O cultivo da espiritualidade
implica em descobrir aqueles elementos intrínsecos ao espírito humano tais como
adoração, louvor e oração. Na Queda, o espírito do homem foi corrompido pelo
pecado, mas Jesus Cristo, pela sua obra expiatória, restaurou a possibilidade
de redirecionar esses elementos (valores) da espiritualidade do homem para com
Deus. Neste artigo, estudaremos sobre esses valores, a adoração e a oração como
elementos indispensáveis para uma vida cristã vitoriosa.
Leia também:
I -
ADORAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO
O
ponto de partida para a compreensão da doutrina da adoração é o Antigo
Testamento, que traz a revelação de Deus aos homens e, posteriormente, a
formação de um povo para o servir. No início da existência da criatura humana,
a adoração esteve presente. Adão e Eva, o primeiro casai criado por Deus,
aprendeu a adorar a Deus e a reconhecê-lo como digno de adoração. Após a Queda
pelo pecado, o casal teve filhos e os dois primeiros - Caim e Abel - aprenderam
o significado da relação com o Criador. Os dois filhos são os primeiros
conhecidos na prática da adoração. Porém, o ser humano corrompeu-se e perdeu o
rumo de sua religiosidade. A história bíblica indica que já havia politeísmo na
adoração nos primórdios da humanidade (Gn 35.2-4; 31.19; 31.52-54). Esse
politeísmo continuou até o período patriarcal.
A
partir de Abraão, a adoração tinha um caráter fc bem familiar, quando o chefe
da família orava e oferecia sacrifícios em nome de todos os familiares (Gn
12.7-8; 13.18; Jó 1.5). A posteridade familiar de Abraão cresceu e se tornou um
grande povo através dos filhos de Jacó. A consciência da presença de Deus foi
mantida e formulada através de várias gerações. Depois da escravatura de Israel
no Egito por 400 anos, Deus escolhe um homem e o faz líder de seu povo para
torná-lo um povo adorador do Deus de seus pais (Ex 3.1-12).
Israel
se organizou e organizou seu culto a Deus e o primeiro serviço de adoração de
Israel foi com a celebração da Páscoa na noite que precedeu a saída do Egito.
Esse culto foi mantido pelas famílias e o Tabernáculo foi construído pelos
israelitas para centralizar o culto de adoração de Israel. O sacerdócio foi
estabelecido por Moisés e a adoração a Deus tornou-se uma realidade na vida religiosa
de Israel.
Vários
eventos da vida nacional de Israel, como a Páscoa e o Pentecostes, motivavam a
Israel para o serviço de adoração. Porém, a adoração de Israel tornou-se vazia
da presença de Deus e uma nova aliança foi feita, dando oportunidade a judeus e
gentios, para uma adoração objetiva ao Deus de todos os homens.
II -
A ADORAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO
O
Novo
Testamento deu início a um novo modelo de adoração sem abandonar os princípios
básicos da adoração a Deus. Os sublimes ideais da adoração pública judaica
foram levados à experiência cristã sem as práticas formais do sistema
veterotestamentário. A ênfase da adoração neotestamentária foi dada ao Senhor
Jesus Cristo e à sua obra expiatória no Calvário. O próprio Jesus estabeleceu
um novo modo de adoração quando falou com a mulher samaritana (Jo 4.23-24).
A
igreja dos primeiros cristãos continuou assistindo e ensinando nas sinagogas,
porque não havia templos cristãos ainda, e nas casas dos irmãos na fé. Porém,
não demorou muito, os discípulos de Jesus foram forçados a abandonar as
sinagogas e estabelecer seus próprios lugares de reunião. O resultado dessa
nova experiência foi positiva, porque aqueles cristãos descobriram que eles
podiam experimentar da nova liberdade para adorar ao Senhor ressuscitado sob a
inspiração do Espírito Santo.
O
sentido de companheirismo tornou-se evidente e o ensino das doutrinas de Cristo
passou a ter espaço pleno sem a preocupação de estar numa sinagoga. Várias
atividades sob a égide da comunhão cristã (koinonia)
produziram nos cristãos primitivos um sentimento maior de reverência ao Senhor
e Salvador de suas vidas. A participação na Ceia, o batismo de novos conversos
a Cristo e outras atividades eram feitos com uma adoração espontânea, sem a
rigidez da liturgia hebraica.
III - A NECESSIDADE DA ADORAÇÃO
Na
história bíblica, tanto no AT como no NT, existe um vocabulário extenso
relativo à adoração. Entretanto, objetivamente, neste artigo, precisamos
entender o conceito essencial da adoração que é o "serviço".
Dois
vocábulos nas línguas originais da Bíblia, bhôdhâ (no hebraico) e latréia
(no grego), respectivamente significam "serviço", mas o efetuado pelos
escravos de uma casa. Significam a reverência dos escravos aos seus senhores.
Porém, no serviço de adoração dos servos de Deus, dois outros vocábulos ganham
um sentido especial.
No
hebraico, hishta "wâ e no grego, proskyneõ, são termos que significam "temor reverente e
admiração e manifestação de atitudes respeitosas de adoração".
1) A pratica que induz à perfeição.
Existe
um ditado que diz: "A perfeição se conquista com a prática". Porém,
há os que discordam desse conceito e afirmam que "A prática perfeita é que
faz o perfeito". Nesse sentido, entendemos a importância da disciplina da
adoração. É preciso conhecer o que é adoração, sua natureza e o que devemos
fazer para uma adoração a Deus aceitável.
Descrever
a adoração é algo subjetivo porque ela se define de várias maneiras.
Entretanto, se o significado essencial de adoração é o serviço que prestamos a
Deus, resta-nos conhecer os modos desse serviço de adoração, tanto no carpo
individual como no público.
2) Adoração estética versus adoração
reverente.
Muito
das posturas de adoração desenvolvidas em nossos tempos modernos tem a
preocupação com a forma, com o belo da ação adorativa. Jesus declarou que os
"verdadeiros adoradores adorarão o pai em espírito e em verdade; porque o
Pai procura a tais que assim o adorem" (Jo 4.23). Uma adoração estética se
constitui numa experiência superficial, induzida pelo louvor que produz um
sentimento superficial de paz e gozo, que não é, de fato, verdadeira adoração.
Geralmente,
há um entendimento equivocado do louvor e da adoração. O objetivo da adoração
não é conseguir algo para nós mesmos. Adoramos porque só Deus é digno de
adoração. Não devemos louvar a Deus só porque nos agrada louvá-lo, porque
produz uma sensação agradável etc. Devemos louvá-lo porque é o Caminho.
Adoramos pelo que Ele é e não pelo que sentimos.
A
adoração estética cria formas, estilos, vocabulário próprio, porque produz uma
experiência sensorial. Não podemos condenar a adoração estética como um todo,
mas não podemos fazer dela apenas uma experiência inspiradora, poética, de
beleza espiritual. A adoração reverente é aquela que é fruto de uma vida santa
na presença de Deus. Só é possível adorar plenamente a Deus quando descobrimos
a santidade de Deus.
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IV - O QUE MOTIVA A ADORAÇÃO CRISTÃ?
Que motivos nos levam a
adorar a Deus? O sentido da palavra adorar é "atribuir
mérito a alguém ou alguma coisa". Adoro a Deus porque preciso de alguma
coisa da parte Dele ou porque posso dar a Ele o que merece?
Existem alguns motivos revelados nas
Escrituras que nos ensinam o porquê da adoração.
1.
Em primeiro lugar, devemos adorar a Deus pelo que Ele é em
si mesmo.
Deus é! Ele não precisa ser
e não corre o risco de não ser. Quando Ele se revela a si mesmo e quando
percebemos essa revelação da Divindade, somos motivados a adorá-lo. A auto revelação
de Deus mostra que Ele está vivo e ativo, sendo a fonte e o sustentador da
Criação (At 17.25-28 e Rm 1-2).
Esta motivação básica se
fundamenta na santidade de Deus e na reverência que inspira os homens (1Sm
6.20; Jr 30.21 e Is 6.5). O adoramos pela consciência que tomamos da sua
eternidade e da nossa finitude como homens (Gn 18.27; Jó 42.5-6; Lc 5.8).
2.
Em segundo lugar, devemos adorar a Deus pela sua
imanência.
Falamos muito da
transcendência de Deus e pouco da sua imanência. Isto é, Deus está presente. A
manifestação do Verbo que se fez carne (Jo 1.1-3) revela o fato dessa imanência
divina. Jesus Cristo se fez carne e habitou entre nós. Ele recebeu o nome de
Emanuel, que significa "Deus conosco" (Mt 1.23).
A adoração cristã não está
baseada apenas na revelação geral de Deus, mas também em suas revelações
singulares a seu povo, especialmente através de Jesus. Deus está presente em
Cristo e a adoração do Novo Testamento é uma resposta à presença de Deus na
pessoa de seu Filho Jesus Cristo. O próprio Jesus declarou que estaria presente
entre seus discípulos, depois da sua ascensão (Mt 18.20; 28.20). A vinda de seu
Filho é a resposta mais clara e final da revelação de Deus, que esteve entre
nós como "servo" e agora como Senhor da Igreja (Hb 1.1-2' e 1Co
6.19-20; 8.4-6),
Fonte:
Curso de Disciplina Espíritual
Jornal
Mensageiro da Paz, outubro de 2006
Autor:
Elienai Cabral
Reverberação:
Subsídios EBD