Uma das grandes obras do
Espírito Santo é a de transmitir ao homem toda a plenitude de Deus (Ef
3.16-19). A natureza perfeita de Deus faz parte desta plenitude. Pelo fruto
do Espírito estas virtudes se manifestam na vida do crente.
I. A DEFINIÇÃO DO
FRUTO DO ESPÍRITO
1.
Fruto do Espírito, manifestação da natureza de Cristo
a) O alvo da salvação é restaurar
o homem à imagem de Cristo (Rm 8.29; Cl 3.10).
Pelo pecado ele perdeu a
glória da imagem de Deus (Rm 3.23) e ficou escravizado debaixo do poder da
carne, isto é, da sua velha natureza, a qual se manifesta pelas obras da carne
(G1 5.19-21). A carne afasta o homem da vontade de Deus (Rm 8.5-8), e o faz
obedecer ao inimigo (Ef 2.3). A salvação faz o homem participante da natureza
divina (2 Pe 1.14), porque Cristo agora é a sua vida (Cl 3.4), e a sua velha
natureza foi crucificada com Cristo, que agora vive nele (G1 2.20). O molde
desta nova vida é o exemplo que Jesus nos deixou registrado na Bíblia (1 Pe
2.21; Jo 13.15; 1 Jo 2.6; 1 Co 11.1).
b) O Espírito Santo faz que,
por meio do “fruto do Espírito'', as virtudes de Cristo apareçam,
"...para que a vida de Cristo se manifeste também em vossos corpos"
(2 Co4.10,llb), "...até que Cristo seja formado em vós" (G1 4.19b). A
Bíblia mostra que, quando há abundância da operação do Espírito, então os
frutos infalivelmente aparecem (Jr 17.8; SI 1.3). Quando o Espírito Santo
glorifica Jesus (Jo 16.14) na vida do crente e a sua comunhão com Ele se torna
mais íntima, então se cumpre a palavra de Jesus: "Quem está em mim, e eu
nele, esse dá muito fruto..." (Jo 15.5b). E o fruto do Espírito que então
aparece, e a natureza e as virtudes de Cristo se reproduzem na vida do crente.
2.
O Fruto do Espírito produz santificação
O Espírito Santo ajuda o
crente a entregar-se inteiramente ao Senhor, para assim dominar a sua velha
natureza (G15.16,17). O fruto do Espírito se manifesta então livremente na sua
vida para que "...todo o seu espírito, alma e corpo sejam plenamente
conservados irrepreensíveis..." (1 Ts 5.23); “Assim resplandeça a vossa
luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a
vosso Pai que está nos céus" (Mt 5.16). É o fruto da santificação que se
manifesta! (Rm 6.22). Assim “não são as obras que fazem o homem ser bom, mas o
homem bom faz as boas obras'' (Lutero). O Senhor espera frutos na nossa vida!
(Ct 6.11; 7.13). Que os tenhamos, para lhe oferecer! (Ct 4.16).
3.
Fruto e não frutos do Espírito
a) O "fruto do
Espírito" representa nove diferentes virtudes.
Em Gálatas 5.22, encontramos
nove virtudes: Caridade (amor), gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade,
fé, mansidão, temperança, todas elas dentro do fruto do Espírito. O mesmo fato
aparece em 1 Coríntios 13.4-8, onde se fala de várias virtudes espirituais,
todas vinculadas à caridade. "A caridade é sofredora, é benigna, a
caridade não é invejosa, a caridade não trata com leviandade...", etc.
Aqui se esconde uma realidade muito importante.
b) Todas as virtudes
espirituais têm na caridade a sua origem.
A Bíblia diz: Deus é
caridade (1 Jo 4.8), isto é, a caridade constitui a própria essência do eterno
Deus. Desta maneira podemos compreender que as virtudes apresentadas em Gálatas
5.22 e 1 Coríntios 13.4-8, têm, todas elas, na caridade a sua origem. São como
uma laranja composta de diferentes gomos, os quais, juntos, formam a laranja.
Não se trata de diferentes flores (virtudes) que j untas formam um ramalhete,
mas de uma só flor, com nove pétalas
distintas e desiguais, que constituem uma mesma flor. Assim o fruto é a
caridade, mas as outras virtudes são reflexos dela, isto é, uma caridade de gozo, cheia de paz, com muita longanimidade,
bondade e fidelidade, uma caridade cheia de mansidão e benignidade e
controlada com temperança. Graças a
Deus!
4.
As virtudes que compõem o fruto do Espírito
4.1. A caridade (amor)
É a fonte divina de onde
manam todas as virtudes espirituais. Deus é caridade (1 Jo 4.8). Quando Ele
ama, há um transbordamento da sua pessoa (Ef 2.4; 2 Ts 2.16; 2 Co 9.7; Jo
13.1). Nós o amamos porque encheu a chama do amor (Lc 7.47), que vai aumentando
(1 Ts 3.12; 4.9,10; 2 Ts 1.3). O amor se toma assim uma evidência da salvação
(1 Jo 3.14; 4.7). Pela operação do Espírito, este amor aumenta (Rm 5.5; Ef
3.16,18,19; 2 Tm 1.7), e aparece como fruto,
pelo qual amamos a Deus (1 Pe 1.8). Como a noiva ama o noivo e faz a sua
vontade (Jr 2.2; Ct 1.4), nós queremos fazer a vontade de Deus (Jo 14.15,23;
15.10,14; 1 Jo 5.2,3), para cumprir a lei da liberdade (Tg 1.25; Rm 8.4;
13.7-10), agradando a Deus em tudo (2 Co 5.9; Rm 14.18).
Este amor leva o homem a
fazer como Jesus fez (Ef 5.2; Jo 3.16), que se entregou a si mesmo a Deus (1 Jo
3.16; Jo 21.15-17), para salvação dos pecadores (2 Co 5.14,15; 1 Co 9.19-23; Rm
10.1,2) e conservação dos crentes (1 Ts 2.8-11; 2 Co 12.15). O amor é o rio que
liga as relações entre os crentes para os aperfeiçoar (Cl 3.14; 2.2; G1 5.13;
Fp 2.4; Lc 10.21), sim, liga até o seu relacionamento com os que são inimigos
(Lc 23.34; At 7.60; Lc 6.27-30; Rm 12.20).
4.2.
Gozo
Faz parte da perfeição
divina. Deus é bem-aventurado (1 Tm 1.11), Jesus se alegrou (Lc 10.21; Hb
12.2). O reino de Deus é alegria (Rm 14.17). Esta alegria nasce no crente como
uma obra da graça (2 Co 8.1,2); a salvação traz alegria (At 8.8; 16.34), porque
a ira de Deus cessou (Js 12.1-3), porque os nossos nomes estão escritos no
livro da vida (Lc 10.20). O Espírito Santo aumenta este gozo através do fruto
do Espírito (G1 5.22) porque o gozo e o Espírito Santo andam juntos (At 13.52;
1 Ts 1.6; Hb 1.9; SI 16.11); permanecendo em comunhão com Jesus, este gozo se
torna completo (Jo 15.11), e constitui a base que forma a maravilhosa comunhão
entre os crentes (Rm 12.15; 1 Co 12.26).
4.3.
Paz
O reino de Deus é paz (Rm
14.17) porque Deus é "Deus de Paz" (Fp 4.9; 2 Ts 3.16). É Ele que nos
dá "A paz de Deus" (Cl 3.15). Jesus, o Príncipe da paz (Is 9.6),
comprou esta paz na cruz (Ef 2.14; Cl 1.19,20). Por isto a graça e a paz andam
juntas (1 Co 1.3; 2 Co 1.2; Tt 1.4 etc.). O Espírito Santo faz aumentar esta
paz (Rm 8.6; Ef 4.3). A paz pode ser um rio (Is 48.18), e ser multiplicada (1
Pe 1.2; Jd v.2), uma paz que excede todo o entendimento (Fp 4.7). E pela
salvação que a paz entra na vida do crente (Rm 5.1; Mt 11.29; Ef 2.14).
Confiando no Senhor (Is 26.3), e andando conforme a palavra (G1 6.16), esta paz
permanecerá. A paz dá ao crente condições de viver em paz com todos (1 Ts 5.13;
Hb 12.14), pois ele é dominado pela paz (Cl 3.15). A paz na igreja (At 9.31) é
um segredo do seu progresso (SI 122.6,7). A paz faz do crente um pacificador
(Mt 5.9; Pv 15.18; 16.14).
4.4. Longanimidade
É ter "ânimo
longo", apesar das circunstâncias avessas, em lugar de ter "ânimo
precipitado" (Pv 14.29) seu antônimo. Deus é longânimo (Nm 14. 18). A
Bíblia fala da longanimidade de Deus (2 Pe 3.15; 1 Pe 3.20) e das riquezas da
sua longanimidade (Rm 2.4). Deus é também chamado o Deus de paciência (Rm 15.5)
Jesus mostrou toda a longanimidade para salvar Saulo (1 Tm 1.16). É desta fonte
que o Espírito Santo transmite a longanimidade como fruto, pois "...o amor
de Deus está derramado em nossos corações..." (Rm 5.5) e o amor nunca
falha (1 Co 13.8). Esta virtude ajuda o crente tanto nas suas comunicações com
os irmãos (Ef 4.2), como no seu serviço (2 Co 6.6; 2 Tm 4.2; Pv 15.18). É uma
expressão de "domínio próprio" (Pv 16.32) na hora do sofrimento (Rm
12.12). Jesus experimentou isto (1 Pe 2.21-23) Paulo era nisto um exemplo (2 Tm
3.10).
4.5.
Benignidade
É uma virtude que nos dá
condições de tratar os outros com carinho e meiguice. Deus é benigno (Lc 6.35),
isto é, a benignidade faz parte da sua própria substância. Por isto a Bíblia
fala das riquezas (Rm 2.4), e da grandeza (SI 5.7) da sua benignidade, que se
elevam até os céus (SI 108.4). A Bíblia fala da benignidade de Jesus (2 Co
10.1). É desta fonte que o Espírito Santo transmite a benignidade como fruto.
Lemos em 2 Coríntios 6.6: "...na benignidade, no Espírito...". O
Espírito Santo nos quer revestir desta benignidade (Cl 3.12,13) para uma
vitória completa.
4.6.
Bondade
Deus é a fonte da bondade,
porque Ele é bom (Na 1.7; Ed 3.11) e toda dádiva dele é boa (Tg 1.17). O
Espírito Santo transmite esta virtude como um fruto, para que cada um do bom
tesouro possa tirar o bem (Lc 6.45). Barnabé foi cheio do Espírito Santo e por
isto se tornou um homem bom (trad. rev.) (At 11.24). Ele deixou um brilhante
exemplo de que maneira este fruto se manifesta. O seu coração era aberto para
dar (At 4.37; 2 Co 8.1-3). Ele viu o que a graça de Deus havia operado (At
11.23), por isto conseguiu ajudar a Saulo (At 9.26-28; 11.25,26). Aquele que
possui este fruto é feliz (Pv 14.14), pois pode ser uma bênção para outros (Rm
15.14) e até deixa uma herança para os seus descendentes (Js 11.23) e sente o
favor de Deus (Pv 12.2). Diante da eternidade será manifestado que Deus deu
valor à bondade (Mt 25.23).
4.7. Fidelidade
Deus é fiel (1 Co 1.9; 1 Ts
5.24; 2 Co 1.18), como também Jesus o é (Ap 19.11). A sua fidelidade sempre
permanece (2 Tm 2.13): na chamada (1 Co 1.9), no perdão (1 Jo 1.9), nas
tentações (1 Co 10.13) e na santificação (1 Ts 5.23,24). Alcançamos misericórdia
para sermos fiéis (1 Co 7.25). Pela operação do Espírito Santo esta virtude
aparece como fruto que penetra até o nosso espírito (Pv 11.30). Deus busca este
fruto entre o seu povo (SI 101.6).
A fidelidade é uma força nas
nossas relações com Deus (2 Co 11.2) e diante da sua palavra (1 Tm 4.6; At
5.29; Jo 14.23). A fidelidade é indispensável nas nossas atitudes para com a
igreja (Hb 3.5), e para com os irmãos (2 Jo vv. 5,6) e no nosso serviço (1 Co
4.2; 1 Tm 1.12; At 20.24). Sejamos fiéis até a morte para alcançarmos a coroa
da vida (Ap 2.10).
4.8. Mansidão
É uma virtude amorosa, pela
qual temos condições de nos conservar pacíficos, com serenidade e brandura, sem
alterações, quando encontramos coisas desagradáveis. Jesus, como homem, foi
manso. A Bíblia fala da mansidão de Cristo (2 Co 10.1). Os profetas
profetizaram sobre a sua mansidão (Is 53.7; Mt 21.5). Ele se conservou manso
até diante de seu traidor (Mt 26.50), e curou o moço que foi enviado para o
prender (Lc 22.51). Ele disse: "...Aprendei de mim, que sou manso..."
(Mt 11.29). Ele ensinou mansidão (Lc 6.27-29). O Espírito Santo faz com que a
mansidão apareça como fruto, quando o amor de Deus é derramado em nossos
corações (Rm 5.5), então o espírito de mansidão se manifesta (1 Co 4.21).
Principalmente os servos de Deus devem possuir este fruto (Tg 3.13), e se
revestirem de mansidão (Cl 3.12), porque é útil no serviço (2 Tm 2.25; Tt 3.2;
Ef 4.2; G1 6.1; 1 Pe 3.15).
4.9. Temperança, ou domínio
próprio
Serve como freio (Tg 3.2),
quando a vontade própria, o egoísmo quer prevalecer em oposição à vontade de
Deus. Jesus morreu para que "...os que vivem, não vivam mais para si, mas
para aquele que por eles morreu..." (2 Co 5.15). Ele mesmo deu exemplo
disto, pois "...não agradou a si mesmo..." (Rm 15.3).
O Espírito Santo faz aparecer
esta virtude como fruto. Deus nos deu o espírito de moderação (2 Tm 1.7), que
aparece como uma força contra a carne (G15.17), fazendo o crente submeter-se à
direção do Espírito (G15.25). Assim o crente subjuga o seu corpo (1 Co 9.27), e
governa o seu espírito (Pv 16.32) e disciplina o seu coração (Pv 23.12) para
dirigir o seu caminho (Pv 23.19) para andar em Espírito (G1 5.25). A temperança
traz ricas bênçãos, pois ajuda o crente a rejeitar o mal (SI 141.4; Dn 1.8) e
lhe dá domínio próprio para não permitir que algo contra a vontade de Deus o
domine (1 Co 6.12; 10.23), com isso o crente de tudo se abstém para alcançar
uma coroa incorruptível (1 Co 9.25).
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Fonte: Bergstén, Eurico, A Santa Trindade:
O Pai, o Filho e Espírito Santo. Rio de Janeiro, CPAD, 1989.