"A maioria
das pessoas pensa que ouve bem, assim como pensa que tem senso de humor. Mas
ouvir é, na verdade, a habilidade mais negligenciada na comunicação. O problema
não é conseguir que homens falem. O problema é conseguir que líderes ouçam".
(Lydia Strong).
Dentro do tema em
questão, passaremos a transcrever o assunto abordado pela autora mencionada,
que fez menção de diversos trechos selecionados por F. Moscovici, do artigo
traduzido por Y. F. Balcão e L. L. Cordeiro em O Comportamento Humano na
Empresa (antologia), Rio, FGV. 1967 - Pgs. 191-198.
LEIA
TAMBÉM:
''A grande maioria
dos dirigentes e supervisores despende a maior parte de cada dia de trabalho
tentando comunicar-se com os outros. Cerca da metade do tempo deles é gasto em
ouvir. Portanto, essa falha de compreensão causa tremenda perda de tempo e
oportunidade. Ouvir pela metade é como acelerar o motor com o câmbio em ponto
morto: gasta-se gasolina, mas não se chega a lugar algum.''
Felizmente pode-se
aprender a ouvir. Poucas coisas proporcionam melhores resultados em eficiência,
produtividade e satisfação pessoal. O sucesso da administração está na
capacidade de resolver problemas.
A maior parte dos problemas devem ser
resolvidos com pessoas e muito freqüentemente com pessoas que têm pontos de
vista altamente individuais. Nesse trabalho nenhum instrumento se rivaliza com
o ouvir hábil e simpático.
Os operários da
Cia X disseram de supervisores de êxito, em entrevista após entrevista:
''ELE OUVE"
ou ''A GENTE PODE FALAR COMELE".
Um outro operário,
amargurado, disse de um certo supervisor:
"ELE SABE
TUDO; MAS NÃO SABE É NADA. ELE DIZ: POR QUE VOCÊ NÃO ME CONTA? MAS SE EU TENTO
(X) MEÇAR, ELE NÃO ME DEIXA FALAR".
Jesus Cristo é um
exemplo marcante de quem sabe ouvir os outros. Vejamos o seguinte relato do
Evangelho de Marcos, capítulo 10, versículos 46 a 52:
"Depois foram
para Jericó com seus discípulos, e uma grande multidão. Bartimeu, o cego, filho
de Timeu, estava assentado junto do caminho, mendigando. E, ouvindo que era
Jesus de Nazaré, começou a clamar, e a dizer: Jesus, filho de Davi! tem
misericórdia de mim. E muitos o repreendiam, para que se calasse, mas ele
clamava cada vez mais: Filho de Davi! tem misericórdia de mim. E Jesus,
parando, disse que o chamassem; e chamaram o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo;
levanta-te, que ele te chama, li ele, lançando de si a sua capa, levantou-se, e
foi ter com Jesus. E Jesus, falando, disse-lhe: Que queres que te faça? E o
cego lhe disse: Mestre, que eu tenha vista. E Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te
salvou. E logo viu, e seguiu a Jesus pelo caminho".
"E Jesus,
parando..." - Dentro de oito dias apenas, Jesus sabia que teria que
enfrentar a cruz, no Calvário, mas, apesar disso, parou no caminho para
Jerusalém, para ouvir alguém que clamava a Ele. Muitas vezes nos desculpamos,
quando não ouvimos alguém, sob a alegação de que estamos enfrentando problemas
e que estamos cansados. Como líderes cristãos, como servos do Senhor, é aceita
tal desculpa?
"Que queres
que te faça?" - Jesus, pela sua onisciência, sabia perfeitamente o que o
cego queria. A primeira impressão que se tem é a de que parece uma pergunta
supérflua dirigida ao cego. Porém, houve dois propósitos nela. Primeiro: O
homem foi obrigado a definir sua necessidade, ou seja, Jesus queria ouvir
explicitamente de sua boca que ansiava receber sua vista Segundo: foi
demonstrado à multidão que esta vez o cego não estava pedindo esmolas.
"SABEIS ISTO,
MEUS AMADOS IRMÃOS; MAS TODO O HOMEM SEJA PRONTO PARA OUVIR..." (Tg 1.19).
Princípios para Ouvir Bem
"Alguns princípios
básicos foram descobertos. Desses, talvez, o mais essencial é que ouvir é um
processo ativo. Literal ou figuradamente; nós nos recostamos para ouvir".
Essa atitude pode funcionar bem para a música, mas precisamos "sentar
atentos e ouvir" quando estivermos tentando participar na comunicação. A
mente de um bom ouvinte é alerta; seu rosto e postura geralmente refletem esse
fato. O bom ouvinte pode ainda demonstrar seu interesse através de perguntas e
comentários que encoragem o locutor a expressar inteiramente suas idéias. Se
você já tentou - e quem não tentou? - falar com uma pessoa apática e
aborrecida, um ouvinte silencioso e inexpressivo, pode prontamente aquilatar a
diferença.
Outro princípio
essencial é desenvolver a habilidade em quatro níveis diferentes do bem ouvir.
O primeiro é
entender o sentido pelo som, isto é, distinguir as palavras do locutor.
O segundo é
compreender o que ele está dizendo.
Essas duas
habilidades não são tão simples quanto podem parecer à primeira vista. A
palavra falada pode ser resmungada ou mal pronunciada. A mesma palavra pode ter
significados bem diferentes para diferentes ouvintes.
O terceiro nível
do bom ouvir é distinguir fatos de fantasias, ou, em outras palavras, avaliar
as afirmativas.
O quarto e mais
alto é ouvir com compreensão imaginativa o ponto de vista do interlocutor. Os
psicólogos chamam a isso "ouvir com empatia". É uma habilidade
essencial à supervisão, mas que requer coragem. Conforme explica o psicólogo
Cari R. Kogers: "Se você realmente deseja compreender uma outra pessoa...
penetre em seu mundo privado e veja como a vida se apresenta para ela... Mas
você corre o risco de mudar-se a si próprio, pois, vendo as coisas da maneira
pela qual ela as vê, poderá acabar influenciando em suas atitudes e em sua
personalidade".
UM EXERCÍCIO EM
EMPATIA
Bem, você gostaria
de se submeter a um teste final de sua qualidade de bom ouvinte? Cari R. Rogers
sugeriu que, da próxima vez que você estiver numa discussão, simplesmente
interrompa-a e institua esta regra: cada pessoa pode falar somente após haver
explicado as idéias e os sentimentos do orador anterior. Qualquer deformação
pode ser imediatamente corrigida por ele.
Isso significa, é
claro, que antes de apresentar seus próprios argumentos, você deve colocar-se
dentro da estrutura de referências do orador anterior. Você precisa compreender
suas idéias suficientemente bem para poder resumi-las. Isso poderá ser difícil,
mas compensará. Em primeiro lugar é necessário abrir os ouvidos como nunca.
Depois, é necessário considerar cuidadosamente os argumentos do outro orador.
Isso pode significar alguma mudança em seus próprios pontos de vista.
O orador também
ouve o que você entendeu de suas afirmativas. É possível que ele não tenha
tentado dar ao que disse o significado que você aprendeu. Ele também pode
mudar. Subitamente o calor abandona a discussão. As diferenças são reduzidas;
para as que permanecerem, pode haver reconciliação mais fácil. No final, cada
participante sente que obteve algum benefício. Todos se retiram dizendo:
"Foi uma boa reunião" em vez de "A gente nunca consegue
ganhar".
Wendel Johnson,
uma das maiores autoridades em comunicação, disse: "Nossa vida seria mais
longa e rica se despendêssemos maior parte dela na tranqüilidade silenciosa de
ouvir pensativamente. Somos um bando turbulento; e daquilo que chega a ser dito
entre nós muito mais passa despercebido do que se poderia imaginar. Temos ainda
de aprender em grande escala a usar as maravilhas do falar e do ouvir em nosso
próprio e melhor interesse e para o bem dos nossos semelhantes. Essa é ainda a
mais extraordinária arte de ser dominada pelo homem".