Texto
Áureo:
Is 55.10,11
“Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas
regam a terra e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao
que come, assim será a palavra que sair da minha boca; ela não voltará para mim
vazia; antes, fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a enviei.”
I. A NATUREZA DA PALAVRA DE
DEUS.
A expressão “a
palavra de Deus” (também “a palavra do Senhor”, ou simplesmente “a palavra”)
possui várias aplicações na Bíblia.
(1) Obviamente,
refere-se, em primeiro lugar, a tudo quanto Deus tem falado diretamente.
Quando Deus falou
a Adão e Eva (e.g., Gn 2.16,17; Gn 3.9-19), o que Ele lhes disse era, de fato,
a palavra de Deus.
De modo
semelhante, Ele se dirigiu a Abraão (e.g., Gn 12.1-3), a Isaque (e.g., Gn
26.1-5), a Jacó (e.g., Gn 28.13-15) e a Moisés (e.g., Êx 3–4). Deus também
falou à totalidade da nação de Israel, no monte Sinai, ao proclamar-lhe os dez
mandamentos (ver Êx 20.1-19). As palavras que os israelitas ouviram eram
palavras de Deus.
(2) Além da fala
direta, Deus ainda falou através dos.
Quando eles se
dirigiam ao povo de Deus, assim introduziam as suas declarações: “Assim diz o
Senhor”, ou “Veio a mim a palavra do Senhor”. Quando, portanto, os israelitas
ouviam as palavras do profeta, ouviam, na verdade, a palavra de Deus.
(3) A mesma coisa pode
ser dita a respeito do que os apóstolos falaram no NT. Embora não introduzissem
suas palavras com a expressão “assim diz o Senhor”, o que falavam e proclamavam
era, verdadeiramente, a palavra de Deus.
O sermão de Paulo
ao povo de Antioquia da Pisídia (At 13.14-41), por exemplo, criou tamanha comoção
que, “no sábado seguinte, ajuntou-se quase toda a cidade a ouvir a palavra de
Deus” (At 13.44).
O próprio Paulo
assegurou aos tessalonicenses que, “havendo recebido de nós a palavra da
pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na
verdade) como palavra de Deus” (1Ts 2.13; cf. At 8.25).
(4) Além disso,
tudo quanto Jesus falava era palavra de Deus, pois Ele, antes de tudo, é Deus
(Jo 1.1,18; 10.30; 1Jo 5.20). Lucas, escritor do terceiro evangelho, declara
explicitamente que, quando as pessoas ouviam a Jesus, ouviam na verdade a
palavra de Deus (Lc 5.1). Note como, em contraste com os profetas do AT, Jesus
introduzia seus ditos: Eu “vos digo...” (e.g., Mt 5.18,20,22,23,32,39;
11.22,24; Mc 9.1; 10.15; Lc 10.12; 12.4; Jo 5.19; 6.26; 8.34).
Noutras palavras, Ele
tinha dentro de si mesmo a autoridade divina para falar a palavra de Deus. É
tão importante ouvir as palavras de Jesus, pois “quem ouve a minha palavra e
crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação” (Jo
5.24). Jesus, na realidade, está tão estreitamente identificado com a palavra
de Deus que é chamado “o Verbo” [“a Palavra”] (Jo 1.1,14; 1Jo 1.1; Ap 19.13-16;
ver Jo 1.1).
(5) A palavra de
Deus é o registro do que os profetas, apóstolos e Jesus falaram, i.e., a
própria Bíblia. No NT, quer um escritor usasse a expressão “Moisés disse”,
“Davi disse”, “o Espírito Santo diz”, ou “Deus diz”, nenhuma diferença fazia
(ver At 3.22; Rm 10.5,19; Hb 3.7; 4.7); pois o que estava escrito na Bíblia
era, sem dúvida alguma, a palavra de Deus.
(6) Mesmo não
estando no mesmo nível das Escrituras, a proclamação feita pelos autênticos
pregadores ou profetas, na igreja de hoje, pode ser chamada a palavra de Deus.
(a) Pedro indicou
que, a palavra que seus leitores recebiam mediante a pregação, era palavra de
Deus (1Pe 1.25), e Paulo mandou Timóteo “pregar a Palavra” (2Tm 4.2). A
pregação, porém, não pode existir independentemente da Palavra de Deus. Na
realidade, o teste para se determinar se a palavra de Deus está sendo
proclamada num sermão, ou mensagem, é se ela corresponde exatamente à Palavra
de Deus escrita.
(b) O que se diz
de uma pessoa que recebe uma profecia, ou revelação, no âmbito do culto de
adoração (1Co 14.26-32)? Ela está recebendo, ou não, a palavra de Deus?
A resposta é um “sim”.
Paulo assevera que semelhantes mensagens estão sujeitas à avaliação por outros
profetas. Todavia, há a possibilidade de tais profecias não serem palavra de
Deus (ver 1Co 14.29 nota). É somente em sentido secundário que os profetas,
hoje, falam sob a inspiração do Espírito Santo; sua revelação jamais deve ser
elevada à categoria da inerrância (ver 1Co 14.3).
II.
O PODER DA PALAVRA DE DEUS.
A palavra de Deus
permanece firme nos céus (Sl 119.89; Is 40.8; 1Pe 1.24,25). Não é, porém, estática;
é dinâmica e poderosa (cf. Hb 4.12), pois realiza grandes coisas (55.11). (1) A
palavra de Deus é criadora.
Segundo a
narrativa da criação, as coisas vieram a existir à medida que Deus falava a sua
palavra (e.g., Gn 1.3,4,6,7,9). Tal fato é resumido pelo salmista: “Pela palavra
do SENHOR foram feitos os céus” (Sl 33.6, 9); e pelo escritor aos Hebreus:
“Pela fé, entendemos que os mundos, pela palavra de Deus, foram criados” (Hb
11.3; cf. 2Pe 3.5). De conformidade com João, a Palavra que Deus usou para
criar todas as coisas foi Jesus Cristo (Jo 1.1-3).
(2) A palavra de
Deus sustenta a criação. Nas palavras do escritor aos Hebreus, Deus sustenta
“todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1.3; ver também Sl 147.15-18).
Assim como a palavra criadora, essa palavra relaciona-se com Jesus Cristo
segundo Paulo insiste: “todas as coisas subsistem por ele [Jesus]” (Cl 1.17).
(3) A palavra de
Deus tem o poder de outorgar vida nova. Pedro testifica que nascemos de novo
“pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre” (1Pe 1.23; cf. 2 Tm
3.15; Tg 1.18). É por essa razão que o próprio Jesus é chamado o Verbo da vida
(1Jo 1.1).
(4) A palavra de
Deus também libera graça, poder e revelação, por meio dos quais os crentes
crescem na fé e na sua dedicação a Jesus Cristo. Isaías emprega um expressivo
quadro verbal: assim como a água proveniente do céu faz as coisas crescerem,
assim a palavra que sai da boca de Deus nos leva a crescer espiritualmente
(55.10,11).
Pedro ecoa o mesmo
pensamento ao escrever que, ao bebermos do leite puro da palavra de Deus,
crescemos em nossa salvação (1Pe 2.2).
(5) A palavra de
Deus é a arma que o Senhor nos proveu para lutarmos contra Satanás (Ef 6.17;
cf.Ap 19.13-15). Jesus derrotou Satanás, pois fazia uso da Palavra de Deus:
“Está escrito” (i.e., “consta como a Palavra infalível de Deus”; cf. Lc 4.1-11;
ver Mt 4.1-11,).
(6) Finalmente, a palavra
de Deus tem o poder de nos julgar. Os profetas do AT e os apóstolos do NT frequentemente
pronunciavam palavras de juízo recebidas do Senhor. O próprio Jesus assegurou
que a sua palavra condenará os que o rejeitarem (Jo 12.48). E o autor aos
Hebreus escreve que a poderosa palavra de Deus julga “os pensamentos e
intenções do coração” (ver Hb 4.12 nota). Noutras palavras: os que optam por desconsiderar
a palavra de Deus, acabarão por experimentá-la como palavra de condenação.
III.
NOSSA ATITUDE ANTE A PALAVRA DE DEUS.
A Bíblia descreve,
em linguagem clara e inconfundível, como devemos proceder quanto a palavra de
Deus em suas diferentes expressões. Devemos ansiar por ouvi-la (1.10; Jr 7.1,2;
At 17.11) e procurar compreendê-la (Mt 13.23). Devemos louvar, no Senhor, a
palavra de Deus (Sl 56.4,10), amá-la (Sl 119.47,113), e dela fazer a nossa alegria
e deleite (Sl 119.16,47).
Devemos aceitar o
que a palavra de Deus diz (Mc 4.20; At 2.41; 1Ts 2.13), ocultá-la nas profundezas
de nosso coração (Sl 119.11), confiar nela (Sl 119.42), e colocar a nossa
esperança em suas promessas (Sl 119.74,81,114; 130.5). Acima de tudo, devemos obedecer
ao que ela ordena (Sl 119.17,67; Tg 1.22-24) e viver de acordo com seus ditames
(Sl 119.9). Deus conclama os que ministram a palavra (cf. 1Tm 5.17) a manejá-la
corretamente (2Tm 2.15), e a pregá-la fielmente (2Tm 4.2). Todos os crentes são
convocados a proclamarem a palavra de Deus por onde quer que forem (At 8.4).