A Igreja Católica Romana
considera o apóstolo Pedro como a pedra fundamental sobre a qual Cristo
edificou a sua Igreja. Para fundamentar esse ensino, apela, principalmente,
para a passagem de Mateus 16.16-19: "E Simão
Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo. E Jesus,
respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não
revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te
digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas
do inferno não prevalecerão contra ela; e eu te darei as chaves do Reino dos
céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que
desligares na terra será desligado nos céus".
VEJA TAMBÉM:
Dessa passagem, a Igreja
Romana deriva o seguinte raciocínio:
a. Pedro é a rocha sobre a
qual a Igreja está edificada.
b. A Pedro foi dado o poder
das chaves, portanto, só ele detém o poder de abrir a porta do Reino dos céus.
c. Pedro tornou-se o
primeiro bispo de Roma.
d. Toda autoridade foi
conferida a Pedro até nossos dias, através da linhagem de bispos e papas, todos
vigários de Cristo na Terra.
1. UMA INTERPRETAÇÃO ABSURDA
Partindo deste raciocínio, o
padre Miguel Maria Giambelli põe o versículo 19 de Mateus 16 nos lábios de
Jesus, da seguinte maneira: "Nesta minha Igreja, que é o reino dos céus
aqui na terra, eu te darei também a plenitude dos poderes executivos,
legislativos e judiciários, de tal maneira que qualquer coisa que tu
decretares, eu a ratificarei lá no Céu, porque tu agirás em meu nome e com a
minha autoridade" (A Igreja Católica e os Protestantes, p. 68).
Numa simples comparação entre
a teologia vaticana e a Bíblia, a respeito do apóstolo Pedro e sua atuação no
seio da igreja nascente, descobre-se quão absurda é a interpretação romanista a
respeito da pessoa e ministério desse apóstolo do Senhor. Mesmo numa
despretensiosa análise do assunto, conclui-se que:
1)
Pedro jamais assumiu no seio do Cristianismo nascente a posição e as funções
que a teologia católico-romana procura atribuir-lhe.
O substantivo feminino petra designa do grego uma rocha grande
e firme. Já o substantivo masculino petros é aplicado geralmente a pequenos
blocos rochosos, móveis, bem como a pedras pequenas, tais como a pedra de
arremesso. Pedro é petros = bloco
rochoso e móvel e não petra = rocha
grande e firme. Portanto, uma igreja sobre a qual as portas do inferno não
prevaleceriam não poderia repousar sobre Pedro.
2)
De acordo com a Bíblia, Cristo é a pedra. "Estavas vendo isso, quando uma
pedra foi cortada, sem mão, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro
e os esmiuçou" (Dn 2.34).
"Edificados sobre o
fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal
pedra da esquina" (Ef 2.20).
Nestes versículos,
"pedra" se refere a Cristo e não a Pedro.
Diz o apóstolo Pedro:
"Este Jesus é a pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou
a pedra angular" (At 4.11; Mc 12.10 e 11). (Se desejar leia ainda Romanos
2.20; 9.33; 1 Coríntios 10.4 e 1 Pedro 2.4.)
2. O TESTEMUNHO DOS PAIS DA IGREJA
Dos oitenta e quatro Pais da
Igreja antiga, só dezesseis creem que o Senhor se referia a Pedro quando disse
"esta pedra". Dos outros Pais da Igreja, uns dizem que esta expressão
se refere à pessoa de Cristo mesmo, outros, à confissão que Pedro acabara de
fazer, e outros, ainda, a todos os apóstolos. Portanto, se apelarmos para os
Pais da Igreja dos primeiros quatro séculos, as pretensões da Igreja Romana com
referência a Pedro, redundam em sofismas.
Só a partir do século IV
começou-se a falar a respeito da pos-sibilidade de Pedro ser a pedra
fundamental da Igreja, e isto estava intimamente relacionado com a pretensão
exclusivista do bispo de Roma.
À luz das palavras do
próprio apóstolo Pedro, Cristo é apetra (= rocha grande e firme):
"Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens,
mas para com Deus eleita e preciosa" (1 Pe 2.4).
Todos os crentes são petros
= blocos rochosos e moveis, "...vós mesmos, como pedras que vivem, sois
edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes
sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por intermédio de Jesus
Cristo" (1 Pe 2.5).
3. O ALEGADO PRIMADO DE PEDRO
Da interpretação doutrinária
que a Igreja Católica Romana faz de Mateus 16.16-19, deriva outro grande erro:
o ensino de que Jesus fez de Pedro o "Príncipe dos Apóstolos", pelo
que veio a se tornar o primeiro bispo de Roma, do qual os papas, no decorrer
dos séculos, são legítimos sucessores.
Esteve Pedro em Roma alguma
vez?
Há uma opinião sobre uma
remota possibilidade de que Pedro tenha estado em Roma.
Oscar Cullman, teólogo
alemão, escreve: "A primeira carta de Pedro... alude em sua saudação final
(5.13) à estada de Pedro em
Roma, ao falar de
'Babilônia' como lugar da comunidade que en-via saudações, pois que a opinião
mais provável é que 'Babilônia' designa Roma".
Também Lietzmann, em sua
obra Petrus and Paulus in Rome (Pedro e Paulo em Roma), assim se expressa sobre
o assunto:
"Mais importante,
porém, é a debatida afirmação de que Pedro, no decurso de sua atividade
missionária, tenha chegado a Roma e aí morrido como mártir. Visto que esta
questão está intimamente relacionada com a pretensão romana ao primado, frequentemente
a polêmica confessional influi na discussão. A resposta a ela só pode ser fruto
de pesquisa histórica desinteressada. Como, porém, ao lado das fontes
neotestamentárias, vêm, em consideração, principalmente testemunhos extra e
pós-canônicos da literatura cristã antiga, e, além disto, documentos litúrgicos
posteriores, e ainda escavações recentes, esta questão não pode ser aqui
discutida em todos os seus pormenores. Queremos apenas lembrar que, até a
segunda metade do século II, nenhum documento afirmava expressamente a estada e
martírio de Pedro em Roma".
4. PEDRO, UM PAPA
DIFERENTE
Tenha ou não estado em Roma,
o fato é que, se Pedro foi papa, foi um papa diferente dos demais que
apareceram até agora. Se não, vejamos:
a. Pedro era financeiramente
pobre (At 3.6).
b. Pedro era casado (Mt
8.14,15).
c. Pedro foi um homem humilde, pelo que não
aceitou ser adorado pelo centurião Cornélio (At 10.25,26).
d. Pedro foi um homem
repreensível (Gl 2.11-14).
É de estranhar que Tiago — e
não Pedro, o "Príncipe dos Apóstolos", como ensina a teologia
vaticana, fosse o pastor da comunidade cristã em Jerusalém (At 15). Se Pedro
tivesse sido papa, certamente não teria aceito a orientação dos líderes da
Igreja quanto à obra missionária (At 15.7). Se Pedro tivesse sido papa, a ordem
das "colunas", conforme Paulo escreve em Gálatas 2.9, seria:
"Cefas, Tiago e João", e não "Tiago, Cefas e João".
5. O PAPA, UM PEDRO DIFERENTE
A própria história do papado
é uma viva demonstração de que os papas jamais conseguiram provar serem sucessores
do apóstolo Pedro, já que em nada se assemelham àquele inflamado, mas humilde,
servo do Senhor Jesus Cristo.
Vejamos,
por exemplo:
a. Os papas são
administradores de grandes fortunas da igreja. O clérigo José Maria Alegria, da
Universidade Gregoriana de Roma, declarou, no final do ano de 1972, que o
balanço financeiro do Vaticano dispunha de um ativo de um bilhão de dólares.
b. Os papas são
celibatários, isto é, não se casam, não obstante ensinarem que o casamento é um
sacramento.
c. Os papas frequentemente
aceitam a adoração dos homens.
d. Os papas consideram-se
infalíveis nas suas decisões e decretos.
Fonte: Seitas e
Heresias
Autor: Raimundo F.
de Oliveira
Editora: CPAD