Discipulado
Cristão
Rev.
De Professor - 1° Ciclo - CPAD
Comentarista:
César Moisés Carvalho
TEXTO BÍBLICO BASE: Mateus
11.25-30
“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em
Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a
Deus.
Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo- se
semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo,
sendo obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou
soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome, para que ao nome de
Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da
terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus
Pai" (Fp 2.5-11).
►
SEGUNDA - Mateus 4.1 -11
►
TERÇA-Filipenses 2.5-11
Nesta lição você terá a tarefa de conduzir o estudo acerca de um
tema bastante corriqueiro, porém, muito importante para o aluno a quem você
está lecionando. No início de uma nova caminhada, é imperioso que o seu trabalho
pedagógico destaque o valor do caráter.
Acolher o Evangelho de Cristo não significa adotar certas ideias
ou doutrinas, mas permitir-se e submeter-se à transformação de todo o nosso ser
ao trabalhar do Espírito Santo. Ele é o responsável em nos conduzir rumo ao
supremo alvo que é tornarmo-nos como o Senhor Jesus Cristo.
Conta-se a história de um missionário que, ao falar de Jesus em
uma determinada localidade, tivera a grata surpresa quando os moradores lhe
disseram que aquela pessoa de quem ele falava já havia estado ali. O que
certamente aconteceu nesse lugar, é que alguém fora tão transformado e
parecia-se tanto com o Mestre, que ao ouvir a pregação do missionário, a
impressão dos moradores é que a pessoa de quem ele falava já havia estado entre
eles. É exatamente isso que o Senhor deseja para nossa vida.
Sua
aula deverá alcançar os seguintes objetivos:
► Destacar o perfil de Jesus
(sua humildade, seu método de ensino pelo exemplo e sua coerência, isto é, a
perfeita combinação entre o que dizia e fazia);
► Evidenciar a fidelidade de
Cristo ao Senhor Deus no cumprimento de sua missão;
► incentivar aos alunos a que
procurem manter sua comunhão com Deus, a partir do exemplo do Mestre de Nazaré.
Considerando que a caminhada do novo convertido está apenas se
iniciando, é imprescindível que você incentive o aluno a uma permanente
transformação de caráter. Esteja atento ao seu próprio desempenho, pois
inevitavelmente você será observado. Ainda que estejamos cientes das nossas
ambigüidades e imperfeições, precisamos incentivá-los a que busquem não
legalisticamente, é óbvio, mas, de forma voluntária e servidora, imitar a
Cristo, que é o nosso supremo alvo.
Inicie a aula inquirindo-os acerca da seguinte questão: Se o
mundo todo agisse como nós agimos, ele seria melhor? Espere ao menos alguns
segundos e, em seguida, prossiga perguntando: É possível transformar o mundo
através do exemplo? Quando se trata de caráter, qual o melhor “método” de
ensino, o discurso ou o exemplo? Bons modos e boas maneiras são posturas
esperadas em quem é exclusivamente religioso? Como se explica o fato de pessoas
não crentes terem, às vezes, um exemplo até melhor do que aqueles que professam
a fé? Diga-lhes que, independentemente da postura das pessoas que professam a
fé, cada um dará conta de si mesmo e, por isso, devemos, individualmente,
cuidar de nossa comunhão com o Senhor, pois muitas vezes, a única “pregação” a
que as pessoas não crentes terão acesso é o nosso exemplo.
No
primeiro século de nossa era, uma cena comum entre a sociedade palestina era o
fato de as pessoas se “dividir” em grupos, ou partidos, cujos mentores definiam
o perfil dos seus seguidores que, naquele momento histórico, eram mais
conhecidos como “discípulos”.
Quando
Jesus inicia seu ministério, as pessoas passam a ouvi-lo a fim de entender sua
“filosofia” e/ ou “proposta ideológica”. Entretanto, muitas se decepcionaram
(Jo 6.60,66,67), pois Jesus não veio trazer uma nova ideia, mas inaugurar um
novo tempo (Mc 1.1). Nesse novo tempo, os beneficiados seriam justamente os
esquecidos pela sociedade, os que não tinham esperança (Lc 4.14-19). Quanto às
pessoas que se sentiam seguras com a religião oficial, e também as que não
queriam perder sua posição na estrutura religiosa, estas não acolheram a
mensagem do Filho de Deus (Jo 7.40-53; 12.31-43).
O
Senhor disse certa vez que todo discípulo perfeito seria como o seu mestre (Lc
6.40 cf. Jo 13.13,14). Uma vez que somos discípulos de Cristo, e Ele, como
instrui-nos o apóstolo Paulo, é o “último Adão” (Rm 5.14; 1 Co 15.45), ou seja,
é o novo representante da humanidade e, por conseguinte, a nova referência de
ser humano a quem, os que nEle creem, devem imitar e procurar parecer (Ef 4.13;
5.1,2), nessa lição vamos estudar um pouco acerca do seu caráter.
1. O CARÁTER DE JESUS EVIDENCIADO EM SUAS AÇÕES E
POSTURA
► 1.1 - A
humildade de Jesus.
No
chamado hino cristológico de Filipenses 2.5-11, vemos que Jesus, mesmo sendo
divino, não se apegou a sua igualdade com o Pai, mas esvaziou-se de forma
voluntária e sacrifical, assumindo a condição de servo, tornando-se como nós.
Depois de tornar-se como um de nós, humilhou-se e submeteu-se à morte de cruz
que era uma das piores formas de execução do mundo antigo (Dt 21.22,23). Além
disso, durante o tempo de sua vida terrena, como filho, foi obediente aos seus
pais (Lc 2.51), como adulto, soube reconhecer o ministério de seu primo, João
Batista (Mt 3.13,14), e foi igualmente responsável com questões cívicas (Mt
17.24-27; 22.15-22).
O
simples fato de abrir mão dos traços dos reis conquistadores do mundo antigo,
apresentando-se simples, como uma pessoa do povo e sem exigir nenhum tratamento
especial, foi o motivo de Jesus ser rejeitado pelo seu povo, porém, é
justamente nessa sua atitude que vemos a grandeza, pois quando poderia coagir a
todos para que nEle cressem, não o faz, mas oferece amor e deixa-nos livres
para optar por segui-lo.
► 1.2 - O ensino
“exemplar” de Jesus.
Ao
introduzir a narrativa do famoso “Sermão da Montanha”, Mateus diz que Jesus
“abrindo a sua boca os ensinava” (Mt 5.2). Tal informação, a despeito de em
outras versões não aparecer tal expressão, poderia levar alguém a pensar: “Mas
há outra forma de ensinar, a não ser falando?" Sim, há. E muitas lições de
Jesus foram ensinadas no silêncio de suas ações e postura (Jo 8.2-11; 13.1-17).
►
1.3 - A coerência de Jesus.
Não
havia dissociação entre o que Jesus falava e fazia, ou entre o que praticava e
dizia. Como disseram os vacilantes discípulos saindo de Jerusalém em direção à
aldeia de Emaús, “Jesus, o Nazareno, [...] foi um profeta poderoso em obras e
palavras diante de Deus e de todo o povo” (Lc 24.19). Em outras palavras, Jesus
era coerente, pois Ele tanto fazia, ou seja, praticava, quanto ensinava (At
1.1). Muito diferente dos líderes religiosos e ensinadores de Israel que,
conforme dissera o próprio Jesus, diziam, mas não praticavam e nem viviam o que
ensinavam (Mt 23.3). Na verdade, revelou o Mestre, aqueles homens amarravam
fardos pesados e difíceis de carregar, e colocava-os nos ombros do povo, mas
eles mesmos não se dispunham a movê-los nem sequer com um dedo (Mt 23.4).
Desse primeiro tópico, sem dúvida alguma a análise do texto de
Filipenses 2.5-11 é decisiva. “Estes versos são essenciais nesta carta. Enfocam
principalmente a atitude de Cristo como um exemplo a ser imitado pelos
filipenses. Por esta razão discutem abertamente o problema contínuo da
rivalidade aludido na carta” (DEMCHUK, David. “Filipenses”, In ARRINGTON,
French L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo
Testamento. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.1291).
Esse aspecto é decisivo nesse primeiro momento do novo
convertido, pois ele chega à comunidade crendo que encontrou um lugar onde não
há problemas e conflitos. Nada mais longe da realidade e isso desde os tempos
do Novo Testamento! Aproveite o tema para expor essa realidade sem, contudo,
permitir que haja uma falsa conscientização, ou seja, que tal comportamento é
correto. Conforme o mesmo autor, “Paulo começa observando a forma de vigiar de
Cristo e sua maneira de viver, que os filipenses são encorajados a seguir (A
frase: ‘De sorte que haja em vós o mesmo sentimento...’ [...]). A frase que
algumas traduçõestêm como ‘Suas atividades [plural]’ indica o fato de que essa
atitude deveria permear a estrutura da comunidade cristã” (Ibid., pp.1291-92).
David Demchuk diz ainda que a “inclusão das palavras ‘que houve também em
Cristo Jesus’ é literalmente ‘de Jesus Cristo'. Existe alguma dúvida a respeito
desta frase. Os filipenses são chamados a terem, um para com o outro, a mesma
atitude que têm para com Cristo (com o sentido de ‘que houve também [em vós e]
em Cristo Jesus’)? Ou os filipenses são chamados a manifestar a mesma atitude
que Jesus manifestou (com o sentido ‘que houve também [ou que havia] em Cristo
Jesus’)? Dado o contexto e o propósito da passagem, a segunda opção parece mais
apropriada, de forma que Paulo está desafiando-os a refletirem o que viram em
Cristo” (Ibid., p.1292). Na verdade, o grande objetivo do apóstolo é evidenciar
o fato de “Jesus, que em sua própria natureza é Deus, não considerou que esta
condição devesse estar patente demais, de modo a trazer-lhe alguma vantagem
pessoal. Observe novamente o impacto que estas palavras causariam nos ouvintes
de Paulo, que orgulhavam-se de sua cidadania romana com todos os seus direitos
e privilégios intrínsecos. Ao invés de reunir e exercer seus privilégios, Jesus
aniquilou-se, deu a si mesmo até à morte. A solução para os problemas da
unidade dos filipenses estava na adoção deste mesmo propósito de Jesus”
(Ibidem.).
2. O CARÁTER DE JESUS
EVIDENCIADO NO DESEMPENHO DE SUA MISSÃO
►2.1 - Jesus não usou o seu poder para
livrar-se da tentação e do sofrimento.
Quando
Jesus foi conduzido, pelo Espírito de Deus, ao deserto a fim de ser tentado, ou
provado, demonstrou mais uma vez porque merece reverência e adoração (Mt
4.1-11).
Debilitado
pelos quarenta dias de jejum e, portanto, suscetível a ceder, o Mestre suportou
todas as ofertas do Tentador sem apelar para o seu poder, mas apenas à Palavra.
Semelhantemente, ao ser preso no Jardim do Getsêmani, quando um de seus
discípulos feriu o criado do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha, Jesus, além
de curar seu algoz, ainda repreendeu o seu discípulo e disse que, se quisesse,
poderia solicitar a Deus a proteção de “doze legiões de anjos” (Mt 26.53). Ao
governador da Judeia, Pôncio Pilatos, o Mestre disse que a autoridade que o
governante tinha para condená-lo, havia sido dada por Deus e, de certa forma,
pelo próprio Jesus (Jo 19.9-12)!
► 2.2 - Amando até
as últimas consequências.
Jesus
tinha plena consciência do porquê de ter sido enviado a este mundo. Assim,
poucas horas antes de ser definitivamente preso, o apóstolo João informa que
“antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de
passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus que estavam no mundo,
amou-os até ao fim” (Jo 13.1). Nessa importante reunião estava Judas Iscariotes,
o discípulo que traíra e vendera o Mestre (Mt 26.14-16). Mesmo assim, como
informa o apóstolo do amor, Jesus amou os seus discípulos até o fim. Amou a
Pedro que o negou, e os demais que se dispersaram com a sua prisão e também a
Tomé que dEle duvidou (Jo 18.25-27; 20.19; Mt 26.31; Mc 14.27; Jo 20.26-29). Ao
agir assim com seus discípulos, Jesus dava-lhes outra oportunidade e uma nova
chance.
► 2.3 - Perdoando
a todos.
Mesmo
sendo perseguido e hostilizado pelo povo, pregado na cruz, sentindo dores
excruciantes, Jesus orava ao Pai pedindo que Deus não lhes imputasse aquele
pecado: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34). Não há
amor maior que este (Jo 15.13; 3.16). Contudo, é justamente esse tipo de amor
que Deus espera que tenhamos (1 Jo 3.16).
Neste tópico, é possível ver a grandeza do caráter do Senhor
Jesus quando, de sua prisão, Ele se recusa a usar a força bruta e nem
reivindica proteção celestial. Seu amor ultrapassa qualquer palavreado, pois
custou sua vida. Em tudo isso, vemos o caráter firme do Filho de Deus que,
disposto a realizar a vontade do Pai, não recuou, mas seguiu adiante mesmo em
tamanha adversidade.
3. O CARÁTER DE JESUS
EVIDENCIADO EM SEU RELACIONAMENTO COM DEUS
►
3.1 - A obediência de Jesus em relação ao Pai.
Enviado
pelo Pai para cumprir sua missão, ainda em sua adolescência, Jesus demonstrou
ter essa consciência, pois chegou a perder-se de José e Maria por estar envolvido
em um debate com doutores da Lei (Lc 2.41-50). Resoluto em seu propósito, dizia
que não veio para fazer a sua vontade, e sim a vontade daquEle que o enviara
(Jo 6.38). Seu compromisso era tão real, que afirmava que sua comida era fazer
a vontade de seu Pai (Jo 4.34). Isso fazia porque, como diz o hino cristológico
de Filipenses 2.5-11, mesmo sendo divino, não tinha apego a sua igualdade com o
Pai.
É
maravilhoso ver que Jesus glorificava a Deus pelas bênçãos que o Pai concedia às
pessoas. Foi assim ao glorificar a Deus por Ele ter revelado a chegada do seu
Reino para os simples em vez de privilegiar os poderosos (Mt 11.25; Lc 10.21).
Da
mesma forma aconteceu na ressurreição de Lázaro, Jesus glo- rificou ao Pai por
atendê-lo, mais uma vez, como sempre fazia (Jo 11.41). Falando de sua morte aos
religiosos do seu tempo, Jesus pediu ao Pai que glorificasse a si mesmo, ou
seja, demonstrasse que estava de acordo com a afirmação da morte do Filho de
Deus (Jo 12.27,28). Quando a voz veio, e disse que já havia “glorificado” e
outra vez o glorificaria, o Mestre afirmou que a voz não tinha soado por amor
dEle, mas por amor ao povo (Jo 12.29,30).
► 3.3 - Deus
precisa orar?
Finalmente,
uma das maiores demonstrações de sua humanidade e submissão, era o fato de que
Jesus, mesmo sendo Deus, orava ao Pai, passando noites inteiras em oração (Lc
6.12). Caberia até mesmo a pergunta; “Deus precisa orar?” Se orar for somente
pedir, talvez não. Mas acontece que orar é dialogar com o Pai, por isso Jesus o
fazia. E orar pedindo, mesmo sabendo que não seria atendido? Assim aconteceu no
Getsêmani (Mt 26.39; Mc 14.35,36; Lc 22.41,42). Mas, como fica claro, Ele
estava empenhado em fazer a vontade do Pai e não a sua.
O grande educador cristão Howard Hendricks disse que as maiores
lições de Jesus foram ensinadas por meio de seu exemplo. “Considere a vida de
oração de nosso Senhor. Ele orava a respeito de tudo. Estude o evangelho de
Lucas em busca de detalhes. Por que os discípulos pediram que Jesus os
ensinasse a orar? (Lc 11.1). É a única coisa que os discípulos lhe pediram que
os ensinasse, porque toda vez que iam procurá-lo notavam que Ele estava
engajado na oração. Por isso concluíram: ‘Isto deve ser essencial para a vida e
o ministério’. Alguém já pediu a você, na qualidade de mestre, que o ensinasse
a orar, pelo fato de o ter encontrado muitas vezes em oração?” (GANGEL, Kenneth
O.; HENDRICKS, Howard G. (Eds.). Manual de Ensino para o Educador Cristão.
Compreendendo a natureza, as bases e o alcance do verdadeiro ministério
cristão. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p.17).
Pelo
pouco que analisamos no espaço dessa lição, há um caminho muito claro a ser
trilhado por aqueles que creem em Jesus Cristo e que, por isso mesmo, devem
procurar adequar-se ao caráter do seu Mestre. Tal não pode ser feito com o
simples ato de se decorar pontos doutrinários ou reproduzir costumes
religiosos, mas é na arena da vida, da dura realidade do mundo, que devemos
viver como Jesus viveu.
VERIFIQUE SEU APRENDIZADO
1. Qual é o
primeiro grande traço do caráter de Jesus colocado na lição?
2. Além da fala,
Jesus ensinava utilizando qual outro método?
R.
O exemplo, pois muitas lições de Jesus foram ensinadas no silêncio de suas
ações e postura.
3. Em sua opinião,
qual a importância do fato de Jesus não usar o seu poder para livrar-se da
tentação e do sofrimento?
R.
Apesar de a resposta ser pessoal, é interessante que ela contemple o fato de
Jesus ter demonstrado, com essa atitude, uma nobreza de caráter infinitamente
superior a tudo que já vimos. Além disso, ela evidencia a capacidade humana em
rejeitar a tentação.
4. O que Jesus proporcionou