Na aula de hoje, vamos
analisar um dos mais trágicos textos da Bíblia Sagrada: o fratricídio de Abel
por Caim. Dentre as várias maneiras de se estudar este denso relato bíblico,
o elemento do culto não pode ser desconsiderado em nenhuma delas. O fio condutor
que interliga toda história de Abel e Caim é a adoração. Como compreender que
o contexto da adoração a Deus pode fazer tanto bem a alguns e deixar outros
tão mal? É sobre isso que pensaremos hoje.
I. ENTRE SACRIFÍCIOS E ASSASSINATOS: OS PRIMEIROS
ANOS DEPOIS DA QUEDA
1.
A vida além do jardim de
Deus
Os primeiros versículos
do quarto capítulo do Gênesis concentram-se na apresentação das histórias de
Caim, em hebraico eth -"com ajuda de..." e Abel, hébel, que
significa "vaidade", "efêmero".
Apesar das dores
prometidas, da maldição sobre a terra e do esforço redobrado para a
subsistência (Gn 3.16-19), Deus não
havia abandonado seus filhos como bem reconhece Eva, pois era "com ajuda
do Senhor" que a vida continuava após a Queda. Conta-nos o texto que
Caim foi lavrador, enquanto Abel pastor de ovelhas. As diferenças entre os
filhos de Eva não se limitavam apenas a suas profissões; ambos eram muito
diferentes quanto ao caráter (1 Jo 3.12).
2. A adoração presente
após a Queda.
De maneira absolutamente
sucinta a Bíblia relata o acontecimento em Gênesis
4.3-5. Esta é uma típica cena do Antigo Testamento: no fim de um
ciclo produtivo, as pessoas desejavam agradecer a Deus pelo bom resultado de
seus trabalhos, e apresentavam-se diante do Altíssimo para oferecerem-lhe
sacrifícios. Abel, criador de animais, traz o melhor de suas ovelhas. Caim,
agricultor, oferece o fruto dos seus campos. Tudo ficaria dentro da
normalidade se o escritor do Gênesis não destacasse a intrigante nota: "[...]
e atentou o SENHOR para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua
oferta não atentou [...]" (v.4,5).
Aqui está um detalhe
relevante para nossas discussões a respeito do louvor e adoração que levanta
vários questionamentos: Deus não recebe todo tipo de adoração? Como devo
louvar para que minha adoração seja aceita? Neste caso a rejeição e a
aprovação estão relacionadas aos elementos ofertados ou à vida das pessoas
que ofertam?
3. A oferta que revela
os corações.
Há várias hipóteses que
procuram explicar a relação "aceitação-Abel x rejeição-Caim" neste
texto. Abel apresentou suas primícias, enquanto Caim trouxe uma parte
qualquer de sua produção. O problema se concentraria na importância que cada
um deu àquilo que ofertou, o que revelaria o quanto o ato de ofertar seria
significativo ou não. Seguindo outra análise, Abel já era um homem justo (Hb 11.4), Caim já era uma pessoa "do
maligno" e de más obras (Jd 11),
a aceitação-rejeição dos sacrifícios é uma imagem de louvor e denúncia dos
comportamentos de ambos. Associar estes acontecimentos exclusivamente à
natureza dos elementos ofertados - gordura e sangue de um lado, vegetais do
outro - é muito precipitado. Nem a melhor oferta trazida por alguém consegue
esconder seu coração diante de Deus.
Pense
Quando
apresento minha adoração a Deus, o que meu louvor revela? Inveja, segundas
intenções, egoísmo?
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Ponto
Importante
A
Queda foi um terrível acontecimento na história da humanidade, o amor de
Deus, entretanto, nunca nos abandonou.
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II. QUANDO O MOMENTO DE LOUVOR TORNA-SE MOMENTO DE DOR
1. Caim não aceitou a
verdade.
O texto não deixa claro
de que modo Caim percebeu a rejeição de Deus para sua oferta. Se foi uma
conversa pessoal ou um sinal que repercutiu em seu trabalho no campo, isso
não nos é revelado. O fato é que diante da terrível constatação: "O
Senhor não recebeu minha adoração!", Caim agravou a situação - irou-se,
expôs publicamente sua revolta, mas em momento algum procurou a Deus. Quando
estamos diante de Deus, não há máscaras, personagens, mentiras, revelamo-nos
em nossa inteireza. Caim não gostou do que viu. Diante da bondade de Deus, o
coração mau do filho de Adão veio à tona, e isto entristeceu-lhe. O que Caim
deveria ter feito? Deveria ter se humilhando e pedido ajuda do Pai.
2. A adoração como
momento de cura e restauração.
Quantas pessoas têm o
privilégio de serem tão abertamente esclarecidas pela palavra divina como
Caim? O ato de Deus para com o filho de Eva não era punição, mas orientação.
Tanto que o Senhor preocupa-se em esclarecê-lo e conscientizá-lo sobre os
riscos que ele corria se não mudasse de postura (v.6,7).
Reconhecer nossos erros não é nada fácil, é custoso, muitas vezes doloroso,
mas como nos demonstra o caso de Caim, absolutamente necessário. Por não
escutar a voz do Senhor, as consequências para Caim foram desastrosas (v.11,12).
Caim não estava "predestinado" a matar Abel, pois o Senhor
declarou-lhe o caminho de restauração. É diante de Deus, em adoração, que
curamos nossas feridas e recebemos alento e ajuda do céu (2 Co 12.7-10).
3. O que acontece quando
não levamos a adoração a sério.
Caim não escutou as
advertências de Deus. Isto parece ser mais uma prova de seu caráter duvidoso,
de sua adoração mecânica e ritualística, que tinha como fim cumprir uma
obrigação e não apresentar gratidão.
A revelação do Senhor
para Caim foi sem arrodeios (v.7).
Ele, todavia, não temeu ao Senhor e covardemente assassinou seu irmão. Se
continuarmos a leitura do texto, perceberemos que, cinicamente, Caim nega o
fratricídio, e demonstra absoluta frieza ao declarar que nada tem a ver com
seu irmão e que não é seu "guardador". Quando não consideramos o
louvor como algo digno de honra entre nós, nosso coração enche-se de terrível
maldade (Is 46.12; Ez 2.1-5). Talvez o pior de tudo isso é
quando a maldade extrapola nossos corações e fere quem está perto nós.
Pense
Aceitar
a verdade é o momento inicial para qualquer tratamento. A fuga da verdade
nos enfraquece e constitui uma realidade falsa à nossa vista.
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Ponto
Importante
Você
já foi curado de dores ou feridas na alma enquanto louvava a Deus? A
adoração ao Pai é o caminho por excelência para recebermos do céu o remédio
necessário e suficiente para restabelecermos nosso bem-estar espiritual.
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III. DEUS NÃO FICA INERTE DIANTE DA INJUSTIÇA
1. A dor do justo (v.8).
Esse é o primeiro
registro nas Sagradas Escrituras da complexa questão: Por que sofre o justo?
Esta indagação percorrerá toda a Bíblia, em inúmeros episódios. Como entender
que a malignidade de Caim teve poder para realizar tão brutal ato? Mais
ainda, como explicar a morte daquele que agradava ao Pai, sem que este
interviesse na história? Estas são questões intrincadas com as quais somos
desafiados a tratar diariamente, em nossas cidades, igrejas e famílias. Diante
das múltiplas variáveis para responder os porquês, ao menos uma verdade
emerge: Deus não fica inerte diante da injustiça.
Os "Cains"
nunca ficarão impunes! (v. 11-16)
Quanto aos "Abéis", nenhuma morte pode enterrar suas bondades e
atos de justiça os quais brilharão e servirão de inspiração às novas
gerações. Talvez, "Porque o justo sofre?" seja uma pergunta
demasiadamente complexa para respondermos, consolemo-nos com uma certeza: o
justo nunca será desamparado, nem sua família (Sl
37.25).
2. Conflitos e dores nos
espaços de adoração.
Nem sempre teremos no
ambiente de adoração somente pessoas como Abel, desejosas de oferecer a Deus
suas vidas e dons. Entretanto, como Abel, devemos focar nossa vida e adoração
para o serviço a Deus. E devemos nos lembrar de que o Senhor conhece aqueles
que realmente estão adorando no culto. O amor de Deus é capaz de nos
direcionar nos momentos de adoração dentro e fora da congregação. E os que
são maus, como Caim, não terão guarida onde os santos vivem (Sl 1.5).
3. Quem feriu quem?
Uma última verdade que
necessitamos explicitar, acerca de Abel e de sua morte pelas mãos de Caim é a
seguinte: Deus não foi o responsável pelo que aconteceu! Há pessoas que,
quando sofrem, reputam seu sofrimento a Deus. Ocorre que em um mesmo lugar de
adoração podemos ter pessoas com o sentimento de Abel e o sentimento de Caim,
mas isso não deve ser motivo para desistir da vida em comunidade. Por isso,
não há motivos para abandonar sua comunhão com o Pai. O Senhor nos ama
infinitamente (Ef 3.18,19). Se pessoas te decepcionaram, Deus nunca
nos desapontará (Sl 94.14).
Pense
O
que você tem, dentro de seu campo de ação, feito para tornar sua igreja um
local onde pessoas feridas possam encontrar cura e acolhimento para suas
vidas?
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Ponto
Importante
O
reconhecimento de relações conflituosas é um passo importante para a
construção de um ambiente de cura e restauração.
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SUBSÍDIO
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"A morte reinou
desde que Adão pecou, mas nós não lemos sobre alguém ter sido feito
prisioneiro por ela até agora. Assim sendo: O primeiro que morre é um
santo, alguém que era aceito e amado por Deus, para mostrar que, embora a
semente prometida estivesse muito longe para destruir aquele que tinha o
poder da morte assim como para salvar os crentes de seu aguilhão, ainda
hoje eles estão expostos aos seus ataques. O primeiro que foi para a
sepultura foi para o céu. Mais ainda: O primeiro que morreu foi um mártir,
e morreu por sua religião.
A morte de Abel não
apenas não tem nenhuma maldição em si, mas tem uma coroa. Assim é tão
admiravelmente bem alterada uma característica da morte: ela passa a ser
apresentada como inócua e inofensiva para aqueles que morrem em Cristo,
além de honrosa e gloriosa para aqueles que morrem por Ele. E assim, não
estranhemos se nos sobrevier alguma prova ardente, nem recuemos se formos
chamados para resistir até o sangue. Porque nós sabemos que existe uma
coroa de vida para aqueles que são fiéis até a morte" (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Matthew Henry: Gênesis
a Deuteronômio. vol. 1, 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2010. p. 37).
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CONCLUSÃO
Partindo do olhar
construído durante toda esta lição, podemos afirmar que há dois tipos de
pessoas que se apresentam diante do Pai em adoração: Aquelas que reconhecem a
soberania dEle, e por isso são capazes de darem o melhor de si; e as outras
que não podem dar a Deus o melhor de si porque estão envoltos em maldade e
inveja. Para estes há punição, para aqueles Deus destina amor, paz e
redenção.
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