Trindade
é a união de três Pessoas – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – em uma só
Divindade, sendo iguais, eternas e da mesma substância, embora distintas, sendo
Deus cada uma dessas Pessoas.
A
Bíblia declara textualmente que existe um só Deus verdadeiro e, ao mesmo tempo,
afirma com a mesma clareza e de maneira direta que Jesus é Deus, mostrando nele
todos os títulos divinos, com seus atributos, funções e obras de Deus. E, com o
Espírito Santo não é diferente; a Bíblia revela a sua divindade plena. Houve no
passado quem defendesse o triteísmo, mas a Igreja nunca reconheceu tal ensino;
antes, refutou e combateu essa ideia. O mistério consiste também no fato de o
Deus dos cristãos revelado nas Escrituras ser trino e uno sem comprometer o
monoteísmo judaico-cristão.
I- Tertuliano de Cartago e o termo
trindade
Tertuliano
de Cartago, uma cidade do norte da África (155-224), advogado romano de
formação intelectual estoica convertido ao cristianismo, tornou-se conhecido
como o “Pai do cristianismo latino”. Ele refutou os monarquianistas modalistas,
um grupo que não negava a divindade do Filho nem a do Espírito Santo, mas, sim,
a distinção destas Pessoas, de modo diametralmente contrário ao ensino das
igrejas desde os dias apostólicos. Seus principais representantes foram Noeto,
Práxeas e Sabélio.
Foi
no combate ao sabelianismo que Tertuliano trouxe uma formulação trinitária
melhor e mais compreensível. É dele o termo “Trindade”, trinitas em latim. Ele
“foi responsável pela criação de 509 novos substantivos, 284 novos adjetivos e
161 verbos na língua latina” (McGRATH, 2005, p. 375). Sua explicação sobre o
Pai, o Filho e o Espírito Santo em uma só divindade preserva o monoteísmo sem
comprometer a deidade absoluta das três Pessoas da Trindade. É a unidade na
Trindade e a Trindade na unidade.
“ Todos são de um, por unidade de substância, embora ainda esteja oculto
o mistério da dispensação que distribui a unidade numa Trindade, colocando em
sua ordem os três, Pai, Filho e Espírito Santo; três contudo, não em essência,
mas em grau; não em substância, mas em forma, não em poder, mas em aparência,
pois eles são de uma só substância e de uma só essência e de um poder só, já
que é de um só Deus que esses graus e formas e aspectos são reconhecidos com o nome
de Pai, Filho e Espírito Santo (Contra Práxeas, II – Grifo é nosso).
II - Os sólidos fundamentos bíblicos
para a Doutrina da Trindade
1. No Antigo Testamento.
A
Trindade é uma doutrina com sólidos fundamentos bíblicos e, mesmo sem conhecer
essa terminologia, os cristãos do período apostólico reconheciam essa verdade.
Essa doutrina está implícita no Antigo Testamento, pois há declarações que
indicam claramente a pluralidade na unidade de Deus (Gn 1.26; 3.22; 11.6, 7; Is
6.8). Apesar da ênfase da doutrina monoteísta como o shemá: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR” (Dt 6.4)
reafirmada pelo Senhor Jesus (Mc 12.29), o Antigo Testamento mostra que a
unidade de Deus não é absoluta. O Novo Testamento revela que essa pluralidade
se restringe ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo (Mt 28.19; 1 Co 12.4-6; 2 Co
13.13; Ef 4.4-6; 1 Pe 1.2).
2. No Novo Testamento
Há
ainda várias passagens tripartidas no Novo Testamento que revelam a Trindade
(Lc 24.49; Rm 1.1-4; 5.1-5; 14.17, 18; 15.16, 30; 1 Co 6.11; 2 Co 1.20, 21; Gl
3.11-14; Ef 1.17; 2.18-22; 3.3-7, 14-17; 1 Ts 5.18). Além das declarações
bíblicas apresentadas aqui, há outras evidências contundentes que fundamentam
essa doutrina. Cada uma dessas Pessoas é chamada individualmente de Deus e Senhor.
3. O nome “Deus”
O
Deus do cristianismo é um (Gl 3.20), mas as Escrituras ensinam também que o Pai
é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus.
A
Bíblia aplica o nome “Deus” ao Pai sozinho (Fp 2.11), da mesma forma ao Filho
(Jo 1.1) e ao Espírito Santo (At 5.3, 4); e, na maioria das vezes, com
referência à Trindade (Dt 6.4). Isso também ocorre com o Tetragrama (as quatro consoantes
do nome divino YHWH), que se aplica ao
Pai sozinho (Sl 110.1), ao Filho (Is 40.3; Mt 3.3) e ao Espírito Santo (Ez
8.1,3). No entanto, aplica-se também à Trindade (Sl 83.18). Salta à vista de
qualquer leitor da Bíblia a divindade plena e absoluta de cada uma dessas Pessoas.
Foi assim que o Espírito revelou a unidade na Trindade.
Conclusão
O
ensino do Senhor Jesus e de seus apóstolos expressava a fé em um só Deus, mas
ao mesmo tempo eles ensinavam a deidade absoluta do Pai, do Filho e do Espírito
Santo. A Bíblia revela a triunidade de Deus sem necessitar de definições
teológicas, e o destinatário imediato de cada texto bíblico compreendia com
clareza meridiana a unidade na Trindade e a Trindade na unidade.
Autor:
Pr. Esequias Soares