A Reforma Protestante foi um
dos maiores movimentos da história, consistindo em um retorno à Palavra de
Deus. Ela salientou o valor incomparável das Escrituras, reconhecendo-a como a
nossa única regra de fé e prática. Esse princípio resplandeceu bem cedo no
coração de um jovem monge alemão chamado Martinho Lutero (1483-1546), que foi
usado por Deus para dar início a esse movimento no início do século 16. Esse
princípio apareceu pela primeira vez de forma nítida em um discurso redigido
por Lutero possivelmente para ser lido diante do Concílio de Latrão, em Roma,
no ano de 1516, um ano antes de ele dar início oficialmente à Reforma. Nele,
afirmava o então monge agostiniano:
"A maior e primeira de todas as
preocupações - Ah, se eu pudesse inscrever com letra de
fogo em vossos corações! - é que os ministros, antes de tudo, preguem ricamente
a Palavra da Verdade. O globo terrestre está repleto, sim, repleto até em
profusão com toda imundícia possível de doutrina. O povo é submetido a tantas
leis, a tantas opiniões de homens, sim, até mesmo a matérias supersticiosas; é
inundado por elas - não se pode dizer 'ensinado' - de modo que a Palavra da
Verdade praticamente nem sequer mais sussurra; sim, em muitos lugares, nem
sequer mais isso. O que pode aí nascer, se é concebido com palavras de homens,
e não com a Palavra de Deus?"
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Como a palavra, assim o nascimento,
assim o povo. Costumamos ficar admirados que no povo de Cristo imperem tantas
discórdias, disputas, invejas, orgulho, desobediência, excessos, farras
esbanjadoras, bem como que o amor esfriou totalmente, a fé se extinguiu, a
esperança se esvaziou. Por favor, desistam de se admirar. Isso não é de se
admirar. Isso é nossa culpa, culpa dos prelados e dos ministros. Admiração
deveria haver pelo fato de que não são tão cegos, tão irresponsáveis a ponto de
que essas mesmas pessoas, que deveriam auxiliar aquele nascimento com a Palavra da Verdade,
estão ocupadas com outras coisas, acumuladas com preocupações pelos bens
temporais, deixando totalmente de lado aquele único bem necessário. Pois a
maioria ensina fábulas e concepções criadas por homens. E aí ainda nos
admiramos de que de tais prédicas surja um tal povo!"
"Hoje,
todos os ministros admitem ser pecado maior uma infra cão
carnal ou a oração deficiente ou ainda o engano no cânon da missa, mas não
pensam o mesmo da retenção da Palavra da Verdade ou de sua explanação
incorreta! Pois tais pessoas, mesmo que sejam, de resto, homens bons e
piedosos, erram. Pensam que a Palavra da Verdade é a única grandeza na qual não
conseguem pecar. Mas é justamente a única coisa na qual o sacerdote peca como
sacerdote. Nas demais coisas comete faltas como homem; aí, quando subtrai e
falsifica a Palavra, peca contra seu ofício como ministro. Isto é muito mais
terrível do que pecar como homem. Quanta dor se origina aí! Duros e insensíveis
são hoje os sacerdotes em sua segurança, não somente por se calarem, mas também
por tudo aquilo que sopram de suas bochechas sobre o povo. Isso chamam de
prédica e doutrina, não verificando nem sendo movidos pelo temor de saber se se
trata também da palavra da verdade, destinada ao nascimento divino, ou não. E
tão somente por essa causa são o que são: sacerdotes e ministros. Pois para
tudo o mais não se necessita de ministros. Por mais casto que alguém seja,
por mais humano, por mais douto, por mais que possa ter êxito em atrair gente de
volta à igreja, por mais que possa construir casas, expandir seu poder, e até
mesmo fazer milagres, ou ressuscitar mortos, e expelir demônios: somente é
sacerdote e pastor aquele que é um mensageiro do Senhor dos Exércitos, isto é,
um mensageiro de Deus, que com a Palavra de Deus vai à frente do povo, e
contribui para o novo nascimento de muitos".
"Por
isso, se vós determinais muitas coisas nesse reverendíssimo sínodo, se
regulamentardes tudo bem, mas não colocardes a mão neste ponto, que aos
ministros como professores do povo seja dada a incumbência de abandonar as fabulações
sem incumbência, ocupando-se com o puro evangelho e com os santos expositores
dos Evangelhos, sobre eles refletindo, e pregando ao povo com temor e tremor a
Palavra da Verdade, deixando finalmente de lado as opiniões humanas ou, pelo
menos, as introduzindo em parcimoniosa seleção, tomando-se assim fiéis
colaboradores de Deus na obra do nascimento divino — se vós, digo eu, não vos
ocupardes com maior empenho nessa questão, orando por ela com seriedade
constante, então posso dizer livremente de antemão que tudo o mais nada é, que
em vão nos reunimos, que não avançamos um só passo. Pois nesse ponto tudo está
em jogo. Aí se decide sobre a autêntica reforma da igreja, aí se encontra o
fundamento de toda vida piedosa".
"Portanto, permaneça firme esta tese: a igreja não nasce nem pode
persistir segundo sua essência, a não ser que seja através da Palavra de Deus,
pois assim está escrito: 'Ele nos gerou pela Palavra da Verdade', Tiago
1.18".
Nos
dias de Lutero, havia o nefando comércio das indulgências, a igreja romana
desprestigiava-se a olhos vistos, a ponto de revoltar seus líderes honestos e
esclarecidos. Como se não bastassem as somas vultosas de muitas maneiras canalizadas
para o Vaticano, aquele vergonhoso tráfico tornava as populações da Europa
muito pobres, tanto financeira como moral e espiritualmente. O povo e os
príncipes estavam já cansados da tirania papal e de suas incríveis extorsões,
abusos e exigências.
A
REFORMA TEVE PRECURSORES.
Nos séculos 10 a 12, havia
três grupos distintos de cristãos: os romanos, encabeçados por papas como
Gregório VII e Inocêncio III, que pretendiam fundar uma monarquia universal,
tanto no sentido espiritual como político; os ortodoxos,
que defendia a ideia de uma igreja nacional; os evangélicos,
constituídos dos waldenses e albigenses, que eram apologistas
da separação. Somente este último grupo tinha a Bíblia
como regra de fé e prática, e procurava viver santamente. Eram estes os continuadores
dos movimentos cristãos e, biblicamente, correspondiam à verdadeira igreja de
Cristo.
OS WALDENSES
Os waldenses, assim chamados
por terem como cabeça a Pedro Waldo, rico comerciante de Lyon, na França,
iniciaram seu movimento por volta de 1170. Rejeitavam a missa, as orações pelos
mortos e a doutrina do purgatório, por falta de apoio bíblico, e enfatizavam a
pregação dos leigos e a leitura constante do Novo Testamento.
Waldo não tinha a intenção de
romper com Roma, mas foi excomungado pelo papa em fins do século 12. Esse
reformador traduziu porções das Escrituras para a língua vernácula, e adotou o
método evangelístico de Jesus, ao enviar 70 discípulos para que pregassem o
evangelho. O movimento espalhou-se pelo sul da França, Itália e Espanha.
OS ALBIGENSES
Os albigenses apareceram
cerca do ano 1200, principalmente no Norte da Itália e no Sul da França.
Negavam os sacramentos eclesiásticos, aceitando somente a Santa Ceia e o
Batismo. Tinham as Escrituras como suprema autoridade e criticavam o poder e a
riqueza da igreja romana.
CRIMES DA IGREJA CATÓLICA CONTRA OS EVANGÉLICOS
1)
Crimes por meio das cruzadas
Esse movimento popular e
bíblico foi destruído logo no seu início pelos 300 mil cruzados de Simão de
Montfort. Somente na cidade de Beziers, em 1209, esses soldados da cruz
massacraram mais de 20 mil pessoas.
2)
Crimes por meio as Santa Inquisição
Contribuiu, também, para a
destruição dos albigenses a Santa Inquisição, que foi instituída pelo
papa Inocêncio III especialmente para esse fim. Este funesto tribunal, somente
na Espanha, em 18 anos levou à fogueira 10.200 e à infâmia, 97 mil infelizes.
Mas a Igreja de Cristo, como um rio que desaparece aqui para surgir ali, ainda
com mais ímpeto, continuava viva e forte, apesar de toda a oposição e ódio da
igreja romana e monarquias submissas ao papa.
Outros homens antecederam Lutero
em sua luta, como John Wfycliffe (1328-1384), João Huss (1369-1415) e Girolamo
Savonaola (1452-1498), mas foi com Lutero que a Reforma aconteceu.
Fonte:
Jornal
Mensageiro da Paz, Outubro de 2017