Assunto:
Reforma Protestante: história, ensinos e legado.
Lição: Jovens e Adultos
Trimestre: 4°
de 2017
Comentarista:
Pr. Gilmar Vieira Chaves
Editora:
Central Gospel
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Romanos 9.9-21
9
Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara terá um
filho.
10
E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso
pai;
11
Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal ( para que o
propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras,
mas por aquele que chama ),
12
Foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor.
13
Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú.
14
Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma.
15
Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia
de quem eu tiver misericórdia.
16
Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que
se compadece.
17
Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar
o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra.
18
Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer.
19
Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem tem resistido à
sua vontade?
20
Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá
ao que a formou: Por que me fizeste assim?
21
Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para
honra e outro para desonra?
SUBSÍDIOS PARA O
ESTUDO DIÁRIO
2ª
Feira - 1 Tessalonicenses 1.3,4: A vossa eleição é
de Deus
3ª
Feira - 2 Tessalonicenses 2.13,14: Eleito desde o
princípio para a salvação
4ª
Feira - Romanos 8.29,30: Também os predestinou
5ª
Feira - Efésios 1.1-11: Elegeu-nos Nele antes da
fundação do mundo
6ª
Feira -1 Timóteo 2.4-6: Ele quer que todos os homens
se salvem
Sábado
- Atos 15.7-9: Ele não fez diferença entre eles e nós
TEXTO ÁUREO
Ó
profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis
são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Porque quem
compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Romanos 11.33,34
OBJETIVOS
Ao
término do estudo bíblico, o aluno deverá:
* entender como o texto bíblico aborda
o tema salvação no Antigo e no Novo Testamento;
* conhecer as duas principais
correntes doutrinárias, reformadas, relativas à salvação;
* compreender que mais
importante que apreender argumentações soteriológicas é saber que somente por
meio de Cristo somos redimidos.
ORIENTAÇÕES
PEDAGÓGICAS
Caro professor,
No texto de Lucas 2.52 (ARA), encontramos um exemplo muito claro
de desenvolvimento integral na pessoa do menino Jesus, que crescia em
sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens. Assim também, as
iniciativas da educação devem contemplar o ser humano em todos os seus
constitutivos e áreas e prepará-lo para enfrentar os desafios da vida com
ousadia, entusiasmo, confiança e coragem.
Educar, dentro de uma perspectiva cristã, exige um compromisso
constante não apenas com a qualidade do conteúdo, a eficácia do método
educacional, a qualidade e a quantidade de recursos didáticos, mas, acima de
tudo, com o progresso do aluno em sua fé. Ajudá-lo a desenvolver todo o seu
potencial e talentos concedidos por Deus é, primordialmente, a meta a ser
perseguida.
COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Como dito em lições anteriores, os
fundamentos soteriológicos da fé cristã foram drasticamente afetados pela
Reforma Protestante, a partir dos princípios de sola fide, sola Scriptura,
solus Christus e sola gratia.
Nesta
lição, destacaremos dois sistemas soteriológicos — adotados por igrejas
reformadas em todo mundo —, considerando sua preeminência e relevância
histórica, a saber: calvinismo e arminianismo. Antes, porém, veremos de que
forma a salvação é apresentada no Antigo e no Novo Testamento.
1. SOTERIOLOGIA: A
DOUTRINA DA SALVAÇÃO
Todas as religiões do mundo
possuem, de um modo ou de outro, sua própria soteriologia (doutrina da
salvação): algumas enfatizam o relacionamento entre Deus e os homens; outras,
por sua vez, põem ênfase no aprimoramento do auto-conhecimento como forma de
alcançar a redenção.
Vejamos
a seguir de que forma o manual de fé e prática do cristão reformado (a
Escritura) apresenta a salvação.
1.1. No Antigo Testamento
Yahweh
é o Ser soberano que, invariavelmente, toma a iniciativa de restabelecer com o
homem o elo (de amor e verdadeira comunhão) rompido com Ele, no Éden.
Pode-se
afirmar que, para Israel, a ideia de aliança constitui-se na chave-mestra capaz
de abrir as portas que levam ao conhecimento da identidade do Eterno.
Nas
alianças estabelecidas com Israel — destacadas a seguir —, dentre outras
promessas, Yahweh assegurou que salvaria o Seu povo.
São elas: edênica — da Criação à Queda (Gn 1—3.24);
adâmica — de Adão ao Dilúvio (Gn 3.24—9.13); noética — de Noé a Abraão (Gn
9.13— 10.32); abraâmica — de Abraão a Moisés (Gn 12—Êx 3.6-10); mosaica — de
Moisés a Davi (Êx 3.4; 2 Sm 7.1-29); davídica — de Davi a Cristo (2 Sm 7—Mt
1.1).
1.2. No Novo Testamento
No
Novo Testamento, o conceito de salvação (gr. soteria = libertação, salvação,
livramento, restituição do homem à ple na comunhão com o Eterno)
inclui a maioria dos rudimentos e exterioridades mencionadas no Antigo
Testamento (ajudar, libertar, livrar e salvar em situações de grandes ameaças)
acrescentando-lhe dimensões espirituais (Fp 2.8).
A
teologia reformada entende e apregoa que todo o Novo Testamento deixa
transparecer a manifestação da graça salvadora de Deus em Cristo Jesus (Jo 3.16).
Aliás, esse é o tema central da Nova Aliança, que está diretamente fundamentada
na obra sacrificial de Cristo na cruz (que foi prefigurada pelo sistema de sacrifícios
de Israel); [o Salvador] tira o pecado e purifica a consciência por meio da fé
nele (Hb 10.2,22) [...] (RADMACHER; ALLEN; HOUSF, 20101), p. 437).
LEIA TAMBÉM:
O termo aliança reveste-se de sublime importância na
conformação da identidade religiosa de Israel, pois em nenhum outro sistema de culturas
e crenças, em todo o mundo, encontram-se vestígios que possam indicar o
estabelecimento de pactos entre uma divindade e o seu povo; fato que, por si
só, comprova o ineditismo do texto bíblico.
2. OS SISTEMAS
SOTERIOLÓGICOS PROTESTANTES
Existem
diversos sistemas soteriológicos dentro do protestantismo, os quais partem
desse entendimento primordial: os pecadores são declarados justos diante de
Deus somente pela fé, somente em Cristo, somente pela Graça, não mediante as
boas obras praticadas.
Abordar
cada um desses sistemas ocuparia um espaço muito maior que o permitido nesta
lição, e ultrapassaria os objetivos pretendidos nesta ocasião.
Portanto, examinaremos dois deles, pelo fato de terem-se destacado desde a
Reforma, a saber: o calvinismo e o arminianismo.
2.1. Considerações prévias
Ao
longo dos séculos, debates têm sido promovidos e diversos materiais têm sido
produzidos, por teólogos, pensadores e críticos, de forma sistemática, a
respeito da seguinte pergunta: somos predestinados à salvação ou escolhemos ser
salvos?
Considerando
que, na História, ocorreram polarizações entre ambos os pensamentos, sem que
tenha sido estabelecida uma conclusão definitiva, apresou taremos os principais
aspectos dessas duas teorias — mutuamente excludentes, segundo seus defensores
—, sem a pretensão de esgotar as múltiplas conexões sugeridas por cada
segmento.
2.2. O calvinismo e a
predestinação
A
fundamentação teórica do calvinismo repousa sobre as Institutos da Religião
Cristã, obra escrita pelo teólogo e reformador francês João Calvino
(1509—1564).
A
doutrina da eleição (ou predestinação), elaborada por Calvino, pode ser
definida como um ato de Deus, por meio do qual Ele elegeu (escolheu)
previamente um determinado número de pessoas para obter a salvação por meio da
fé em Cristo, independente do desejo ou de qualquer ato da vontade humana.
2.2.1. As cinco teses
centrais do calvinismo
É
possível entender mais facilmente o calvinismo a partir das suas cinco teses
centrais, resumidas no acrónimo TULIP.
• Total depravity (a total depravação) — A raça humana, como resultado do
pecado, está tão decaída que nada pode fazer para melhorar ou para ser aceita
diante de Deus.
• Unconditional election (a eleição incondicional) — O Deus soberano, na
eternidade passada, elegeu (escolheu) alguns membros da raça humana para serem
salvos, independentemente da aceitação de Sua oferta, que tem como base Sua
graça e compaixão.
• Limited atonement (a expiação limitada) — Deus enviou Seu Filho para prover
a expiação somente daqueles que Ele elegeu.
• Irresistible grace (a graça irresistível) — Os eleitos não poderão resistir
à Sua oferta generosa; serão salvos.
• Perseverance ofthe saints (a perseverança dos santos) — Uma vez salvos,
perseverarão até o fim e receberão a realidade última da salvação: a vida
eterna.
2.2.2. Questões a serem
respondidas pelo calvinismo
Todos
os cinco pontos do acrónimo omitem um conceito específico da soberania divina,
a saber: o fato de Deus ser soberano sobre Si mesmo e, portanto, capaz de
limitar-se em áreas de Sua escolha, de modo que possamos ter verdadeiro
livre-arbítrio — o que nos torna capazes de optar por sermos Seus filhos, em
vez de apenas seres autómatos.
Além
disso, esses cinco pontos do acrónimo colidem com o ensino bíblico da
superioridade do sacrifício de Cristo, retirando o seu valor, pois, se alguns
foram predestinados para a perdição, o que a obra expiatória de Cristo poderia
fazer por eles? E, se outros foram predestinados para a salvação, em que medida
o sacrifício de Cristo cooperou para que isso ocorresse?
2.3. O arminianismo e o
livre-arbítrio
O
arminianismo é uma doutrina firmada nos conceitos do teólogo holandês Jacob
Harmensz (1560—1609), conhecido por seu nome latino Jacobus Arminius (em
Português, Jacó Armínio).
O
livre-arbítrio, sob muitos aspectos, consiste no anverso da doutrina da
predestinação, elaborada por Calvino, pois apregoa que o homem pode tomar suas
próprias decisões, determinando, assim, seu destino.
Armínio
discordou das doutrinas calvinistas, argumentando que seus defensores:
(1)
tendem a fazer de Deus o autor do pecado, por ter Ele escolhido, na eternidade
passada, quem seria ou não salvo;
(2)
negam o livre-arbítrio do ser humano, por declararem que ninguém pode resistir
à graça de Deus; e
(3)
negam a absoluta necessidade e singularidade do sacrifício de Cristo, pois, se
tudo já está antecipadamente determinado, a obra de Cristo no Calvário foi vã.
2.3.1. As teses centrais do
arminianismo
Os
ensinos de Armínio foram resumidos nas cinco teses dos Artigos de Protesto,
publicados em 1610, após a sua morte:
(1)
a predestinação depende da maneira de a pessoa corresponder ao chamado da
salvação, e é fundamentada na presciência de Deus;
(2)
Cristo morreu em prol de toda e qualquer pessoa, mas somente as que crêem são
salvas;
(3)
a pessoa não tem a capacidade de crer e precisa da graça de Deus, mas
(4)
a Graça pode ser resistida;
(5)
se todos os regenerados perseverarão é questão que exige maior investigação
(LETHAM, 1988, p. 45).
2.4. Adendo necessário
A
diferença de pensamento entre cristãos reformados — inclusive no que concerne
aos temas abordados nesta lição (predestinação e livre-arbítrio) — resulta da
liberdade de consciência, conquistada, há cinco séculos, por aqueles que
ousaram confrontar os abusos do Clero.
Não
se deve compreender a liberdade de consciência como um agente de cisão entre os
cristãos; ao contrário, ela foi, para a humanidade, antes de tudo, um dos
grandes legados da Reforma Protestante (como veremos em lições subsequentes).
Sem ela (sem a liberdade de consciência), estaríamos vivendo, ainda hoje,
segundo as tradições e rituais romanos.
3. O POSICIONAMENTO
DAS IGREJAS DE 'CONFISSÃO PENTECOSTAL
São
claras as diferenças entre o calvinismo e o arminianismo, sistema soteriológico
adotado pela maioria das igrejas de confissão pentecostal, dentre elas as
Assembleias de Deus e várias outras.
Segundo
os arminianos, Deus sabe, de antemão, as pessoas que lhe aceitarão a oferta da
graça, e são essas que Ele predestina à
salvação. Em outras palavras, Deus predestina todos aqueles que, de livre e espontânea
vontade, aceitam a salvação outorgada em Cristo, e continuam a viver por Ele.
3.1. Quem são os
predestinados à salvação?
Defender
unilateralmente a doutrina da predestinação pode conduzir a grandes paradoxos,
uma vez que a Bíblia ensina que o plano de Deus é que ninguém se perca, mas que
todos cheguem ao conhecimento da verdade (1Tm 2.3-6). Além disso, as Escrituras
apresentam um Deus justo, amoroso que não faz acepção de pessoas (Rm 2.11).
Hoje
em dia, até mesmo os teólogos outrora muito radicais na defesa do calvinismo
estão migrando, progressivamente, para um ponto de equilíbrio em relação ao
tema do livre-arbítrio e da predestinação.
Predestinados à salvação são todos aqueles que se encontram do
lado de dentro dos limites do sacrifício de Cristo e que, arrependidos dos seus
pecados, confessaram-nos ao Senhor e tiveram seus nomes registrados no livro
eterno.
CONCLUSÃO
Em
relação aos temas principais apresentados
nesta lição
(predestinação
e livre-arbítrio), o que os cristãos reformados precisam ter em mente é que
Deus não se limita a sistematizações e/ou a epistemologias, ao tempo e/ou ao
espaço. Deste modo, precisamos prender-nos à verdade incontestável de Seu amor,
que a todos quer envolver, porque Ele amou o mundo de tal maneira — e até mesmo
além da percepção humana —, que enviou Seu único Filho para redimir o perdido,
indistintamente. É Ele quem salva e transforma aqueles que Nele creem, dia a
dia, à imagem do Seu Filho (Jo 3.16; Fp 1.6).
ATÍVIDADE PARA
FIXAÇÃO
1.
Cite os dois sistemas soteriológicos protestantes abordados nesta lição:
R.: Calvinismo e arminianismo.