lc
16.16).
3. No Novo Testamento.
Nesta dispensação, o
profeta não é mais um mediador como o fora no AT. Hoje, por conseguinte,
ninguém precisa, ou deve, consultar profetas, visto que agora só existe um
Mediador, que é Jesus (1 Tm 2.5), pelo qual temos acesso a Deus (Ef 2.13; Hb
10.19- 22). Devemos agora consultar a Deus sem nenhum intermediário, acerca de
tudo o que precisamos, através de sua Palavra escrita (G1 6.16), sempre em
oração (Fp 4.6).
VEJA TAMBÉM:
II. A REALIDADE DO DOM DE PROFECIA
1. Na Igreja Primitiva.
O batismo no Espírito
Santo, no dia de Pentecostes (At 2.1-4), propiciou o recebimento dos dons
espirituais, onde o dom de profecia veio a ocupar importante lugar (1 Co 14.1,
39). Alguns o receberam logo após o batismo no Espírito Santo, como os crentes
de Éfeso que “falavam línguas e profetizavam” (At 19.6). Outros receberam algum
tempo depois como as filhas de Felipe (At 21.9).
A igreja de Corinto
possuía todos os dons espirituais (1 Co 1.7), e grande parte de seus membros
profetizava (1 Co 14.31), razão pela qual Paulo escreveu-lhes, indicando normas
corretas sobre o uso do dom de profecia (1 Co 14.26-32).
2. Nos dias atuais.
Infelizmente, hoje,
vemos poucas manifestações desse dom. Talvez a causa esteja em uma das
seguintes razões:
a) Ignorância.
Pouco se fala na.
igreja, de modo específico, sobre esse dom, privando o povo da benção como
ocorreu em Éfeso (At 19.2,3);
b) Substituição.
O tempo de culto é
tomado por outras coisas supérfluas, não havendo liberdade para o Espírito
operar (1 Co 14.26).
c) Formalismo.
A apatia espiritual
esfria a chama do Espírito (1 Ts 5.19).
d) Receio de que haja “meninices” na utilização do dom (1
Co 14.22-24,28-30).
É necessário, pois,
ensinar os “meninos” a andarem no caminho certo (Pv 22.6); logo acabarão eles
com as “coisas de menino” (1 Co 13.11).
III. AS
FUNÇÕES DO DOM PROFÉTICO (1 Co 14.3)
1. Edificação.
A Igreja é comparada
a um edifício, onde Jesus é o fundamento (1 Co 3.10, 12, 14; Ef 2.22), e os
crentes são pedras vivas (1 Pe 2.5). Requer-se, pois, edificação constante.
Nesse sentido, a profecia promove edificação e firmeza (1 Co 3.4, 12, 17).
2. Exortação.
A linguagem
exortativa visa incentivar o crente a seguir o caminho de Deus (At 11.23;
14.22; 1 Tm 2,1; Jd 3); tem por fim o despertamento, o fortalecimento na fé (At
20.2) e a observância dos ensinos divinos (2 Co 6.1).
3. Consolação.
O Senhor usa esse dom
para animar o crente com palavras semelhantes às de Dt 31.8: “O Senhor pois é
aquele que vai adiante de ti; ele será contigo; não te deixará, nem te
desamparará. Não temas, nem te espantes”.
4. Sinal para os incrédulos. (1 Co 14.22-25).
O dom da profecia é
de grande importância para despertar os descrentes a se posicionarem diante de
Deus. Paulo exorta os fiéis a que não sejam meninos no uso das línguas
estranhas (1 Co 14.20). Pois os descrentes, além de nada entender, podem
julgá-los como se fossem loucos (1 Co 14.23).
Mas se houver
profecia, os descrentes entenderão, e terão os segredos de seu coração
revelados. E, assim, submeter-se-ão a Deus, reconhecendo-lhe a presença no meio
do seu povo (1 Co 14.25).
IV. AS
LIMITAÇÕES DO DOM DE PROFECIA
1. Não tem autoridade canônica.
A profecia não pode
alterar nem contradizer a Bíblia. Esta é a Palavra inspirada de Deus (2 Pe
1.21). É um livro completo, e nele está toda a verdade (1 Tm 4.19; Jo 17.17; Sl
119.142, 160). A Bíblia é a profecia completa, perfeita e infalível de Deus;
nada pode ser tirado ou acrescentado a ela (Ap 22.18, 19; Pv 30.6). Toda
profecia tem de estar de acordo com a Bíblia. Deus não se contradiz, nem é de
confusão (1 Co 14.33).
2. Não tem função administrativa ou governativa na
Igreja.
Como já vimos, a
profecia tem por finalidade edificar, exortar e consolar (1 Co 14.3). Ela não
pode ser utilizada para dirigir a igreja. Vejamos os vários exemplos de
profecias na Igreja Primitiva.
a) Na primeira
profecia de Ágabo.
Acerca da fome que
viria (At 11.28); houve aviso, mas nenhuma palavra de direção. Com base nesse
aviso, porém, os anciãos souberam agir com acerto e no tempo apropriado.
b) Na segunda
profecia de Ágabo.
A respeito do que
aconteceria a Paulo cm Jerusalém (At 21.11); também houve aviso, mas nenhuma pa
lavra de
direção. Mas tendo em conta tal advertência, soube o apóstolo preparar-se para
as lutas que em breve enfrentaria (At 21.13).
c) Na contenda que
surgiu sobre a questão da circuncisão.
Não houve nenhuma
manifestação do dom de profecia, ficando a decisão por conta do dom de
sabedoria (At 15.14-30).
d) Na segunda viagem
missionária.
Paulo estava
acompanhado de Silas - reconhecido profeta (At 15.32) na Igreja Primitiva. Não
houve, porém, nenhuma palavra profética para dirigi-los sobre o local onde deveriam
pregar, sendo isso resolvido através de uma visão concedida a Paulo (At
16.6-10).
Porque Deus não usou
Silas para dirigir Paulo neste episódio? Certamente porque esta não é a
finalidade do dom de profecia. Não há no NT nenhuma indicação de que o dom de
profecia haja sido usado para governar ou administrar a Igreja, pois esta
função foi entregue aos que detém os dons ministeriais.
Os que profetizavam
não se tornaram necessariamente líderes da Igreja, ou responsáveis por suas
atividades. Tais tarefas cabiam aos ministros revestidos da sabedoria divina.
Ninguém sendo usado pelo dom de profecia arrogue-se no direito de dirigir a
igreja, o ministério ou o pastor. Mas se coloque humildemente em seu lugar,
para que continue a ser usado por Deus.
3. Não tem função mediadora entre Deus e os homens.
Como já vimos,
somente Jesus é o Mediador entre Deus e o homem (1 Tm 2.5). Portanto, é uma
prática estranha à Bíblia consultar um profeta, ou pedir profecia, sobre casamento,
viagem, negócio etc. Tal comportamento só traz confusão, tristeza e escândalo.
O dom de profecia é
dado para a edificação da Igreja, e nesta deve ser usado (1 Co 14.3,13,26,28).
O seu uso desordenado em pequenos grupos, ou nos lares, sem a devida supervisão
dos ministros instituídos por Cristo pode gerar sérias consequências. Outro
perigo é reunir-se ao redor de alguém que tenha o dom de profecia,
transformando esse alguém numa espécie de messias que, via de regra, não
reconhece a autoridade nem da igreja, nem do ministério, nem do pastor.
4. Diferença entre o dom de profecia e o ministério
profético.
São iguais no
conteúdo: o testemunho de Jesus, que é o espírito de profecia (Ap 19.10); c na
finalidade: a edificação da Igreja (1 Co 14.3). Porém, são diferentes:
a) Na concessão.
O dom de profecia é
concedido a quem o buscar, podendo a maioria dos crentes recebê-lo (1 Co 14.1,
5, 24, 31). O ministério profético está restrito ao ministro, sendo um dos dons
ministeriais (Ef 4.11).
b) No uso.
O dom de profecia é
uma inspiração momentânea e sobrenatural (1 Co 14.30); o ministério profético
está relacionado com a pregação da Palavra, sendo anunciada via de regra pelo
pastor ou mestre (Ef 4.11). Podemos ver esse dom operando na vida de Ágabo (At 11.28),
de Judas e Silas (At 15.32; 13.1).
Essa diferença pode
também ser vista em Atos 21.8, 9, onde se diz que Filipe tinha quatro filhas
“que profetizavam”. Depois chegou àquela casa um profeta chamado Ágabo (Al
21.10). Elas “profetizaram”, isto é, tinham o dom de profecia. No entanto,
Ágabo era profeta; era um ministro da Palavra que possuía o dom de profeta (Ef
4.11).
CONCLUSÃO
Este dom é um alerta
contra o pecado. A Igreja de Cristo não pode prescindir de tão utilíssima
ferramenta (1 Co 14.1). Envidemos, pois, todos os nossos esforços no recebimento
desse dom, o que trará um grande despertamento tanto para quem profetiza quanto
principalmente para a Igreja, e também para os descrentes.
Divulgação: www.subsidiosebd.com | Fonte: Lições Bíblicas
Jovens e Adultos – 1° trimestre de 1998 - CPAD