Esse preceito faz parte da doutrina da salvação. A
questão principal é: "O crente permanece para sempre na salvação, ou é
possível perder-se, depois de ter sido
verdadeiramente salvo?" Diante desse problema, dividem-se as opiniões dos teólogos. Analisemos o assunto.
"Uma vez salvo, para sempre salvo"
Alguns teólogos ensinam, com muita convicção, que
jamais se perderá aquele que uma vez foi salvo. Quem é crente, o é para sempre.
Dizem que, embora o crente seja livre, a natureza da salvação é tão profunda
que ele jamais abandona a vida cristã! Deus preserva o crente em liberdade e
também no caminho da salvação: "Uma vez na graça, na graça permanecerá
para sempre". Já no tempo dos apóstolos havia essa corrente doutrinária.
A chamada doutrina dos nicolaítas (cf. Ap 2.6,15) afirmava que a graça de Deus sobre os crentes é
tão poderosa que os atos dos homens, por mais terríveis que sejam, não os afastam dela. Importa
salientar que Jesus afirmou que aborrecia tal doutrina (cf. Ap 2.6,15).
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A Bíblia
contradiz a doutrina "uma vez salvo, para sempre salvo"
A Bíblia exorta o crente a permanecer na graça.
Somente o fato de a Bíblia exortar o crente a essa permanência constitui prova
de que não concorda com a ideia de uma permanência automática, independente da atitude e do seu
procedimento pessoal:
• Jesus mandou que os crentes permanecessem.
• "Se vós permanecerdes na
minha palavra, verdadeiramente, sereis meus discípulos" (Jo 8.31). Aquele que não permanecer em Jesus, como a vara na
videira, é lançado fora (cf. Jo 15.1-6). Ele disse: "Vigiai e orai, para
que não entreis em tentação" (Mt 26.41). É no momento da tentação que surge o perigo de o
crente se desviar (cf. Lc 8.13). Mas se ele estiver vigilante, receberá a graça de
vencer a carne (cf. Mt 26.41), achará "escape" (cf. 1 Co 10.13) e vencerá a batalha.
• Jesus exortou a igreja em Filadélfia que guardasse
o que havia recebido.
• "Guarda o que tens, para que ninguém tome
a tua coroa" (Ap 3.11). Note que Ele não afirmou: "Você já é salvo e
ninguém jamais poderá tomar a sua coroa". Mas disse: "Guarda"!
O mesmo conselho ele deu à igreja em Tiatira (cf. Ap 2.25). Aliás, nos dá idêntico conselho ainda hoje.
·A palavra "permanecer"
aparece muitas vezes na Bíblia. Os apóstolos aconselhavam sempre os crentes a
que permanecessem na fé (cf. At 14.22; 1 Ts 3.2-5) e na graça (cf. At 11.23; 13.43), advertindo-os de que ninguém fosse "faltoso, separando-se da graça
de Deus" (Hb 12.15, Almeida Revista e Atualizada). Os que não atenderem a essa exortação, correm o
risco de "cair da graça" (cf. Gl 5.4). Os que afirmam que "uma vez na graça, sempre
na graça" estão induzindo muitos a transformarem em libertinagem a graça
de Deus (cf. Jd 4),
expondo-os ao perigo de receberem a graça de Deus em vão (cf. 2 Co 6.1).
• O exemplo do Antigo Testamento. A permanência é
explanada através de três exemplos no Antigo Testamento, nos quais Deus
condicionou a manifestação do seu poder protetor à atitude dos homens de permanecerem no lugar
determinado por Ele: 1) A salvação pela aspersão do sangue do cordeiro pascal
na noite em que os primogênitos do Egito foram mortos, estava condicionada à obrigação de que
ninguém saísse de casa até que amanhecesse (cf. Êx
12. 22,33). 2) A proteção contra o vingador do sangue, que a cidade de refúgio
proporcionava ao homicida que havia matado alguém por erro (cf. Nm
35.11,22-25), era condicionada ao dever de permanência na cidade: "Porém, se de
alguma maneira o homicida sair dos termos da cidade do seu refúgio, onde se
tinha acolhido, e o vingador do sangue o achar fora dos termos da cidade do
seu refúgio, se o vingador do sangue matar o homicida, não será culpado do
sangue" (Nm 35.26,27). 3) A salvação prometida sob juramento, em nome do Senhor,
a Raabe e a sua família, na ocasião da conquista de Jericó por Israel, também
era condicionada à obrigação de conservar uma fita de cor escarlate na sua
janela e cuidar que ninguém da família saísse da sua casa, pois para aquele que
estivesse fora da porta da casa, não haveria proteção (cf. Js
2.12,13,14-20). Observamos, assim, que o ato de ser um crente preservado na salvação não
é automático, mas depende da sua atitude de permanência no Senhor.
A Bíblia adverte o crente contra o perigo de cair
Somente essa expressão basta para mostrar a fraqueza
da base doutrinária que caracteriza o ensinamento: "Uma vez salvo, para
sempre salvo."
A Bíblia adverte: "Aquele,
pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia" (1 Co 10.12). O autor sagrado escreveu aos judeus que estavam em
perigo de apostatar da fé: "Que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência"
(Hb 4.11; cf. 3.15-19) e incentivou-os a que não fossem como aqueles que se retiram para
a perdição, mas como os que crêem para a conservação da alma (cf. Hb 10.39). A Bíblia diz que aquele que endurece o coração
virá a cair no mal (cf. Pv 28.14) e que a altivez do espírito precede à queda (cf.
Pv 16.18). Assim, observamos que a Bíblia,
em lugar de incentivar os crentes a uma segurança absoluta e sem
responsabilidade pessoal, os exorta a permanecerem na benignidade de Deus, a
fim de que não sejam cortados, como o foram os israelitas que não permaneceram
(cf. Rm 11.20). Por isso, diz a Bíblia:
"Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis, quanto a vós mesmos,
que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados" (2 Co 13.5). Existe, para quem não tomar cuidado, a
possibilidade de ser reprovado, de ter crido em vão (cf. 1 Co 15.2).
A Bíblia apresenta exemplos de pessoas que se desviaram da salvação
Esses exemplos (cf. Hb 4.1,2) constituem uma prova incontestável de que a
doutrina "uma vez salvo, para sempre salvo" não é aprovada na Bíblia.
• Ananias e
Safira. Eram crentes,
membros da igreja em Jerusalém e sobre eles havia abundante graça (cf. At
4.33). Porém, nela não
permaneceram, pois permitiram que o amor ao dinheiro os dominasse (cf. 1 Tm 6.10) e entraram no caminho da mentira e da perdição (cf. At 5.1-11).
• Judas Iscariotes. Os que sustentam a tese "uma
vez salvo, para sempre salvo" afirmam que Judas Iscariotes jamais foi
salvo. O testemunho da Bíblia afirma o contrário. Judas era "um dos
doze" (cf. Mt 26.14) e estava entre aqueles que Jesus chamou e enviou para
pregar a Palavra de Deus e para curar os enfermos (cf. Mt 10.4,5,7,8). Ele estava entre aqueles a respeito dos quais
Jesus disse: "Desça sobre ela a vossa paz" (Mt 10.13) e "o Espírito do vosso Pai é que fala em
vós" (Mt 10.20). Judas, porém, caiu na tentação
de roubar as ofertas, pois ele era o tesoureiro (cf. Jo 13.29; 12.6). Assim, abriu a porta para o inimigo entrar (cf. Lc 22.3) e desviou-se (cf. At 1.25). Desviar-se só é possível a alguém que está no caminho certo.
O nome dele foi tirado do livro da vida (cf. Sl 69.25-28), um fato que prova que antes estava escrito. Jesus
disse: "Não vos escolhi a vós os doze? E um de vós é um diabo"
("diabo", em grego, significa "adversário") (Jo 6.70).
• O rei
Saul. Ele recebeu um coração mudado (cf. 1 Sm 10.9), foi revestido pelo poder do Espírito Santo e até
profetizou (cf. 1 Sm 10.10). Mas desobedeceu à Palavra do Senhor (cf. 1 Sm 13.14; 15.19,20). Deus o rejeitou (cf. 1 Sm 15.23,28) e o Espírito de Deus se retirou dele (cf. 1 Sm 16.14). Depois de ter andado por caminhos tortuosos, Saul suicidou-se na montanha de Gilboa (1 Sm 31.1-4).
• A esposa de Ló. Ela estava sendo retirada pelos
anjos da destruição de Sodoma, quando, desobedecendo a Palavra do Senhor,
olhou para trás e foi transformada em uma estátua de sal (cf. Gn 19.26; Lc 17.32).
•
O tipo do justo desviado. A Bíblia fala de um justo que se
desvia e, confiando na sua justiça, pratica iniquidade. Então, afirma que não virão em memória iodas as
suas justiças, mas na iniquidade que praticou, ele morrerá (cf. Ez 33.13; 18.24).
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Fonte: Bergstein, Eurico. Introdução à
Teologia Sistemática. 1a- ed. - Rio de Janeiro: CPAD, 1993.
Reverberação: Subsídios EBD