Há tipos de textos bíblicos
usados para provar a doutrina calvinista da Depravação Total.
I. Do primeiro tipo
Do primeiro tipo são aqueles
que mencionam alguém que “não pode” fazer alguma coisa:
Respondeu-lhe Jesus: Em
verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o
reino de Deus (Jo 3.3).
Por que não compreendeis a
minha linguagem? é porque não podeis ouvir a minha palavra (Jo 8.43).
A saber, o Espírito da
verdade, o qual o mundo não pode receber; porque não o vê nem o conhece; mas
vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará em vós (Jo 14.17).
Porquanto a inclinação da
carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade
o pode ser; e os que estão na carne não podem agradar a Deus (Rm 8.7-8).
Naturalmente, o calvinista
supõe que estes “não podem” fazer alguma coisa por causa do resultado da
Depravação Total: a Incapacidade Total.
II. Passagens que falam da incapacidade
Em segundo lugar, há aquelas
passagens que falam da “incapacidade” de alguém mas com uma razão explícita
dada a ela:
Ninguém pode vir a mim, se o
Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia (Jo 6.44).
E
continuou: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se pelo
Pai lhe não for concedido (Jo 6.65).
Por isso não podiam crer,
porque, como disse ainda Isaías: Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o
coração, para que não vejam com os olhos e entendam com o coração, e se convertam,
e eu os cure (Jo 12.39-40).
III. Os dois versos supremos usados para provar a
doutrina calvinista da Depravação Total
E finalmente, há os dois
versos supremos usados para provar a doutrina calvinista da Depravação Total:
Não há quem entenda; não há
quem busque a Deus (Rm 3.11).
Ora, o homem natural não
aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode
entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente (1Co 2.14).
Todas estas passagens são
usualmente empregadas em uma lista de referências de versos após alguma
declaração descrevendo a incapacidade do homem para se arrepender e crer no
Evangelho.
Mas além desta suposição, o
calvinista também infere que estas passagens se referem a todos os indivíduos.
Mas visto que é óbvio que estes versos são de três diferentes tipos, eles serão
tratados conformemente.
IV. Refutando as provas calvinistas
Do primeiro tipo de versos
usados para provar a verdade da Depravação Total – aqueles que mencionam alguém
que “não pode” fazer alguma coisa
a tentativa dos calvinistas
para provar a incapacidade do homem para se arrepender e crer no Evangelho é
caluniosa, de fato.
O verso em questão diz que
“se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo 3.3).
Embora usualmente apenas
listado pelos calvinistas numa sequência de textos-provas, algumas vezes
comentários extensos são feitos sobre o verso. Coppes observa: “Os ímpios, à
parte do renascimento efetuado pelo Espírito Santo (Jo 3.3, 8), não podem
arrepender-se.”
Outros vão tão longe a ponto
de redefinir a palavra “ver.” Keener a corrige para “perceber” em sua tentativa
de provar a Depravação Total. Robert Morey pressupõe: “Cristo coloca a
regeneração pelo Espírito como uma exigência antes que alguém possa ‘ver,’ isto
é, crer ou ter fé no Reino de Deus. Ele afirma um tanto enfaticamente que um
pecador que é nascido da carne não pode crer nas boas novas do Reino até que
seja nascido pelo Espírito.
Mas deve ser apontado que ver não é
necessariamente crer:
Mas como já vos disse, vós
me tendes visto, e contudo não credes (Jo 6.36).
Disse-lhe Jesus: Porque me
viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram (Jo 20.29).
E não somente a Bíblia diz
“ver” e não “crer,” Ela está discutindo “o Reino de Deus,” não “a salvação.” O
verso significa exatamente o que diz. Sem o novo nascimento, um pecador não
pode nem “ver” (Jo 3.3), nem “entrar” (Jo 3.5) no “Reino de Deus” (Jo 3.3, 5).
A próxima passagem “não
pode” é similarmente abusada: “Por que não compreendeis a minha linguagem? é
porque não podeis ouvir a minha palavra” (Jo 8.43).
Os calvinistas regularmente
listam esta passagem no meio de uma série de versos que eles dizem que provam a
Depravação Total. Mas, diferente do verso anterior sob discussão, o assunto
aqui não é universal. São os judeus incrédulos, aqui tratados duas vezes como
“vós,” que estão sob consideração.
Eles não podiam ouvir a
palavra de Cristo, não porque eles eram, como todos os não-regenerados (At
26.18; Ef 2.2), de seu “pai o Diabo” (Jo 8.44) e “não de Deus” (Jo 8.47), mas
adicionalmente, porque eles realizavam os desejos de seu pai (Jo 8.44) e não
criam em Cristo quando ele lhes disse “a verdade” (Jo 8.45-46). E não somente
era sua “incapacidade” condicional, ela não era também permanente, pois Jesus
tinha dito mais cedo que, porque eles eram “de baixo” (Jo 8.23), eles morreriam
em seus pecados e não seriam capazes de ir onde ele estava indo (Jo 8.21).
Todavia, eles somente morreriam em seus pecados se não cressem (Jo 8.24).
O que é ainda mais
interessante é que dois calvinistas concordam. Calvino por seu implícito
silêncio, e D. A. Carson por sua explicação:
Jesus não diz que eles não
conseguem entender sua mensagem porque eles não podem acompanhar sua palavra
falada, sua linguagem, mas que eles não conseguem entender sua linguagem
precisamente porque eles não podem ‘ouvir’ sua mensagem. Os judeus permanecem
responsáveis por seu próprio ‘não podem,’ que, longe de resultar do fiat
divino, é determinado por seu próprio desejo (theolusin) de realizar os desejos
(tas epithymias) do diabo (Jo 8.44). Este ‘não podem,’ esta escravidão ao
pecado (Jo 8.34), surge do pecado pessoal.
Deve também ser apontado que
não ser capaz de ouvir a palavra de Deus não é necessariamente equivalente a
não ser capaz de se arrepender e crer no Evangelho.
Contrária ao último verso em
questão, a próxima referência se aplica a nenhum grupo exceto certos judeus: “A
saber, o Espírito da verdade, o qual o mundo não pode receber; porque não o vê
nem o conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará em
vós” (Jo 14.17).
Vários calvinistas listam
este verso como texto-prova da Depravação Total. É óbvio por que. O mundo não
pode receber o Espírito Santo porque o mundo não o vê nem o conhece. Em contraste,
os discípulos o conhecem porque ele habita com eles.
O que isto tem a ver com a
incapacidade do mundo de receber o Espírito Santo?
O verso não diz que o mundo
não pode vê-lo ou conhecê-lo. Ele meramente diz que o mundo não pode recebê-lo
“porque não o vê nem o conhece.”
A próxima referência é a
última das passagens “não pode” ser usadas para apoiar a doutrina da Depravação
Total: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é
sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser; e os que estão na carne não
podem agradar a Deus” (Rm 8.7-8).
Embora seja normalmente
apenas listada em uma série de textos-provas para a Depravação Total, os
comentaristas calvinistas também têm comentado sobre esta passagem:
A avaliação de Paulo de
pessoas à parte de Cristo pode justamente ser somada nas categorias teológicas
da ‘depravação total’ e ‘incapacidade total.’
‘A inimizade contra Deus’
não é nada senão a depravação total e o ‘não pode agradar a Deus’ nada menos do
que a incapacidade total.
Embora um homem salvo pode
“andar segundo a carne” (Rm 8.4), o homem não-regenerado está “na carne” (Rm
8.8).
Como consequência, os homens
não podem fazer qualquer coisa boa que seja fundamentalmente agradável a Deus a
fim de merecer seu favor.
A carne não pode ser mudada,
reformada, treinada, melhorada, ou reconciliada com Deus a menos que e até que
Deus a mude. Mas dizer que por causa desta “incapacidade” um homem não pode
crer no Evangelho é uma outra questão. A Bíblia fala que Deus se “agradou” de
Enoque (Hb 11.5), com o pedido de Salomão (1Re 3.10), com escolhas feitas por
eunucos (Is 56.4), em fazer de Israel seu povo (1Sm 12.22), quando Israel foi
abençoado (Nm 24.1), por amor da sua justiça (Is 42.21), quando ele revelou
Cristo a Paulo (Gl 1.16), com sacrifícios espirituais (Hb 13.16), e
especialmente com seu Filho (Is 53.10; Mt 3.17, Mt 17.5; Cl 1.19).
Mas há duas outras ocasiões
quando é dito que Deus se agradou. A primeira diz respeito ao homem em geral:
“Quando os caminhos do homem agradam ao Senhor, faz que até os seus inimigos
tenham paz com ele” (Pv 16.7). E mais relevante ao assunto à mão: “Visto como
na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a
Deus salvar pela loucura da pregação os que creem” (1Co 1.21).
Assim, embora o homem tenha
a incapacidade em sua carne para agradar a Deus, Deus se agrada quando os
pecadores crêem no Evangelho.
A segunda categoria de
textos-provas calvinistas para a Depravação Total são aquelas passagens que
falam da “incapacidade” de alguém mas com uma razão explícita dada a ela:
Ninguém pode vir a mim, se o
Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia (Jo 6.44).
E continuou: Por isso vos
disse que ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido (Jo 6.65).
Por isso não podiam crer,
porque, como disse ainda Isaías: Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o
coração, para que não vejam com os olhos e entendam com o coração, e se
convertam, e eu os cure (Jo 12.39-40).
Os primeiros dois versos são
parte de uma trilogia calvinista em João capítulo 6. O primeiro é na verdade o
principal texto-prova para o quarto ponto do Calvinismo: a Graça Irresistível.
Por causa disto, ele será analisado nesse capítulo. O segundo é da mesma forma
usado para provar o segundo ponto do Calvinismo: a Eleição Incondicional, e
será considerado no próximo capítulo. A outra passagem em João relata que a
razão por que alguns “não podiam crer” era porque Deus “cegou-lhes os olhos.”
Na confusão de termos teológicos calvinistas, isto é chamado “reprovação,” e
propriamente se encaixa sob a questão da Eleição Incondicional. Dessa forma,
será analisada nesse capítulo.
O primeiro verso usado para
provar a doutrina da Depravação Total é parte da grande declaração da
depravação universal do homem encontrado em Romanos capítulo 3. Paulo “examinou
as Escrituras” (At 17.11), e reuniu de Isaías e dos Salmos a odiosa descrição
do homem encontrado nesta seção da palavra de Deus. O calvinista Gerstner
corretamente sustenta que “provavelmente não há nenhuma parte de toda a Bíblia
que enfatiza a condição arruinada da humanidade mais do que os três primeiros
capítulos do Livro de Romanos, e nenhuma parte de Romanos mais do que Rm
3.10-20.”[13] Temos que recorrer, então, ao contexto:
Como está escrito: Não há
justo, nem sequer um. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus. Todos se
extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem
um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam
enganosamente; peçonha de áspides está debaixo dos seus lábios; a sua boca está
cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue.
Nos seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz.
Não há temor de Deus diante dos seus olhos (Rm 3.10-18).
Há uma frase extraída de um
verso nesta seção que é continuamente citada pelos calvinistas como prova de
sua doutrina da Depravação Total: “Não há quem busque a Deus” (Rm 3.11).[14]
Antes de analisar a frase em
questão, deve ser apontado que os calvinistas estão corretos em alguns
aspectos. Sproul afirma que ao invés de buscar a Deus, os homens “buscam os
benefícios que somente Deus pode lhes dar.”[15] Ele também perceptivelmente
relata uma inferência delusória que é frequentemente tirada, que “porque as
pessoas estão buscando o que somente Deus pode suprir, eles devem estar
buscando o próprio Deus.”[16] Os calvinistas são também precisos ao conferir a
iniciativa da salvação dos pecadores a Deus:
Porque Deus amou o mundo de
tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16).
Mas Deus dá prova do seu
amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós
(Rm 5.8).
Nós amamos, porque ele nos
amou primeiro (1Jo 4.19).
Mas sustentar de tudo isto
que um pecador não pode crer no Evangelho quando defrontado com ele é uma TULIP
(tulipa) de uma outra cor. Por isso, há três coisas erradas com o uso desta
frase pelos calvinistas para provar a verdade de sua doutrina da Depravação
Total: a intenção da passagem não é ensinar a incapacidade do homem, nada é
dito sobre alguém não ser capaz de buscar a Deus e o fato que buscar a Deus não
é o mesmo que crer no Evangelho.
Em primeiro lugar, o que os
calvinistas parecem se esquecer é que Paulo, ao estabelecer a culpa universal
dos judeus e gentios (Rm 3.1, 9), cita do Velho Testamento para dar peso aos
seus argumentos, não para incriminar cada indivíduo da raça humana em particular
com toda acusação, nem para ensinar a incapacidade do homem não-regenerado de
crer em Jesus Cristo
Há uma diferença entre
estabelecer a depravação universal do homem e acusar homens individuais de
pecados. Por exemplo, Cornélio, um pecador não-regenerado (At 11.14), era um
“homem justo e temente a Deus e que tem bom testemunho” (At 10.22). Ele era um
homem “piedoso e temente a Deus com toda a sua casa” (At 10.2). Isto é até
reconhecido pelos calvinistas: “Agora, não devemos pensar que esta passagem
está acusando todo membro da raça humana de ter cometido todos estes pecados
individuais.”
Em segundo lugar, nada é
dito na frase em questão (ou o verso ou o contexto) sobre alguém não ser capaz
de buscar a Deus, apesar que seja assim que o calvinista lê. A Bíblia comanda
os homens a buscar a Deus:
Buscai ao Senhor enquanto se
pode achar, invocai-o enquanto está perto (Is 55.6).
Pois assim diz o Senhor à
casa de Israel: Buscai-me, e vivei (Am 5.4).
Buscai ao Senhor, vós todos
os mansos da terra, que tendes posto por obra o seu juízo; buscai a justiça,
buscai a mansidão; porventura sereis escondidos no dia da ira do Senhor (Sf
2.3).
Deus estabeleceu os limites
das nações para que buscassem a Deus (At 17.26-27). A Bíblia até ordena os
homens a “Buscai ao Senhor e a sua força; buscai a sua face continuamente” (1Cr
16.11). Mas não apenas alguns homens são comandados a buscá-lo, Deus declara
que aqueles que buscam-no o encontrariam (Jr 29.13-14), e que ele
recompensariam os “que o buscam” (Hb 11.6). A Bíblia diz que são abençoados os
homens que buscam a Deus “de todo o coração” (Sl 119.2). De fato, é dito ser
mal não buscar a Deus (2Cr 12.14) e digno de morte (2Cr 15.13). Estes comandos
para buscar a Deus não são em vão: “Não falei em segredo, nem em lugar algum
escuro da terra; não disse à descendência de Jacó: Buscai-me em vão; eu sou o
SENHOR, que falo a justiça, e anuncio coisas retas” (Is 45.19). Isto não
significa que um homem que tem rejeitado a Deus será capaz de encontrá-lo
sempre que desejar: “Então a mim clamarão, mas eu não responderei;
diligentemente me buscarão, mas não me acharão” (Pv 1.28).
E finalmente, buscar a Deus
não é a mesma coisa que crer no Evangelho. Buscar a Deus não é suficiente. Um
judeu que deseja buscar a Deus sob as ordens do Velho Testamento está
exatamente tão perdido quanto o gentio que não busca. A salvação nunca é obtida
por buscar a Deus:
Por isso vos disse que
morrereis em vossos pecados; porque, se não crerdes que eu sou, morrereis em
vossos pecados (Jo 8.24).
Respondeu-lhe Jesus: Eu sou
o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim (Jo 14.6).
Se a razão que os homens não
buscam a Deus não é porque eles têm a Depravação Total, então qual é? A razão
que os homens não buscam a Deus é simples: “Por causa do seu orgulho, o ímpio
não o busca; todos os seus pensamentos são: Não há Deus” (Sl 10.4).
O segundo texto usado para
provar que um homem tem a incapacidade de se arrepender e crer no Evangelho – a
Depravação Total – é claramente interpretado no contexto. O verso em questão
diz: “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque
para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente” (1Co 2.14). Como os outros textos-provas calvinistas para a
Depravação Total, este verso pode usualmente ser encontrado entre uma série de
versos citados como prova da Depravação Total. Entretanto, também tem sido dito
em relação ao verso em questão:
Não conseguimos entender
como alguém pode ter uma clara concepção do senso comum desta passagem da
Escritura e todavia afirmar a doutrina da capacidade humana.
A doutrina da depravação
total afirma que a natureza humana caída é moralmente incapaz de responder ao
evangelho sem ser induzido a assim fazer pela intervenção divina.
Até que o Espírito de Deus
desperta a alma não podemos ouvir.
Calvino concluiu deste verso
que “a fé não é algo que depende de nossa decisão, mas é algo dado por Deus.” Garret
sustenta que este verso “coloca o hostil pecador em uma posição um tanto
desfavorável para executar condições a fim de [ganhar] a vida eterna.”
Um calvinista lê o verso
desta forma: “Mas o homem natural não recebe Jesus Cristo: pois Cristo é
loucura para ele: nem pode ele recebê-lo, pois Cristo se discerne
espiritualmente.” Todos os calvinistas, admitam ou não, têm que ler o verso
exatamente assim se usarem-no para ensinar sua doutrina da Depravação Total. O
uso deste verso prova novamente o fato de que a Depravação Total não tem nada a
ver com a depravação do homem. Ela diz respeito à sua suposta incapacidade para
se arrepender e crer no Evangelho.
O contexto é claramente
coisas, não Jesus Cristo. Isto é infalivelmente determinado simplesmente lendo
o capítulo. Coisas são o que está sendo discutido em 1Co 2.9-15. A palavra
coisas ocorre pelo menos uma vez em todo verso. Aqueles que têm recebido “o
Espírito que provém de Deus” podem compreender as coisas espirituais (1Co
2.12). E como alguém recebe este espírito? “E, porque sois filhos, Deus enviou
aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai” (Gl 4.6).
Deus dá o Espírito Santo aos
seus filhos para que eles possam ter entendimento espiritual; ele não dá o seu
Espírito aos “pecadores hostis” para que eles possam ser capazes de se
arrepender e crer no Evangelho. E como alguém se torna um filho de Deus? “Mas,
a todos quantos o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se
tornarem filhos de Deus” (Jo 1.12). Qualquer um que tem recebido a Jesus Cristo
tem o Espírito de Deus: “No qual também vós, tendo ouvido a palavra da verdade,
o evangelho da vossa salvação, e tendo nele também crido, fostes selados com o
Espírito Santo da promessa” (Ef 1.13). Os calvinistas querem que acreditemos
que, porque o homem natural não pode entender as coisas espirituais, ele não
pode receber Jesus Cristo. Mas como os calvinistas Gordon Clark e Charles Hodge
comentaram sobre esta passagem:
Quando o verso aqui diz que
eles não conhecem a doutrina, ele quer dizer que eles não a conhecem como
verdadeira; e a razão é imediatamente dada: pois ela é espiritualmente
avaliada.
O que, por essa razão, o
apóstolo aqui afirma do homem natural ou do homem não-renovado é que ele não
pode discernir a verdade, a excelência, ou a beleza das coisas divinas.
Receber coisas espirituais e
receber Jesus Cristo são duas coisas diferentes.
Os três tipos de Escrituras
usadas pelos calvinistas para provar a verdade da Depravação Total têm uma
coisa em comum: nenhuma delas mencionam a depravação do homem.
A Depravação Total é
verdadeiramente uma doutrina negativa. As ações pecaminosas positivas do homem
– pensamentos pecaminosos, palavras pecaminosas, ações pecaminosas – não estão
sob consideração em qualquer um dos versos examinados acima. O calvinista que
fala sobre a depravação do homem e então lista estes versos como textos-provas
é desonesto.
Fonte: O Outro Lado do Calvinismo -
Laurence M. Vance
Reverberação: Subsídios EBD