No verão de 1554, na região de Cabo Frio, na
costa '' marítima do Estado do Rio de Janeiro, o vice-almirante e diplomata
francês Nicolas Durand de Vilegagnon aportou pela primeira vez em solo
brasileiro. Encantado com as riquezas de nossa terra, ele resolveu pedir à
coroa francesa apoio para fundar na região do Rio de Janeiro uma colônia de seu
país. O nome dela seria "França Antártica". Só que, para esse grande
empreendimento, Vilegagnon precisava de muitos recursos e muita gente para
ajudar. Foi assim que, ao voltar à França, ele marcou uma audiência com o rei,
que aceitou a proposta de enviar uma expedição ao Brasil tendo à frente o
próprio Vilegagnon.
Essa expedição chegou ao Rio de Janeiro
em 10 de novembro de 1555. Porém, meses depois de chegar ao Brasil, Vilegagnon
percebeu que a única forma de sua colônia ser bem-sucedida era ela ser formada
por homens virtuosos, e não apenas por mercenários. Então, o diplomata francês
enviou uma carta ao Velho Continente pedindo que pastores protestantes viessem
ao Brasil fazer parte desse grande empreendimento. Dois deles, chamados Pierre
Richier e Guillaume Chartier, atendem ao chamado e se fazem acompanhar ao Brasil
de vários outros valorosos protestantes.
Esses irmãos huguenotes - como eram
chamados os protestantes franceses - chegaram ao Brasil em 7 de março de 1557
e, apenas três dias depois, em 10 de março, realizaram o primeiro culto
protestante em solo brasileiro. O culto foi dirigido pelo pastor Pierre
Richier, que contava à época com 50 anos de idade, sendo auxiliado pelo jovem
pastor Guillaume Chartier, de 30 anos.
Naquela oportunidade, o veterano pastor
pregou um fervoroso sermão, com base no texto de Salmos 27, versículo 4, que
diz: "Uma coisa pedi ao Senhor e a buscarei: que possa morar na Casa do
Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do Senhor, e
aprender no seu Templo". Ainda naquele primeiro culto, eles entoaram um
hino de louvor a Deus, o Salmo 5 do Saltério Genebrino.
No dia 21 de março de 1557, 11 dias
depois do primeiro culto protestante em nosso país, aqueles crentes liderados
pelos pastores Richier e Chartier celebrariam ainda a primeira Ceia do Senhor.
Aqueles homens chegaram à nossa nação com o coração ardendo pela missão de
proclamar o Evangelho em plagas brasileiras e de tornar o nosso país um lugar
de adoração ao Deus vivo e verdadeiro. Havia grande expectativa pelo que Deus
poderia fazer naquele lugar.
Entretanto, uma onda de perseguição se
abateu sobre eles. O próprio vice-almirante Vilegagnon, um católico que
inicialmente os havia recebido tão bem, acabou se levantando contra os nossos
irmãos huguenotes. Diante da forte perseguição, a maioria de nossos irmãos
fugiu de volta para a Europa, mas três foram executados nesta ilha,
vergonhosamente, a mando de Vilegagnon, que por esse ato passou para a história
como "O Caim da América".
Os nomes desses
primeiros mártires em solo brasileiro são Jean de Bourdel, Mathieu Verneuil e
Pierre Bourdon. Eles foram executados em 9 de fevereiro de 1558, sendo
estrangulados e depois jogados ao mar da muralha do lado norte desta ilha, que
é a única estrutura que resta das obras originais daquela época.
Depois desses nossos irmãos, outro
mártir desse grupo ainda derramaria seu sangue em nosso país: Jacques Lê
Balleur, que chegou a evangelizar os índios no Rio de Janeiro. Em 1567, Balleur
foi enforcado em Salvador, Bahia, por ordem do governador-geral português Mem
de Sá e com a assistência do padre jesuíta espanhol José de Anchieta.
Jean de Bourdel, ao ser levado à execução,
exortou em voz alta os seus colegas a não desanimarem diante da morte e subiu a
muralha da execução entoando salmos e louvores a Deus. E um de nossos irmãos,
Mathieu Verneuil, diante da morte, fez a seguinte oração, que Deus registrou no
seu Santo Livro naquele dia: "Ó Deus eterno, visto que pela causa do Teu
Filho Jesus Cristo hoje morremos; visto que pela defesa da Tua Santa Palavra e
Doutrina nos conduzem à morte, lembra-te dos Teus servos e ajuda-os! Toma em
Tuas mãos esta causa neste lugar, a fim de que nem Satanás, nem os poderes do
mundo alcancem vitória sobre nós"!
Os séculos se passaram, mas essa
oração foi ouvida e respondida por Deus. Hoje, os filhos desta causa são 50
milhões em nosso Brasil, para honra e glória do nome do Senhor Jesus Cristo. O
Evangelho não deixou de florescer no Brasil.
Reverberação: Subsídios EBD