Assunto:
Reforma Protestante: história, ensinos e legado.
Lição: Jovens e Adultos
Trimestre: 4°
de 2017
Comentarista:
Pr. Gilmar Vieira Chaves
Editora:
Central Gospel
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Atos
4.5-12,19,20
5
E aconteceu, no dia seguinte, reunirem-se em Jerusalém os seus principais, os
anciãos, os escribas,
6
E Anás, o sumo sacerdote, e Caifás, e João, e Alexandre, e todos quantos havia
da linhagem do sumo sacerdote.
7
E, pondo-os no meio, perguntaram: Com que poder ou em nome de quem fizestes
isto?
8
Então Pedro, cheio do Espírito Santo, lhes disse: Principais do povo, e vós,
anciãos de Israel,
9
Visto que hoje somos interrogados acerca do benefício feito a um homem enfermo,
e do modo como foi curado,
10
Seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus
Cristo, o Nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou
dentre os mortos, em nome desse é que este está são diante de vós.
11
Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por
cabeça de esquina.
12
E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome
há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.
19
Respondendo, porém, Pedro e João, lhes disseram: Julgai vós se é justo, diante
de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus;
20
Porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido.
TEXTO ÁUREO
Porque
há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem. 1
Timóteo 2.5
SUBSÍDIOS PARA O
ESTUDO DIÁRIO
2ª feira - Romanos 8.31-39: Cristo,
nosso intercessor
3ª feira - Hebreus 7.20-28: O
sacerdócio perpétuo
4ª feira - Mateus 7.7-12: Aquele que
pede recebe
5ª feira - Hebreus 4.14-16: O
sacerdócio universal dos crentes
6ª feira - João 15.1-27: Estai em
mim, e eu, em vós
Sábado -
Lucas 1.46-56: A minha alma engrandece ao Senhor
OBJETIVOS
Ao
término do estudo bíblico, o aluno deverá:
• conhecer o
entendimento romano a respeito da co-media-ção;
• compreender o
princípio de solus Christus;
• entender em
que consiste o sacerdócio universal dos crentes.
ORIENTAÇÕES
PEDAGÓGICAS
Caro professor,
É importante deixar claro para os alunos, no decorrer das
lições, que, sob alguns aspectos, os reformadores não deixaram de ser católicos
(na aparência ou na essência).
Lutero não tinha por objetivo fundar uma nova igreja; ele era
absolutamente contrário à ideia de criar uma comunidade independente — e
provavelmente lhe causaria surpresa saber que existe, hoje, uma igreja
luterana.
O monge agostiniano pretendia, antes de tudo, reformar a
Cristandade. E, de certa forma, seu propósito foi alcançado, pois, com o passar
dos séculos, a Igreja Romana abriu-se para muitas mudanças reivindicadas pelos
reformadores. Porém, em outros tantos pontos, a cisão foi inevitável, como
veremos nesta lição, que abordará a co-mediação, doutrina defendida pelos
romanistas ainda hoje.
Excelente aula!
COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Martinho
Lutero disse que Jesus é o centro e a circunferência da Bíblia. Em outras
palavras, significa dizer que o que Cristo fez (em Sua morte e ressurei-ção)
formam — em si e por si — as entranhas de toda Escritura.
O
fundamento da fé protestante consiste nisto: Cristo, e somente Ele, é o único
Mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5a), porque debaixo do céu nenhum outro
nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos (At4.12b).
Cristo é o Cabeça de todos os crentes, os
quais são o seu corpo e, sem Ele, o corpo está morto (Ulrico Zuínglio).
1. O ENTENDIMENTO
ROMANO A RESPEITO DA CO-MEDIAÇÃO
Tanto
a Igreja Romana quanto a Igreja Reformada professam a encarnação de Cristo, Seu
nascimento virginal, Sua divindade, bem como Sua morte vicária e ressurreição.
Entretanto, a Igreja Romana distanciou-se do verdadeiro Evangelho, ao
estabelecer, no decorrer da História, práticas absolutamente espúrias, tais
como: o culto a Maria e a intercessão dos santos. Além disso, também instituiu
a figura do sacerdote, a quem, supostamente, foi conferido o poder de perdoar
pecados, mediante a recomendação de penitências.
A
grande questão, portanto, é que a Igreja Romana não pregava a suficiência e
exclusividade da obra redentora de Cristo. Maria, os santos e os clérigos foram
elevados à condição de intercessores dos homens junto ao Pai.
1.1. O dogma da maternidade
divina
No transcurso de dois mil anos de História da Igreja, foram
estabelecidos quatro dogmas marianos (doutrinas oficiais relacionadas à Maria,
mãe do Senhor), a saber: dogma da maternidade divina; dogma da virgindade
perpétua; dogma da imaculada conceição e dogma da assunção.
O que levou a Igreja Romana a dar
os primeiros passos no sentido de decretar o dogma da maternidade divina (Maria
como mãe de Deus) foi a polémica acerca das naturezas divina e humana de
Cristo, que ganhou força no Concílio Geral de Éfeso (431 d.C).
O argumento romano para
estabelecer esse dogma tinha suas bases fincadas na filosofia grega, que
defendia a impossibilidade de um Deus (imaterial) entrar em contato com um universo
(material) e, ainda assim, permanecer inalterado em sua essência. Para os teólogos
romanos, o nascimento do Homem-Deus (Cristo), sob a égide da lógica, só seria
possível se, imprescindivelmente, a natureza de Sua mãe fosse, do mesmo modo,
divina. Os defensores do culto mariano arrazoam: Maria é mãe de Jesus Cristo;
ora, Jesus Cristo é Deus. Logo, Maria é mãe de Deus.
É importante destacar, em relação ao dogma da maternidade
divina, que:
• humanos geram humanos —
a humanidade de Jesus advém da humanidade da mulher (Maria), que o abrigou em
seu ventre;
• a divindade é um atributo imanente, único e exclusivo, da
Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo); significa dizer que a divindade de
Cristo não advém de Maria, mas do Eterno.
Por
volta do século nono, observa-se que a mariologia ocidental sofreu grande
influência grega. Na teologia romana. Maria assumiu a função de intercessora,
fazendo a vez de co-mediadora entre Jesus e os homens, como fez em Cana da
Galileia (Jo 2.3).
1.1.1. Refutação reformista
ao dogma da maternidade divina
Lutero,
inicialmente, defendia os dogmas marianos (maternidade divina, virgindade
perpétua e imaculada conceição). Entretanto, até onde conseguiu caminhar
espiritualmente, já não a via mais como mediadora — essa afirmação pode ser
comprovada em sua obra intitulada Magnificai (engrandece), onde o monge
agostiniano interpreta o cântico de Maria (Lc 1.46-56).
No fim desse livro, Lutero escreveu: (...) Para obviar este
erro, note isto literalmente: Maria, encontraste graça junto de Deus. Então
aprendas a ter-te por uma pessoa humana que chegou à graça, e não que deve
distribuir graça. Pois para isso foi destinado o teu Filho, nosso amado Senhor
Jesus, para que busquemos graça dele e por ele devamos chegar à graça.
1.2. A doutrina da
intercessão dos santos
Para
a Igreja Romana, os homens e mulheres que morreram na amizade do Senhor (os
santos — pessoas que foram canonizadas por servirem a Deus e aos homens de modo
louvável) podem interceder ao Pai por aqueles que se encontram na terra.
O
Romanismo acreditava (e acredita) que os santos que já morreram podem
interceder pelos que estão vivos, mesmo não sendo oniscientes e onipresentes. A
teologia romana também não via (e não vê) qualquer relação dessa prática com a
evocação de mortos.
Um escritor católico disse certa vez: Nenhum escrito da
era da Reforma é mais temido pelos católicos romanos — e mais zelosa e
hostilmente combatido — que as Institutas de João Calvino.
1.2.1. Refutação reformista
à doutrina da intercessão dos santos
No
terceiro volume das instituías da Religião Cristã, de Calvino (capítulo 20;
seções 17—26), o pensamento romano é contestado. Nele, são abordados temas
como:
(1)
embora intercessores em favor de outros, aos fiéis não assiste a função
mediatorial, visto ser Cristo o único e perpétuo mediador (seção #20; conf. 1Jo
2.1; Rm 8.34; 1Tm 2.5);
(2)
improcedência da tese de que os santos que deixaram esta vida continuam a
agirem nosso favor, já que não subsiste nenhuma comunhão entre nós e eles
(seção #24; conf. Ec 9.5,6).
1.3. O sacramento das
penitências
O
sacramento da penitência (ou reconciliação) está baseado nos textos de Mateus
(16.19; 18.18), João (20.21-23) e Paulo (2 Co 5.18). A Igreja Romana entende
que o poder de perdoar pecados foi transmitido pelo Senhor aos sucessores dos
apóstolos.
Lutero manifestou-se contrário à
confissão aos clérigos e às subsequentes penitências, ante os abusos cometidos
pela Igreja Romana na Idade Média — como o pagamento de indulgências, por
exemplo. Desde então, nas igrejas reformadas, a confissão passou a integrar o
culto.
1.3.1. Refutação reformista
ao sacramento das penitências
No
terceiro volume das Institutos da Religião Cristã, de Calvino (capítulo 4;
seções 1—39), o pensamento romano relativo à reconciliação com Deus é
contestado. Nele, são abordados temas como:
(1)
a confissão ensinada nas Escrituras é confissão a Deus, não a sacerdotes (seção
#9; conf. SI 32.5; Dn 9.5);
(2)
o inominável tormento da exigência de enumerar, em confissão, todos os pecados
cometidos (seção #17; SI 19.12);
(3)
a doutrina romanista da satisfação contradiz o ensino bíblico da remissão
graciosa dos pecados (seção #25; conf. Is 52.3; Rm 3.24,25; 5.8; Cl 2.13,14; 2
Tm 1.9; Tt 3.5).
2. SOLUS CHRISTUS
A
centralidade de Cristo nas Escrituras foi firmemente defendida pelos
reformadores. As 67 teses de Ulrico Zuínglio (escritas em 1523), aliás,
enfatizam essa realidade de modo mais contundente que as de Lutero.
Dentre as afirmações de Zuínglio, destacamos as que seguem: A
essência do Evangelho é que nosso Senhor Jesus Cristo, o verdadeiro Filho de
Deus, tornou conhecida a nós a vontade de seu Pai celestial e nos redimiu, por
meio de Sua inocência, da morte eterna e nos reconciliou com Deus (Tese #2).
Cristo é o único Mediador entre Deus e nós (Tese #19). Somente Deus perdoa
pecados unicamente por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor (Tese #50).
2.1. O tríplice ofício de
Cristo
Os
herdeiros do movimento reformador consideraram oportuno refletir a respeito do
tríplice ofício de Cristo (profeta, sacerdote e rei), por estarem convictos de
que Cristo, e somente Cristo, está apto a ser o Mediador entre Deus e o homem
[A Confissão Batista de Londres (1689)].
Em
que consiste, o tríplice ofício de Cristo? Vejamos resumidamente:
•
Profeta —
Como profeta, Jesus é o único que nos pode revelar o que Deus tem planejado
para a humanidade desde os tempos eternos; e Ele faz isso por intermédio de Sua
própria pessoa; por meio da Palavra de Deus escrita e pela particular
inspiração do Espírito Santo (Mt 21.10,11).
• Sacerdote — Jesus
atua como sacerdote em dois níveis:
(1)
Ele oferece a si mesmo como sacrifício vivo, proporcionando, por meio desse
ato, a justificação perfeita pelo nosso pecado;
(2)
Ele intercede por nós ao lado direito do Pai, no céu, garantindo assim nosso
direito de sermos ouvidos (Hb 7.26-28).
• Rei — Cristo é o Rei de
um domínio eterno e espiritual. Ele satisfaz nossa necessidade de disciplina e
orientação por Seu domínio justo e amoroso sobre a Igreja (Mt 2.1-6; 1Tm
6.13-15).
De forma geral, desde a Reforma Protestante, os estudiosos
das Escrituras costumam categorizar a obra de Cristo em três dimensões
distintas, a saber: profeta, sacerdote e rei; e essas classificações estão vinculadas
aos papéis que o Messias exerceu em Seu ministério terreno, a saber: Mestre,
Salvador e Soberano.
3. ADVERTÊNCIA A
IGREJA REFORMADA: 'CRISTO! SOMENTE CRISTO!
Muitas
pessoas não se sentem confortáveis com o fato de dependerem de alguém para
satisfazer suas necessidades e anseios — essa é uma característica da natureza
humana.
Esse
anseio por autonomia faz com que homens e mulheres — de todos os lugares e em
todos os tempos — sintam-se obrigados a acrescentar algum elemento ao
sacrifício de Cristo, a fim de sentirem-se coparticipantes de sua própria
salvação.
Cristãos
reformados, inclusive — mesmo não vendo em Maria, ou nos santos, ou nas
penitências um meio de chegar ao Senhor —, adotam práticas que julgam eficazes
na pavimentação do caminho que conduz ao Pai. Vejamos duas dessas práticas, a
seguir.
3.1. Sacrifícios
Nada
— nem ninguém — pode mediar nossa relação com o Eterno, senão Seu Filho.
Associar a salvação a qualquer mérito humano é anular o perfeito sacrifício de
Cristo, realizado de uma vez por todas, em favor de todos os que Nele creem.
3.2. Atividades
eclesiásticas
Como
membros do Corpo de Cristo, somos encorajados a congregar (Hb 10.25), pois, nos
cultos, somos edificados e consolados pela mediação do Filho de Deus; todavia,
não devemos, jamais, limitar a vida cristã à participação exaustiva nas
reuniões eclesiais.
O
Cristo ressurreto deve estar em nosso dia a dia, enchendo-nos da Sua presença e
amor, para que vivamos por Ele e para Ele (Rm 11.36).
CONCLUSÃO
O
autor da Carta aos Hebreus traz a lume a plena dimensão do sacerdócio universal
dos crentes (Hb 4.14-16): não necessitamos de clérigos ou de outros mediadores
entre nós e Deus, senão de nosso Senhor Jesus Cristo.
Os
reformadores preocuparam-se em resgatar o Evangelho simples dos apóstolos,
centrado na suficiência do Cordeiro Santo de Deus. Portanto, façamos da
confissão paulina a nossa declaração: Porque nada me propus saber entre vós,
senão a Jesus Cristo e este crucificado (1Co 2.2).
ATIVIDADE PARA
FIXAÇÃO
1.
De acordo com a lição de hoje, responda: qual o entendimento da Igreja Romana a
respeito da co-mediação?
R.: A Igreja Romana não pregava a suficiência e exclusividade da
obra redentora de Cristo.
GLOSSÁRIO
Imanente
— Diz-se daquilo que está intrinsecamente compreendido na essência de um ser.
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