"Existem apóstolos ainda hoje em
nosso meio? E seria correto alguém ostentar esse título em nossos dias?"
Com o suicídio de Judas, o
colégio apostólico (chamado de os "Doze", cf. Mc 6.7; AT 6.2) ficou
incompleto. Os onze tomaram então a iniciativa de repor a falta, utilizando
um' método secular (At 1.26), que teve como pressuposto se seletivo de escolha
dois pré-requisitos para o candidato:
1) Ter sido discípulo de
Jesus e, por conseguinte, andado com Ele desde o início de Seu ministério
terreno; e
2) Também ter tido
contato com o Senhor após a crucificação, para poder testemunhar de Sua ressurreição
(At 1.21,22). Evidentemente que se a pergunta refere-se a esse grupo, é lógico
que a resposta é negativa (Ap 21.14). Porém, está claro, por vários exemplos,
que havia outros apóstolos além dos "Doze" (At 14.14; 1 Co 15.5-9).
Acredito que a indagação talvez seja motivada pela "síndrome do apostolado"
que vem tomando conta do movimento evangélico brasileiro.
Não obstante, o
ministério de apóstolo ou "enviado" é, sim, para contemporaneidade.
Se existem ou não apóstolos, tal discussão escapa do campo da teologia exegética (onde o tópico é ponto
pacífico por parte da maioria dos biblistas), e torna-se matizável apenas na
perspectiva da teologia prática.
Veja também:
3)
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Inicialmente, torna-se imprescindível que se
distinga ministério como chamado ou dom divino de cargo eclesiástico, onde o
portador pode ostentar um título sem necessariamente ter o dom (que é a investidura
de autoridade dada por outrem, no caso, Deus, Ef 4.11).
Como se manifesta o dom? Paulo,
"apóstolo de Jesus Cristo, pela
vontade de Deus" (Rm 1.1; 1Co 1.1; 2Co 1.1; Gl 1.1; Ef 1.1; Cl 1.1; iTrn
1.1; 2Tm 1.1; Tt 1.1), fornece informações valiosíssimas ao dizer, por
exemplo: "Se eu não sou apóstolo para os outros, ao menos o sou para vós;
porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor" (1Co 9-2).
Após o concílio de Jerusalém, Paulo e Barnabé foram enviados sob a
constatação de que eram "homens que já expuseram a vida pelo nome de
nosso Senhor Jesus Cristo" (At 15.26). Assim, o que comprova o ministério
de apóstolo são os frutos e não titulação auto imposta ou mesmo concedida por alguém. Daí surge
então a dúvida pelo fato de Paulo ter aparecido dizendo que não foi feito apóstolo
por vontade humana, mas pela de Deus que o chamou. É no mínimo ingénuo supor
que tal postura não foi questionada. Porem, sua prática não deixou margem
alguma para se pensar o contrário.
Mesmo assim, ele ainda forneceu uma forma de as pessoas averiguarem a
autenticidade e vigência de seu apostolado citando que a pregação do Evangelho
de Jesus Cristo (visto que havia "outros evangelhos") fixava essa
condição (Gl 1.4-10).
Um dos pontos que mantém
uma pessoa como apóstolo é a inalterabilidade da mensagem de quem
o enviou.
Em Marcos 6.30 (porção escriturística comumente aceita como o primeiro dos Evangelhos,
sejam eles sino ticos ou o joanino), há uma revelação sutil, pois no versículo
7 do mesmo capítulo vê-se claramente que os "Doze" foram chamados de
discípulos antes de partirem para a missão designada pelo Mestre. Ao voltar,
eles apresentam, no versículo 30, um relatório e, então, são referidos pelo
evangelista como "apóstolos". O título, mesmo no caso dos Doze, só
veio após a demonstração do chamado ou do dom! Em outras palavras, eles
receberam o título porque foram "enviados". Sem essa função, não se
tem apostolado, mas apenas pedantismo.
Finalmente, é necessário que se
utilize o título de "apóstolo"? Definitivamente, não. Apostolado não
é título, mas dom. Aparece e fixa-se pelos frutos e não por nomeação.
Divulgação: Subsídios EBD| Jornal Mensageiro da paz – Setembro de 2001 \ Pr. César
Moisés Carvalho