Por que cada Evangelho traz uma inscrição diferente da acusação escrita por Pilatos
contra Jesus colocada na cruz?
A
língua do povo de Israel nos dias do
ministério terreno de Jesus era o aramaico, o grego era o idioma internacional,
o hebraico era usado pela elite da Judeia e o latim a língua dos invasores. O
presente estudo analisa o contexto dessas línguas.
O
aramaico era a língua oficial de Babilônia (Dn 2.4.)
e veio a ser a língua franca do Oriente Médio desde a ascensão do império de
Nabucodonosor até o advento de Alexandre, o Grande.
No hebraico foi escrito
originalmente o Antigo Testamento, exceto Jeremias 10.11 e duas palavras em Gênesis
31.47, Esdras 4.8-6.18; 7.12-26; Daniel 2.4-7.28, escritos em aramaico. As gerações
de judeus que regressaram
do exílio babilónico falavam o aramaico
como língua materna.
Marcos preservou em letras gregas algumas palavras em
aramaico: "Talita cumi, que, traduzido:
Menina, a ti te digo: levanta-te" (5.41); "Efatá, isto é,
abre-te" (7.34); "Eloí, eloí, lema sebactâni?" (15.34); e
"Aba, Pai" (14.36). O apóstolo Paulo usa duas vezes o termo
"Aba, Pai" (Rm 8.15; Gl 4.6).
Há ainda outra palavra aramaica no
Novo Testamento, "maranata"
(1Co 16.22), que significa "O Senhor vem". Na Galileia e em Samaria,
os dialetos aramaicos se tornaram a língua do povo, nos dias do ministério
terreno de Jesus, mas a Judeia insistia na língua hebraica. Parece que a elite
de Jerusalém, contemporânea do apóstolo Paulo, falava esse idioma (At 22.2).
- Lições Bíblicas de Jovens – 2° Trimestre de 2018 – Acesse Aqui
- Lições Bíblicas de Adultos – 2° Trimestre de 2018 – Acesse Aqui
O
grego é a língua original do Novo Testamento e da Septuaginta.
Os soldados romanos e muitos do povo
falavam essa língua, pois muitos judeus de fala grega provenientes da diáspora
viviam em Israel e o comércio com os gentios era intenso. Josefo diz que Jesus
ensinou a muitos judeus e gregos (Antiguidades 18.4.772, Edição CPAD). Há evidências
disso nos Evangelhos (Mt 4.25; Jo 735; 12.20, 21).
O
latim era a língua dos invasores romanos. Muitos
termos latinos já estavam incorporados na língua grega. Isso pode ser confirmado
no Novo Testamento grego: assarius, "ceitil, moeda" (Mt 10.29; Lc
12.6); census, "imposto, tributo, captação" (Mc 12.14); centurio, "centurião" (Mc 15.39); custodia, "guarda,
vigilância" (Mt 27.65); denarius "asse, moeda, dinheiro" (Mc
6.37); legio, "legião" (Mc 5-9), entre muitos outros exemplos.
A
inscrição indicando a acusação de Jesus,
que Pilatos mandou colocar sobre a cruz, era trilingue: "estava escrito em hebraico, grego e latim"
(Jo 19.20).
O povo não falava nenhuma dessas
línguas, exceto uma minoria elitizada. Segundo Alfred Edersheim, a inscrição da
cruz em grego é a mencionada Em Marcos:
"O REI DOS JUDEUS" (Mc 15.26); em latim, é a mencionada em
Mateus, que Edersheim afirma ser: Hic est lesus Rex ludaeorum, "ESTE É
JESUS, O REI DOS JUDEUS" (Mt 27.37); e, considera a inscrição hebraica como em aramaico, segundo ele é a
mencionada em João: leshua ha-notsri malka dihudaey, "JESUS NAZARENO, REI
DOS JUDEUS" (Jo 19-19). Esse é o título completo.
Foi em aramaico que a inscrição
provocou a reação dos líderes religiosos, pois esse dialeto todo o povo
entendia, e "muitos dos judeus leram este título". Isso afrontava as
autoridades religiosas de Jerusalém, razão pela qual elas pediram a Pilatos que
modificasse a mensagem (Jo 19.20-22). Lucas registrou a frase: "ESTE É O
REI DOS JUDEUS" (Lc 23-38).
Por que esses evangelistas teriam de
escrever todas as palavras?
O que aconteceu é que cada um deu
essência no seu estilo. Todas as inscrições mencionadas nos quatro evangelhos
afirmam que a acusação contra Jesus era uma só: ser ele "o Rei dos
judeus". De modo que a diferença está na forma de apresentação e não no
conteúdo.
Artigo: Pr. Esequias Soares