Psicologia é a ciência que estuda
o comportamento humano e seus processos mentais. A palavra “psicologia”
deriva-se da junção de duas palavras gregas: psichê (alma) e logos
(razão estudo, conhecimento).
O termo “alma”, considerada
neste texto, não deve ser tomado no seu sentido religioso/metafísico (enquanto
entidade espiritual), e sim como a “psique”
(estrutura biopsicossocial que anima o indivíduo).
O aspecto biopsicossocial
trata da inter-relação entre os aspectos biológicos, psicodinâmicos e sociais
que constituem o ser humano.
• Bio –
biologia (aspectos anatômicos e fisiológicos)
• Psico –
psicodinâmica (particularidades de cada indivíduo: necessidades, desejos,
emoções, cognição, motivação, etc.)
• Social –
relações com as pessoas (interpessoais) e instituições,
produção
de valores sociais, cultura, etc.
Partindo
desse princípio, pode-se concluir que a Psicologia estuda o que motiva o
comportamento humano — o que o sustenta, o que o finaliza e também seus processos
mentais, que passam pela sensação, emoção, percepção, aprendizagem,
inteligência, etc., desde a concepção do indivíduo (vida intrauterina) até sua
morte.
Telles
(2003) diz:
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“O homem é um animal
essencialmente diferente de todos os outros. Não apenas porque raciocina, fala,
ri, chora, opõe o polegar, cria, faz cultura, tem autoconsciência e consciência
de morte. É também diferente porque o meio social é seu meio específico. Ele
deverá conviver com outros homens, numa sociedade que já encontra, ao nascer
dotada de uma complexidade de valores, filosofias, religiões, línguas,
tecnologias”.
I –
OBJETO DE ESTUDO DA PSICOLOGIA
Psicologia
é:
Ciência que se concentra no comportamento humano e seus processos mentais que
passam pela sensação, emoção, percepção, aprendizagem, inteligência, etc.
Palavras
essenciais:
1. Ciência –
investigação válida
2. Comportamento –
As atividades que são diretamente observáveis e registráveis nos seres humanos
e animais: a comunicação (falar, emitir sons, usar mímica, etc.).
Os
movimentos (correr, andar, pular, etc.) e outras. Os processos fisiológicos
dentro do organismo — os batimentos cardíacos, respiração, alteração
Eletroquímica que tem lugar nos nervos, etc.
Os
processos conscientes de sensação, sentimentos e pensamentos — a sensação dolorosa
de um choque elétrico, a identificação correta de uma palavra projetada numa
tela, etc.
3. Processos Mentais – O
termo “processo mental” inclui formas de cognição ou formas de conhecimento:
perceber, participar, lembrar, raciocinar e resolver problemas.
Sonhar,
fantasiar, desejar, ter esperança e provar também são processos mentais.
II – HISTÓRIA E
EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA
A história
da Psicologia confunde-se com a da Filosofia até meados do século XIX. As
primeiras tentativas de sistematizar um conhecimento sobre a “alma” humana surgiram
com os antigos filósofos gregos por volta de 700 a.C.
Os
primórdios da psicologia já se encontravam nos mitos da alma. Os gregos
derivavam a alma (o anímico) de substâncias primitivas
(água,
fogo e ar), que significavam a base da vida.
Hipócrates
(460 – 377 a.C.) liga características da personalidade
a
tipos de corpo e apresenta uma teoria fisiológica (oposta a uma
teoria
demonológica)
de doença mental.
1. A Antiguidade
Sócrates,
Platão e Aristóteles deram o pontapé inicial na instigante
investigação
da alma humana: Para Sócrates (469 – 399 a C.), a principal característica do
ser humano era a razão — aspecto que
permitiria
ao homem deixar de ser um animal irracional. Platão (427 – 347 a C.) —
discípulo de Sócrates — conclui que o lugar da razão no corpo humano era a
cabeça, representando fisicamente a psique, e a medula teria como função a
ligação entre a mente e o
corpo.
Já Aristóteles (384 – 322 a C.) — discípulo de Platão — entendia corpo e mente
de forma integrada e percebia a psique como o princípio ativo da vida.
As
teorias de Platão e Aristóteles destacaram-se e tornaram-se a base usada pelas
principais teorias da Psicologia no estudo do comportamento humano. A teoria
platônica postulava a imortalidade da alma e concebia-a separada do corpo, e a
teoria aristotélica afirmava a mortalidade da alma e sua relação de
pertencimento ao corpo.
PLATÃO (427–347 a.C.)
A
teoria platônica, mais conhecida como “Idealismo platônico,” defendia a
existência de dois mundos: Mundo dos Sentidos e o Mundo das Ideias.
A Realidade —
Mundo dos Sentidos — cinco sentidos Mundo das Ideias – Razão. Segundo Platão,
só se pode obter um conhecimento seguro daquilo que se reconhece com a razão. Platão
interessava-se pelas coisas que, de um lado, são eternas e imutáveis, e aquilo
que de outro flui. Tudo que pertence ao mundo
dos
sentidos é feito de um material sujeito à corrosão do tempo.
Concomitantemente,
tudo é formado a partir de uma forma imutável
e
eterna. Platão achava que tudo o que se pode tocar e sentir na natureza, “flui”.
Não existe, portanto, um elemento básico que não se desintegre; existe, porém,
um aspecto que é imutável: são os modelos espirituais ou abstratos, a partir
dos quais os fenômenos são formados.
Referindo-se
ao homem, Platão concluía ser este um ser dual que possui um corpo e uma alma.
O corpo está ligado ao mundo dos sentidos e deteriora-se, enquanto que a alma é
imortal e pertence ao mundo das ideias.
Visão de Homem: Um
ser dual — Corpo e Alma
Corpo —
Flui — Ligado ao mundo dos sentidos
Alma Imortal —
Morada da razão. A alma não é material, ela pode ter acesso ao mundo das
ideias.
ARISTÓTELES (384–322
a.C.)
Aristóteles
é hoje considerado o verdadeiro pai da Psicologia por causa de sua doutrina
uniforme da alma. Sua teoria conhecida como “Realismo Aristotélico” defende que
todas as nossas ideias e
pensamentos
entram em nossa consciência através do que vemos e ouvimos.
Para
Aristóteles, a realidade consiste em várias coisas isoladas, que representam
uma unidade de forma e substância. “Substância” é o material de que a coisa é
composta. “Forma” são as características peculiares da coisa.
Uma
ilustração prática para se compreender essa teoria é o exemplo da galinha. O
ato de a galinha bater asas, cacarejar e pôr ovos Aristóteles chama de FORMA. A SUBSTÂNCIA é parte material da galinha que
reveste a forma. Quando a galinha morre, a forma deixa de existir. Resta,
apenas, a substância que se decompõe e é transformada, adquirindo outra Forma.
FORMA DA GALINHA —
Bater asas, cacarejar, pôr ovos.
SUBSTÂNCIA DA GALINHA —
Aquilo que se decompõe e é transformada.
Para
Aristóteles, a Forma (parte imaterial — alma) deixa de existir com a morte;
apenas a substância deteriorada (parte material — corpo) continua existindo com
outra forma após a sua decomposição.
Todas
as coisas vivas e mortas têm uma forma que diz alguma coisa sobre as
possibilidades dessas coisas. Outro aspecto importante da Teoria Aristotélica é
a relação de causa e efeito na natureza. Para ele, toda a ação resulta numa
reação ou tudo existe por uma determinada causa. Por exemplo: Uma vidraça foi
quebrada porque um garoto atirou uma pedra. Um sapato passou a existir porque o
sapateiro costurou alguns pedaços de couro.
Aristóteles
também defendia a existência de uma causa final ou finalidade para explicar
alguns processos vivos da natureza. Usando o exemplo anterior, pergunta-se:
“Por que o garoto atirou a pedra?”. Há uma razão maior que motivou a ação.
Vejamos o exemplo da chuva:
Por
que chove? “Porque o vapor da água esfria nas nuvens e é condensado na forma de
gotas de chuva que, por causa da gravidade, caem no chão”.
1
– Causa Substancial ou Material — o fato de o vapor d’água (as nuvens) estar
ali, bem na hora em que o ar esfriou.
2
– Causa atuante ou efi ciente — o fato de que o vapor d’água esfriou.
3
– Causa formal — o fato de ser inerente à forma ou à natureza da água cair no
chão.
4
– Causa final ou finalidade — Chove porque as plantas e os animais precisam de
água da chuva para crescer.
Aristóteles
atribui às gotas de chuva uma espécie de tarefa vital, um propósito.
2. A Idade Média
A
Idade Média caracteriza-se pela aceitação das concepções de Aristóteles e de
suas ligações com o pensamento cristão.
O
Império Romano consolida a expansão do cristianismo, e o conhecimento psicológico
vincula-se à religião (igreja católica).
Qualquer
outra produção sobre o saber psicológico é considerada profana, e seus
criadores/seguidores ficam submetidos à repressão da igreja (inquisição,
inicialmente católica e, depois, também protestante).
Na Idade Média,
destacam-se obras de dois teólogos católicos:
Agostinho
de Hipona (354 –430 d.C.) e Tomás de Aquino (1225–74).
Ambos
afirmavam que a “alma” tinha uma essência divina.
Agostinho
de Hipona, em sua obra “Confissões”, descreve seu desenvolvimento pessoal, introduzindo
o “método autobiográfico de
observação”,
e atribui a máxima certeza à experiência interior, o que torna o homem
consciente de si mesmo e de sua individualidade.
Tomás
de Aquino ocupou-se com o problema fundamental da natureza da alma e sua
relação com o corpo.
Mestre
Eckhart estabeleceu a diferença
entre o mundo externo de conhecimentos naturais e o mundo interno de
experiência religiosa,
baseando-se
nas faculdades afetivas.
Surgiram
concepções como “a vontade”, “a consciência” e “a liberdade”, porém ainda
presas à tradicional indissolubilidade entre o homem e Deus.
3. A Idade Moderna
Ocorre
a ruptura entre ciência e religião. Ressurge o poder do conhecimento fi losófi
cocientífico.
•
Filipe Melâncton (1497–1560), recorrendo a Aristóteles, usou, pela primeira
vez, a palavra “Psicologia”.
Ele
estudou os processos psíquicos sob o aspecto científico.
•
Juan Huarte de San Juan (1529–88) ocupou-se com o problema do “Dom” (vocação) e
abriu novos caminhos para o método de observação diferencial-psicológico na
Idade Contemporânea.
•
René Descartes (1596–1650), com sua “teoria da interação”, traz de volta a
questão antiga da inter-relação corpo e alma. Ele concebe o homem como uma
máquina pensante, criando o dualismo (separação mente-corpo).
Os
filósofos ingleses consideravam a alma de uma criança recém-nascida uma tábua
rasa, em que as experiências vividas iriam agravar as suas impressões no decorrer
do tempo. John Locke (1632–1704) abriu caminho para essa concepção, afirmando
que as experiências são formadas tanto por sensações (percepção de objetos
exteriores) quanto por reflexão, que diz respeito à percepção da vida anímica,
ou seja, interior.
•
David Hatley (1705–57) formaliza a doutrina do associacionismo em 1749,
sugerindo uma base neurológica para a memória.
•
Jean Marie Pierre Flourens (1794–1867) realiza em 1821 os primeiros experimentos
significativos sobre localização de funções.
Fonte: Psicologia Pastoral
Autor: Jamiel de Oliveira Lopes
Ed. CPAD