LEITURA BÍBLICA: 2Rs 5.14 “Então,
desceu e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus; e
a sua carne tornou, como a carne de um menino, e ficou purificado.”
Um dos ensinos
fundamentais do Novo Testamento é que Jesus Cristo (o Messias) é o cumprimento
do Antigo Testamento. O livro de Hebreus mostra que Cristo é o herdeiro de tudo
o que Deus falou através dos profetas (Hb 1.1,2).
O próprio Jesus asseverou que
viera para cumprir a lei e os profetas (Mt 5.17). Após a sua gloriosa
ressurreição, Ele demonstrou aos seus seguidores, tendo por base a lei de
Moisés, os profetas e os salmos, i.e., as três principais divisões do AT
(hebraico) que Deus predissera, há muito tempo, tudo quanto lhe havia sucedido
(Lc 24.25-27,44-46). Para melhor compreendermos as profecias do AT a respeito de
Jesus Cristo, precisamos ver algo da tipologia bíblica.
I.
PRINCÍPIOS DE TIPOLOGIA
O estudo cuidadoso do
AT revela elementos chamados tipos, (do grego typos) que têm seu cumprimento na
vinda do Messias (que é o antitipo); noutras palavras, há uma correspondência
entre certas pessoas, eventos, ou coisas do AT e Jesus Cristo no NT.
Note-se dois princípios básicos concernentes a essa forma
de profecia e seu cumprimento:
(1) Para um trecho do
AT prenunciar a Cristo, é preciso sempre analisar o referido trecho como um acontecimento
na história divina da redenção, i.e., devemos primeiramente analisar o trecho
do AT sob o aspecto histórico, e então ver de que modo ele prenuncia a vinda de
Jesus Cristo como o Messias prometido.
(2) É preciso
reconhecer que o cumprimento messiânico de um trecho do AT está geralmente num
plano espiritual mais elevado do que o evento registrado no AT. Na realidade,
os personagens de determinado acontecimento bíblico por certo não perceberam
que o que estavam vivenciando era um prenúncio profético sobre o Filho de Deus
que um dia viria aqui. Por exemplo, Davi sem dúvida não percebeu que, ao
escrever o Salmo 22, seu sofrimento era uma forma de profecia do sofrimento de
Cristo na cruz.
Nem os judeus
expatriados e chorosos que passavam pelo túmulo de Raquel em Ramá (Jr 31.15) sabiam
que um dia o seu pranto teria cumprimento profético na morte de todos os
meninos de dois anos para baixo, em Belém (Mt 2.18). Quase sempre, só à luz do
NT é que percebe-se que um trecho do AT é uma profecia a respeito de nosso
Senhor.
II.
CATEGORIAS DE TIPOS PROFÉTICOS
Há pelo menos quatro
formas pelas quais o AT prenuncia e profetiza a vinda de Cristo para o NT:
(1) Textos
específicos do AT citados no NT. Certos trechos do AT são manifestamente profecias
sobre Cristo, porque o NT os cita como tais. Por exemplo, Mateus cita Is 7.14
para comprovar que o AT profetizava aí o nascimento virginal de Cristo (Mt
1.23), e Mq 5.2 para comprovar que Jesus devia nascer em Belém (Mt 2.6).
Marcos observa aos
seus leitores (Mc 1.2,3) que a vinda de João Batista como precursor de Cristo
fora profetizada tanto por Isaías (Is 40.3), quanto por Malaquias (Ml 3.1).
Zacarias predisse a entrada triunfante de Jesus em Jerusalém no domingo que
precede a Páscoa (Zc 9.9; cf. Mt 21.1-5; Jo 12.14,15).
A experiência de
Davi, descrita no Sl 22.18, prenuncia os soldados ao derredor da cruz, dividindo
entre si as vestes de Jesus (Jo 19.23,24), e sua declaração no Sl 16.8-11 é
interpretada como uma clara predição da ressurreição de Jesus (At 2.25-32;
13.35-37). O livro de Hebreus afirma que Melquisedeque (cf. Gn 14.18-20; Sl 110.4)
é um tipo de Cristo, nosso eterno Sumo Sacerdote. Muitos outros exemplos poderiam
ser citados.
(2) Alusões a
passagens do AT pelos escritores do NT. Outra forma de revelação de Cristo no
AT consiste em passos do NT que, mesmo sem citação direta, referem-se a
pessoas, eventos, ou objetos do AT prefigurando profeticamente a Cristo. Por
exemplo, no primeiro de todos os textos proféticos da Bíblia (Gn 3.15), Deus
promete que enviará o descendente da mulher para ferir a cabeça da serpente.
Certamente, Paulo tinha em mente esse trecho quando declarou que Cristo nasceu
de mulher para redimir os que estavam debaixo da lei (Gl 4.4,5; cf. Rm 16.20).
João, igualmente, declara que o Filho de Deus veio “para desfazer as obras do
diabo” (1Jo 3.8).
A referência de João
Batista a Jesus como Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29,36),
recua a Lv 16 e Is 53.7. A referência de Paulo a Jesus como “nossa páscoa” (1Co
5.7) revela que o sacrifício do cordeiro pascal profetizava a morte de Cristo
em nosso favor (Êx 12.1-14). O próprio Jesus declarou que o ato de Moisés, ao
levantar a serpente no deserto (Nm 21.4-9) era uma profecia a respeito dEle,
quando pendurado na cruz. E quando João diz que Jesus, o Verbo de Deus,
participou da criação de todas as coisas (Jo 1.1-3), não podemos deixar de
pensar em Sl 33.6: “Pela palavra do SENHOR foram feitos os céus” (cf. Hb
1.3,10-12). Essas são apenas algumas das alusões no NT a passos do AT
referentes a Cristo.
(3) Pessoas, eventos,
ou objetos do AT que apontam para a redenção. O êxodo de Israel do Egito, que
em todo o AT é visto como o maior evento redentor do antigo concerto, prefigura
Cristo e a redenção que Ele efetuou no novo concerto.
Alguns tipos do livro
de Êxodo que prenunciam Cristo e sua obra redentora são: Moisés, a Páscoa, a
travessia do mar Vermelho, o maná, a água que brotou da rocha, o Tabernáculo
com seus pertences e o sumo sacerdote.
(4) Eventos do AT que
prefiguram o modo de Deus lidar com o crente em Cristo. Muitos fatos do AT
constituem uma das formas de Deus lidar com seu povo, tendo seu real
cumprimento em Jesus Cristo.
Note os seguintes exemplos:
(a) Abraão teve de
esperar com paciência por quase vinte e cinco anos até Deus sarar a madre de
Sara e lhes dar Isaque. Abraão nada poderia fazer para apressar o nascimento do
filho prometido por Deus. Fato idêntico cumpriu-se no NT, quando Deus enviou
seu próprio Filho como Salvador do mundo, ao chegar a plenitude dos tempos (Gl
4.4); o ser humano nada podia fazer para apressar esse momento. Nossa salvação
é obra única e exclusiva de Deus (cf. Jo 3.16), e jamais pelo esforço humano.
(b) Antes dos
israelitas serem libertos do Egito pelo poder gracioso de Deus, em aflição eles
clamavam por socorro contra seus inimigos (Êx 2.23,24; 3.7). Temos aí um
indício profético do plano divino da nossa redenção em Cristo. O pecador, antes
do seu livramento pela graça de Deus, do jugo do pecado e dos inimigos
espirituais, precisa clamar arrependido e recorrer à graça salvífica de Deus
(cf. At 2.37,38; 16.29-32; 17.30,31). Todos aqueles que invocarem o nome do
Senhor serão salvos.
(c) Quando Naamã, o
siro, buscou a cura da sua lepra, recorrendo ao Deus de Israel, recebeu a ordem
de lavar-se sete vezes no rio Jordão. Essa ordem inicialmente provocou ira
nele, o qual a seguir, humilhou-se e submeteu-se ao banho no Jordão, para ser
curado (2Rs 5.1-14). No fato de a graça salvífica de Deus transpor os limites
da nação de Israel, temos uma antevisão de Jesus e o novo concerto (cf. Lc
4.27; At 22.21; Rm 15.8-12), e também do fato que, para recebermos a salvação,
precisamos renunciar ao orgulho, humilhar-nos diante de Deus (cf. Tg 4.10; 1Pe
5.6) e receber a purificação pelo sangue de Jesus (cf. At 22.16; 1Co 6.11; Tt
3.5; 1Jo 1.7,9; Ap 1.5).
EM
RESUMO:
O AT narra histórias
de pessoas piedosas que nos servem de modelo e exemplo (cf. 1Co 10.1-13; Hb 11;
Tg 5.16-18), mas ele vai além disso; ele (o AT) “nos serviu de aio, para nos
conduzir a Cristo, para que, pela fé, fôssemos justificados” (Gl 3.24).
Adaptado dos Escritos de:
DONALD C. STAMPS
Fonte
Original: Bíblia de Estudo
Pentecostal
Editora: CPAD