Como acontece com os
dons espirituais, o Novo Testamento emprega diferentes termos para comunicar o
conceito do fruto do Espírito. A passagem central sobre o assunto é Gaiatas
5.22-23, que fala do fruto (karpos)
do Espírito e enumera uma lista com nove qualidades. A expressão fruto do
Espírito é melhor entendida como significando produtos dos quais o Espírito
Santo e a fonte.
É especialmente
significativo que Jesus, em seu último discurso, falou algo a respeito do fruto
(Jo 15.1-17) e sobre a vinda do Espírito Santo (Jo 14.16-18,26; 15.26-27;
16.5-15). Não é acidental que, no discurso de despedida de Jesus, Ele fale
também sobre amor, alegria e paz - as três primeiras qualidades do fruto
mencionadas por Paulo em sua lista do fruto do Espírito. Um grande número de
outras passagens do Novo Testamento concorda com o assunto do fruto (Mt
7.15-23; 12.33; Lc 6.43-44; Rm 6.22; Ef 5.9; Fp 1.11; Hb 12.11).
Outra terminologia
relacionada a essa é encontrada nas expressões que falam de ser conduzido pelo
Espírito, andar no Espírito e ser espiritual. Romanos 8.14, fala de ser
conduzido pelo Espírito como sinal de que somos filhos de Deus.
Terminantemente
relacionadas com esse conceito são as palavras de Paulo de que nós precisamos
"andar no Espírito" (Gl 5.16,25). No versículo 16, o verbo é peripateo,
que era uma palavra grega comum para descrever a atividade das pernas e dos pés
de levar o corpo de um lugar para o outro. Mas, no Novo Testamento, a palavra é
também usada no sentido figurado de conduzir-se ou comportar-se.
Por exemplo, Romanos
6.4, fala sobre caminhar "em novidade de vida" e Efésios 4.1, solicita-nos
a que andemos "como é digno da vocação com que fostes chamados".
Mas o verbo em
Gaiatas 5.25, é stoicheo, que é mais específico. A ideia geral dessa palavra é
de harmonizar-se com ou para o que você está seguindo. No versículo 25,
significa manter o passo com o Espírito, segui-lo, concordar com Ele. Ao usar
esse verbo, o Novo Testamento está falando de andar de uma forma ordenada (At
21.24), seguir os passos da fé do nosso pai Abraão (Rm 4.12), andar por um ou
seguir um preceito (Gl 6.16), e de andar "segundo a mesma regra" e
sentindo "a mesma coisa" (Fp 3.16).
A final, o termo relacionado
é a palavra "espiritual" (pneumatikos). Conquanto essa palavra
refira-se algumas vezes aos dons espirituais, com nós já vimos, ela tem
geralmente mais o significado de maturidade cristã. Nesse sentido, ocorre em
ICoríntios 2.13,15 e 3.1,e em Gaiatas 6.1.
Todos esses termos
são encontrados no contexto imediato da passagem clássica sobre o fruto do
Espírito (Gl 5.22-23). Isso indica que são diferentes formas para expressar uma
mesma ideia.
COMO,
ENTÃO, PODEMOS EXPLICAR O QUE O NOVO TESTAMENTO QUER DIZER QUANDO FALA DO FRUTO
DO ESPÍRITO?
O fruto do Espírito
consiste em virtudes ou qualidades cristãs produzidas pelo habitar do Espírito
Santo na vida do cristão que permanece em Cristo.
1. Similaridades entre dons e fruto
Dons e fruto do
Espírito têm muitos pontos em comum. Sua origem é o Espírito Santo. Eles não se
originam no crente que não se submete à ação do Espírito. O elemento
sobrenatural é encontrado em ambos.
Em segundo lugar, o propósito de ambos é edificar. O propósito dos dons
é edificar o Corpo de Cristo (lCo 12.7; 14.26). Do mesmo modo, o propósito do
fruto do Espírito, resumido no amor, é edificar (ICo 8.1).
Em terceiro lugar, ambos trabalhos do Espírito são um processo
de aperfeiçoamento. Em outras palavras, os crentes não recebem-nos na forma
final.
A exortação de l Coríntios
14 é instrucional. Paulo não questiona a validade dos dons reivindicados pelos
coríntios. Ele insiste que os dons precisam ser desenvolvidos para edificar a
congregação.
Similarmente, o fruto
do Espírito deve ser desenvolvido. Deve conduzir o crente a um estado de
maturidade. Esse é o pensamento inserido nos conceitos de maturidade cristã e
de crescimento na transformação contínua dos cristãos conforme a imagem de
Cristo (2Co 3.18).
2. Distinções entre dons e fruto
Por natureza, o fruto
é ânimo enquanto os dons são dinâmicos. O primeiro é o resultado do habitar do
Espírito na vida do crente, o último é o resultado da capacitação do Espírito.
Por natureza, o fruto é ético, enquanto os dons são carismáticos.
Em segundo lugar, há uma distinção com respeito à obrigação
do cristão em apropriar-se dos dois. Todos os cristãos são requeridos a
demonstrar todo o fruto do Espírito. Mas Deus não requer que todos os cristãos
tenham todos os dons. O requerimento, no caso dos dons, diz respeito à
receptividade e ao zelo (ICo 12.31; 14.1). A distribuição dos dons é um ato
soberano do Espírito (lCo 12.11).
Em terceiro lugar, e num veio similar, são sempre requeridos a
manifestar o fruto do Espírito, mas a manifestação dos dons espirituais é uma
determinação do Espírito.
3. O ideal divino
O agir do Espírito
Santo revela Ele mesmo, tanto na concessão dos dons aos crentes quanto na
demonstração do fruto espiritual por meio deles. Nosso estudo tem mostrado que
ambas categorias são centrais para o conceito neotestamentário da atividade do
Espírito Santo no meio do povo de Deus.
Visto que tanto os
dons quanto o fruto têm sua origem no Espírito, é injustificado colocá-los em
antítese um com o outro. Aos cristãos em Corinto é dito: "Segui o amor e procurai
com selo os dons espirituais", l Co 14.1. As duas ideias são correlativas,
mas, certamente, devem ser entendidas à luz da colocação de Paulo sobre
"um caminho mais excelente" (ICo 12.31). Essa colocação veio
necessariamente por causa do abuso no uso dos dons espirituais e não por causa
de alguma inferioridade inerente aos dons em relação ao fruto do Espírito.
Em Corinto, os dons
eram usados em competição e não em cooperação, no interesse de auto gratificação
e não de edificação da congregação. É significativo que em nenhum momento Paulo
sugere que os dons em si mesmos não são genuínos. É a manifestação carismática
imprópria e vil, e não o dom em si, que "nada seria" (ICo 13.1-2). O
dom é genuíno, aquele que o exercita sem amor é que não é. O "caminho
ainda mais excelente" é a mediação dos dons pelo fruto do Espírito,
principalmente pelo amor.
O amor, como vemos em
ICorintios 13, é o princípio regulador dos dons espirituais. Ele é paciente;
prontamente condescende em favor de outros membros com dons, dando-lhes a oportunidade
para falar (ICo 14.30-31); não é ciumento ou presunçoso; reconhece que o
Espírito soberanamente distribui os dons a quem quer e como lhe agrada (12.11);
não envaidece-se por possuir algum dom ou dons (12.21); não é arrogante ou
rude; sempre considera o bem-estar da totalidade do Corpo de Cristo quando
expressa-se na congregação e está disposto a receber correção (14.29-30); e
submete-se devidamente à autoridade constituída na igreja (14.37).
Os dons e o fruto
juntos e de forma complementaria servem para edificar a Igreja. O ideal divino
é que ambos se manifestem entre os crentes. Não somos chamados a escolher um em
detrimento ao outro.
Adaptado dos Escritos de: Anthony D. Palma
Fonte Original: JMP – Julho de 2007
Editora: CPAD
Fonte: www.sub-ebd.blogspot.com