Segundo Gên. 2:7, o
homem se compõe de duas substâncias — a substância material, chamada corpo, e a
substância imaterial, chamada alma. A alma é a vida do corpo e quando a alma se
retira o corpo morre. Mas, segundo 1 Tess. 5:23 e Heb. 4:12, o homem se compõe
de três substâncias — espírito, alma e corpo; alguns estudantes da bíblia
defendem essa opinião de três partes da constituição humana versus doutrina de
duas partes apenas, adotada por outros. Ambas as opiniões são corretas quando
bem compreendidas.
O espírito e a alma
representam os dois lados da substância não-física do homem; ou, em outras
palavras, o espírito e a alma representam os dois lados da natureza espiritual.
Embora distintos, o espírito e a alma são inseparáveis, são entrosados um no
outro. Por estarem tão interligados, as palavras "espírito" e
"alma" muitas vezes se confundem (Ecl. 12:7; Apoc. 6:9); de maneira
que em um trecho a substância espiritual do homem se descreve como a alma (Mat.
10:28), e em outra passagem como espírito (Tia. 2:26).
Embora muitas vezes
os termos sejam usados alternativamente, têm significados distintos. Por
exemplo: "A alma" é o homem como o vemos em relação a esta vida
atual. As pessoas falecidas descrevem-se como "almas" quando o
escritor se refere à sua vida anterior. (Apoc. 6:9, 10; 20:4.)
"O
espírito" é a descrição comum daqueles que passaram para a outra vida.
(Atos 23:9; 7:59; Heb. 12:23; Luc. 23:46; 1 Ped. 3:19.) Quando alguém for
"arrebatado" temporariamente fora do corpo (2 Cor. 12:2) se descreve
como "estando no espírito".(Apoc. 4:2; 17:3.) Sendo o homem
"espírito", é capaz de ter conhecimento de Deus e comunhão com ele;
sendo "alma", ele tem conhecimento de si próprio; sendo
"corpo", tem, através dos sentidos, conhecimento do mundo. —
Scofield.
I-
O ESPÍRITO HUMANO
Habitando a carne
humana, existe o espírito dado por Deus em forma individual. (Num. 16:22;
27:16.) O Espírito foi formado pelo Criador na parte interna da natureza do
homem, capaz de renovação e desenvolvimento. (Sal. 51:10.) Esse espírito é o
centro e a fonte da vida humana; a alma possui e usa essa vida e lhe dá
expressão por meio do corpo. No princípio Deus soprou o espírito de vida no
corpo inanimado e o homem "foi feito alma vivente". Assim a alma é um
espírito encarnado, ou um espírito humano que recebe expressão mediante o
corpo. A combinação desses dois elementos constitui o homem em
"alma".A alma sobrevive à
morte porque o espírito a dota de energia; no entanto, a alma e o espírito são
inseparáveis porque o espírito está entrosado e confunde-se com a substância da
alma. O espírito é aquilo que faz o homem diferente de todas as demais coisas
criadas. é dotado de vida humana (e inteligência, Prov. 20:27; Jo 32:8) que se
distingue da vida dos irracionais. Os irracionais têm alma (Gên. 1:20, no
original) mas não têm espírito.
Em Ecl. 3:21 a
referência trata aparentemente do princípio de vida, tanto no homem como no
irracional. Salomão registrou uma pergunta que fez quando se afastou de Deus.
Assim, dessemelhante dos homens, os irracionais não podem conhecer as coisas de
Deus (1 Cor. 2:11; 14:2; Efés. 1:17;4:23) e não podem ter relações pessoais e
responsáveis com ele. (João 4:24.)
O espírito do homem,
quando se torna morada do Espírito de Deus (Rom. 8:16), é centro de adoração
(João 4:23,24); de oração, cântico, bênção (1 Cor. 14:15), e de serviço (Rom.
1:9; Fil. 1:27). O espírito humano, representando a natureza suprema do homem,
rege a qualidade de seu caráter. Aquilo que domina o espírito toma-se atributo
de seu caráter. Por exemplo, se o homem permitir que o orgulho o domine, ele
tem um "espírito altivo". (Prov. 16:18.)
Conforme as
influências respectivas que o dominem, um homem pode ter um espírito perverso
(Isa. 19:14); um espírito rebelde (Sal. 106:33); um espírito impaciente (Prov.
14:29); um espírito perturbado (Gên.41:18); um espírito contrito e humilde
(Isa. 57:15; Mat. 5:3). Pode estar sob um espírito de servidão (Rom. 8:15), ou
ser impelido pelo espírito de inveja (Num.5:14). Assim é que o homem deve
guardar o seu espírito (Mal. 2:15), dominar o seu espírito (Prov. 16:32), pelo
arrependimento tornar-se um novo espírito (Ezeq. 18:31) e confiar em Deus para
transformar o seu espírito (Ezeq. 11:19).
Quando as paixões vis
exercerem o domínio e a pessoa manifestar um espírito perverso, significa que a
alma (a vida egocêntrica ou vida natural) destronizou o espírito. O espírito
lutou e perdeu. O homem é vitima de seus sentimentos e apetites naturais; e é
"carnal". O espírito já não domina mais, e essa impotência se descreve
como um estado de morte. Dessa maneira há necessidade de receber um espírito
novo (Ezeq. 18:31; Sal. 51:10); e somente aquele que originalmente soprou no
corpo do homem o fôlego da vida poder soprar na alma do homem uma nova vida
espiritual — isto é, regenerá-lo. (João 3:8; 20:22; Gal. 3:10.) Quando assim
sucede, o espírito do homem novamente ocupa lugar de ascendência, e chega a ser
homem "espiritual". Entretanto, o espírito não pode viver de si
mesmo, mas deve buscar a renovação constante mediante o Espírito de Deus.
II-
A ALMA DO HOMEM
(a) A natureza da alma.
A alma é aquele
princípio inteligente e vivificante que anima o corpo humano, usando os
sentidos físicos como seus agentes na exploração das coisas materiais e os
órgãos do corpo para se expressar e comunicar-se com o mundo exterior.
Originalmente a alma
veio a existir em resultado do sopro sobrenatural de Deus. Podemos descrevê-la
como espiritual e vivente, porque opera por meio do corpo. No entanto, não
devemos crer que a alma seja parte de Deus, pois a alma peca. É mais correto
dizer que é dom e obra de Deus. (Zac. 12:1.)
Devem-se notar quatro distinções:
1. A alma distingue a vida humana e a vida dos
irracionais das coisas inanimadas e também da vida inconsciente como a vegetal.
Tanto os homens como
os irracionais possuem almas (em Gên. 1:20, a palavra "vida" é
"alma" no original). Poderíamos dizer que as plantas têm alma (no
sentido de um princípio de vida), mas não é uma alma consciente.
2. A alma do homem o distingue dos irracionais.
Estes possuem alma,
mas é alma terrena que vive somente enquanto durar o corpo. (Ecl. 3:21.) A alma
do homem é de qualidade diferente sendo vivificada pelo espírito humano. Como
"toda carne não é a mesma carne", assim sucede com a alma; existe
alma humana e existe alma dos irracionais. Evidentemente, os homens fazem o que
os irracionais não podem fazer, por muito inteligentes que sejam; a sua
inteligência é de instinto e não proveniente de razão. Tanto os homens como os
irracionais constróem casas. Mas o homem progrediu, vindo a construir
catedrais, escolas e arranha-céus, enquanto os animais inferiores constroem
suas casas hoje da mesma maneira como as construíam quando Deus os criou.
Os irracionais podem
guinchar (como o macaco), cantar (como o pássaro), falar (como o papagaio); mas
somente o homem produz a arte, a literatura, a música e as invenções
cientificas. O instinto dos animais pode manifestar a sabedoria do seu Criador,
mas somente o homem pode conhecer e adorar a seu Criador. Para melhor ainda
ilustrar o lugar elevado que ocupa o homem na escala da vida, vamos observar os
quatro degraus da vida, que se elevam em dignidade um sobre o outro, conforme a
independência sobre a matéria.
Primeiro, a vida vegetal, que
necessita de órgãos materiais para assimilar o alimento; segundo, a vida
sensível, que usa os órgãos para perceber as coisas materiais e ter contato com
elas; terceiro, a vida intelectual, que percebe o significado das coisas
pela lógica, e não meramente pelos sentidos; quarto, a vida moral, que
concerne à lei e à conduta.
Os animais são
dotados de vida vegetativa e sensível; o homem é dotado de vida vegetativa,
sensível, intelectual e moral.
3. A alma distingue um homem de outro e dessa maneira
forma a base da individualidade.
A palavra
"alma" é, portanto, usada freqüentemente no sentido de
"pessoa". Em Êxo. 1:5 "setenta almas" significa
"setenta pessoas". Em Rom.13:1 "cada alma" significa
"cada pessoa". Atualmente dizemos, " não havia nem uma alma
presente", referindo-nos às pessoas.
4. A alma distingue o homem não somente das ordens
inferiores, mas também das ordens superiores dos anjos, porque estes não têm
corpos semelhantes aos dos homens.
O homem tomou-se um
"ser vivente", quer dizer, a alma enche um corpo terreno sujeito às
condições terrenas. Os anjos se descrevem como espíritos (Heb. 1:14), porque
não estão sujeitos às condições ou limitações materiais. Por essa mesma razão
se descreve Deus como "Espírito". Mas os anjos são espíritos criados
e finitos, enquanto Deus é o Espírito eterno e infinito.
(b) A origem da alma.
Sabemos que a
primeira alma veio a existir como resultado de Deus ter soprado no homem o
sopro de vida. Mas como chegaram a existir as almas desde esse tempo?
Os estudantes da Bíblia se dividem em dois grupos de ideias
diferentes:
(1) Um grupo afirma
que cada alma individual não vem proveniente dos pais, mas sim pela criação
Divina imediata. Citam as seguintes escrituras: Isa. 57:16; Ecl. 12:7; Heb.
12:9; Zac. 12:1
(2) Outros pensam que
a alma é transmitida pelos pais. Apontam o fato de que a transmissão da
natureza pecaminosa de Adão à posteridade milita contra a criação divina de
cada alma; também o fato de que as características dos pais se transmitem à
descendência. Citam as seguintes passagens: João 1:13; 3:6; Rom. 5:12; 1 Cor.15:22;
Efés. 2:3; Heb. 7:10. A origem da alma pode explicar-se pela cooperação tanto
do Criador como dos pais. No princípio duma nova vida, a Divina criação e o uso
criativo de meios agem em cooperação. O homem gera o homem em cooperação com
"o Pai dos espíritos". O poder de Deus domina e permeia o mundo (Atos
17:28; Heb. 1:3) de maneira que todas as criaturas venham a ter existência
segundo as leis que ele ordenou. Portanto, os processos normais da reprodução
humana põem em execução as leis da vida fazendo com que a alma nasça no mundo.
A origem de todas as
formas de vida está encoberta por um véu de mistérios (Ecl. 11:5; Sal.
139:13-16; Jo 10:8-12), e esse fato deve servir de aviso contra a especulação
sobre as coisas que estão além dos limites das declarações bíblicas.
(c) Alma e corpo.
A relação da alma com
o corpo pode ser descrita e ilustrada da seguinte maneira:
1. A alma é a
depositária da vida; ela figura em tudo que pertence ao sustento, ao risco, e à
perda da vida.
É por isso que em
muitos casos a palavra "alma" tem sido traduzida "vida".
(Vide Gên. 9:5; 1 Reis 19:3; 2:23; Prov. 7:23; Êxo. 21:23,30; 30:12; Atos
15:26.) A vida é o entrosamento do corpo com a alma. Quando a alma e o corpo se
separam, o corpo não existe mais; o que resta é apenas um grupo de partículas
materiais num estado de rápida decomposição.
2. A alma permeia e
habita todas as partes do corpo e afeta mais ou menos diretamente todos os seus
membros.
Este fato explica por
que as Escrituras atribuem sentimentos ao coração e aos rins (Sal. 73:21; Jo
16:13; Lam. 3:13; Prov. 23:16; Sal. 16:7; Jer. 12:2; Jo. 38:36); às entranhas
(File. 12; Jer. 4:19; Lam. 1:20; 2:11; Cânt. dos Cânt. 5:4; Isa. 16:11); e ao
ventre (Hab. 3:16; Jo 20:23; 15:35; João 7:38). Esta mesma verdade, de que a
alma permeia o corpo, explica porque em muitas passagens se descreve a alma
executando atos corporais. (Prov. 13:4; Isa. 32:6; Num. 21:4; Jer. 16:16;
Gên.44:30; Ezeq. 23:17, 22, 28.) "As partes internas" ou
"entranhas" é a expressão que geralmente descreve o entrosamento da
alma com o corpo. (Isa. 16:11; Sal. 51:6; Zac. 12:1; Isa. 26:9; 1 Reis 3:28.)
Essas passagens descrevem as partes internas como o centro dos sentimentos, de
experiência espiritual e de sabedoria. Mas notemos que não é o tecido material
que pensa e sente, e, sim a alma operando por meio dos tecidos. Corretamente
falando, não é o coração de carne, mas a alma, por meio do coração, que sente.
3. Por meio do corpo a alma recebe suas impressões do
mundo exterior.
Essas impressões são
percebidas por estes sentidos: vista, audição, paladar, olfato e tato, e são
transmitidas ao cérebro por via do sistema nervoso. Por meio do cérebro a alma
elabora essas impressões pelos processos do intelecto, da razão, da memória e
da imaginação. A alma atua sobre essas impressões enviando ordens às várias
partes do corpo por via do cérebro e do sistema nervoso.
4. A alma estabelece contato com o mundo por meio do
corpo, que é o instrumento da alma.
O sentir, o pensar, o
exercer vontade e outros atos, são todos eles atividades da alma ou do
"eu". É o "eu" que vê e não somente os olhos; é o
"eu" que pensa e não meramente o intelecto; é o "eu" que
joga a bola e não meramente o meu braço; é o "eu" que pede e não
simplesmente a língua ou os membros. Quando um membro é ferido, a alma não pode
funcionar bem por meio dele; em caso de lesão cerebral pode resultar a
demência. A alma então passa a ser como um músico com um instrumento danificado
ou quebrado.
(d) A alma e o pecado.
A alma vive a sua
vida natural através dos instintos, termo que vamos empregar por falta de outro
melhor. Esses instintos são forças motrizes da personalidade, com as quais o
Criador dotou o homem para fazê-lo apto a uma existência terrena (assim como o
dotou de faculdades espirituais para capacitá-lo a uma existência celestial).
Chamamo-los instintos porque são impulsos inatos, implantados na criatura a fim
de capacitá-la a fazer instintivamente o que é necessário para originar e
preservar a vida natural.
Assim escreve o Dr.
Leander Keyser: "Se no inicio de sua vida o infante humano não tivesse
certos instintos, não poderia sobreviver, mesmo com o melhor cuidado paterno e
médico." Vamos considerar os cinco instintos mais importantes.
O primeiro é o
instinto da auto-preservação que nos avisa de perigo e nos capacita a cuidar de
nós mesmos.
O segundo, é o
instinto de aquisição (conseguir), que nos conduz a adquirir as provisões para
o sustento próprio.
O terceiro, é o
instinto da busca de alimento, o impulso que leva a satisfazer a fome natural.
O quarto é o instinto
da reprodução que conduz à perpetuação da espécie.
O quinto, é o
instinto de domínio que conduz a exercer certa iniciativa própria necessária
para o desempenho da vocação e das responsabilidades.
O registro desses
dotes (ou instintos) do homem concedidos pelo Criador acha-se nos primeiros
dois capítulos de Gênesis.
O instinto de
autopreservação implica a proibição e o aviso: "Mas da árvore do
conhecimento do bem e do mal, dela não comerás porque no dia em que dela
comeres certamente morrerás."
O instinto de
aquisição aparece no fato de ter Adão recebido da mão de Deus o lindo jardim do
Éden. O instinto da busca de alimento percebe-se nas palavras: "Eis que
vos tenho dado todas as ervas que dão sementes, as quais se acham sobre a face
de toda a terra, e todas as árvores em que há fruto que dê semente ser-vos-á
para alimento." Ao instinto de reprodução referem-se estas declarações:
"Homem e mulher os criou." "Deus os abençoou e lhes disse:
frutificai, multiplicai-vos." Ao quinto instinto, domínio, refere-se o
mandamento: "Enchei a terra, e sujeitai-a; dominai.
"Deus ordenou
que as criaturas inferiores fossem governadas primeiramente pelos instintos,
mas o homem foi elevado à dignidade de possuir o dom de livre arbítrio e a
razão, com os quais poderia disciplinar-se a si mesmo e tornar-se árbitro do
seu próprio destino. Como guia para o regulamento das faculdades do homem, Deus
impôs uma lei. O entendimento do homem quanto a essa lei produziu uma
consciência, que significa literalmente "com conhecimento".
Quando o homem deu
ouvidos à lei, teve a consciência esclarecida; quando desobedeceu a Deus,
sofreu, pois a consciência o acusava. No relato da tentação (Gên. 3) lemos como
o homem cedeu à concupiscência dos olhos, à cobiça da carne, e à vaidade da
vida. (1 João 2:16), e usou os seus poderes de modo contrário à vontade de
Deus. A alma consciente e voluntariamente, usou o corpo para pecar contra Deus.
Essa combinação de alma pecaminosa e corpo humano constituem o que se conhece
como "o corpo do pecado" (Rom. 6:6), ou "a carne" (Gál.
5:24). A inclinação e desejo da alma para usar o corpo dessa maneira se
descreve como a "mente carnal" (Rom. 8:7).
Visto que o homem
pecou com o corpo, será julgado segundo "o que fez por meio do corpo"
(2 Cor. 5:10). Isso envolve uma ressurreição. (João 5:28, 29.) Quando a
"carne" é condenada, a referência não é ao corpo material (o elemento
material não pode pecar), mas ao corpo usado pela alma pecadora. É a alma que
peca. Ainda que a língua do difamador fosse cortada o difamador seria o mesmo.
Amputam-se as mãos do larápio, mas de coração ele ainda seria ladrão.
Os impulsos
pecaminosos da alma devem ser extirpados; é essa a obra do Espírito Santo.
(Vide Col. 3:5; Rom. 8:13.) "A carne" pode ser definida como a soma
total dos instintos do homem, não como vieram das mãos do Criador, e, sim, como
são na realidade, pervertidos e feitos anormais pelo pecado. é a natureza
humana na sua condição decaída, enfraquecida e desorganizada pela herança
racial derivada de Adão e debilitada e pervertida por atos voluntários
pecaminosos. Ela representa a natureza humana não regenerada cujas fraquezas
freqüentemente se escusam com estas palavras: "Afinal de contas a natureza
humana é assim mesmo." é a aberração desses instintos e faculdades dados por
Deus que forma a base do pecado. Por exemplo, o egoísmo, a irritabilidade, a
inveja, e a ira são aberrações do instinto da autopreservação. O roubo e a
cobiça são perversões do instinto de aquisição. "não furtarás" e
" não cobiçarás" querem dizer: "não perverterás o instinto de
aquisição. A glutonaria é a perversão do instinto de alimentação, portanto, é
pecado. A impureza é perversão do instinto de reprodução. A tirania, a
arrogância, a injustiça e a implicância representam abusos do instinto de domínio.
Assim vemos que o pecado, fundamentalmente, é o abuso ou a aberração das forças
com que Deus nos dotou.
Notemos quais as consequências dessa perversão:
(1) a consciência
culpada que diz ao homem que desonrou a seu Criador, e avisa-o da pena
terrível;
(2) a perversão dos
instintos reage sobre a alma, debilitando a vontade, incitando e fortalecendo
hábitos maus, e criando deformações do caráter. Paulo fez um catálogo dos
sintomas desses "defeitos" da alma (uma palavra hebraica traduzida
"pecado" significa literalmente "tortuosidade" em Gál.
5:19-21). "Ora as obras da carne são manifestas, as quais são: a
fornicação, a impureza, a lascívia, a idolatria, a feitiçaria, as inimizades,
as contendas, os ciúmes, as iras, as facções, as dissensões, os partidos, as invejas,
as bebedices, as orgias, e outras coisas semelhantes." Paulo considerou
tais coisas tão sérias que acrescenta as palavras, "os que tais coisas
praticam, não herdarão o reino de Deus". Colocada sob o poder do pecado, a
alma toma-se "morta em delitos e pecados" (Efés. 2:1).
Colocada entre o
corpo e o espírito, entre o mais elevado e o inferior, entre o terreno e o
espiritual, a alma fez uma escolha má. Mas da escolha não surgiu proveito, e,
sim, perda eterna (Mat. 16:26). Foi feita a má "barganha" de Esaú — a
troca da bênção espiritual por uma coisa terrena e perecível. (Heb.12:16.) Ao
morrer, a alma ter que passar para o outro mundo, "manchada pela
carne". (Jud. 23.) Felizmente existe um remédio — a cura dupla, tanto para
a culpa como para o poder do pecado, (1) Porque o pecado é uma ofensa a Deus, é
exigida uma expiação para remover a culpa e purificar a consciência. A provisão
do Evangelho é o sangue de Jesus Cristo.
(2) Visto que o
pecado traz doença à alma e desordem no ser humano, requere-se um poder
curativo e corretivo. Esse poder é justamente aquele provido pela operação
interna do Espírito Santo que endireita as coisas tortas da nossa natureza e
põe em movimento certo as forças da nossa vida.
Os resultados (os
frutos) são "amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade,
fidelidade, mansidão, temperança" (Gál. 5:22, 23). Em outras palavras, O
Espírito Santo faz-nos justos, palavra que no hebraico significa
"reto". O pecado é tortuosidade da alma; a justiça é sua retidão.
(e) A alma e o coração.
Tanto nas Escrituras,
como na linguagem comum, a palavra "coração" significa o centro mesmo
duma coisa. (Deut. 4:11; Mat. 12:40 Êxo. 15:8; Sal. 46:2; Ezeq. 27:4,25,26,27.)
O "coração" do homem é, portanto, o verdadeiro centro da sua personalidade.
É o centro da vida física. Nas palavras do Dr. Beck: "O coração é a
primeira coisa a viver, e seu primeiro movimento é sinal seguro de vida; seu
silêncio é sinal positivo de morte." é também a fonte e o lugar onde se
encontram as correntes da vida espiritual e da alma. Podemos descrevê-lo como a
parte mais profunda do nosso ser, a "casa das máquinas", por assim
dizer, da personalidade, donde procedem os impulsos que determinam o caráter e
a conduta do homem.
1. O coração é centro da vida, do desejo, da vontade e do
juízo.
O amor, o ódio, a
determinação, a vontade e o gozo (Sal. 105:3) unem-se com o coração. O coração
sabe, compreende (1 Reis 3:9), delibera, calcula; está disposto, é dirigido,
presta atenção, e inclina-se para as coisas. Tudo o que impressiona a alma se
diz estar fixado, estabelecido, ou escrito no coração. O coração é o depósito
de tudo quanto se ouve ou se experimenta (Lu. 2:51). O coração é a
"fábrica", por assim dizer, em que se formam pensamentos e
propósitos, sejam bons ou maus. (Vide Sal.14:1; Mat. 9:4; l Cor. 7:37; 1Reis
8:17.)
2. O coração é o centro da vida emocional.
Ao coração
atribuem-se todos os graus de gozo, desde o prazer, (Isa. 65:14) até ao êxtase
e exultação (Atos 2:46); todos os graus de dor, desde o descontentamento (Prov.
25:20) e a tristeza (Joao14:1) até ao "ai" lacerante e esmagador
(Sal. 109:22; Atos 21:13); todos os graus de má vontade desde a provocação e
ira (Prov. 23:17) até à cólera incontrolável (Atos 7:54) e o desejo vingativo
ardente (Deut. 19:6); todos os graus de temor desde o tremor reverente (Jer.
32:40) até ao pavor (Deut. 28:28). O coração derrete-se e se retorce em
angústia (Jos. 5:1); torna-se fraco pela depressão (Lev. 26:36); murcha sob o
peso da tristeza (Sal. 102:4); quebra-se e fica esmagado pela adversidade (Sal.
147:3), é consumido por um ardor sagrado (Jer.20:9).
3. O coração é o centro da vida moral.
Concentrado no
coração pode haver o amor de Deus (Sal. 73:26) ou o orgulho blasfemo (Ezeq.
28:2, 5). O coração é a" oficina" de tudo quanto é bom ou mau nos
pensamentos, nas palavras ou nas ações. (Mat. 15:19.) É onde se reúnem todos os
impulsos bons ou as cobiças más; é a sede dum tesouro bom ou ruim. Do que tiver
em abundância ele fala e opera.(Mat. 12:34, 35.) É o lugar onde originalmente
foi escrita a lei de Deus (Rom.2:15), e onde a mesma lei é renovada pela operação
do Espírito Santo. (Heb.8:10.) É sede da consciência (Heb. 10:22) e a ele
atribuem-se todos os testemunhos da consciência, (1 João 3:19-21.) Com o
coração o homem crê (Rom. 10:10) ou descrê (Heb. 3:12). É campo onde se semeia
a Palavra divina (Mat. 13:19).Segundo as suas decisões, está sob a inspiração
de Deus (2 Cor. 8:16) ou de Satanás (João 13:2). É a morada de Cristo (Efés.
3:17) e do Espírito (2 Cor. 1:22); da paz de Deus (Col. 3:15). é o receptáculo
do amor de Deus (Rom. 5:5), o lugar da aurora celestial (2 Cor. 4:6), a câmara
da comunhão secreta com Deus (Efés.5:19). É uma grande profundidade misteriosa
que somente Deus pode sondar. (Jer. 17:9.) Foi em vista das imensas
possibilidades implícitas no coração do homem que Salomão proferiu esta admoestação:
"Guarda com toda a diligência o teu coração, pois dele procedem as fontes
da vida" (Prov. 4:23).
(f) A alma e o sangue.
"Porque a vida
(literalmente "alma") da carne está no sangue" (Lev. 17:11). As
Escrituras ensinam que, tanto no homem como no irracional, o sangue é a fonte e
o depositário da vida física. (Lev. 17:11; 3:17; Deut. 12:23; Lam. 2:12; Gên.
4:10; Heb. 12:24; Jo 24:12; Apoc. 6:9,10; Jer. 2:34; Prov. 28:17.) Vamos citar
as palavras de Harvey, médico inglês, descobridor da circulação do sangue:
"é o primeiro órgão a viver e o último a morrer; é a sede principal da
alma. Ele vive e nutre-se de si mesmo, e por nenhuma outra parte do
corpo." Em Atos 17:26 e João 1:13 o sangue se apresenta como a matéria
original de onde surge o organismo humano. Usando o coração como bomba, e o
sangue como meio da vida, a alma envia vitalidade e nutrição a todas as partes
do corpo.
O lugar que a
criatura ocupa na escala da vida determina o valor do seu respectivo sangue.
Primeiro vem o sangue dos animais; porém de valor maior é o sangue do homem,
porque o homem tem a imagem de Deus. (Gên. 9:6). De estima especial é o sangue
dos inocentes e dos mártires. (Gên. 4:10; Mat. 23:35.) O mais precioso de todos
é o sangue de Cristo (1 Pedro 1:19; Heb. 9:12), de valor infinito por estar
unido com a Divindade. Pelo plano benigno de Deus, o sangue tomou-se o meio de
expiação, quando aspergido sobre o altar de Deus. "Pelo que vo-lo tenho
dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas; porquanto é o
sangue que fará expiação pela alma" (Lev. 17:11).
III- O CORPO HUMANO
Os seguintes nomes
aplicam-se ao corpo:
(a) casa, ou tabernáculo. (2 Cor. 5:1.)
é a tenda na qual a
alma do homem, qual peregrina, mora durante sua viagem do tempo para a
eternidade. À morte, desarma-se a barraca e a alma parte. (Vide Isa. 38:12: 2
Ped. 1:13, 14.)
(b) Invólucro. (Dan. 7:15).
O corpo é a
"bainha" da alma. A morte é o desembainhar a espada.
(c) Templo.
O templo é um lugar
consagrado pela presença de Deus — um lugar onde a onipresença de Deus é
localizada, (1 Reis 8:27, 28.) O corpo de Cristo foi um "templo"
(João 2:21) porque Deus estava nele. (2 Cor. 5:19.) Quando Deus entra em
relação espiritual com uma pessoa, o corpo dessa pessoa toma-se um templo do
Espírito Santo. (1 Cor. 6:19.) Os filósofos pagãos falavam do corpo com
desprezo; consideravam-no um estorvo à alma, e almejavam o dia quando a alma
estaria livre das suas complicadas e enredosas roupagens. Mas as Escrituras em
toda parte tratam o corpo como obra de Deus, a ser apresentado a Deus (Rom.
12:1), usado para a gloria de Deus (1 Cor. 6:20). Por que, por exemplo, contém
o livro de Levítico tantas leis governando a vida física dos israelitas?
Para ensiná-los que o
corpo, como instrumento da alma, deve conservar-se forte e santo. É verdade que
este corpo é terreno (1 Cor. 15:47) e como tal um corpo de humilhação (Fil.
3:21), sujeito às enfermidades e à morte (1 Cor. 15:53), de maneira que gememos
por um corpo celestial (2 Cor. 5:2). Mas à vinda de Cristo, o mesmo poder que
vivificou a alma transformará o corpo, assim completando a redenção do homem. E
o penhor dessa mudança é o Espírito que nele habita. (2Cor. 5:5; Rom. 8:11.)
Adaptação:
Fonte:
PEARLMAN, Myer, Conhecendo as Doutrinas da Bíblia, 25ª, ed. 1997, Editora Vida.