“A Igreja católica conde e
mata queimado o pregador do Evangelho de Jesus, por nome João Huss”.
"Vamos cozinhar esse
ganso." O homem a quem essas palavras se referem era João Huss, cujo
sobrenome significa "ganso", em seu idioma pátrio, o tcheco. A pessoa
que proferiu essas palavras se referia ao fato de que Huss seria queimado em
uma fogueira.
Porém, quando o Estado e as autoridades eclesiásticas condenaram Huss,
estavam acendendo a fogueira do nacionalismo e da Reforma da igreja.
VEJA TAMBÉM
Em 1401, João foi ordenado
sacerdote. Ele passou a maior parte de sua carreira ensinando na Universidade
de Praga e pregando na influente Capela de Belém, não muito longe da
universidade.
Embora a terra de Wycliffe
ficasse longe da Boémia, sua influência se espalhou depois que o rei Ricardo II
da Inglaterra casou-se com Ana, irmã do rei da Boémia. Ana abriu caminho para
que os habitantes da Boémia fossem estudar na Inglaterra. Assim, os escritos
reformistas de Wycliffe começaram, lentamente, a se espalhar pela Boémia.
Nas
paredes da Capela de Belém, as pinturas contrastavam o comportamento dos papas
e de Cristo. O papa caminhava montado em um cavalo, mas Cristo andava a pé;
Jesus lavava os pés dos discípulos, e o papa permitia que as pessoas beijassem
seus pés.
O
mundanismo do clero ofendia Huss, que pregava e ensinava contra isso, ao
enfatizar a piedade pessoal e a pureza de vida. Quando enfatizou o papel da
Bíblia na autoridade da igreja, ele elevou a pregação bíblica a um importante
lugar no culto.
Os ensinamentos de Huss se
tornaram populares entre as massas e algumas pessoas da aristocracia,
incluindo-se a rainha. Conforme sua influência na universidade crescia de forma
notável, a popularidade dos textos de Wycliffe também aumentava.
O arcebispo de Praga se
opunha aos ensinamentos de Huss. Ele instruiu Huss a parar de pregar e pediu
que a universidade queimasse os textos de Wycliffe. Quando Huss se recusou a
cooperar, o arcebispo o condenou.
O papa João XXIII (um dos
três papas do Grande Cisma, também conhecido por "antipapa") colocou
Praga sobre interdito — ato que efetivamente excomungava toda a cidade, porque
ninguém ali poderia receber os sacramentos da igreja. Huss concordou em sair de
Praga para ajudar a cidade, mas continuou a atrair multidões enquanto pregava
nas igrejas e organizava reuniões ao ar livre.
Huss suscitou a oposição do
clero não apenas por denunciar o estilo de vida imoral e extravagante do clero
— incluindo o papa —, mas ao afirmar que somente Cristo é o cabeça da igreja.
Em seu livro Sobre a igreja, defende a autoridade do clero, mas afirma que
somente Deus pode perdoar os pecados. Huss disse também que nenhum papa ou
bispo poderia estabelecer doutrinas contrárias à Bíblia, assim como nenhum
cristão verdadeiro poderia obedecer às ordens de um clérigo se elas estivessem
claramente equivocadas.
Em 1414, Huss foi convocado
ao Concilio de Constança para defender seus ensinamentos. Sigismundo, imperador
do Sacro Império Romano, prometeu-lhe salvo-conduto.
O concilio já tinha uma
opinião formada sobre Huss. Ele foi preso imediatamente após sua chegada. O
concilio condenou tanto os ensinamentos de Wycliffe quanto os de Huss, que
defendia as ideias de Wycliffe.
Sob ataque, Huss se recusou a
negar que afirmara que quando um papa ou um bispo estivesse em pecado mortal,
ele deixava de ser papa ou bispo. Em sua defesa oral, complementou suas
declarações dizendo que o rei também deveria fazer parte dessa lista.
VEJA:
Sigismundo convocara o
concilio para corrigir o Grande Cisma, o que foi realmente alcançado. Contudo,
é natural que nenhum concilio que restaurasse a autoridade do papa recebesse de
bom grado um rebelde, que questionava seu direito de fazer isso.
Abatido
por sua longa prisão, pela doença e pela falta de sono, Hus ainda alegou
inocência e se recusou a renunciar a seus "erros". Ele fez a seguinte
declaração ao concilio: "Eu não
renunciaria à verdade nem mesmo por uma capela repleta de ouro".
Em 6 de julho de 1415, a
igreja condenou, formalmente, Hus e o entregou às autoridades seculares para a
punição imediata. No caminho para o lugar de execução, Hus passou diante de uma
igreja na qual uma fogueira queimava seus livros. Rindo, disse aos observadores
que não acreditassem nas mentiras que estavam circulando sobre ele. Ao chegar
ao lugar onde seria queimado em uma fogueira, o oficial do império pediu a Hus
que se retratasse de suas ideias. "Deus é minha
testemunha", disse o sacerdote, "de que as evidências contra mim são
falsas. Eu nunca pensei nem tampouco preguei nada que não tivesse a intenção
de, se possível, livrar os homens de seus pecados. Hoje morrerei
satisfeito".
Depois de sua morte, as
cinzas de João Hus foram jogadas no rio.
Em vez de colocar seu
prestígio em risco, a corajosa morte de Hus só serviu para aumentar seu
reconhecimento. Inflamados pela combinação de fervor religioso e nacionalismo,
seus seguidores se rebelaram contra a Igreja Católica e seu império controlado
pelos germânicos. Com essa rebelião, eles efetivamente se livraram de ambos. A
despeito de todos os esforços dos papas de erradicar esse movimento, ele
sobreviveu como igreja independente, a "Unitas Fratrum", ou
"Unidade dos Irmãos".
Fonte: Os 100
Acontecimentos mais Importantes da História do Cristianismo
Editora: Vida