Assunto:
Reforma Protestante: história, ensinos e legado.
Lição: Jovens e Adultos
Trimestre: 4°
de 2017
Comentarista:
Pr. Gilmar Vieira Chaves
Editora:
Central Gospel
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Efésios
2. 1-10
1
E VOS vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados,
2
Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das
potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência.
3
Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne,
fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da
ira, como os outros também.
4
Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos
amou,
5
Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo
( pela graça sois salvos ),
6
E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais,
em Cristo Jesus;
7
Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua
benignidade para conosco em Cristo Jesus.
8
Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de
Deus.
9
Não vem das obras, para que ninguém se glorie;
10
Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais
Deus preparou para que andássemos nelas.
TEXTO ÁUREO
Porque pela graça sois
salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras,
para que ninguém se glorie. Efésios 2.8,9
SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DIÁRIO
2ª feira - Tito 2.11; 3.7: Justificados pela sua
graça
3ª feira - Romanos 4.1-16: É
pela fé, para que seja segundo a Graça
4ª feira - Romanos 5.18-21: Superabundante graça
5ª feira - Romanos 6.1-4: Permaneceremos no pecado?
6ª feira - Gaiatas 4.21-31: Somos
filhos da Livre
Sábado - Mateus 21.12,13: Vós
a tendes convertido em covil
OBJETIVOS
Ao
término do estudo bíblico, o aluno deverá:
• conhecer o entendimento
romano sobre a participação humana na salvação;
• compreender o princípio de sola
gratia;
• entender que
ninguém é capaz de alcançar as bênçãos divinas (materiais e/ou espirituais;
para esta vida e/ou para a vindoura) por méritos próprios.
ORIENTAÇÕES
PEDAGÓGICAS
Prezado professor,
Uma aula pode ser definida como o período de tempo em que se
processam as atividades de ensino e aprendizagem.
Para que a aula aconteça de forma produtiva, é necessário que
seja antecedida peia elaboração de um planejamento. É impossível ministrar
aulas que correspondam às expectativas educacionais sem dar total atenção à
fase de elaboração de um plano de trabalho didático.
O que é um plano de aula? Seguem
algumas definições:
• uma previsão quanto aos
objetivos, conteúdo, procedimentos, recursos e avaliação a serem utilizados no
contexto da aula;
• um roteiro para orientar o professor no alcance dos objetivos
educacionais;
• uma sistematização das
atividades que vão acontecer em classe, evitando, assim, a improvisação e o
desperdício de tempo e de recursos. Excelente aula!
COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Como mencionamos na lição anterior, o ser humano, via de regra,
não se sente confortável com o fato de depender de outrem para satisfazer suas
necessidades e anseios — elementares ou profundos —, e esse desconforto
estende-se a todas as áreas da vida. De modo geral, o homem não consegue
aceitar que a salvação de sua alma não depende, em nada, dele mesmo, mas única
e exclusivamente de Deus.
Nesta
lição, veremos que na Idade Média, sobretudo, a doutrina da salvação pela Graça
foi completamente abandonada, sendo restabelecida pela teologia reformada.
1. O ENTENDIMENTO
ROMANO QUANTO À PARTICIPAÇÃO HUMANA NA SALVAÇÃO
Muitos
cristãos reformados acreditam que os católicos apregoam a salvação pelas obras,
enquanto os protestantes anunciam a salvação pela Graça. Apesar de ser um
entendimento comum, é preciso dizer que ele não é verdadeiro: os romanistas não
ensinam que somos salvos apenas pelas obras que praticamos.
Onde
está, afinal, o ponto de cisão entre romanistas e reformados? Está em uma única
palavra: sola (somente). Enquanto os reformados sustentam que somos salvos
somente pela Graça, a Igreja Romana entende que há participação humana nesse
processo. É o que veremos a seguir.
1.1. A doutrina das
indulgências
Resumidamente,
pode-se dizer que a Igreja Romana entendia que as indulgências (It. indulgentia
= gentil) serviam para reparar, total ou parcialmente, os males decorrentes do
pecado — sendo que o pecado já é perdoado no sacramento da confissão.
Em
outras palavras, significa dizer que, para os romanistas, as indulgências
(obtidas pela prática de boas obras) não estavam relacionadas ao perdão dos
pecados, mas ao perdão da pena temporal causada pelo pecado — elas seriam
semelhantes ao ladrão que, conseguindo o perdão daquele que foi roubado, deve
restituir o dono com o dinheiro equivalente ao que foi extorquido.
1.1.1. Refutação reformista
à doutrina das indulgências
Lutero
discorreu sobre as práticas abusivas de venda de indulgências. Em suas teses,
ele afirmou que o arrependimento requerido por Cristo para o perdão dos pecados
envolve arrependimento espiritual interior, não apenas a confissão sacramental
exterior.
No terceiro
volume das Institutos da Religião Cristã, de Calvino (capítulo 5; seções 1—5),
o pensamento romano também é contestado. Nele, são abordados temas como: (1) a
indulgência, além de grosseira mistificação, é blasfemo vilipêndio da redenção
operada no sacrifício de Cristo, como a Escritura o comprova (seção #2); (2) as
indulgências contradizem a Graça, pois são convertidas em compensações
erroneamente concebidas por meritórias diante de Deus (seção #5).
O comércio de indulgências refere-se aos abusos cometidos
pelo Clero na concessão de indulgências. Os primeiros registros dessa
prática arbitrária remontam ao século 13.
Nesse período (séc. 13 - 16), surgiu a figura do perdoador profissional. Johann
Tetzel chegou às raias do absurdo, ao afirmar que quando uma moeda tilintava no
cofre, uma alma saía do Purgatório.
1.2. A doutrina do
purgatório
A
doutrina do purgatório foi aprovada no Concílio de Florença (1438—1445) e
definitivamente confirmada no Concílio de Trento (1549—1563); todavia, ela já
era ensinada desde 1070.
Segundo
essa doutrina, advinda de uma antiga crença pagã, os cristãos parcialmente
santificados — no caso, a maioria — passariam por uma espécie de purificação
para, somente depois, entrarem na comunhão eterna. Vale destacar que, para a
Igreja Romana, o Purgatório não é um lugar, mas sim um estado.
Para
os romanistas, todo ser humano traz consigo certa desordem interior, que deve
ser extinta nesta vida. Na confissão — ainda segundo a Igreja Romana —, o homem
recebe o perdão dos seus pecados, mas, na grande maioria das vezes, a raiz de
iniquidade não é totalmente removida, e, por isso, ele (o homem) acaba
reincidindo nas mesmas faltas. Apenas no Purgatório essa desordem interior é
totalmente destruída, possibilitando a alma chegar ao céu em plena comunhão com
Deus, que rejeita todo pecado.
1.2.1. Refutação reformista
à doutrina do purgatório
No
terceiro volume das Institutos da Religião Cristã, de Calvino (capítulo 5;
seções 6—10), o pensamento romano é contestado. A sexta seção, inclusive,
recebeu o seguinte título: Dadas suas sérias consequências e a natureza
blasfema de que se reveste, forçoso se faz refutar a doutrina do purgatório.
Nas seções subsequentes, são abordados temas como: (1) é
improcedente o respaldo que se deriva de Mateus 12.32 à doutrina do purgatório,
bem como de passagens paralelas e de Mateus 5.25,26 (seção #1); (2) tampouco
Filipenses 2.10, Apocalipse 5.13 e 2 Macabeus 12.43 respaldam o Purgatório
(seção #8); (3) tampouco 1Coríntios 3.12-15 oferece fundamento à doutrina do
purgatório (seção #9).
2. SOM GRATIA
Lutero
defendeu arduamente a ideia de que o pecador é incapaz de, por si só, prover ou
apropriar-se da salvação. Assim, atacou todo sistema de indulgências,
peregrinações e penitências adotado pela Igreja Medieval, opondo-se, do mesmo
modo, à doutrina do purgatório.
O
monge agostiniano compreendeu que, para derrotar a ideia de
meritocracia
apregoada por Roma, ele teria de ir à raiz da
controvérsia: a graça divina (Ef 2.8,9).
2.1. Definição do termo
Esse
termo indica, antes de tudo, que o onipotente Deus Trino, o Criador dos céus e
da terra, o Soberano da salvação, oferece Sua graça remidora a homens e
mulheres, culpados e indignos, de modo tal, que se lhes torna impossível não
responder a esse favor imerecido com regozijo e submissão voluntária.
A
teologia reformada entende que, quando o cristão verdadeiramente experimenta a
graça soberana do Altíssimo, ele compreende também seu real significado: se a
Graça não for livre e soberana, ela não é Graça.
2.2. As epístolas paulinas
Paulo,
não os reformadores, foi quem maior destaque deu ao tema graça. Das 155
referências existentes em relação ao favor imerecido concedido por Deus aos
homens, 133 são dele. A Graça abre e fecha boa parte de suas epístolas; sendo a
nota primordial de seus escritos (1Co 3.10; 2 Co 4.15; 8.1; Fp 1.7; Cl 1.6; 1Ts
5.28; 2 Ts 2.16; 1Tm 1.14; 2 Tm 1.9; Tt 2.11; 3.7).
Vejamos
o que ele destacou em três de suas cartas (aos romanos, aos gaiatas e aos
efésios).
2.2.1. Romanos
A
carta aos romanos é um dos livros neotestamentários que mais enfatiza a
maravilhosa graça divina. O tema central da epístola é: o justo Senhor
justifica e, por fim, une judeus e gentios pela Graça, mediante a fé,
tornando-nos, todos, coerdeiros do Reino dos céus (Rm 4.16) — esse capítulo de Romanos (4), aliás, é central para a
afirmação de que a justificação ocorre somente pela graça de Deus, mediante a
fé. Além disso, nessa carta, Paulo diz que a Graça determina a paz entre os
homens e Deus (Rm 5.2); traz verdadeira libertação do domínio do pecado (Rm
5.20,21; 6.14) e capacita os cristãos a servirem à Igreja (Rm 12.6).
2.2.2.
Gálatas
Paulo
utilizou duas personagens veterotestamentárias (Sara e Agar) para apresentar
aos gaiatas as diferenças entre os dois Concertos: a Lei e a Graça (Gl
4.21-31). Com essa ilustração, o apóstolo reiterou a impotência da Lei no que
diz respeito à justificação do homem (Gl 3.10-14). O apóstolo concluiu a
alegoria dizendo que a observância à Torah é desnecessária, pois somos filhos
não da escrava (a Lei), mas da livre (a Graça) (Gl 4.31).
2.2.3.
Efésios
Paulo
diz, em sua carta aos efésios, que o homem está morto em seus delitos e pecados
(Ef 2.1,2). Não se deve entender com essa afirmativa que todas as pessoas são
igualmente más, ou que todas são tão más quanto poderiam ser, ou que todas
estão destituídas de quaisquer virtudes, ou que a natureza humana é má em si
mesma.
O
homem natural, pela graça comum de Deus, pode, sim, ser um bom cidadão,
cultivar virtudes elevadas e ter valores morais sólidos; todavia, nada do que
ele faça nesta vida pode livrá-lo de seu pecado original (Rm 3.23; 6.23), senão
a graça salvífica (Ef 2.8,9).
Se a fé é o meio humano pelo qual alcançamos a salvação
(Ef 2.8), a Graça é o recurso divino no qual depositamos a nossa fé.
3. ADVERTÊNCIA À
IGREJA REFORMADA: TUDO, TÃO SOMENTE PELA GRAÇA
O
princípio da sola gratia, extraído da Escritura, traz--nos dois entendimentos
fundamentais: (1) todos, invariavelmente, estamos sujeitos ao pecado e temos
inclinações pecaminosas; (2) todos, indistintamente, somos incapazes de
alcançar as bênçãos divinas (materiais e/ou espirituais; para esta vida e/ou para
a vindoura) por méritos próprios — tudo é fruto da Graça.
3.1. Não se podem comprar
bênçãos: nem materiais, nem espirituais; nem para esta vida, nem para a eterna
A
concessão de indulgências em troca de dinheiro, na Igreja Romana medieval,
acabou se transformando em um mércio de bênçãos espirituais — bênçãos essas que
jamais puderam (e jamais poderão) ser negociadas, tais como: perdão, remissão
de pecados e expiação.
Infelizmente,
a comercialização da fé não é um fenómeno que ficou restrito às cercanias
medievais. Nos dias atuais, muitas comunidades ditas cristãs aperfeiçoaram essa
antiga prática romanista.
Os
atuais mercadores da fé não vendem a salvação, mas supostas relíquias que,
segundo eles, teriam poderes sobrenaturais — como pedaços da arca de Noé, da
arca da aliança, da capa de Elias e até da cruz de nosso Salvador. Os atuais
mercadores da fé, desconsiderando a supremacia da obra de Cristo, têm vendido,
até, visitas a idosos e enfermos.
Na
Era das Trevas, a Igreja Romana comercializava bênçãos espirituais e eternas;
na pós-modernidade, comunidades protestantes têm comercializado bênçãos
materiais e terrenas; a ambos os grupos, a teologia reformada grita: sola
gratia!
Sem a graça divinal, não haveria preservação
da vida, provisão de ordem alguma, consciência, livre volição, cura, perdão ou
qualquer
outro
elemento capaz de conferir beleza ou sentido à existência.
O Eterno concede Sua maravilhosa Graça ao homem,
democrática,
livre e ininterruptamente, sem que haja nele
(no homem) a possibilidade de oferecer-Lhe o que quer que seja em retribuição
(Ef 2.8); pois, como bem observou Paulo: todas as coisas são Dele, e por Ele, e
para Ele (Rm 11.36).
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CONCLUSÃO
A doutrina das
indulgências e a doutrina do purgatório relativizaram a doutrina da salvação
unicamente pela Graça, retomada por Lutero e desdobrada, com fervor, pelos
teólogos reformados.
Que
esse entendimento seja, para a Igreja de Cristo, o grande legado da Reforma
Protestante: alcançamos as bênçãos divinas (materiais e/ou espirituais; para
esta vida e/ou para a vindoura) pela Graça, somente.
ATIVIDADE
PARA FIXAÇÃO
1.
Considerando o que foi exposto nesta lição, responda: o princípio da sola
gratia, extraído da Escritura, traz-nos quais entendimentos fundamentais?
R.: (1) Todos, invariavelmente, estamos sujeitos ao pecado e
temos inclinações pecaminosas;
(2) todos, indistintamente, somos incapazes de alcançar as
bênçãos divinas por méritos próprios — tudo é Graça.