Observação. Este é um subsídio para ajudar os professores na
ministração da lição 10 – Classe de Jovens | 2° Trimestre de 2018.
Apresentação, Descrição e Possibilidades
acerca do Anticristo
O capítulo 2 da
segunda carta de Paulo aos tessalonicenses encerra um conjunto de versículos
envoltos em uma série de polêmicas exegéticohermenêuticas.
Uma das imagens
centrais apresentadas nesse capítulo é a do Anticristo. Quem ou o que seria
essa figura? Quais suas características e prerrogativas? Em que contexto
dar-se-á sua manifestação entre nós? Essas são algumas das inúmeras questões
que este texto suscita.
A expressão
anticristo não aparece literalmente em 2 Tessalonicenses; contudo, a definição
de “homem da anomia” e “destinado a destruição”, que constam em
2Ts 2.3, parecem referir-se de maneira cabível ao indivíduo/postura apresentado
por João em 1 Jo 2.18,22; 4.3 e 2 Jo 7.
Como fica explícito
nos textos de João, a figura do anticristo transita entre a identificação
pessoal de um indivíduo que surgirá como síntese humana da maldade — numa clara
tentativa de emulação de Cristo, aquEle no qual habitou corporalmente toda a
divindade (Cl 1.19;2.9) — e a constatação histórica de uma mentalidade que se
estabelecerá em confronto a tudo aquilo que se alinha aos valores e princípios
cristãos.
A defesa da primeira
hipótese estaria mais alinhada à imagem similar proposta por Daniel em Dn
11.36. Em contrapartida, a associação do texto paulino com o de Daniel poderá
exigir uma leitura mais histórica da imagem descrita — assim como o indivíduo
blasfemador de Dn 11 refere-se diretamente à Antíoco IV. Nesse caso, a quem se
referiria Paulo ao descrever este personagem? Ao César, ao próprio Estado, ou a
outro personagem político que nos foge o conhecimento?
Tomando o conceito de Anticristo como uma ideia que
perpassa todo um tempo, isto é, como uma ideologia que se alastrará socialmente
a ponto de defender a desconstrução de tudo aquilo que se refere a Deus e sua
obra, resta também saber sobre quem Paulo falava a partir do contexto histórico
dos tessalonicenses e sobre que paradigma ideológico contemporâneo caberia a pecha
de anticristão, tendo em vista que a parusia
de Cristo ainda não se deu.
Diante da
impossibilidade prática de chegar-se a uma definição conclusiva sobre tais
hipóteses interpretativas, resta-nos analisar a figura em si apresentada por
Paulo e procurar, sempre que possível, contextualizá-la com o momento histórico
dos tessalonicenses e com o nosso atual.
Primeiro, é importante
discutir como Paulo define esse ser. “Homem da anomia” equivaleria a dizer que
o Anticristo é uma pessoa ou mentalidade que se opõe a todo e qualquer tipo de
regramento social. Ele contrapor-se-á a tudo o que é ordenado e que traga bem-estar
social. Se este ser de 2 Tessalonicenses e das epístolas de João é o mesmo a
quem este mesmo João refere-se no livro de Apocalipse, deve-se compreender que
a oposição que este ser fará a tudo o que é divino, ordenado e regrado deriva
de um sórdido plano de manipulação e engano da humanidade.
Nesse caso, o anômico
seria aquele cujo desejo é completamente descontrolado; é o indivíduo cuja
regra é não ter regra, cuja vontade é desconstruir todos os valores e tradições
vigentes. O que se ganha com a multiplicação em escala social de um quadro como
esse? A insegurança e o desespero dos indivíduos que, vítimas de uma sociedade
sem regras ou controle, estariam fadados ao retrocesso primitivo da vida guiada
exclusivamente por instintos animalescos.
“O homem sem lei”,
essa é a síntese do Anticristo; um indivíduo sem escrúpulos, respeito ou
qualquer tipo de dignidade. Para onde iria a sociedade seguindo este tipo de
paradigma pessoal ou ideológico? Para o caos e a barbárie.
Entretanto, além de
“homem da anomia”, a figura descrita por Paulo também é “Filho da perdição”,
ou, mais precisamente, “aquele que é destinado à perdição”. Se Cristo Jesus
veio ao mundo para encarnar o amor de Deus pela humanidade por intermédio de
todo o seu ministério salvífico, a figura apresentada por Paulo seria aquele
que assumiria para si o ônus de ser a síntese da perdição eterna.
Ao apresentá-lo como
“filho da perdição”, Paulo utiliza-se de uma expressão idiomática que equivale
dizer que tal pessoa, na verdade, nasceu para encarnar tudo aquilo que se
orienta para a destruição e fim da humanidade.
Ele seria o máximo exemplo da decadência que a humanidade pode atingir.
A mesma expressão é
utilizada por João para descrever Judas (Jo 17.12) e mais especificamente o espírito
que o mobilizava em seu covarde ato de traição. Para Paulo, esse seria o tipo
de indivíduo que exemplificaria bem tudo aquilo que se volta contra Deus.
QUEM ESTÁ IMPEDINDO A VINDA DO ANTICRISTO?
O apóstolo, além da
indicação da necessidade de manifestação do “homem do pecado”, informa que
existe um que impede a vinda desse personagem.
A discussão entre os
intérpretes sobre o que ou quem seria o katechon
é extensa; ela vai desde o imperador romano, passando pelo Espírito Santo, chegando
até mesmo ao próprio Paulo e sua pregação. Sobre esse ser que impede a vinda do
“filho da perdição”, Carriker (2002) apresenta-nos cinco possíveis vertentes
interpretativas:
1) A primeira,
mais historicista,
defende que o katechon é a figura do imperador ou mesmo do império romano; ou
seja, nessa interpretação, o governante é a encarnação da lei, e o “homem da
anomia” é a manifestação de tudo o que não seria lei. Todavia, contra essa
interpretação, pesa o fato de um aparente elogio ao império romano, o que
obviamente seria um tanto quanto contraditório diante da situação de opressão
que viviam os tessalonicenses.
2) A segunda
interpretação defende que “aquele que detém” é, a
partir de uma relação com uma limitação radical do poder das trevas, similar
àquilo que João cita em Apocalipse com relação à prisão de Satanás no milênio
(Ap 20.2). Falta a essa hipótese uma maior fundamentação no contexto em debate na
segunda carta aos tessalonicenses.
3) Já a terceira e quarta possibilidades
referem-se ao próprio Deus ou sua vontade, uma vez que, não tendo chegado o
tempo determinado para os devidos acontecimentos, Ele opõe-se a todas as forças
do maligno de maneira soberana e autônoma.
4) A quinta e última hipótese
interpretativa,
a qual parece mais pertinente a Carriker é a de que:
“Aquilo que detém” se
refere à pregação do evangelho e “aquele que detém” ao pregador,
prototipicamente o próprio apóstolo Paulo. Esta perspectiva foi defendida por
Oscar Cullmann, com base numa pergunta feita na literatura apocalíptica judaica
sobre a razão da demora da parousia.
A resposta mais frequente é a falta de arrependimento de Israel. Esta resposta
estabelece o palco para a perspectiva cristã da necessidade apocalíptica de pregar
o evangelho aos gentios, uma perspectiva expressa mais claramente em Mateus
24.14 e Marcos 13.10.
Estes textos destacam a ordem cronológica
dos eventos que precedem o fim: “primeiro” (Marcos) de que o evangelho
seja pregado a todas as nações para que “então” (Mateus) venha o fim. É
importante notar que nestas passagens o aparecimento do Anticristo segue a
pregação do evangelho, como ocorre em 2 Tessalonicenses. Outros possíveis
paralelos incluem Apocalipse 6.1-8, 19.11ss, e 11.3, onde Cullmann interpreta o
primeiro cavaleiro, como o pregador do evangelho pelo mundo, que, novamente,
precede imediatamente o Fim. Atos 6.6-9 também relaciona a proclamação mundial
do evangelho à questão da demora do reino, ilustrando a perspectiva cristã
nascente da atividade missionária, como prelúdio e sinal apocalíptico da vinda
na nova era.
O contexto imediato
de 2 Tessalonicenses 2.6-7 sustenta a interpretação de “aquilo que detém” como
se referindo à pregação do evangelho e “aquele que detém” como se referindo ao pregador,
prototipicamente o próprio apóstolo Paulo. Versos 9-12 se referem à perdição
daqueles que não têm o amor à verdade. A audiência nos versos 13-15 se contrasta
com aqueles que rejeitam a pregação do apóstolo. (CARRIKER, 2002, p. 52, 53).
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Fonte:
A Igreja do Arrebatamento: O Padrão dos Tessalonicenses
para estes últimos Dias, CPAD
Autor: Thiago Brazil