A
existência
do mal no mundo talvez seja a mais forte objeção que os descrentes tenham
contra o cristianismo bíblico. As argumentações podem ser assim formuladas: Se
Deus é Todo-Poderoso, Ele deveria ter sido capaz de impedir a presença do mal;
e se Ele fosse essencialmente bom, Ele teria a vontade de impedir o mal. Assim,
a conclusão lógica é que se Deus tivesse todo o poder e toda à bondade, o mal
não existiria. Contudo, o mal é uma realidade, Ele existe, e isto leva muitos à
afirmação de que não existe um Deus Todo-Poderoso e essencialmente bom.
Muitos pensam que somente
filósofos ateus olham este problema desta forma, entretanto, quem de nós ainda
não exclamou "Por que Senhor!" quando as tragédias da vida nos batem
à porta? Muitas vezes sentimos uma terrível discrepância entre a experiência
que vivenciamos e aquilo que cremos que Deus deveria ter feito. Muitas pessoas
as quais têm experimentado o sofrimento como a morte de um filho ou
simplesmente aquelas que têm acompanhado a violência, a injustiça, os crimes,
as guerras, os abusos tão frequentes no nosso mundo, ficam perplexas e
questionam por que Deus permite o mal.
Há uma corrente teológica que
diz ser Deus o autor do mal. Eles fazem sua própria hermenêutica, e utilizam
textos como Romanos 9.17 ("Porque
diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para em ti mostrar o meu
poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra"), e afirmam
que Deus levanta pessoas más, e por implicação todo o mal, para que ao
prevalecer sobre elas, Deus possa mostrar todo o seu poder e anunciar o seu
nome em toda a terra. Esse raciocínio é errado e levanta as seguintes
perguntas: Como Deus julgará o homem um dia, todo o bem e todo o mal se Ele é o
criador do mal?
Por que o anunciar do nome e
a manifestação do poder de Deus iria requerer a utilização de coisas totalmente
opostas a tudo o que Ele é? Será que Deus não poderia demonstrar o seu poder
sem contradizer á sua bondade?
Será que Deus não poderia
fazer o seu nome conhecido sem provocar a dor e o sofrimento na humanidade?
Como pode um Deus de amor,
detentor toda onisciência e onipotência, criar alguém essencialmente mal,
quando Ele próprio odeia o mal com todo o seu ser?
Vamos examinar algumas
explicações e argumentações históricas dadas por diversos pensadores como
resposta ao problema ala origem do mal.
O mal não existe
Algumas
religiões e seitas (Budismo, Ciência Cristã, entre outras) afirmam que o mal é
uma ilusão. Até mesmo Agostinho, respeitado pensador cristão, disse que o mal
pertencia a categoria do não ser. É claro que ele não quis dizer que o mal é
uma ilusão, mas uma "privação", uma ausência do bem em seres que
deveriam possuí-la. Ele usa esta ideia para tirar a responsabilidade de Deus
sobre a origem do mal. Deus criou todos os seres, mas ele não é responsável
pelo não ser. Esta teoria é errada, pois a experiência que vivenciamos do mal,
da dor e do sofrimento não é ilusão, mas é real e machuca.
Deus não tem poder
Alguns afirmam que Deus não
elimina todo o mal no mundo porque Ele não tem poder para fazer isto. Ele
tenta, faz o seu melhor, mas não pode. Esta perspectiva nega as históricas
doutrinas do cristianismo sobre a onipotência, onisciência e soberania divina,
enquanto procura preservar o atributo da bondade de Deus. Porém, as Escrituras
são claras e preconizam um Deus que tudo pode, tudo conhece e é soberano em
seus atos.
A teoria do melhor mundo possível
O
filósofo Leibniz e outros têm argumentado quê este mundo, com todo o mal que há
nele, é nada mais nada menos que o melhor mundo que Deus poderia criar. A razão
não é limitações em Deus, mas a lógica da Criação. Um certo grau de maldade é
logicamente necessário para que se alcance certos fins bons. Por exemplo, deve
haver o sofrimento para que tenhamos compaixão pelos que sofrem. Assim, o
melhor mundo possível incluirá o mal nele. Esta visão é errada, pois um mundo
logicamente perfeito não requer necessariamente a presença do mal. Deus em si
mesmo é perfeito, o mal não peta nele. E, de acordo com a Bíblia, na criação
original de Deus, o ma), também não estava presente (Gn 1 .31). Os novos céus e
a nova terra serão também perfeitos, sem a presença do mal (Ap 21.1-8).
A formação do caráter
Esta
perspectiva foi usada por Irineu e, nos tempos modernos, por John Hick. Este
argumento diz que o homem foi criado em um estado de imaturidade moral. Para
que o homem chegue à maturidade plena é necessário que passe pela experiência
da dor e do sofrimento. É verdade que o sofrimento muitas vezes ajuda na
lapidação do caráter. Hebreus 12 diz que os crentes são disciplinados e
castigados pelo Pai com o propósito de desenvolver neles o caráter de Cristo.
Contudo, a Palavra de Deus nos ensina que Adão não foi criado moralmente imaturo,
com a necessidade de desenvolver seu caráter através do sofrimento. Ele foi
criado bom, e se não tivesse desobedecido e pecado nunca teria provado o
sofrimento, que é um resultado direto da queda.
O livre arbítrio do
homem
A argumentação desta teoria
é que o mal resulta da escolha livre das criaturas racionais (Satanás, Adão,
todo o homem). Sendo que o livre arbítrio não é controlado e nem causado por
Deus, Ele não é, portanto, responsável pelo mal. A Bíblia ensina que o homem é,
em certo sentido, livre, pois ele faz o que quer. Adão tinha liberdade de
escolher tanto o bem como o mal. A queda retirou grande parte do nosso livre
arbítrio. O homem caído só deseja o mal, mas a redenção restaura a liberdade ao
que crê.
Nós somos livres no sentido de que não somos vítimas
de um determinismo histórico. A
Bíblia não permite que lancemos nossas deficiências e limitações em fatores
hereditários, ambientais, psicológicos, culturais e outros. Não temos desculpas
por violarmos os mandamentos de Deus; somos responsáveis por todas as nossas
decisões e ações, pois são atos livres.
Ao estudarmos a origem do mal,
devemos estar cônscios de que a solução encontrada não responderá a todos os
pormenores que a nossa razão' levanta. Somente a nossa fé em Deus e na
revelação do que a Bíblia mostra como sendo verdade trará descanso, consolo e
paz aos nossos corações. Devemos sempre ser gratos ao Senhor pelo nosso livre
arbítrio, por esta capacidade de escolher entre o bem e o mal, pelo fato de não
sermos robôs, mas de servirmos a Ele por nossa própria vontade e decisão.
(Fonte: Jornal Mensageiro da Paz/Agosto de 2003 – Autor:
Cláudio Rogério dos Santos – Acervo: Jair Alves/ Reverberação: Subsídios EBD)