Até bem pouco
tempo, uma das maiores preocupações com os filhos estava ligada apenas à conceituação
de uma fase do desenvolvimento humano conhecida pelas mudanças físicas que
provocava um conjunto de transformações biológicas marcantes — a chamada
"puberdade". Contudo, paralelamente aos avanços tecnológicos, a
preocupação com os indivíduos em formação foi ganhando novos focos. Surgiram,
assim, muitos outros estudos sobre os possíveis riscos e novos comportamentos
que tal indivíduo venha a passar.
O
termo criado para essa fase da vida de que falamos é adolescência,
palavra que tem sua origem etimológica no latim ad (para) mais o latim
olescere (crescer). Portanto, adolescência significa, strictu sensu,
"crescer para" (BECKER, 1994, p. 8).
A
Puberdade
E você, pai,
líder, professor, sabe qual é a diferença do termo "puberdade" para
"adolescência"?
Quando falamos de
puberdade, nos referimos a um corpo se modificando, mas quando falamos em
adolescência, trata-se de todo um ser em pleno desenvolvimento, não somente
físico como biopsicossocial e espiritual.
Segundo
o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é
considerado adolescente o indivíduo que esteja na faixa etária de doze a
dezoito anos.
Contrapondo essa
definição de adolescência pautada por marcos etários, está a interpretação de
categoria social de representações e atitudes. Galland (1997), focando os
professores que estão enfrentando a adolescência de seus alunos, propõe uma
reflexão do texto bíblico de Deuteronômio 11.18-19.
Podemos claramente
identificar no referido texto a preocupação de Deus quanto ao desenvolvimento
do ser humano. A passagem bíblica começa com um conselho e logo se torna uma
prática cartilha aos pais.
A primeira
abordagem trata-se de um conselho direto e pessoal, quando diz: "Em seu
coração...". Essa expressão remete-nos a nós mesmos. Ou seja, existe um
princípio básico nessa relação. E qual seria esse princípio? O de "ninguém
dá o que não tem".
Partindo
deste
primeiro ponto, entendemos que temos que buscar ajuda para depois podermos
ajudar. Estamos na transição da sociedade da informação para a sociedade do
conhecimento, duas coisas bem distintas.
A informação está
cada vez mais acessível, e quando falamos da fase da adolescência, ela é mais
acessível ainda. Mas, nem toda informação é confiável, nem mesmo funcional, se
não a colocarmos em prática.
Então,
como lidar com este fenômeno de forma assertiva?
Se observarmos o texto bíblico citado, teremos uma compressão de como Deus
gostaria que procedêssemos.
Deus destaca um
ofício: o de ensinar. Logo, Ele aponta uma dinâmica familiar infelizmente já
perdida para muitas famílias. Porém, ela é a que, mesmo em meio a tantas
inovações, se mantém eficiente e eficaz até os dias de hoje. A dinâmica dos
diálogos.
Atente para o
verbo utilizado: "conversar". O texto diz: "...conversando a
respeito...". O diálogo não é diálogo quando só os pais falam - como
alguém em frente ao espelho, essa modalidade chama-se monólogo. Quando este se
dá de forma transversal, de cima para baixo, também não podemos chamar de
diálogo, mas de imposição.
Avalie sua relação
familiar e com uma autocrítica sincera reveja se não precisa mudar a forma de
conversar com seus filhos. Eles têm liberdade de expressar suas opiniões,
dúvidas, dilemas e discordâncias a você? A relação de vocês de fato tem essa
ferramenta do genuíno diálogo? Perceba que no texto bíblico constam as palavras
"sentados" e "andando", ou seja, na mesma posição, lado a
lado.
Repostas dos pais
como "Você não vai porque não!" ou "Porque eu não quero e
acabou!" geralmente, além de não atingirem seu propósito, ainda prejudicam
a relação e um diálogo aberto. Explicar os riscos, as preocupações, os motivos
reais, é muito mais eficaz.
Para podermos
estabelecer a comunicação entre o mundo do adulto e o mundo do adolescente,
essa fluidez no diálogo é o eixo gravitacional que mantém ambos em sintonia,
sem que um venha destruir o outro por meio de choques de gerações, conflitos de
identidades ou até mesmo a inversão dos papeis, que, aliás, nos dias atuais
tornou-se um comportamento cada vez mais comum entre as famílias em que há adolescentes.
O
MÉTODO NO ENSINO
Na ordenança aqui
tratada, Deus destaca um ofício: ensinar. E uma dinâmica familiar: o diálogo.
Porém, Deus vai muito mais além: Ele também nos dá o método para fazermos isso.
Vejamos o texto bíblico que evidencia esse método: "Quando estiverem andando
pelo caminho" (Dt 11.19b).
Apalavra
"método" tem boa conexão com o texto
em apreço, pois ela vem do latim methodu (meta + hodus), que significa
"caminho para chegar a um alvo". Deus deixa bem
claro que nessa fase da vida o adolescente necessita de modelos saudáveis. Com
a chegada da adolescência, os pais perdem a imagem de heróis, que antes
permaneciam sacramentadas nas ideias do filho. Eles passam então a ser julgados
pelos filhos agora por seus êxitos e seus fracassos (Aberastury & Knobel,
1981, p. 15).
É justamente dessa
construção em meio aos êxitos e fracassos que Deus está falando, pois a
construção da identidade passa pelo processo de experimentação das regras,
conceitos, práticas e valores até então apresentados ao adolescente pelos seus
pais. Podemos exemplificar com a seguinte expressão: "Você falou que dava
certo, agora me prova!".
Nesse momento, o
mais preocupante é a conduta dos pais em relação aos questionamentos dos
filhos, pois, uma vez adolescentes, já não andamos mais com eles o tempo todo,
não sabemos com que tipo de dúvidas eles provavelmente estão. Muitos pais
tornam-se reféns de seus filhos quando optam por terceirizar a criação deles.
Terceirizam seus
cuidados básicos, sua educação; a figura que lhes transmitirá as experiências
afetivas são babás, domésticas, o professor da Escola Dominical, líderes de
adolescentes, autoridades eclesiásticas etc, isso sem falar da televisão e dos
celulares de última geração no propósito de entretê-los, compensá-los etc.
O que Deus está
dizendo é que cada vez mais precisamos nos voltar para criação de nossos
filhos, pois esse método de andarmos com eles pelo caminho não só fará bem a
eles, mas também a nós, pais. Quando o escritor fala de ensinar
"dormindo", fala que em nenhum momento podemos estar descuidados,
perdendo a oportunidade de andar com eles, ensinando a Palavra. Nossa história
é escrita através da vivência junto a eles (os adolescentes). Isso os fará
lembrarem-se do amor e zelo de Deus sempre presentes.
Quanto ao
"levantar", o texto fala da esperança de se erguer, de despertar. Se
você está lendo este artigo é porque Deus quer dar a você forças para arrumar o
hoje. Seja o exemplo mais próximo que seu filho necessita para se aproximar de
Deus.
Autor:
Joelson Lemos