Baseado em décadas de
observações pessoais meticulosamente registradas e analisadas, o psicólogo
suíço Jean Piaget concluiu que a capacidade de aprendizagem em crianças
desenvolve-se em estádios sequenciais que equivalem grosso modo à idade
cronológica. Os estágios são aproximadamente constantes para todas as crianças,
essencialmente não afetadas pela cultura ou experiência.
Cada um dos cinco estágios
representa um passo discreto para a maturidade cognitiva. A habilidade de
organizar e estruturar informação durante a infância é limitada, mas a
aquisição da linguagem leva à expansão da capacidade para a complexidade. O uso
de todo o poder do raciocínio humano é tipicamente atingido na adolescência.
I. OS ESTÁGIOS DE PIAGET DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
Estágio:
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Idade Aproximada:
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Caracterizada por...
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1°
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Sensorimotor
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Do nascimento aos dois anos
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Habilidades
perceptivas e motoras simples: progressos a partir de ações reflexivas
simples para atividades mais organizadas.
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2°
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Pré-operacional:
Fase
pré-operacional
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Dos dois aos quatro anos
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Uso
da linguagem como auxílio no desenvolvimento de conceitos; aprendendo a
classificar e categorizar.
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3°
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Fase
intuitiva
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Dos quatro aos seis anos
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Forma
conclusões a partir de impressões gerais; menos dependente da linguagem para
formar conceitos.
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4°
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Operacional concreto
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Dos sete
aos onze anos
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Usa a lógica relacionada com a manipulação
de objetos concretos; pode visualizar ou imaginar resultados.
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5°
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Operacional
formal
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Dos onze aos quatorze anos
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Capaz
de abstrações e pensamento proposicional; pode lidar com o raciocínio
dedutivo bem como com o indutivo.
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De acordo com o
modelo teórico de Piaget, a mente humana funciona formando schemata (esquemas) ou cadeias de conhecimento. A aprendizagem
ocorre quando estes schemata são
construídos e ampliados por dois processos fundamentais.
1. A assimilação fixa a nova informação dentro do schema
(singular de schemata) existente. Uma criança pode, por exemplo, formar um schema
para “gatinho” baseado em experiência com um animal de estimação. Os outros
animais são frequentemente chamados de “gatinho”, por causa das semelhanças
superficiais: quatro pernas, pêlo, um rabo.
A conscientização
eventual de que todas as criaturas quadrúpedes, peludas e com rabos não são
idênticas aos critérios de “gatinho”, ativa a acomodação. Agora um novo e maior
schema se desenvolve, talvez um para “animais”; o “gatinho” se torna um subschema
junto com o do “cachorro” e o do “esquilo”. O conhecimento foi adquirido como
um correlativo primário do processo, organização e estrutura mentais, e não
através da transmissão intacta do ambiente.
2. Pesquisa cerebral. Como um correlato à teoria da
aprendizagem, investigações designadas a ampliar nosso entendimento do cérebro
humano e de sua função na aprendizagem exigiram um pouco de atenção.
Milhões de células
nervosas, ou neurônios, formam este órgão notável. Neurônios, todos
essencialmente semelhantes, agrupam-se em diversas subestruturas cerebrais,
cada um tendo uma função distinta. O maior destes segmentos é o córtex,
o lugar da memória onde ocorre a aprendizagem cognitiva mais intencional.
O córtex em si consiste
em duas seções separadas por uma fissura central que vai da frente até atrás.
As duas metades, ou hemisférios, processam o conhecimento de modo diferente.
O hemisfério esquerdo “pensa” lógica, analítica e sequencialmente;
lida eficientemente com a linguagem e símbolos; funciona dentro de um contexto
temporal.
O hemisfério direito, ao contrário, pensa experimental,
sintética e artisticamente; lida com imagens e quadros; cria e intui.
Não sofrendo lesão,
os dois hemisférios prontamente trocam informações. Contudo, as pessoas tendem
a demonstrar preferências hemisféricas pelo processo mental da mesma maneira
que desenvolvem destreza com a mão direita ou esquerda em ocupações físicas.
Tais preferências
evidenciam-se como aptidões diferenciais. Relativa facilidade na leitura
e habilidades matemáticas caracterizam as pessoas que usam mais o
lado esquerdo do cérebro, ao passo que o domínio do lado direito
do cérebro é refletido na proficiência artística ou musical,
ou de obter respostas corretas sem entender o processo.
A memória, de acordo
com pesquisas no campo cerebral, surge consideravelmente mais complexa do que a
mera retenção de estímulos. Lembrar-se
não acontece como um evento isolado, mas é o resultado líquido de um sistema
sequencial.
De todos os estímulos
externos que a cada momento impressionam nossos sentidos, na verdade só uma
fração ganha nossa atenção consciente. Esta função distintiva pertence a outra
estrutura neural, o sistema de ativação reticular ou SAR. As impressões sensórias que atravessam o
filtro do SAR entram na memória de curto prazo.
A memória de curto prazo, limitada na duração
e capacidade, pode evocar uma resposta física reflexiva, se preciso for, ou
passar a informação para a memória de longo prazo. Dados irrelevantes podem ser
descartados. A memória de curto prazo serve como uma mesa de trabalho mental
para classificar as sensações entrantes, mantendo talvez uma dúzia de
partículas de informação, ou menos, por apenas alguns segundos.
Então, para que o
aluno retenha a instrução, o estímulo sensório deve:
(1)
Despertar a atenção;
(2)
passar da memória de curto prazo para a de longo prazo;
(3)
engajar um ou mais schema mental para a recuperação eficaz. Por implicação, o
método de aprendizagem e o contexto de apresentação influenciam fortemente a
memória e o processo hemisférico.
Os
primeiros capítulos das Escrituras referem-se explicitamente à semelhança do
ser humano com Deus (Gn 1.26), uma semelhança que inclui espiritualidade e
racionalidade com capacidade para pensar, saber e desejar. A mente humana finitamente
reflete a mente infinita de Deus, mas nessa reflexão reside a implicação de que
a mente humana transcende potencialmente o plano físico da criação não
racional.
O
apóstolo Paulo enfatiza a agência essencial da mente na transformação
espiritual (Rm 12.2) e, por conseguinte, investe o dever da aprendizagem da
Igreja com prioridade.
II.
ESTILOS DE APRENDIZAGEM
Pesquisas na área cerebral
reforçam o fato de que a aprendizagem é atividade altamente individualizada.
Cada um de nós desenvolve certas estratégias singulares para incorporar o
conhecimento. São estratégias que refletem tendências inatas, experiências e,
talvez, as maneiras nas quais a instrução foi recebida no passado.
A abrangente expressão “estilos
de aprendizagem” compreende uma variedade de abordagens, cada uma pretendendo
tornar mais eficaz a instrução mediante sua combinação com as maneiras específicas
nas quais diferentes alunos aprendem.
Tipicamente, a aprendizagem requer
a passagem da informação do ambiente por meio de um dos cinco sentidos; as
pessoas diferem notadamente na capacidade relativa da percepção dos sentidos.
Alguns estudos evidenciam que, em particular, alunos mais jovens demonstram “modalidades”
sensórias fortes. Entre alunos de escola primária calculasse que 30% trabalhem
melhor com entrada de dados visuais, enquanto que 25% têm seu ponto forte na
audição. 15% — aqueles que demonstram preferência cinética (aprendendo pelo
toque) —, precisam de atenção especial na maioria das classes onde predomina o
formato conversa-olhar. Os restantes 30% não manifestaram qualquer modalidade
óbvia, e provavelmente lidam bem com muitos tipos de sensações.
As pesquisas de estilo de aprendizagem
também consideraram o impacto do ambiente físico sobre o desempenho do
estudante. O fato de que o desconforto diminui a atenção não é novidade. O que
recentes pesquisas revelaram foi que o desconforto nem sempre é específico: os alunos
tendem a ser afetados diferentemente pelos níveis de luz e som de uma sala, a
temperatura, até a hora do dia. Preferências no contexto social (aprendizagem
individual versus aprendizagem em grupo) também variam. Os professores eficazes
procuram reconhecer e cooperar com a variedade de tendências pessoais presentes
em cada classe.