Eclesiologia
é a disciplina da Teologia que estuda a igreja, sua fundação, símbolos e
missão, entre outros temas, conforme as Escrituras. Uma área da teologia cristã
frequentemente desprezada ou tomada por certa é a doutrina da Igreja. Tal
descuido deve-se, em parte, à suposição comum de que algumas áreas do estudo
teológico são mais essenciais para a salvação e a vida cristã, como por exemplo
as doutrinas de Cristo e da salvação, ao passo que outras são realmente mais
emocionantes, como as manifestações do Espírito Santo ou a doutrina das últimas
coisas. A Igreja, por outro lado, é assunto que muitos cristãos consideram
conhecido. Afinal de contas, tem sido parte regular de sua vida. Que proveito
haveria no estudo extensivo de algo tão comum e rotineiro na experiência da
maioria dos crentes? A resposta, logicamente, é: bastante.
As
Escrituras, juntamente com a história do desenvolvimento e expansão do
Cristianismo, oferecem uma riqueza de introspecções à natureza e propósito da
Igreja. Adquirir melhor conhecimento teológico sobre a Igreja não é somente um
exercício acadêmico digno de nossa atenção. Torna-se essencial para obtermos
uma perspectiva correta da teologia que deve ser aplicada à vida diária
A
Igreja foi projetada e criada por Deus. É a sua maneira de prover alimento
espiritual para o crente e oferecer uma comunidade de fé através da qual o
Evangelho é proclamado e a sua vontade progride a cada geração. Logo, a
doutrina da Igreja trata de questões de importância fundamental para o nosso
comportamento cristão individual e a correta compreensão da dimensão corpórea
da vida e ministério cristãos.
O
vocábulo igreja é formado por duas palavras gregas: pelo prefixo ek, isto é, “a partir de”, “de dentro de” ou “para
fora de”; e, klēsis, que significa “chamada”,
“convocação”, “convite”. Literalmente quer dizer “chamados para fora”.
Em Atos
19.39, ekklēsia é uma “assembleia reunida para fins políticos”; em Atos 7.38 é
a congregação ou assembleias dos israelitas, mas em 1 Co 11.18, uma congregação
cristã.
O termo
ainda é usado para designar um “grupo local de cristãos” (Mt 18.17; At 5.11; Rm
16.1,5); a Igreja universal à qual todos os servos de Cristo estão ligados (Mt
16.18; At 9.31; 1 Co 12.28; Ef 1.22); e a Igreja de Deus ou de Cristo (1 Co
10.32; 1 Ts 2.14; Rm 16.16).
A ORIGEM DA IGREJA
Iniciamos aqui um estudo sobre a Igreja do Deus vivo (1Tm 3.15). A
Igreja é o alvo do grande amor de Jesus Cristo. Bíblia diz: "Cristo amou a
igreja e a si mesmo se entregou por ela" (Ef 5.25).
Para melhor compreensão da doutrina sobre a Igreja, iremos meditar sobre
a origem desse organismo sob três aspectos.
1. A IGREJA NO CORAÇÃO DE DEUS
Quando Deus, na sua presciência, previu a queda do homem que haveria de
criar, por seu grande amor concebeu um plano de salvação para esse homem, e
isso através do sacrifício do seu Filho amado (Ef 1.4,5; 1 Pe 1.19,20). O Filho
aceitou o plano divino. É por isso que a Bíblia diz do "Cordeiro que foi
morto desde a fundação do mundo" (Ap 13.8).
No seu eterno plano, Deus também determinou as bases e a forma da
comunhão que deveria haver entre os que aceitassem a salvação por Jesus Cristo.
Foi então que a Igreja surgiu como um plano embrionário no coração de Deus.
Esse embrião se manteve "oculto era mistério" (1 Co 2.7) desde os
séculos dos séculos, até que o Pai, na plenitude dos tempos, o quis revelar
pelo Espírito Santo (Ef 3.2-6; 1 Co 2.10).
2. A IGREJA NA PLENITUDE DOS TEMPOS
Quando Jesus, na plenitude dos tempos (cf. Gl 4.4), veio e iniciou a sua
missão, começou a ser revelado aquele mistério de Deus.
Os homens que se convertiam pela pregação de Cristo começaram a segui-lo
e a "se congregar em Cristo" (Ef 1.10). De modo natural, formou-se em
torno de Jesus um agrupamento que foi o início da Igreja. Jesus falou sobre a
sua igreja dizendo: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja" (Mt
16.18), referindo-se à confissão de Pedro que havia declarado na sua fé:
"Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16.16). O início da igreja
foi simples: Jesus era o centro em tudo e só havia uma caixa para atender aos
pobres. Judas era o tesoureiro dessa caixa (cf. Jo 13.29).
3. A IGREJA ESTABELECIDA
Somente quando o Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos e eles
foram batizados com poder (At 1.5), é que a igreja foi estabelecida em
autoridade e na forma como Deus havia determinado. O mistério de Deus, guardado
desde o princípio dos séculos, estava revelado: a Igreja, órgão de Deus na
dispensação do Novo Testamento, havia aparecido em cena.
4. DEUS FORNECE O MODELO
Sempre que Deus determina que o homem faça algo em cooperação consigo,
fornece o modelo conforme tudo deva ser feito:
• Quando Deus ordenou que
Noé construísse a arca, não deixou sob a responsabilidade do patriarca a
escolha do material, do molde e das medidas. Deus determinou tudo, até os
menores detalhes (cf. Gn 6.14-16);
• Quando Deus ordenou a Moisés
que construísse o tabernáculo, Ele lhe deu orientações detalhadas acerca de
tudo e enfatizou: "Atenta, pois, que o faças conforme o seu modelo, que te
foi mostrado no monte" (Êx 25.40);
• Da mesma maneira, Deus
mostrou a Davi o "risco de tudo" para o templo que Salomão deveria
construir (1 Co 28.12). Davi então falou a Salomão: “Tudo isso, me disse Davi,
por escrito me deram a entender por mandado do Senhor, a saber, todas as obras
deste risco" (1 Cr 28.19). Assim, Deus revelou o modelo da Igreja, o qual
Ele havia mantido em oculto. Importa, por isso, fazer tudo conforme esse modelo
(cf. 2 Tm 1.13,14).
5. DEUS REVELOU O MODELO DA IGREJA
ATRAVÉS DO ESPÍRITO SANTO
Quando a Igreja, no dia de Pentecostes, se levantou em poder, não existiam
livros ou ordens orientando sobre a forma como ela deveria ser edificada. Jesus
ensinou muitas coisas, mas também disse: "Ainda tenho muito que vos dizer,
mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito da verdade,
ele vos guiará em toda a verdade" (Jo 16.12,13). Foi isso o que aconteceu.
O Espírito Santo tomou a direção de tudo, e a igreja apostólica surgiu
em pleno funcionamento, com os mistérios em ação, com os dons operando e com um
crescimento notável. Dessa maneira, a igreja em Jerusalém tornou-se padrão para
todos os tempos.
Os demais detalhes sobre esse mistério foram depois manifestados pela
revelação que Paulo escreveu através das suas epístolas (cf. Ef 3.3)
fornecendo, assim, uma doutrina detalhada sobre a maneira como a igreja local
deve ser edificada e como deve funcionar. Ele podia escrever: "Eu recebi
do Senhor o que também vos ensinei" (1 Co 11.23). Foi esse ensino que, por
toda parte, foi entregue em cada igreja (1 Co 4.17).
6. ESPÍRITO SANTO — O EXECUTOR DO
PROJETO
Quando o Espírito Santo foi derramado no começo deste século, dando
início ao movimento pentecostal, vivificou essa doutrina de maneira
impulsionadora. A Palavra de Deus sobre a igreja local se tornou viva e
constituiu um modelo que devia ser obedecido. Igrejas se levantaram por todas
as partes do mundo, edificadas conforme o modelo inicial.
Fonte:
Eclesiologia - ECB