Assunto:
Reforma Protestante: história, ensinos e legado.
Lição: Jovens e Adultos
Trimestre: 4°
de 2017
Comentarista:
Pr. Gilmar Vieira Chaves
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Habacuque
2.1-4
1
SOBRE a minha guarda estarei, e sobre a fortaleza me apresentarei e vigiarei,
para ver o que falará a mim, e o que eu responderei quando eu for arguido.
2
Então o SENHOR me respondeu, e disse: Escreve a visão e torna bem legível sobre
tábuas, para que a possa ler quem passa correndo.
3
Porque a visão é ainda para o tempo determinado, mas se apressa para o fim, e
não enganará; se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará.
4
Eis que a sua alma está orgulhosa, não é reta nele; mas o justo pela sua fé
viverá.
Romanos
5.1,2,9,18,19
1
TENDO sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor
Jesus Cristo;
2
Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e
nos gloriamos na esperança da glória de Deus.
9 Logo muito mais agora, tendo sido
justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.
18
Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para
condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os
homens para justificação de vida.
19
Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores,
assim pela obediência de um muitos serão feitos justos.
TEXTO ÁUREO
Porque
nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo
viverá da fé. Romanos 1.17
SUBSÍDIOS PARA O
ESTUDO DIÁRIO
2ª feira -
Tiago 1.19-27: A religião pura e imaculada
3ª feira -
Romanos 3,21-25: A justificação pela fé em Cristo
4ª feira -
Salmo 103: O Senhor faz justiça e juízo a todos
5ª feira -
Efésios 2.1-10: Pela Graça mediante a fé
6ª feira -
Isaías 1.10-20: Já estou farto dos holocaustos
Sábado -
Apocalipse 2.1-7: Lembra-te, pois, de onde caíste
OBJETIVOS
Ao
término do estudo bíblico, o aluno deverá:
•
compreender que o estopim da Reforma Protestante está associado ao modo como
os cristãos apropriam-se da salvação;
• saber que, na
Idade Média, a Igreja Romana afirmava que a salvação estava condicionada ao
acúmulo de méritos diante de Deus;
•
discorrer sobre o significado de ser justificado somente pela fé;
• refletir sobre o
fato de que, diante dos imperativos da pós-modernidade, a Igreja vem perdendo,
gradativamente, sua relevância histórica.
ORIENTAÇÕES
PEDAGÓGICAS
Caro
professor,
Dentro de uma denominação, em termos gerais, a maioria das pessoas
se conduz por uma linha doutrinária parecida. Contudo, em pontos secundários
sempre há variação, independente da posição oficial da Igreja.
Ninguém pensa absolutamente igual.
A própria Bíblia reconhece e respeita a variedade de pensamento
entre os irmãos: Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos
os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo (Rm 14.5).
A tarefa do professor é levar o educando a refletir. O educador
cristão deve enxergar um teólogo em cada aluno, ou seja, alguém que reflita
sobre teologia (não necessariamente alguém que venha a cursar uma faculdade de
Teologia). Pense nisso!
Excelente aula!
Palavra introdutória
Em 31
de outubro de 1517, Martinho Lutero subiu os degraus da catedral de Wittenberg,
na Alemanha, para afixar em suas portas as 95 teses que desencadeariam a
Reforma Protestante. Esse dia, sem sombra de dúvidas, foi o grande marco de
transição na história universal.
Esse
movimento, de profundas repercussões sociais, políticas e culturais — conforme
veremos na Lição 11 —, destacou algumas verdades bíblicas, as quais formam o
alicerce de nossa evangelização — todos os cristãos evangélicos, sem exceção,
de um modo ou outro, são herdeiros dessa revolução.
Nesta
lição e nas próximas (Lições 3—6), discorreremos sobre os fundamentos
teológicos da Reforma Protestante, especialmente no que tange à soteriologia
dos reformadores [(sola fide =
somente a fé); sola Scriptura
(somente a Escritura); solus Christus
(somente Cristo); sola gratia
(somente a Graça)].
1. E A LUZ BRILHA NAS
TREVAS
A Igreja
Romana afirmava que a salvação estava condicionada ao acúmulo de méritos diante
de Deus. Mesmo que um indivíduo não possuísse créditos suficientes para
alcançar a salvação, os pequenos acúmulos amealhados durante a vida serviriam
para abreviar sua passagem pelo Purgatório. O merecimento de uma pessoa, de
acordo com o Clero, aumentava na proporção da prática de boas obras — como o
pagamento de indulgências, as ações de caridade e a piedade religiosa.
Os
reformistas, em franca oposição a Roma, apregoavam que os pecadores são
declarados justos diante de Deus somente pela fé, somente em Cristo, somente
pela Graça, não mediante as boas obras praticadas.
É preciso salientar, neste
tópico, os seguintes pontos:
• a teologia reformada jamais negligenciou a importância do socorro
aos desfavorecidos, ao contrário, reafirmava que não amparar o necessitado
equivaleria a abandonar um claro ensinamento da Escritura (Tg 1.27; l Jo 3;17);
entretanto, rejeitava toda e qualquer associação dessa obrigação cristã à
aquisição da salvação;
• a piedade religiosa comumente associada às atividades
eclesiásticas, às preces diárias, à devoção aos santos, dentre outras práticas
— era vista como um meio de obter a salvação. A teologia reformada defende o
envolvimento do cristão com a comunidade da qual faz parte; no entanto, não
atribui qualquer valor salvífico a tal condição.
1.1. A posição da Igreja
Romana
A
Igreja Romana sentiu-se obrigada a responder à exposição reformista, e o fez no
Concílio de Trento, um sínodo ecumênico realizado entre 1545 e 1563.
Dentre
as defesas apresentadas por Roma naquela ocasião, destacam-se as listadas a
seguir:
*
os pecadores são justificados pelo batismo;
*
os pecadores são justificados pela fé em Cristo e pelas boas obras que
praticam;
*
a pessoa pode perder sua posição de justificação.
O
pensamento romano — em clara condenação à sola fide — foi resumido em uma
declaração: Se alguém disser que o
pecador é justificado pela fé somente, como entendido que nada mais é requerido
para cooperar com a obtenção da graça da justificação (...) que seja anátema
(Cânon 9 do Concílio de Trento).
Diversos ensinos e doutrinas da Igreja
Romana estavam em pleno desacordo com as Escrituras; Isto desencadeou, à época,
severas controvérsias teológicas. Entretanto, pode-se afirmar que o estopim da
Reforma Protestante está associado ao modo como os cristãos apropriam-se da
salvação.
2. SOLA FIDE
A
adequada compreensão do termo justificação é essencial para o contexto da fé
cristã; portanto, neste tópico, veremos em que consiste a doutrina da
justificação pela fé (sola fide).
2.1. Em que implica a
justificação?
Sem
a justificação, o cristianismo não existiria como realidade redentiva. Os
reformadores tinham convicção da relevância do tema; eles entendiam que é por
meio da justificação que o Senhor nos oferece a possibilidade de sermos considerados
kustos diante de Deus.
Martinho
Lutero denominou a justificação de artigo
principal de toda a doutrina cristã, que, de fato, faz cristãos.
Convicto de que é por meio da fé
que tomamos posse dos benefícios alcançados pelo Cristo ressurreto, e que
nesses benefícios repousam nossa certeza de salvação eterna, Lutero declarou:
Quando nosso conhecimento sobre a justificação foi questionado, tudo o mais o
foi também. [...] A justificação é a essência que dá origem a todas as outras
doutrinas. Ela gera, nutre, edifica, preserva e defende a Igreja de Deus e, sem
ela, a Igreja do Senhor não pode existir. [...] Ela está acima de qualquer
outra doutrina.
O conceito de justificação não foi
elaborado por Paulo, mas sim por Jesus, que declarou que o publicano (e não o
fariseu) desceu justificado para a sua casa (Lc 18.14). Contudo, já no Antigo
Testamento, a ideia estava presente, quando Isaías declarou: ... com o seu
conhecimento, o meu servo, o justo, justificará a muitos, porque as iniquidades
deles levará sobre si (Is 53.11).
2.1.1.
Justificação — significado e uso
O verbo
justificar (gr. dikaioõ), no Novo
Testamento, apresenta uma diversificada série de conceitos, porém o significado
mais usual é declarar justo.
De
acordo com Hans Küng (1928), teólogo suíço, a afirmação divina de justiça é, ao
mesmo tempo e no mesmo ato, um tornar justo. Assim, justificação seria o ato
singular que, concomitantemente, declara justo e torna justo.
O que significa essa assertiva? Se
justo, neste caso, traz a ideia de perdoado, aceito, correio com Deus, então
nos tornamos imediata e totalmente aquilo que Ele afirma que somos, e
usufruímos a condição justa a qual Ele nos atribuiu.
2.2. Em que implica a fé?
De
acordo com a doutrina reformada, somos justificados só e unicamente pela fé,
mas isso não significa uma esperança estéril, estática ou morta em si mesma.
Paulo,
na carta que escreveu aos efésios, faz-nos entender que não somos salvos pelas
obras que praticamos, mas, sim, para as boas obras, as quais Deus preparou para
que andássemos nelas (Ef 2.10); ensinamento corroborado por Tiago, irmão do
Senhor, em sua epístola (Tg 2.14-26): as obras são fruto da salvação, não a
causa dela.
2.2.1.
O que a fé não é
A fé
que justifica o pecador não pode ser entendida como credulidade pura e simples;
tampouco deve estar associada à ideia de mero exercício intelectivo.
A fé
implica, antes de tudo, abandonar nossas presunções de auto justificação nas
mãos de Cristo, admitindo a imensidão de nossa culpa e nossa absoluta
incapacidade de libertar-nos, por meios próprios, de nossos delitos e pecados
(Rm 5.1).
Ter
fé em Jesus não é outra coisa senão isto: deixar-se salvar por Ele.
John Stott (1921—2011), pastor e teólogo britânico, tocou exatamente
nessa questão, quando disse: A justificação pela fé parece-nos ser o coração e
centro, paradigma e essência, de toda a economia da graça salvadora de Deus.
2.2.2.
O que significa viver por fé?
Martinho Lutero encontrou consolo
para suas batalhas espirituais no texto paulino, que chegou a ser um grito de
guerra da Reforma: o justo viverá por fé (Rm 1.17 ARA).
Mas, o que significa viver por fé?
Um
dos grandes erros cometidos pelos cristãos medievais foi acreditar que os homens
de fé eram aqueles que cumpriam com zelo as atividades eclesiais.
Infelizmente,
o que se observa, na atualidade, é o mesmo equívoco cometido naquele tempo:
muitos cristãos protestantes têm confundido fé com convenções religiosas e
exterioridades.
É
preciso que se diga, enfaticamente, que o viver por fé transcende ao formalismo
vazio de sentido.
Viver por fé é infinitamente mais do que vestir-se de um modo
específico, estar em determinado culto, participar de toda agenda eclesiástica
ou erguer as mãos aos céus em sinal de gratidão.
Viver
por fé é, antes de tudo, subjugar a alma ao Espírito de Deus e mergulhar em Sua
paz, sabendo que quem nos justifica é Cristo (1 Jo 2.1). Viver por fé é
compreender que nossas boas obras fazem crescer os frutos da justiça (2 Co
9.10), mas elas não têm qualquer efeito meritório. Em si mesmas, elas não
passam de trapos da imundícia (Is 64.6).
3. ADVERTÊNCIA À
IGREJA REFORMADA: A SECULARIZAÇÃO DA FÉ
Endente-se por secularização da fé
o processo por meio do qual a Igreja recebe influências do meio exterior,
tornando-se cada vez mais irreconhecível. Em outras palavras, como disse o
Prof. Dr. Cláudio Ribeiro: Secularização é o processo pelo qual o sal perde o
seu sabor (Mt 5.13).
Não podemos fechar os olhos a esta realidade: num mundo pós-moderno,
em que a verdade tornou-se mais um produto de consumo (ajustável ao gosto do
freguês), a Igreja vem perdendo sua relevância histórica, gradativamente.
Neste
tópico, veremos que a secularização manifesta-se em nosso meio de duas formas,
basicamente.
3.1. Na ortodoxia hermética
Nesta
manifestação, preservam-se as práticas religiosas, enquanto se esvaem os
conteúdos espirituais.
No
texto bíblico, encontramos vários episódios de ortodoxia hermética (fechada e
estéril), dentre os quais se destacam os seguintes.
•
Israel — O
Altíssimo, por intermédio de Isaías, exortou Israel quanto ao vazio de seus
costumes (Is 1.11,12). Nos dias do profeta, o povo mantinha seus ritos
religiosos, mas a essência de sua espiritualidade havia se perdido; suas
ofertas e orações não tinham qualquer valor para o Senhor.
• A igreja de Éfeso —
Essa comunidade teve o grande privilégio de ser pastoreada por dois apóstolos
(Paulo e João) e quatro evangelistas (Priscila, Áquila, Apoio e Timóteo). Paulo
havia elogiado os cristãos de Éfeso pelo amor a Deus e aos irmãos (Ef 1.5),
mas, no período em que João escreveu o Apocalipse, parece que uma nova geração
não deu continuidade a essa prática (Ap 2.4).
3.2. No descompromisso com a
causa do Evangelho
Enquanto
na ortodoxia hermética os aspectos exteriores da fé podem ser observados, nesta
última manifestação nem mesmo tais exterioridades são percebidas.
Muitos
cristãos reformados, na contramão das exortações bíblicas, têm-se mantido
completamente alheios aos usos e costumes da Cristandade, fazendo romper o elo
que nos mantém conectados à Igreja que nos deu origem.
Dentre
as práticas que revelam o descompromisso com a causa do Evangelho, destacam-se
as seguintes: frequência irregular aos cultos; ausência de contribuição
financeira; comportamentos sociais inadequados, dentre outras tantas.
De Israel à Igreja Reformada, sempre
houve e sempre haverá esperança para os que desejam viver por fé:
arrependimento e mudança de rota.
CONCLUSÃO
Lancemos
um olhar para além das circunstâncias religiosas: a salvação pelas obras, a
ortodoxia hermética e o descompromisso com a causa do Evangelho não
correspondem ao chamamento de Cristo.
Para
os desafios do nosso tempo, a bandeira dos reformadores continua flamejando:
sola fide (só a fé) em Cristo pode levar-nos em segurança aos caminhos eternos.
ATIVIDADE PARA
FIXAÇÃO
1.
De acordo com a lição, responda: nos dias atuais, por quais meios, a secularização
da fé tem-se manifestado no meio cristão?
R.: Na ortodoxia hermética e no descompromisso com a causa do
Evangelho.