1.
A doutrina da santificação.
Inserida no departamento
soteriológico da Teologia Sistema, a doutrina da santificação pode ser definida
como o ensino, cujo principal objetivo é levar o crente a separar-se do mundo,
para consagrar-se inteiramente a Deus.
O
substantivo feminino “santificação” provém do verbo latino
eclesiástico sanctificare que, numa
primeira instância, significa “fazer santo”. Já na instância seguinte, pode
significar também separar algo ou alguém para o uso sagrado.
Se
formos ao grego do Novo Testamento, constaremos que a palavra “santificação”
provém do substantivo hagiasmos, que,
por sua vez, procede do verbo hagiazo.
De acordo com o Léxico de Thayer, o verbo hagiazo
significa“reconhecer como venerável; honrar; separar algo das coisas profanas
para dedicá-lo a Deus; consagrar; purificar tanto externa quanto cerimonialmente”.
Tanto no grego, como no
latim, o significado e a demanda da santificação não mudam. Se nesta língua
somos chamados a separar-nos do mundo, naquela somos intimados a consagrar-nos
inteiramente a Deus e ao seu serviço.
Na língua hebraica, há
também uma palavra específica para santificação. O vocábulo kadosh remete-nos ao mesmo sentido de
santidade, separação e pureza, que encontramos no latim e no grego.
SAIBA MAIS:
2.
O que é a santificação.
Já que definimos a doutrina
da santificação, resta-nos, agora, descrever esse processo que, em nós, começa
a ser operado desde o dia em que recebemos Jesus Cristo como nosso Salvador.
Em primeiro lugar, entendamos que a nossa
santificação é da inteira vontade de Deus. Ouçamos atentamente o que Paulo
recomenda aos irmãos de Tessalônica: “Pois esta é a vontade de Deus: a vossa
santificação, que vos abstenhais da prostituição” (1 Ts 4.3, ARA). Se é da
vontade de Deus que nos santifiquemos, não podemos contrariá-la. Doutra forma,
jamais poderemos adentrar a Jerusalém Celeste; ali estão vedados os que se dão
à prática do pecado. Eis a advertência que nos faz o autor sagrado:
Quanto, porém, aos covardes,
aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros,
aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que
arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte. (Ap 21.8 , ARA)
Em segundo lugar, há
uma verdade ainda ignorada por muitos crentes: a doutrina da santificação deve
ser pregada exclusivamente aos santos. Quanto aos que ainda não conhecem a
Deus, que lhes seja proclamada a mensagem de arrependimento. O apóstolo Paulo,
ainda escrevendo aos tessalonicenses, é bastante categórico ao exortá-los a uma
vida de maior santidade perante Deus: “O mesmo Deus da paz vos santifique em
tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e
irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.23, ARA).
Em terceiro lugar, não
podemos confundir santidade com santificação. No exato instante em que
aceitamos Jesus, somos imediatamente elevados à posição de santos; sendo já
santos, estamos entre os demais santos. Isso não significa, porém, que o
processo de nossa santificação haja se completado ali. Posto que a santificação
é um processo, e não um ato, tem início ali, ao pé da cruz, uma ação longa e
continuada que, levada a efeito pela Palavra de Deus, conduzir-nos-á à estatura
de varões perfeitos, segundo o modelo que há Jesus Cristo.
Com dito, a santidade deve
ser vista como um posicionamento e não como um processo devidamente encerrado.
Que agora somos santos, não há dúvida. Todavia, isso não significa que já
estejamos plenamente santificados.
Seremos constrangidos,
durante a nossa peregrinação à Cidade Celeste, a buscar os meios da graça, a
fim de alcançarmos a perfeição: oração, leitura da Bíblia, jejuns, frequência
aos cultos e disciplina espiritual. Enquanto estivermos neste mundo, soar-nos-á
aos ouvidos a exortação apostólica:
“Segui a paz com todos e a
santificação, sem a qual ninguém verá o SENHOR” (Hb 12.14).
Em quarto lugar, a
santificação é, de fato, uma obra específica do Espírito Santo. Atentemos a
esta recomendação de Paulo ainda aos irmãos de Tessalônica: “Entretanto,
devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo SENHOR, porque
Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do
Espírito e fé na verdade” (2 Ts 2.13, ARA). Ora, a função do Espírito é
santificar a Igreja de Cristo. Daí a razão de seu nome; seu ministério
compreende a nossa inteira santificação.
Cabe-nos, entretanto,
dar-lhe total guarida, para que Ele opere com toda a liberdade em nosso ser.
Doutra forma, jamais seremos admitidos entre os santos de Deus. Atentemos,
também, a esta palavra de Pedro aos irmãos que se achavam dispersos: “Eleitos,
segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a
obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam
multiplicadas” (1 Pe 1.2). Que nos abramos à santificação que, em nós, quer
operar o Espírito de Deus. Ele não pode ser entristecido por nossas atitudes
mundanas, cruéis, incrédulas e apostatas.
O
SACERDOTE E A SANTIFICAÇÃO
Os sacerdotes deveriam ser
uma referência perfeita à nação de Israel no que tange à santidade e à pureza.
Afinal de contas, eram os responsáveis pela santificação do povo, a fim de
torná-lo propício diante de Deus.
1.
Santidade exterior.
Aos ministros do altar, o
Senhor impusera uma série de restrições, para que não viessem a comprometer o
ministério sagrado. O sumo sacerdote, por exemplo, não poderia desposar uma
mulher qualquer a não ser uma virgem (Lv 21.7,14). Até mesmo em relação ao
luto, deveriam os ministros do altar ser precavidos e cuidadosos (Lv 21.1-3).
Tendo em vista o emblema da santidade divina que pesava sobre a classe
sacerdotal, nenhum descendente de Levi poderia ser admitido no serviço divino
se portasse alguma deficiência física (Lv 21.17-21).
Embora não pertençamos à
Casa de Levi, deveríamos nós, os obreiros de Cristo, ter uma postura mais santa
e reverente. Às vezes, no púlpito, comportamo-nos como meros comediantes.
Contamos piadas; lembramos pilhérias; evocamos imagens fortes e até sensuais.
Imaginamos que, com uma desenvoltura mais leve e solta, levaremos o povo Deus
ao Céu.
Como se não bastasse, vemos
alguns homens, tidos como de Deus, envolvidos em desinteligências, resmungos,
escândalos e corrupção. Acham-se eles tão acostumados à impenitência, que já
não temem ofender o Espírito Santo. Seguindo a doutrina de Balaão e errando
pelos caminhos dos nicolaítas, usam a Bíblia para corromper o povo de Deus. Por
intermédio da teologia, desviam os jovens e transviam os companheiros de
ministério. A Igreja de Cristo?
Têm-na como um negócio vantajoso.
O que falar dos divórcios já
tão comuns entre os membros do ministério sagrado? Não nos enganemos! O mesmo
Deus que não deixou impune Nadabe
e Abiú continua a reivindicar, de cada um de seus trabalhadores, uma vida
íntegra, imaculada e irrepreensível. Certa vez, um querido amigo disse-me que
Deus começaria a punir os maus obreiros com a morte. Na hora, achei a expressão
um pouco carregada. Todavia, se acreditamos que o Deus de Levítico continua o
mesmo, então que busquemos a misericórdia daquele que, apesar de nossas
maldades, quer restabelecer-nos prontamente.
2.
Santidade interior.
O sumo sacerdote tinha de
portar uma lâmina de ouro que, posta em sua mitra, trazia esta advertência:
“Santidade ao SENHOR” (Êx 28.36). A santidade do sacerdote, portanto, longe de
ser formal, era um reflexo do que lhe ia na alma (Ml 2.7). Infelizmente, a
classe sacerdotal, com o tempo, deixou-se levar por um culto formalista e
apóstata, o que ocasionou a destruição de Jerusalém (Jr 5.31; 23.11).
Como está a nossa santidade
interior? Por vezes, exteriormente, parecemonos o mais santo e correto dos
homens. Mas, em nosso coração, quanto pecado. Em nossa alma, quanta iniquidade.
E, em nossa mente, quanta sujeira, cobiça, adultério e até homicídios. Se não
fizermos uma pausa, a fim de buscar a Deus, corremos o risco de perder a alma.
Já imaginou ser lançado no lago de fogo em consequência de uma vida interior
pecaminosa e reprovada diante do santíssimo Deus?
Que nós, obreiros de Cristo,
guardemo-nos da pornografia e do contato com mulheres pecadoras e carregadas de
concupiscência. Sejamos precavidos.
Façamo-nos acompanhar pela
esposa onde quer que estejamos. Não importa se você é um obreiro jovem, de meia
idade ou até mesmo um velho. O inimigo de nossas almas (às vezes, somos nós
mesmos) está pouco se importando com a nossa faixa etária. Meu querido pastor,
Roberto Montanheiro, costumava dizer que, no jogo da tentação, o Diabo
enfraquece o mancebo e fortalece o ancião.
3.
Santidade e glória.
A santidade e a pureza da
classe sacerdotal demonstravam a glória de Deus sobre todo o povo de Israel.
Por esse motivo, os ministros do altar deveriam oferecer sacrifícios em
primeiro lugar, por si mesmos, e depois por todo o povo (Lv 9.1-8). Se, pelo
altar, deveria começar a santificação do povo, pelo mesmo altar deveria também
ter início a punição dos ministros de Deus (Jl 1.3; 2.17; 1 Pe 4.17). Neste
momento, o Senhor Jesus, por intermédio de seu Espírito Santo, está a requerer
mais santidade e pureza de seus obreiros. Doutra forma, não subsistiremos às
tormentas que, brevemente, se abaterão sobre a Igreja de Cristo.
Fomos chamados a refletir a
glória de Jesus Cristo onde quer que estejamos. Que todos vejam, em nossa face,
o rosto de Cristo; em nossas mãos, a providência divina; e, em nossos pés, o
Evangelho que alcança os confins da terra.
É chegado o momento de
voltarmos ao primeiro amor. Se nos curvarmos diante do Cordeiro, seremos
renovados em línguas estranhas, receberemos dons espirituais e daremos uma
sequência gloriosa ao nosso ministério. Evangelizemos. Lancemo-nos às missões.
Trabalhemos enquanto é dia; a noite não demora a chegar.