No
campo da moral e na área espiritual encontra- se a Igreja com obrigações de
solidariedade humana e assistência espiritual contínua. Todas as pessoas
possuem naturalmente uma predisposição para alguma espécie de religião.
Preferencialmente, as que tratam de práticas relativas às coisas sagradas e de
solidariedade humana. Cristo nunca ignorou essa tendência humana, ao contrário,
o próprio Jesus, no ensejo da sua missão terrena, procurou revolucionar o
interior humano.
Cristo
conhecia a carência espiritual do seu povo e, sobretudo, era consciente da
miséria social que desqualificava sua gente. Cristo Jesus não tinha de quem
cobrar providências ou melhor atendimento aos então portadores de necessidades
especiais. Ele mesmo se encarregou de dar o exemplo vivo e eficaz em favor dos
seus seguidores.
VEJA
TAMBÉM:
Do exemplo acima nasceu o
ministério público de Jesus, formatado no seu Evangelho agregador e
compadecido, fato gerador da obrigação ordinária da Igreja no tocante à
beneficência e dimensão extraordinária do Reino de Deus pelo poder divino do
Pai. Jesus Cristo, ao ordenar os seus apóstolos a pregar o Evangelho tanto em
Jerusalém como em todos os lugares diferentes e até os confins da terra (At
1.8), visava impor aos apóstolos uma visão evangelística de características
ímpares e agregativas. Eis que a pregação original da Igreja nascente estava
consubstanciada à obrigação evangelística da fusão de dois povos, judeus e
gentios. Tratava-se da incorporação do remanescente pós-pascal com os gentios
neocristãos.
Sucede, todavia, que esta
mudança de sistema religioso ocorreu de forma repentina, refletindo nos
fundamentos do Estado e das sociedades religiosas tradicionais da época. Por
conseguinte, em oposição às ideias dos sistemas filosófico, político e
religioso contemporâneos a Cristo, nasceu a primitiva Igreja. Neste cenário,
Cristo Jesus instituiu a sua Igreja com pelo menos duas obrigações estruturais:
a espiritual e a social.
Acresce que a Igreja foi
confiada ao pastor. Logo torna-se imperioso que se cobre deste representante
eclesiástico uma posição de caráter permanente, no sentido de contribuir mais e
mais em favor do progresso espiritual e material do seu liderado crente.
Compete ao pastor propiciar oportunidades diversas no contexto da igreja. Em
especial, motivar e dar oportunidades para o estudo da Palavra de Deus,
promover diária de louvor com testemunhos e ministração especializada da
Palavra de Deus.
Quando pensamos em avaliar
ou considerar o aspecto espiritual da nossa vida, imediatamente nos lembramos
da Igreja. Mesmo sabendo que o relacionamento individual do homem está ligado a
Deus, primeiramente, somos obrigados a reconhecer que o cristão é grandemente
ajudado pela Igreja. Na área espiritual, é imprescindível que o crente adquira
o hábito da frequência congregacional para compartilhar sua fé com os demais
consubstanciados na adoração, no louvor e na gratidão a Deus através do
exercício diário do culto racional.
Falamos da Igreja enquanto
comunidade que reconhece o Senhor Jesus como ser divino, que se compõe de todos
quantos estão realmente unidos. Grupo chamado por apóstolo Paulo de
santificados em Cristo Jesus. Tratamos aqui da Igreja, sem mácula e nem ruga,
em que todos professam estar unidos em Cristo na fé e na obediência à Palavra
de Deus. Tratamos da Igreja espiritual que descende dos crentes primitivos,
cujo pastor, em face de sua posição especial diante dos fiéis, segue o modelo
apostólico da autoridade sem autoritarismo. Esses pastores, de igual modo,
reconhecem, como reconheciam os apóstolos, não serem os únicos no governo da
igreja. Primitivamente, além dos apóstolos, exerciam funções governativas os
anciãos (ou bispos) e os diáconos, inclusive comissionados especiais e periódicos
para serviços específicos (1Tm 1.3 e Tt 1.5).
A
IGREJA E SUA OBRIGAÇÃO ESPIRITUAL
A
igreja que preserva sua obrigação espiritual modela-se nos considerandos
abaixo:
-
Realiza seus cultos a Deus fundamentada na pregação bíblica, nas
doutrinas e costumes, consagrados ao longo do tempo, e dispensa inovações
espúrias que contagiam e contaminam a sua pureza espiritual;
-
Prima pelo estudo e ensino sistemático da Bíblia e matérias
teológicas correlatas, sem muitas escoras filosóficas ou de cátedras seculares;
-
Adota a oração como expressão natural dos sentimentos
religiosos capazes de gerar respostas de bênçãos divinas;
-
Respeita sempre o princípio da preordenação tanto da oração como
da resposta divina e, pela oração, invoca o nome de Deus, rendendo-lhe glória e
domínio eterno;
-
Exalta a Deus de todo o coração com um cântico ungido pelo
Espírito Santo de Deus. Através do louvor, atrai o pecador, instala no culto o
poder de Deus e abre as portas das bênçãos com glorificação ao Todo-Poderoso;
-
Rejeita hinos com letras de protesto e desabafo político e
social, inclusive, músicas cujo ritmo evidencia o forró, a timbalada, o pagode
etc, e dá primazia aos hinos de louvor a Deus, consoante, posto no livro de
Atos dos Apóstolos capítulo 2 e versículo 47;
-
Administra os sacramentos do batismo nas águas e a Santa Ceia do
Senhor, com especial tratamento, cuidado e reverência, não mistura estas
cerimônias com outras realizações paralelas e concomitantes.
-
As igrejas que preservam a doutrina sagrada costumam promever
cultos com formatos especialíssimos, onde a Palavra de Deus deve ser ministrada
de acordo com a essência das respectivas celebrações espirituais;
-
É mister que o líder instrua os fiéis no tocante aos dízimos e as
ofertas alçadas, inclua na liturgia de cada culto a leitura de um texto
apropriado sobre o tema em causa e faça um breve comentário seguido de uma
oração abrangente. No entanto, não se deve priorizar as bênçãos de bens
supérfluos, mas de suprimento em favor de cada crente e para o bem-estar da
igreja;
-
Estimula cada crente na preservação e exercício diário do fruto
do Espírito, garantindo aos salvos em Jesus Cristo o desfrutável benefício da
caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão,
temperança. Os frutos do Espírito é um portal para a outorga dos dons
espirituais. Elementos pedagógicos e espirituais de capacitação sobrenatural
que fortalecem, previnem, edificam e aperfeiçoam a Igreja de forma geral.
Enfim, é
tarefa da Igreja dispensar tratamento especial ao Departamento de Missões.
Engaja-se de forma direta e indireta nesta sublime obra que começa
em torno de si mesma, com vistas à realidade desafiadora que exige imediata
intervenção da Igreja como representante do Reino de Deus na terra. Prossigamos
até os confins da terra, alcancemos tribos, povos e nações, independentemente
da formação cultural ou espiritual e da localização territorial de cada povo.
Ao terminar as considerações
acima, relacionadas a detalhes pertinentes à obrigação da Igreja, no campo
espiritual, ingressemos na área da beneficência. Eis que, na qualidade de
guardiã dos pobres, órfãos e viúvas, compete ao representante maior da Igreja,
o pastor, desenvolver o sentimento humano, cristão e ético de assistência
social entre os demais obreiros e os seus liderados, no sentido de cumprirem
com as obrigações sociais, que é parte integrante dos filhos de Deus.
Obrigação
de cunho social
"Bem-aventurado é
aquele que atende ao pobre; o Senhor o livrará no dia do mal", SI 41.1.
Não pretendemos lavrar sentença condenatória de cunho eclesiástico contra
alguém responsável por mecanismos que impedem a manifestação da vontade do
crente sensível em praticar habitualmente o ato de fazer o bem. Queremos, sim,
incentivar ao exercício da caridade, em especial, no seio da Igreja. Enfatizar
essa missão específica para a qual Deus constituiu e designou o seu povo.
Apóstolo Paulo, corroborando
com este tema de cunho puramente criativo, ressalta: "Para que em tudo
enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se deem graças a
Deus. Porque a administração deste serviço, não só supre as necessidades dos
santos, mas também abunda em muitas graças, que se dão a Deus", 2Co
9.11-12.
Como pregaremos a realização
de coisas extraordinárias em nossas igrejas pela manifestação do poder de Deus,
mando não temos o menor interesse em realizar uma obrigação de cunho ordinário
e de amparo social? Essa missão nos foi reservada como encargo exteriorizador
da nossa generosidade cristã. É cômodo conduzir uma igreja alicerçada apenas
nos aspectos espiritual e financeiro, sem, contudo, priorizar : caráter social.
Os trabalhos de obras sociais é um ramo da justiça distributiva. E um segmento
que legitima o cristão à pregação do Evangelho pleno.
"Para que a
generosidade seja manifesta exteriormente, o coração deve antes estar
enriquecido de amor e compaixão sinceros para com o próximo. Dar de nós mesmos
e daquilo que temos resulta em:
(1) suprir as necessidades dos
nossos irmãos mais pobres;
(2) louvor e ação de graças a
Deus vl2); e,
(3) amor recíproco da parte
daqueles que recebem ajuda (v 14) (Bíblia de Estudo Pentecostal, pg. 1782).
A utilização de estratégias
de marketing, voltada para a responsabilidade social, faz aumentar o conceito
da Igreja diante da sociedade e de Deus. A igreja deve agir com inteligência,
seguir o modelo das grandes em- presas nacionais e internacionais que investem
em projetos e obras sociais e associar a marca ou o nome à preocupação com o
social.
A Igreja que não se preocupa
em investir na área social deixa de cumprir uma das principais obrigações
inerentes à missão de órgão agregador e restabelecedor das condições adversas
do ser humano. A entidade que relega o plano de ação social estará fadada ao
desdém e à desconfiança daqueles que potencialmente são autênticos mantenedores
deste labor sublime. "Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras;
mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas
obras", Tt 2.18.
Há pastores que se limitam a
pregar a salvação expiatória pelo sangue de Cristo e nada mais. Estes falam
sobre João 3.16 o ano todo. Contudo, não podemos negar que existem avanços e
desafios em nosso universo denominacional. Sempre há aqueles que fazem algum
tipo de ação social. A igreja parece estar se conscientizando do dever como
cidadã. "Quando entre ti houver algum pobre de teus irmãos, em alguma das
tuas portas, na tua terra que o Senhor, teu Deus, te dá, não endurecerás o teu
coração, nem fechares a tua mão a teu irmão que for pobre...", Dt 15.7.
A sensibilidade de muitos
pastores não se desenvolveu a ponto de alcançar o ser humano indigente, através
das três características básicas da Igreja: a espiritual, a econômica e a
social. A sensibilidade é, sem dúvida, uma das características mais nobres da
inteligência humana. Jesus deu prova da importância destes atributos ao
valorizar os pobres, órfãos, viúvas, prostitutas e deficientes físicos.
Será que todos os líderes
assemblei- anos sempre viveram na fartura? Será que os sobreditos ministros do
Evangelho fazem questão de serem confundidos na condição de amigos, com os seus
velhos parceiros dos idos das vacas magras? Ou depois de assumir a presidência
das igrejas fazem questão de ser tratados, singularmente, como estrelas no meio
da membresia? Perguntamos se todos os nossos líderes eclesiásticos gostam de
pastorear pobres, órfãos, viúvas e deficientes físico nos moldes preceituados
pelo profeta F.zequiel. No entanto, sabemos de alguns líderes que não perdem a
oportunidade de fazer parte do staffdos empresários, políticos, doutores,
presidentes de grandes igrejas, convenções estadual e geral. Líderes que
ignoram o princípio da compassividade e fecharam as portas de suas casas para a
hospitalidade em suas Igrejas, o suntuoso está preterindo o humilde.
E provável que haja líderes
que ao ler o livro do profeta Ezequiel, capítulos 16 e 34, versos 49; e
versículos de 1 a 6, respectivamente, ouçam a voz secreta das próprias almas,
reprovando o comportamento assistencial dos mesmos pela falta de boas ações
humanitárias e pastorais. Vale ressaltar que a luta em favor do bem não será
jamais perdida. E que cada ato de generosidade praticado permanece guardado
para a eternidade.
Lições de execução dos
pequenos atos, das atitudes aparentemente sem valor somam positivamente no
computo social de qualquer entidade, principalmente de uma igreja que é reduto
aglutinador de pessoas que precisam de socorro imediato. Cada ato de
tolerância, amor e assistência material realizado, comovem a opinião pública e
iça a comunidade que praticou no ranking das igrejas que estão habituadas em
exercer o seu amor para com os necessitados.
Não sonhamos nem delíramos
apenas e pelo que representa a nossa igreja; almejamos uma assistência social
forte, participativa e modelar, cumprida com esmero e denodo, obviamente que em
consonância com as condições financeiras de cada igreja autônoma. Reprovamos
aqueles que em suas igrejas maquiam um departamento ou serviço assistencial,
cujo "presidente" é sempre a esposa do pastor e o tesoureiro, a filha
ou o genro do líder maior.
Mesmo que tal departamento
seja subvencionado pelos poderes públicos ou pessoas físicas mantenedoras,
preferem escalar os abatedores da cidade em busca de carcaças de frango. Em
granjas, vão para pedir ovos de cascas trincadas. Socorrem-se dos supermercados
em busca de alimentos prestes a vencer ou com suas datas de validade vencidas.
Em seguida, fazem o maior estardalhaço, usando a figura da caridade, em nome de
uma igreja que pouco participou na entrega de tais sobras. O exemplo de Cristo
foi outro. Ele jamais desistiu de contemplar alguém com o melhor de si.
Pobres que honraram pobres "Também, irmãos, vos
fazemos conhecer a graça de Deus dada às igrejas da Macedônia, como em muita
prova de tribulação houve abundância do seu gozo, e como a sua profunda pobreza
superabundou em riquezas da sua generosidade", 2 Co 8.1-2.
Parafraseando Hebreus 13.22,
"rogo-vos", pastores, "que suporteis" o peso desta
"exortação", lembrando, no entanto, que embora a nossa denominação
não seja um exemplo público de entidade religiosa prestadora de auxílio aos
necessitados. Há, porém, pastores e igrejas pelo Brasil afora que estão
cuidando do bem-estar físico e material dos comprovadamente carentes de pão,
vestuário, asilo, creche, escola, clínicas etc. Igrejas que exercem a fé
associada às obras. Igreja espiritual e socialmente humanizada pela
materialização do amor. Igreja que oferece dupla esperança: a salvação em Cristo
Jesus e a autoestima do ser humano antes abatido e desprezado, agora, erguido e
elevado pelo apreço e consideração recebido do seu semelhante. Vidas que
integram uma igreja compromissada com a justiça social, em virtude da grandeza
de espírito dos seus congregados que, pela sensibilidade do seu pastor, prestam
relevantes serviços de cunho social aos seus irmãos necessitados.