O cristianismo está sob ataque hoje, e deve
ser defendido. Há ataques do lado de dentro, com seitas e heresias; e há
ataques de fora, desferidos por ateus, céticos e outras religiões. A disciplina
que lida com uma defesa racional da fé cristã é chamada de apologética. Ela vem
da palavra grega “apologia” (1Pe 3.15), que significa dar uma razão ou fazer
uma defesa.
Muitas objeções têm sido oferecidas contra
fazer apologética. Alguns oferecem uma tentativa de justificação bíblica.
Outros são baseados em um raciocínio extrabíblico. Vamos dar uma olhada
naquelas baseadas em textos bíblicos.
1)
"A Bíblia não precisa ser defendida".
Uma objeção à apologética muito comum é a
afirmação de que a Bíblia não precisa ser defendida, mas simplesmente exposta.
Hebreus 4.12 é frequentemente citado como prova: "A Palavra de Deus é viva
e eficaz...". Dizem que a Bíblia é como um leão, que não precisa ser
defendida, mas simplesmente solta. Um leão pode se defender. Porém, várias
coisas devem ser notadas em resposta.
Primeiro, isso levanta a questão de saber se a Bíblia
é ou não a Palavra de Deus. Claro, a Palavra de Deus fala por si. Mas, como
sabemos que a Bíblia é a Palavra de Deus, ao contrário do Alcorão, o Livro de
Mórmon ou algum outro livro? Deve-se recorrer a provas para determinar quais
dos muitos livros em conflito realmente é a Palavra de Deus.
Segundo, nenhum cristão aceitaria a reivindicação de
um muçulmano de que, sem dúvida, "o Alcorão é vivo e eficaz, mais
penetrante do que uma espada de dois gumes...". Nós exigiríamos prova. Da
mesma forma, nenhum não-cristão se sente obrigado a aceitar a nossa alegação
sem provas.
Em
terceiro lugar, a analogia
do leão é enganosa. Um rugido de um leão fala com autoridade apenas porque
temos o conhecimento prévio do que um leão pode fazer. Sem os contos de aflição
sobre a ferocidade de um leão, seu rugido não teria o mesmo efeito de
autoridade sobre nós. Da mesma forma, sem evidência para estabelecer uma
afirmação de autoridade, não há nenhuma boa razão para aceitar essa autoridade.
2)
"Jesus se recusou a fazer sinais para homens maus".
Alguns argumentam que Jesus repreendeu as
pessoas que buscavam sinais. Por isso, devemos estar contentes simplesmente em acreditar
sem provas. Na verdade, Jesus fez na ocasião uma repreensão aos buscadores de
sinais. Ele disse: "Uma geração má e adúltera pede um sinal miraculoso!"
(Mt 12.39; Lc 16.31). No entanto, isso não significa que Jesus não deseja que
as pessoas olhem para as provas antes que eles acreditem, por muitas razões.
Primeiro, mesmo nesta passagem, Jesus passou a
oferecer o milagre da Sua ressurreição como um sinal de quem Ele era, dizendo:
"Mas nada será dado, senão o sinal do profeta Jonas" (Mt 12.39,40).
Da mesma forma, Paulo deu muitas evidências para a ressurreição (1Co 15) e
Lucas fala de "muitas provas incontestáveis" (At 1 .3) da
ressurreição.
Segundo, quando João Batista perguntou se Jesus era o
Cristo, Ele ofereceu milagres como prova, dizendo: "Ide e anunciai a João o que tendes visto e
ouvido: os cegos veem, os coxos andam, os
leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e o
evangelho é anunciado aos pobres" (Mt 11.5). Ao responder aos escribas,
Ele disse: "Mas, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder
para perdoar pecados, Ele disse ao paralítico: 'Eu lhe digo, levante-se, toma o
teu leito e vai para casa" (Mc
2.10-11). Nicodemos disse a Jesus: "Rabi, sabemos que você é um mestre que
veio de Deus. Porque ninguém pode realizar os sinais que tu fazes, se Deus não
fosse com ele" (Jo 3.2).
Em
terceiro lugar, Jesus se
opôs a entreter as pessoas com milagres. De fato, Ele se recusou a realizar um
milagre para satisfazer a curiosidade do rei Herodes (Lc 23.8). Em outras ocasiões,
Ele não fez milagres por causa da incredulidade das pessoas (Mt 13.58), não
desejando ‘ lançar pérolas aos porcos”. O propósito dos milagres de Jesus foi
apologética, ou seja, para confirmar sua mensagem (Êx 4.1; Jo 3.2; Hb 2.3,4).
Ele faz isso em grande abundância, pois, como afirmou Pedro, "Jesus de
Nazaré foi um homem aprovado por Deus entre vós com milagres, prodígios e
sinais, que Deus fez entre vocês por intermédio dEle" (At 2.22).
3)
"Paulo não teve sucesso em seu uso da razão em Atenas e mais tarde
descartou essa abordagem".
Adversários da apologética, por vezes, argumentam
que Paulo não teve sucesso em sua tentativa de alcançar os pensadores no
Areópago (At 17), descartando o método e, mais tarde, sublinhando que Paulo
disse aos coríntios que ele queria "conhecer Jesus e somente a Ele" (1Co
2.2 ). No entanto, essa interpretação é baseada em um mal-entendido do texto.
Por um lado, Paulo teve resultados em Atenas.
Algumas pessoas foram salvas, incluindo um filósofo. O texto diz claramente que
"alguns homens se tornaram seguidores de Paulo e criam" e "entre
eles estava Dionísio, membro do Areópago, também uma mulher chamada Damaris, e
muitos outros" (At 17.34).
Em
segundo lugar, em nenhum
lugar em Atos ou em 1Coríntios há uma indicação de que Paulo teve qualquer arrependimento
ou mesmo pesar quanto ao que fez em Atenas. Essa é uma leitura do texto que
simplesmente não está lá.
Terceiro, a declaração de Paulo sobre a pregação de
Jesus, e somente Jesus, não significa que houve uma mudança no conteúdo da
pregação de Paulo. Isso é o que ele fez em toda parte! Mesmo para os filósofos ele
"pregava Jesus e a ressurreição" (At 17.18, 31). Então, não havia
nada original sobre o que ele pregava, a questão era simplesmente como ele fizera isso.
Paulo adaptou sua abordagem ao público. Com as nações em Listra, ele
começou por um apelo à natureza (At 14) e terminou com a pregação de Jesus a
eles. Com os judeus, começou com o Antigo Testamento para chegar até Cristo (At
17.2-3). Mas, com os pensadores gregos,
Paulo começou com a criação e a razão para falar da existência de um
Criador e em seguida falar do Seu Filho Jesus, que morreu e ressuscitou (At
17.24).
4)
"Apenas a fé, e não a razão, pode agradar a Deus".
Hebreus 11.6 afirma que "sem fé é
impossível agradar a Deus". Isso parece argumentar contra a necessidade de
razão. Parece até que pedir razões, ao invés de simplesmente acreditar,
desagrada a Deus. Em resposta a esse argumento contra a apologética, dois pontos
importantes devem ser feitos.
Primeiro
de tudo, o texto não diz que, com
razão, é impossível agradar a Deus. Ele diz que sem fé não se pode agradar a
Deus. Ele não elimina a razão de acompanhar a fé, não elimina uma fé razoável.
Segundo, Deus de fato nos convida a usar a nossa razão
(1Pe 3.15). De fato, Ele nos deu "clareza" (Rm 1.20) e "provas
convincentes" (At 1.3), de modo que não temos de exercer uma fé cega.
Em
terceiro lugar, esse texto
em Hebreus não exclui "evidência", mas, na verdade, ele implica
"evidência". Pois é dito que a fé é "a evidência" das
coisas que não vemos (Hb 11.1). Por exemplo, a evidência de que alguém é uma
testemunha confiável justifica minha crença em seu testemunho do que viu e eu
não. Mesmo assim, nossa fé em "coisas que não vemos" (Hb 11.1)
justifica-se pela evidência que temos de que Deus existe, que é
"claramente visto" e pode "ser compreendido a partir do que foi
criado" (Rm 1.20).
5)
"Paulo disse que Deus não pode ser conhecido pela razão humana, quando
escreveu: 'O mundo pela sua sabedoria
não conheceu a Deus' (1Co 1.21)".
No entanto, isso não pode significar que não
há provas da existência de Deus, já que Paulo declarou em Romanos que a
evidência da existência de Deus é tão simples ao ponto de tornar até mesmo o
completo pagão em "indesculpável" (Rm 1.19-20). Além disso, o
contexto da passagem de em 1 Coríntios 1.21 não é o da existência de Deus, mas
Seu plano de salvação através da cruz. Isso não pode ser conhecido por mera
razão humana, mas apenas por revelação divina, pois é "tolice" para a
mente humana depravada.
Além disso, a "sabedoria" de que
fala Paulo ali é "a sabedoria deste mundo" (v. 20), e não a sabedoria
de Deus. Paulo chamou um sofista de "inquiridor deste século" (v. 20).
O sofista só queria argumentar para argumentar. Isto não leva ninguém a Deus.
Além disso, referência de Paulo à
"sabedoria do mundo" não poder conhecer a Deus não é uma referência à
incapacidade do ser humano de conhecer a Deus através da evidência que Ele
mesmo revelou na criação (Rm 1.19,20) e na consciência (Rm 2.12-15). Pelo
contrário, é uma referência à rejeição depravada e insensata do homem à
mensagem da cruz.
Fonte: JMP de Novembro de 2011
Artigo: Norman Geisler
Site: Subsídios EBD